julho 17, 2025

O "EU" EM MIM - André Pondé


A frase pode ser compreendida à luz da Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung como uma expressão do processo de individuação, no qual o ego (o "eu" consciente) transcende sua identificação com desejos e ilusões pessoais para se alinhar com um princípio maior, o Self, arquétipo da totalidade psíquica. Nessa jornada, o indivíduo supera a ilusão de separatividade e integra aspectos inconscientes, alcançando uma síntese harmoniosa entre consciência e inconsciente. 

A "Verdade" aqui simboliza a realidade profunda do Self, que emerge quando o ego deixa de ser o centro dominante e passa a servir a um propósito mais amplo, conectado ao coletivo e ao transcendente. Esse estado representa uma maturidade ética, pois o sujeito age não mais movido por impulsos egocêntricos, mas por uma sabedoria interior que reconhece sua interdependência com o todo.  

Do ponto de vista do desenvolvimento ético humano, essa transformação reflete a passagem de uma moralidade baseada em convenções sociais para uma ética autêntica, guiada pela consciência ampliada. 

Quando o "eu" desaparece, não há mais a luta pelo poder ou pelo reconhecimento pessoal, mas sim uma entrega à verdade interior, que Jung associava aos arquétipos universais. Essa experiência é paradoxalmente libertadora, pois, ao dissolver as fronteiras rígidas do ego, o indivíduo encontra um sentido mais profundo de pertencimento ao cosmos. 

A felicidade mencionada na frase não é efêmera, mas sim a alegria de quem vive em consonância com sua essência e com o fluxo da vida, transcendendo dualidades e ilusões. Assim, a Psicologia Analítica vê nesse processo a realização máxima da potencialidade humana, onde ética, autoconhecimento e transcendência se fundem.

julho 16, 2025

NÃO VOS AFOBEIS... - Heitor Rodrigues Freire



As incertezas da vida moderna estão a exigir das pessoas uma atividade cada vez mais opressiva, gerando perplexidade e determinando uma ação apressada, sem muita reflexão. Vivemos os tempos da ambiguidade, do paradoxo. Vivemos fugindo do passado, procurando alcançar um futuro imprevisível, perdendo o verdadeiro momento em que a vida transcorre, o presente. E, assim, não vivemos nem aqui nem lá.

Carlos Drummond de Andrade, com sua sensibilidade de grande poeta, escreveu:

*“Não serei o poeta de um mundo caduco*.

*Também não cantarei o mundo futuro.*

*Estou preso à vida e olho meus companheiros.*

*Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.*

*Entre eles, considero a enorme realidade.*

*O presente é tão grande, não nos afastemos.*

*Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.*

*Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,*

*não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,*

*não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,*

*não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.*

*O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente”*. 

Drummond sintetizou, assim, uma fórmula, uma lição clara e verdadeira de viver a vida: o tempo presente. A afobação que caracteriza estes tempos provoca grande frustração e angústia. No Livro dos Provérbios, há uma orientação muito precisa no capítulo 19, v.2: “Não adianta agir sem refletir, pois quem apressa o passo acaba tropeçando”. Não vos afobeis porque a morte é certa, proclama um dito popular. 

Pitágoras, no verso 16 de seus Versos de Ouro, proclama: “Mas lembra sempre um fato, o de que a morte virá para todos”. Mas a morte em si, longe de ser uma ruptura, um fim, representa apenas uma ponte que liga esta terra maravilhosa ao mundo espiritual, onde receberemos de acordo com o nosso merecimento. Esse é o nosso verdadeiro futuro. Queiramos ou não. Saibamos ou não. O que realmente devemos fazer é nos preparar para esse momento, e essa preparação passa necessariamente pelo que diz a poesia de Drummond: viver o momento presente, porque nele, e somente nele, podemos atuar de forma consciente e criteriosa, agindo com sabedoria.

Socorrendo-nos mais uma vez no poeta maior, transcrevo mais uma contribuição dele:

“A cada dia que vivo mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, *esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade”. 

O noticiário está repleto de crimes que se repetem constantemente, assustando a população que, acuada, não sabe como reagir ou se prevenir. A orientação dada pelas autoridades policiais é a de que em situação de assalto, não se deve reagir, buscando ao menos preservar a vida. Vão se os anéis, ficam os dedos. O difícil é praticar esse ensinamento.

