O dom da vida é o bem mais precioso de que Deus nos dotou. Esse dom não se esgota no tempo e no espaço. Pelo contrário, é ad aeternum, para toda a eternidade, e é também a mais clara demonstração do amor que Ele tem por todas as suas criaturas.
O dom da vida não se manifesta por acaso. Ao nos conceder a vida, Ele também nos conferiu uma individualidade que nos representa por toda a eternidade.
Ao entender essa condição única, cada um de nós dentro da sua idiossincrasia deve manifestar a sua mais profunda gratidão. Somos únicos. A nossa existência se realiza por fases, em que nascemos e renascemos infinitamente.
Mas é indispensável que saibamos agir coerentemente com os ensinamentos que recebemos. O que mais importa? Sem dúvida, no meu entendimento, em primeiro lugar o essencial é buscar o reino de Deus. E onde estará esse reino misterioso e enigmático?
Há um preceito bíblico, registrado em Lucas 17:21, que diz o seguinte:
“*Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Porque o reino de Deus está dentro de vós*”. No livro de Deuteronômio, 30, 11-14, Deus diz a Moisés que colocou seu mandamento no coração e na palavra do homem. O que de certa forma, corrobora o ensinamento acima, proferido por Jesus Cristo.
Isso significa que o reino de Deus é um estado interior de progresso moral e espiritual que se constrói a partir do próprio indivíduo, de dentro pra fora, através do aprimoramento de si mesmo e da prática dos ensinamentos de Jesus, culminando numa felicidade íntima e na manifestação de qualidades divinas como amor, justiça e caridade.
Na visão kardecista, o reino de Deus é um estado interior, uma realidade espiritual que existe dentro de cada um de nós aguardando para ser desenvolvida e que se manifesta quando há um alinhamento com o amor. E é também a edificação da lei divina que se realiza por meio da fé – atributo intrínseco de cada ser, que não é crença, é fidelidade. A fé liberta, a crença fixa, prende. Outro atributo da fé é que ela é pessoal, individual. A fé revitaliza o ser humano e se fortalece pelo uso correto do livre-arbítrio.
Na mitologia grega há uma lenda interessante sobre este assunto:
Conta-se que no Olimpo os deuses se reuniram sob a regência de Zeus para discutir onde esconder a sabedoria, porque se tornava cada vez mais patente que o homem logo a encontraria e seria o fim do reinado dos deuses. Urano propôs que se colocasse a sabedoria no local mais profundo da Terra, e alguns concordaram com ele. Mas logo outros argumentaram que o homem criaria uma escavadeira e chegaria até lá. Poseidon, deus dos oceanos, propôs então que se colocasse a sabedoria no ponto mais profundo do mar. Essa opção foi inicialmente aceita, mas logo rejeitada porque alguém comentou que o homem criaria um submarino e também chegaria até lá. A deusa Atena acompanhava a discussão em silêncio – ela estava sempre acompanhada por uma coruja, o símbolo da sabedoria – e propôs então que se colocasse a sabedoria num local onde o homem jamais procuraria: dentro de si mesmo, guardada em seu coração. E assim foi feito.
Daí o ensinamento esotérico consubstanciado no acróstico V.·.I.·.T.·.R.·.I.·.O.·.L.·. que significa *Visita Interiore Terrae Retificandote Invenies Ocultum Lapidem*, ou seja, visite o interior da Terra, e retificando-te, encontrarás a pedra oculta, ou seja, o reino de Deus.
O que, *mutatis mutandi*, ou em outras palavras, é a mesma coisa.
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