agosto 06, 2025

D. PEDRO É CONDUZIDO AO CARGO DE GRÃO MESTRE - Almir Sant’Anna Cruz



Existe um lamentável vazio histórico da Maçonaria brasileira de 6 dias, correspondente ao período de 29 de setembro (data posterior à 16ª sessão da Grande Loja do Grande Oriente do Brasil, presidida pelo Grão Mestre José Bonifácio) a 3 de outubro (data anterior a desta 17ª sessão de Assembléia do Povo Maçônico em que D. Pedro assumiu o cargo de Grão Mestre).

Esse vácuo tem sido preenchido por diversas teorias de historiadores, Maçons ou não. Mas o fato é que não se pode afirmar com segurança o que aconteceu nesses 6 dias, até porque a presente Ata é extremamente sintética e, além de não informar como se deu a troca de José Bonifácio por D. Pedro, ainda causa dúvidas quando relata que Gonçalves Ledo, usando da palavra, afirma que o objeto da Assembléia era a prestação do Juramento de D. Pedro, eleito Grão Mestre por geral aclamação, em plena reunião do Povo Maçônico. 

De qual Assembléia o Grande Secretário estava se referindo, se todas as Atas eram numeradas e a anterior foi uma sessão de Grande Loja, ainda presidida por José Bonifácio? 

A única explicação possível é que ele estava se referindo àquela própria sessão.

Todavia a maior dúvida e que gerou inúmeras teorias, é de como se deu a substituição de José Bonifácio por D. Pedro.

Existem duas principais teorias. A de que José Bonifácio não teria sido comunicado dessa decisão e foi simplesmente defenestrado do cargo pela ala liberal da Maçonaria e a de que ele foi consultado e concordou com a substituição.

Ficamos com essa segunda hipótese, pois tudo foi uma estratégia política, traçada pelo Grande Arquiteto da Independência, Joaquim Gonçalves Ledo, a começar pelo convite e aclamação de José Bonifácio como Grão Mestre, forma de unir os conservadores aos liberais em prol do objetivo comum, que era a Independência do Brasil, através do mais poderoso e íntimo Ministro do Príncipe Regente. Em seguida, com o convite a D. Pedro para ingressar na Maçonaria e logo exaltado ao Grau de Mestre, convite este provavelmente feito por seu Ministro. E finalmente convidando o Imperador para substituir seu principal Ministro como Grão Mestre do Grande Oriente do Brasil. Tudo executado conforme planejado desde o início. 

Diferentemente da 1ª Ata, em que constou o Juramento feito pelo Delegado do Grão Mestre, nesta Ata, menciona-se o Juramento, mas não se transcreveu o texto em que foi vazado. Admitimos que foi idêntico.

Por fim, não se menciona o discurso do Brigadeiro Domingos Alves Branco Muniz Barreto, Secretário da Loja Commercio e Artes, exortando o Grão Mestre recém empossado a não dar créditos às intrigas e confiar nos Maçons presentes que lhes eram leais. Não funcionou, pois os intrigantes conseguiram a cizânia entre os dois grupos de Maçons, liderados por José Bonifácio e Gonçalves Ledo.


Eis a 17ª. ATA DE 04/10/1822, com sua ortografia convertida para a atual e as abreviaturas maçônicas decodificadas. Os parêntesis são nossos.

À GLÓRIA DO GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO

17ª SESSÃO – ASSEMBLÉIA DO POVO MAÇÔNICO

Aos 14 dias do 7º mês do ano da Verdadeira Luz 5822 (sexta-feira, 04 de outubro de 1822), abertos os trabalhos da Grande Loja pelo Irmão 1º Grande Vigilante (Gonçalves Ledo), na ausência e impedimento do Grande Delegado (Marechal Luiz Pereira da Nobrega de Souza Coutinho), foram introduzidos no templo os Operários das Lojas metropolitanas, que estavam na sala dos passos perdidos, e logo expôs o 1º Grande Vigilante que o objeto da presente convocação, da Assembléia Maçônica, era a prestação do Juramento do nosso muito amável e muito amado Irmão Guatimozim (D. Pedro), eleito Grão Mestre da Maçonaria Brasileira, por geral Aclamação em plena reunião do Povo Maçônico, e sendo conduzido do Oriente, onde estava, ao sólio, por uma deputação de Irmãos Cavaleiros Rosa-Cruzes, prestou o Juramento da Ordem e imediatamente recebeu o Grande Malhete, subiu ao sólio e tomou a direção dos trabalhos.

Apresentou o Irmão 1º Grande Vigilante dois ofícios: um do Soberano Capítulo ao Oriente da Província de Pernambuco, no qual aquela Loja Capitular reconhecia e saudava o Grande Oriente do Brasil, pedindo contudo, a faculdade de fazer algumas reflexões sobre a cópia da 1ª Parte da Constituição, que lhe fora apresentada pelo Irmão Felippe Nery, Delegado  deste Oriente na dita Província.

No segundo ofício o Delegado Felippe Nery participava o resultado de sua comissão, acusando a remessa do primeiro ofício.

Resolveu a Assembléia que no dia 12 de outubro todos os Maçons se espalhassem pelos lugares de maior concurso, principalmente pelo Campo, onde procurassem conservar a tranquilidade necessária e o decoro conveniente ao respeitabilíssimo ato, que teria lugar no mesmo dia.

Por esta ocasião propôs o Irmão José Clemente Pereira os vivas, que, como Presidente da Câmara tencionava dar: à Religião, ao senhor D. Pedro 1º Imperador Constitucional do Brasil, à sua Augusta Esposa, à Independência do Brasil.

E logo o Sapientíssimo Grão Mestre lembrou mais um viva: à Assembléia Constituinte e Legislativa do Brasil.

E assim se acordou nos objetos que se deviam aplaudir no futuro dia da Aclamação Profana.

Continuou o Irmão José Clemente, participando as boas novas dos nossos emissários e o resultado satisfatório da correspondência com as Câmaras circunvizinhas.

O irmão 1º Grande Vigilante propôs à consideração da Assembléia as queixas que ouvira do Irmão Francisco Pedro Limpo, relativas à Portaria que regulava o modo de guarnecer a esquadra Brasileira, que se estava aparelhando.

Assim se terminaram os trabalhos e fechada a Loja na forma do costume, retiramo-nos em paz.


Excerto do livro "A História que a História não conta: A Maçonaria na Independência do Brasil" do Irm.’. Almir Sant’Anna Cruz

Interessados contatar o Irm.’. Almir no WhatsApp (21) 99568-1350

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