Juvenal Arduini, em seu livro Destinação antropológica (Edições Paulinas, 1989), escreveu: “A vida é a resposta maior aos inquietantes desafios de nosso tempo. As decisões que irão plasmar o futuro do mundo hão de acolher, projetar e cultivar a vida humana, como núcleo primacial. Só haverá antropologia, e, consequentemente, só haverá ética, a partir do momento em que se tenha a sabedoria de decifrar ‘a marca do homem’ na vida, ainda que seja miúda, ainda que seja vida severina”. 

É isso aí.


julho 15, 2025

CEGOS GUIANDO CEGOS - Jorge Gonçalves


 *Em Mateus 15, versículo 14, Jesus utiliza uma parábola interessante " 

Deixai-os, são cegos guiando cegos. Se um cego conduzir outro, ambos acabarão caindo em um buraco_ ."

Já Nietzsche escreveu:

 " _As convicções são as inimigas mais perigosas da verdade, até mesmo que as mentiras_ ."

São frases que retratam uma relação profunda e bem atual. Embora expressem ideias diferentes em seus contextos, ambas apontam para o mesmo perigo: *o risco de pessoas desinformadas ou cegas em suas convicções seguirem os conselhos de outras igualmente ignorantes.* 



AS PUTAS DA CIDADE SEM ROMANTIZAÇÕES - Leonardo Bueno Teixeira



Obviamente este não é um texto maçônico. É uma metáfora, muito bem redigida, de uma realidade que estamos vivendo, e por esta razão eu publiquei. Se os leitores se sentirem constrangidos, podem deixar de ler depois da primeira linha. Michael 
.......,...........................

Toda cidade tem suas putas.

Não me refiro aqui apenas às mulheres que trocam o corpo por dinheiro, mas àquelas figuras marginais, silenciadas e, ao mesmo tempo, imprescindíveis para o equilíbrio oculto da hipocrisia social.

As putas são, talvez, o espelho mais cruel e mais sincero da moral pública.

Elas caminham pelas bordas da cidade, mas sustentam o centro.

Estão na calçada, mas sustentam os quartos escuros dos homens que pregam virtude em voz alta.

Estão nos becos, mas conhecem as avenidas da alma humana melhor do que qualquer teólogo ou filósofo de gabinete.

A história nunca foi gentil com elas.

Na Grécia antiga, havia distinção: as hetairas eram cortesãs cultas, companheiras de homens ilustres,respeitadas na alcova, ignoradas em público.

Na Idade Média, eram tratadas como pecadoras por uma Igreja que mantinha seus próprios prostíbulos secretos.

No século XIX, o bordel virou instituição, e a sociedade vitoriana empurrou o desejo para trás de portas trancadas, enquanto vestia de luto a alma.

Hoje, em tempos de redes sociais e pornografia gratuita, ainda apontamos o dedo. Mudou a vitrine, mas não a hipocrisia.

A cidade precisa das putas. Não pelas razões óbvias,mas porque elas cumprem o papel que a moral recusa: o de lembrar que o desejo não obedece à lei. Que o corpo não é pecado. E que a nudez, por mais vendida que seja, ainda escandaliza menos do que a falsidade dos que a compram.

Não nos quartos,mas nas esquinas da existência. Mulheres que sabiam mais de política do que muitos vereadores, mais de saúde mental do que certos analistas. Mulheres que sabiam ouvir. Que sabiam calar. Que sabiam cobrar,não só em dinheiro, mas em respeito.

E o mais irônico? Eram mais humanas do que muitos líderes religiosos  que prega compaixão no púlpito enquanto devora corpos e almas em segredo.

Mais leais do que políticos com mandato.

Mais autênticas do que algumas mulheres da “Alta Sociedade” que mantém a relação por causa de nome e sobrenome.

Não romantizo a prostituição,seria tolice e covardia.

Mas também não aceito o cinismo de uma sociedade que consome sexo como produto, mas finge horror diante de quem o vende com sinceridade.

As putas sabem demais.

Sabem dos bastidores.

Sabem dos rostos que a cidade finge não ter.

Elas escutam os desabafos mais íntimos dos homens que ninguém imagina frágeis.

E carregam nas pernas não apenas cansaço, mas também um tipo de liberdade que apavora os moralistas: a liberdade de não mentir sobre o próprio desejo.

O que é uma puta, afinal?

Uma mulher que cobra pelo que outras oferecem de graça?

Uma empresária do prazer?

Uma sobrevivente?

Uma mulher como qualquer outra, mas sem o escudo da hipocrisia?

Talvez todas essas coisas.

