O SOTAQUE NOSSO DE CADA DIA - Newton Agrella


Se há um substantivo na Língua Portuguesa intrigante quanto a sua etimologia, e que está intimamente vinculado a questões linguísticas é justamente "sotaque".

Pois é, este mero e singelo vocábulo, na grande maioria das referências bibliográficas e nas análises vernaculares, via de regra, traz como "origem obscura ou desconhecida".

Porém, apesar disso, há uma clara e pedagógica explanação quanto ao seu significado.

O sotaque, sob o conceito de quando se refere a um mesmo idioma, representa a forma peculiar que as pessoas têm de pronunciar ou de articular e emitir determinados sons, também conhecidos gramaticalmente como "fonemas".

Esta peculiaridade se estende também para a maneira como se pronunciam determinados grupos de palavras.

Esse fenômeno linguístico é notadamente observado como característica própria de uma região, classe ou grupo social, etnia, sexo e até mesmo de fator etário.

Um dos aspectos mais interessantes quanto ao sotaque "dentro de um mesmo idioma", diz também respeito em especial, ao ritmo, à cadência, à entonação, à ênfase ou até mesmo quanto à distinção fonêmica.

A clareza e a maneira circunstancial com que determinados grupos linguísticos expressam e articulam as palavras, são amostras evidentes destas distinções fonêmicas.

É importante contudo registrar que o sotaque não significa falar corretamente ou não.  

Pelo contrário, trata-se de um fenômeno linguístico, cuja forma de pronunciar as palavras, frases e empreender seu próprio ritmo e entonação são fatores herdados da geografia, de condições climáticas, de influências trazidas de outros povos, de processos de colonização e até  mesmo de povos primitivos que já habitavam determinadas regiões.

No caso da língua portuguesa falada no Brasil, os sotaques são muitos, variando de região para região, até em razão das dimensões continentais do país e de seus diversos processos de influências externas. 

Sejam estes processos gerados por colonização, por invasões estrangeiras, por ondas de imigração dentre tantos outros.

Que dirá então, quando a comparação de sotaques se faz entre falantes de um mesmo idioma (no caso o português) de diferentes países lusófonos, como Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné Bissau, Goa, Timor Leste e Macau.  

Aí então tudo fica mais complicado, pois além do sotaque, as diferenças linguísticas tornam-se ainda mais gritantes, chegando à beira de se tornarem quase que dialetos, se comparados entre si.

Ainda assim, e com uma dose de boa vontade, essas dissonâncias conseguem ser Inter inteligíveis.

Reitere-se que esta abordagem está sendo feita dentro do contexto de uma mesma língua, no parâmetro de um mesmo Idioma. 

E ainda assim, é algo passivo de profunda análise e considerações.

Vai por fim, uma consideração particular, isto é; não existe o melhor, o mais bonito, ou o mais erudito sotaque de um idioma. Isso é pura invencionice e subjetivismo sem qualquer base intelectual.

O que existe sim, é uma espécie de "tentativa de padronização de um sotaque", basicamente em função de aspectos midiáticos, que via de regra, obedecem a interesses econômicos, políticos, sociais e culturais.

O seu sotaque, o meu e o deles ou delas é simplesmente uma questão contingencial, que revela quão ampla e diversa é a condição humana de se fazer entender e de ser compreendida.

Um brinde à nossa Língua Portuguesa!!!



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