Ou talvez nenhuma.

Mas uma coisa é certa: o nome que a cidade lhes dá — “puta” — diz mais sobre quem julga do que sobre quem vive.

A cidade as quer invisíveis de dia e indispensáveis à noite.

Quer que elas existam, mas não tenham rosto.

Quer consumi-las, mas não reconhecê-las.

Quer a função, mas não a dignidade.

E é justamente por isso que escrever sobre elas incomoda. Porque obriga a cidade a se ver no espelho.

Não sei o nome da primeira prostituta que existiu, mas sei que ela antecede qualquer Estado, qualquer religião, qualquer casamento.

Ela já estava ali, na fundação do mundo, oferecendo o que o mundo sempre quis e nunca teve coragem de assumir que precisava: um espaço onde o desejo não é pecado,é mercadoria.

É cruel? Talvez.

É injusto? Com certeza.

Mas é real.

E a realidade, quando despida da moral, ainda nos escandaliza.

Se há alguma esperança, talvez esteja em um dia podermos olhar para essas mulheres sem escárnio, sem piedade, sem santidade. Apenas com humanidade.

Até lá, elas continuarão nas esquinas.

Vestidas de brilho barato.

Calçando sandálias de resistência.

E caminhando com a altivez silenciosa de quem conhece todos os segredos da cidade mas jamais os contará.

julho 14, 2025

MAÇONARIA SEM MISTÉRIO - Pedro Juk


As datas solsticiais e os cultos solares da antiguidade são temas importantes para o estudo e a compreensão da "Arte Maçônica". Como atualmente vivemos um período solsticial de inverno no hemisfério norte (berço de origem da Maçonaria) é oportuno lembrar um dos dois personagens que, por influência da Igreja, são tidos como protetores da Ordem. 

Pela própria história das confrarias de construtores medievais, o solstício de inverno no hemisfério boreal se associa a pratica profissional dos cortadores e entalhadores da pedra calcária. Esses, então construtores de mosteiros, abadias, igrejas e catedrais eram protegidos pela Igreja-Estado. Assim, no período em que os rigores do inverno não permitiam o trabalho na sua plenitude, ansiosamente os operários esperavam pelo final das agruras da estação gélida em que a Terra fica "viúva" do Sol (noites longas e dias curtos). 

Como que a existir um elo entre essa alegoria solsticial e os Ofícios Francos, João, o Evangelista já era lembrado desde então como aquele que “divulgou a Luz”. Por óbvio, tudo em alusão Àquele que veio para trazer de volta a Luz ao mundo. O "Natalis Invicti Solis", desde o mitraísmo persa, parece misteriosamente concordar com o nascimento de Jesus - nesse caso Ele conhecido como a “Luz do Mundo”. 

Não obstante às convenções alegóricas dos cultos solares da antiguidade (base da grande maioria das religiões), as confrarias medievais de construtores - precursoras da Maçonaria - como que a cumprir os ditames da Natureza, também dividiam o seu tempo (semestral) se utilizando das datas solsticiais próprias do hemisfério norte do nosso Planeta - o de início do verão em junho e o de início do inverno em dezembro. 

A despeito das questões relativas ao andamento profissional da própria confraria e as estações propícias para o trabalho, havia também a influência da Igreja expansionista na época que associava esses Santos Protetores aos ditames dos seus domínios. 

Por conta disso a Igreja se utilizou das datas solsticiais de inverno e de verão, o que fez com que João, o Batista (o que previu a Luz) e João, o Evangelista (o que pregou a Luz) se consolidassem como patronos das Guildas de Construtores, e por extensão à Franco-Maçonaria, que viviam sobre o seu protetorado. 

Sob o aspecto filosófico e doutrinário, essa alegoria busca demonstrar figuradamente que essa Luz se reporta a “Jesus”, Ele tido pelo Cristianismo como a “Luz do Mundo”. 

É devido a isso que a data do Seu nascimento fora adequada e fixada pela igreja justamente num solstício de inverno do hemisfério Norte. 

Na realidade esse teatro natural representa que no inverno os dias são curtos e as noites longas, o que, em primeira análise, simboliza um tempo em que as trevas acabam prevalecendo sobre a Luz – Jesus, nesse caso, veio para dissipar as trevas.

Como o período é o de solstício hibernal ao Norte, a Maçonaria, cujo berço de nascimento é desse mesmo hemisfério, tem por tradição comemorar no dia 27 de dezembro a data de um dos seus Patronos, João o Evangelista, ou aquele que "espalhou a Luz". Destaque-se nesse caso que a Maçonaria, além das influências da Igreja (uma das suas protetoras da época) é reconhecidamente tida como um instrumento de Luz porque combate as trevas da ignorância. 

Sob essa conduta, a Moderna Maçonaria professa seu objetivo construindo uma Obra de Luz, Luz essa que tem por desiderato iluminar (esclarecer) o Homem preparando-o para lutar contra os flagelos da humanidade, aqui muito bem representados pelas trevas da superstição e da ignorância. 

Nesse sentido, João, o Evangelista, por ter tido a missão de disseminar a Luz (Evangelho), tem na Ordem Maçônica um caráter não religioso, mas simbólico, representativo e patronal de um personagem ligado ao esclarecimento

Foi assim que esse "pregador", no momento em que ao Norte a Terra fica viúva da Luz, acabou se consolidando na Maçonaria como um patrono insigne do “esclarecimento”. Ratifico: nessa alegoria não está em jogo nenhuma demonstração dogmática de fé religiosa ou religiosidade, mas sim a de demonstrar um ícone importante que traz na sua companhia a nobre missão de levar a mensagem da Luz. 

Dentre outros, a Luz nos traz a Esperança para que tenhamos um ano novo iluminado pelo bem e pela solidariedade. Enfim, assim como o Sol simbolicamente inicia sua jornada de retorno a partir do Sul para o Norte, que também tenhamos notícias alvissareiras para novo ano que se aproxima. Que de fato o ano de 2019 seja mesmo uma “boa nova”.

julho 13, 2025

HOMENAGEM A ALDINO BRASIL - Jorge Gonçalves



Aldino Brasil, Jorge Gonçalves e Raimundo Brandão.


Em um dia, vejo você na primeira fileira enquanto faço uma apresentação. Sinto um frio na barriga, pois ali está um dos mais respeitados maçons do Brasil. No dia seguinte, recebemos a notícia devastadora: a partida de sua mãe. Todo ser humano que já caminhou sobre esta Terra sabe que a dor de perder uma mãe é das mais insuportáveis.

E hoje, 13 de julho, é o seu aniversário. Que palavras caberiam nesse momento? Qual seria a frase certa a dizer? Sei que qualquer palavra não passa de migalhas diante das circunstâncias. Mas não posso deixar de expressar meu carinho e admiração.

Você, meu inestimável irmão Aldino, é para mim um exemplo de homem honrado, gentil, generoso, um verdadeiro maçom em sua essência. Desejo, do fundo do coração, que o tempo transforme essa dor em saudade. Não é tarefa fácil, e que esse processo seja pleno e sem demora.

Quando a dor apertar, lembre-se: a missão dela foi concluída com louvor. Você é uma obra das virtudes de uma mulher extraordinária, sua mãe.

Parabéns pelo seu aniversário.

TRABALHO BENEFICENTE DA GRANDE LOJA UNIDA DA INGLATERRA - Lourival Cunha


A Grande Loja da Inglaterra é uma das maiores realizadoras de caridade daquele país contribuindo com dinheiro e com o valioso tempo de seus integrantes. 

Em 2020, a Grande Loja contribuiu com 51,1 milhões de libras (o equivalente a 319,9 milhões de reais) a causas efetivamente merecedoras. Além dessas doações em dinheiro, os maçons doam anualmente em torno de 18,5 milhões de horas de trabalho voluntário (o que equivale a 12.671 pessoas doando diariamente 4 horas de seu tempo de trabalho para estas atividades de caridade) em suas comunidades.

Os maçons ingleses também realizam uma série de atividades beneficentes, envolvendo suas famílias, em todo o país, como por exemplo, arrecadação de fundos comunitários, doações de veículos de emergências e plataformas aéreas para o Corpo de Bombeiros de Londres.

Na área médica a contribuição dos maçons da Grande Loja da Inglaterra é fenomenal, pois financia pesquisas em tratamento de câncer, diabetes, doenças cardíacas, Alzheimer, entre outras. A Grande Loja inglesa também ajuda as vítimas de desastres naturais no exterior.

Fonte: Livro Maçonaria no Mundo: Potências, Lojas, Obreiros e outras questões relevantes (autor: Lourival Cunha; Editora A Trolha).

O JUDAÍSMO NA MAÇONARIA - Michael Winetzki


 

TAL QUAL - Adilson Zotovici



A nossa busca é eterna

À impossível perfeição

História antiga, moderna,

Desde a glória da iniciação


Uma irmandade fraterna

Em verdade pela união

Grande Arquiteto governa

O projeto, que a evolução


Ainda que  Luz superna

Vivem alguns na escuridão

Temem a cultura, a luzerna


Egolatria, hesitação...

Tal qual homem da caverna

Na alegoria de Platão !



julho 12, 2025

O ESPAÇO ENTRE A PERFEIÇÃO E O APRIMORAMENTO - Newton Agrella


O substantivo "Perfeição" merece uma consideração toda especial e exclusiva.

Afinal de contas, trata-se de um termo tão frequentemente utilizado pelos maçons, seja pela sua busca ou pelo seu exercício, que o fascínio que a "Perfeição" exala e provoca, alimenta o sonho e o desejo da imensa maioria das pessoas.

Cabe no entanto, uma breve ponderação etimológica.

A origem desta palavra advém do Latim e consiste na derivação do verbo "perficio" composto da partícula "per" (completamente) e "facere" (fazer).

Do referido verbo surgiu o substantivo abstrato  "perfectio, -onis", que significa "completo", "terminado" ou "acabado". 

O verbo "perficio", compõe-se de "per" (completamente) e "facere" (fazer, realizar). 

Portanto,  "perfeição" refere-se a algo que foi totalmente realizado, que não falta nada para sua completude, ou seja, algo que não requer ou exige qualquer melhora.

Semanticamente portanto, detecta-se que a "Perfeição  humana"  caracteriza ou traduz a existência de um ser ideal que congrega e dispõe de todas as qualidades e não possui nenhum defeito, bem como, designa uma circunstância que não possa ser melhorada.

Em razão de todo este postulado simbólico que a "Perfeição" encerra é que talvez o termo "Aprimoramento", fosse aquele que melhor representasse ou traduzisse o exercício filosófico que a Maçonaria propõe.

Afinal de contas, "Aprimoramento" significa o ato ou o resultado de tornar algo  melhor, mais primoroso.

Refere-se ao processo de desenvolvimento e refinamento de habilidades, conhecimentos ou qualidades. 

Em outras palavras,  é o simbólico exercício de dar forma e conteúdo à nossa Pedra Bruta, desbastando-a, conferindo-lhe forma e essência, polindo-a e tornando-a cada vez melhor.

Trata-se no entanto, de uma prática contínua e inesgotável que o maçom, como ser humano, precisa encarar e entender como infinita.

A Maçonaria é sim, um campo dialético filosófico em que o maçom, busca o incessante "Aprimoramento da própria Conscíência", como forma de contribuir, para de algum modo, tornar feliz a humanidade e a sí mesmo.

Trata-se pois de um processo antropocêntrico, especulativo, sujeito a estudo e inspirado no reconhecimento inteligente da existência de um "Princípio Criador e Incriado do Universo", ao qual o maçom dedica sua obra.

A Perfeição é Deus.

 O Aprimoramento é a missão a que o Ser Humano se submete.



O SIMBOLISMO DA ESCADA - Giorgio Nicoletti



Já mencionamos em outro texto o simbolismo que foi preservado entre os índios da América do Norte, segundo o qual os diferentes mundos são representados por uma série de cavernas sobrepostas e os seres passam de um mundo para outro subindo em uma árvore central. Um simbolismo semelhante é encontrado, em vários casos, realizado por ritos nos quais o ato de subir em uma árvore representa a ascensão do ser ao longo do "eixo"; Esses ritos são tanto védicos quanto "xamânicos", e sua própria difusão é uma indicação de seu caráter verdadeiramente "primordial".

A árvore pode ser substituída aqui por algum outro símbolo “axial” equivalente; o mastro de um navio é um exemplo; Vale destacar, a esse respeito, que do ponto de vista tradicional a construção de um navio é, como a de uma casa ou de uma carroça, a realização de um “modelo cósmico”; e é interessante notar também que o "ninho do corvo", que está colocado na parte superior da árvore e a envolve, ocupa neste caso exatamente o lugar do "olho" da cúpula, cujo centro se acredita ser atravessado pelo eixo, mesmo quando este não está fisicamente representado.

Por outro lado, os estudiosos do folclore também podem observar que o popular "poste de graxa" das feiras nada mais é do que o vestígio mal compreendido de um rito semelhante aos que acabamos de mencionar; também neste caso, um detalhe bastante significativo é constituído pelo círculo suspenso na parte superior do mastro, ao qual se deve chegar subindo por ele (círculo que o mastro atravessa e ultrapassa, assim como o círculo do navio ultrapassa o cesto da gávea e o do “stupa” ultrapassa a cúpula); este círculo também é claramente a representação do "olho solar" e concordaremos que certamente não pode ter sido a suposta "alma popular" que inventou tal simbolismo! Outro símbolo muito difundido, que está imediatamente ligado à mesma ordem de ideias, é o da escada, que também é um símbolo “axial”; como diz AK Coomaraswamy, "o Eixo do Universo é como uma escada na qual ocorre um movimento perpétuo de subida e descida" [The Inverted Tree, p. 20].

Garantir que esse movimento ocorra é, de fato, o propósito essencial da escada; e como, como acabamos de ver, o mastro ou a haste de um navio também desempenha a mesma função, pode-se bem dizer que a escada é, neste sentido, seu equivalente. Por outro lado, a forma particular da escada requer algumas observações; seus dois montantes verticais correspondem à dualidade da "Árvore da Ciência", ou, na Cabala judaica, às duas "colunas" à direita e à esquerda da árvore sephirótica; nem um nem outro são, portanto, propriamente "axiais", e a "coluna do meio", que é o eixo real, não é retratada de forma sensível (como nos casos em que nem mesmo o pilar central de um edifício o é); além disso, toda a escada como um todo é de certa forma "unificada" pelos degraus que unem os dois montantes e que, estando dispostos horizontalmente entre eles, necessariamente têm seus pontos centrais exatamente no eixo. [No antigo hermetismo cristão, encontra-se o equivalente a isso em um certo simbolismo da letra H, com suas duas pernas verticais unidas pelo traço horizontal.]

:Vemos como a escada oferece assim um simbolismo completo: poder-se-ia dizer que é como uma “ponte” vertical que atravessa todos os mundos e permite percorrer toda a sua hierarquia, passando de degrau em degrau; ao mesmo tempo, os degraus são os próprios mundos, isto é, os diferentes níveis ou graus da Existência universal. [O simbolismo da “ponte” poderia naturalmente dar origem, sob os seus vários aspectos, a muitas outras considerações; poder-se-ia também recordar, para certas relações com este tema, o simbolismo islâmico da “tábua guardada” (el lawhul-mahfuz), o protótipo “atemporal” das Sagradas Escrituras que, partindo do mais alto dos céus, desce verticalmente através de todos os mundos]. Este significado é evidente no simbolismo bíblico da escada de Jacó, pela qual os anjos sobem e descem; e sabe-se que Jacó, no lugar onde teve a visão desta escada, colocou uma pedra que ele “ergueu como pilar”, que é também uma figura do “Eixo do Mundo”, e assim de certa forma vem substituir a própria escada [Cfr. “O Rei do Mundo”, cap. IX]. Os anjos representam adequadamente os estados mais elevados do ser; elas correspondem mais particularmente aos degraus, o que se explica pelo fato de que a escada deve ser considerada com sua base apoiada no chão, ou seja, para nós, nosso mundo é necessariamente o "suporte" a partir do qual a ascensão deve ser realizada.

Mesmo que se supusesse que a escada se estendesse até o subsolo para incluir a totalidade dos mundos, como na realidade deve ser, sua parte inferior seria, em qualquer caso, invisível, assim como toda a parte do poço central que se estende abaixo dela é invisível para os seres que alcançaram uma "caverna" situada em um certo nível; em outras palavras, os degraus inferiores já foram percorridos, e não é mais necessário levá-los em consideração com relação à realização posterior do ser, para a qual somente o caminho dos degraus superiores pode contribuir. Por esta razão, especialmente quando a escada é usada como elemento de certos ritos iniciáticos, seus degraus são expressamente considerados como representações dos diferentes céus, isto é, dos estados superiores do ser; é assim que, em particular nos mistérios mitraicos, a escada tinha sete degraus que eram colocados em relação aos sete planetas e eram formados, diz-se, pelos metais correspondentes a eles respectivamente; e o caminho desses degraus representava o de tantos graus sucessivos de iniciação. Esta escada de sete degraus é encontrada em certas organizações iniciáticas medievais, das quais provavelmente passou mais ou menos diretamente para os altos graus da Maçonaria Escocesa, como dissemos em outro lugar em conexão com Dante [L'Esotérisme de Dante, cap. II e III]; aqui os degraus se referem a muitas "ciências", mas isso não constitui nenhuma diferença fundamental, pois segundo o próprio Dante essas "ciências" são identificadas com os "céus" [Convito, II, cap. XIV].

É óbvio que, para corresponder a estados e graus superiores de iniciação, essas ciências tinham que ser ciências tradicionais entendidas em seu sentido mais profundo e propriamente esotérico, e isso também se aplica àquelas dentre elas cujos nomes, em virtude do processo degenerativo ao qual nos referimos frequentemente, agora designam para os modernos apenas ciências ou artes profanas, isto é, algo que, em relação a essas ciências verdadeiras, na realidade nada mais é do que uma casca vazia e um "resíduo" sem vida. Em alguns casos, também é encontrado o símbolo de uma escada dupla, o que implica a ideia de que a subida deve ser seguida por uma descida; ascende-se então de um lado por degraus que são as "ciências", isto é, graus de conhecimento correspondentes à realização de outros tantos estados, e desce-se do outro lado por degraus que são as "virtudes", isto é, os frutos desses mesmos graus de conhecimento aplicados aos seus respectivos níveis. [Deve-se dizer que essa correspondência de subida e descida às vezes parece invertida; mas isso pode depender simplesmente de alguma alteração do significado primitivo, como muitas vezes acontece devido ao estado mais ou menos confuso e incompleto em que os rituais iniciáticos ocidentais chegaram à era atual]. Pode-se notar que, mesmo no caso da escada simples, um dos montantes pode ser considerado de certa forma como "ascendente" e o outro como "descendente", de acordo com o significado geral das duas correntes cósmicas da direita e da esquerda, às quais esses dois montantes também correspondem, em razão de sua posição "lateral" em relação ao eixo verdadeiro que, embora invisível, é, no entanto, o elemento principal do símbolo, aquele ao qual todas as partes devem sempre se referir se alguém deseja compreender completamente seu significado. A estas diferentes indicações acrescentaremos, em conclusão, a de um simbolismo um pouco diferente que também se encontra em certos rituais iniciáticos, nomeadamente a subida de uma escada em caracol; neste caso, poder-se-ia dizer que se trata de uma ascensão menos direta, pois, em vez de se fazer verticalmente segundo a direção do próprio eixo, ela se faz segundo as curvas da hélice que o envolve, de modo que seu processo parece "periférico" e não "central"; mas, em princípio, o resultado final deve ser idêntico, pois se trata sempre de ascender pela hierarquia dos estados do ser, já que as voltas sucessivas da hélice são, entre outras coisas, como explicamos longamente em outro lugar [Ver Le Symbolisme de la Croix], uma representação exata dos graus da Existência universal.

* * *

Trechos de O Simbolismo da Escada, em Símbolos da Ciência Sagrada (última edição. Adelphi, Milão).

julho 11, 2025

ARLS TRÍPLICE ALIANÇA 341 - Mongaguá



Ainda que os trabalhos em Loja e alguns irmãos estejam de férias até Agosto, aqueles que estão na cidade voltam a se reunir nos tradicionais encontros de quinta feira, no icônico Restaurante Telhado, do irmão hospitaleiro José Ricardo Alcântara Ramos, que dedica aquilo que seria o lucro destes jantares a trabalhos de beneficência. Ontem, dia nacional da pizza, diversos tipos de deliciosas pizzas foram homenageadas.


Abaixo o agradecimento da Associação Beneficente Grupo Esperança para a Fraternidade São João, de nossa Loja, pela doação de alimentos obtidos com os recursos de nossos jantares.

São Paulo, 08 de julho 2025

Para a FRATERNIDADE SÃO JOÃO 

Nossa imensa gratidão, pela doação para as marmitas, que entregamos de segunda a sexta feira através da nossa Cozinha Solidária nas Comunidades Balneário Marinho e Arara Vermelha:

Doação recebida em 30/06/2025

70 kgs de arroz

30 kgs Feijão 

06 lts óleo 

02 potes grandes tempero

06 molho tomate grande

10 kgs farofa temperada.

Associação Beneficente Grupo Esperança 

Além disso, neste mês de Junho, obtivemos a doação de mais de cem quilos de roupas e agasalhos em bom estado, que foram doados a três igrejas diferentes.

Nossa Loja, sempre em ação.

FARISEUS, QUEM SÃO?




Nome de uma das três principais seitas judaicas, juntamente com os saduceus e os essênios. Era a seita mais segura da religião judaíca, At 26. 5. Com certeza, a seita dos fariseus foi criada no período anterior à guerra dos macabeus com o fim de oferecer resistência ao espírito helênico que se havia manifestado entre os judeus tendente a adotar os costumes da Grécia. Todo quantos aborreciam a prática desses costumes pagãos, já tão espalhados entre o povo, foram levados a criar forte reação para observar estritamente as leis de Moisés. A feroz perseguição de Antíoco Epifanes contra eles, 175-164 AC levou-os a se organizarem em partido. 

Antíoco queria que os judeus abandonassem a sua religião em troca da fé idólatra da Grécia, tentou destruir as Santas Escrituras, e mandou castigar com a morte a quantos fossem encontrados com o livro da lei. Os hasideanos que eram homens valentes de Israel, juntamente com todos que se consagravam voluntariamente à defesa da lei, entraram na revolta dos macabeus como um partido distinto. Parece que este partido era o mesmo dos fariseus. Quando terminou a guerra em defesa de sua liberdade religiosa, passaram a disputar a supremacia política; foi então que os hasidianos se retraíram. Não se fala deles durante o tempo em que Jônatas e Simão dirigiam os negócios públicos dos judeus, 160-135 A

Os fariseus aparecem com este nome nos dias de João Hircano, 135-105. Este João Hircano pertencia à seita dos fariseus, da qual se separou para se tornar adepto das doutrinas dos saduceus. Seu filho e sucessor Alexandre Janeu, tentou exterminá-los à espada. Porém, sua esposa Alexandra que o sucedeu no governo no ano 78, reconhecendo que a força física era impotente para combater as convicções religiosas, favoreceu a seita dos fariseus. Daí por diante, a sua influência dominava a vida religiosa do povo judeu. 

Os fariseus sustentavam a doutrina da predestinação que consideravam em harmonia com o livre arbítrio. Criam na imortalidade da alma, na ressurreição do corpo e na existência do espírito; criam nas recompensas e castigos na vida futura, de acordo com o modo de viver neste mundo; que as almas dos ímpios eram lançadas em prisão eterna, enquanto que as dos justos, revivendo iam habitar em outros corpos, At 23. 8.

Por estas doutrinas se distinguiam eles dos saduceus, mas não constituíam a essência do farisaísmo, que é o resultado final e necessário daquela concepção religiosa, que faz consistir a religião em viver de conformidade com a lei, prometendo a graça divina somente àqueles que fazem o que a lei manda. Deste modo, a religião consistia na prática de atos externos, em prejuízo das disposições do coração. A interpretação da lei e a sua aplicação aos pormenores da vida ordinária, veio a ser um trabalho de graves consequências; os doutores cresciam em importância para explicar a lei, e suas decisões eram irrevogáveis. 

Josefo, que também era fariseu, diz que eles, não somente aceitavam a lei de Moisés, interpretando-a com muita perícia, como também haviam ensinado ao povo mais práticas de seus antecessores, que não estavam escritas na lei de Moisés, e que eram as interpretações tradicionais dos antigos, que nosso Senhor considerou de importância secundária, Mt 15. 2, 3, 6.

A principio, quando era muito arriscado pertencer à seita dos fariseus; eram eles pessoas de grande valor religioso e constituíam a parte melhor da nação judaica. Subseqüentemente, tornou-se uma crença hereditária, professada por homens de caráter muito inferior que a ela se filiavam. Com o correr do tempo, os elementos essencialmente viciosos desta seita, desenvolveram-se a tal ponto de fazerem dos fariseus objeto de geral reprovação. João Batista, dirigindo-se a eles e aos saduceus, chamou-os de raça de víboras. 

É muito conhecida a linguagem de Jesus, pela qual denunciou severamente estas seitas pela sua hipocrisia e orgulho, pelo modo por que desprezavam as coisas essenciais da lei para darem atenção a minúcias das práticas externas, Mt 5.20; 16.6,11,12; 23.1-39. Formavam uma corporação de intrigantes. Tomaram parte saliente na conspiração contra a vida de Jesus, Mc 3.6; Jo 11.47-57. Apesar disso, contavam-se em seu meio, homens de alto valor, sinceros e retos, como foi Paulo, quando a ela pertencia e de que se orgulhava, em defesa de sua pessoa, At 23.6; 26.5-7; Fp 3.5. Seu mestre Gamaliel também pertencia à mesma seita.

Fonte: Estudos.