Somos concebidos, nascemos, amadurecemos, envelhecemos e morremos.
Para onde vamos?
Talvez esta seja a pergunta que tanto nos angustia e onde estejam incutidas todas as nossas dúvidas e medos.
Consequentemente, acabamos tendo uma imperiosa necessidade de acreditarmos que há uma razão especial para estarmos vivos e que em algum momento, teremos que prestar contas dos nossos actos.
Haveria então, uma “necessidade” de Deus?
Seria esta “necessidade” transmitida geneticamente ou apenas cultivada culturalmente?
A Filosofia permite que cada um de nós tenha o seu entendimento do mundo, do que pode ser a moral, a justiça, a regra do jogo para uma existência feliz entre os homens.
No entanto, a verdade é que vivemos sim, desde cedo, sob uma ameaça latente em determinadas concepções.
Tudo o que fizermos, para o bem ou para o mal, dar-nos-á recompensas ou castigos.
Estaríamos assim, à mercê de um ser superior, omnipresente, omnipotente e omnisciente, julgador, nem sempre muito paciente, nem muito compreensivo; por vezes, mesmo, mal-humorado para com as nossas falhas, enviando-nos pragas e castigos quando o seu julgamento não nos favoreça.
Poderíamos ser destinados a vagar por toda a eternidade num local mais quente do que o suportável, sob os olhares prazerosos de criaturas nada agradáveis que, ademais, ainda nos castigariam com os seus tridentes pontiagudos.
Por que, frente a tão terríveis presságios, o ser humano que é dotado de diferenciais importantes na escala zoológica, ainda se comporta de forma a causar inveja a qualquer outro animal-fera existente na face da terra?
Será que os seres humanos descobriram como diz o personagem de Nietzsche em “Assim Falava Zaratustra”, que Deus, este Ser superior, morreu?
Acontecimentos não faltam para mostrar que, na ausência de comando efectivo em convencimento, as feras internas se soltam na certeza da impunidade.
Mas, teria Deus morrido?
Para quem Ele morreu afinal?
Pois, cada vez mais se faz em seu nome sequestros, guerras, atrocidades, negócios e muitas outras acções não muito ligadas à ética, ao amor, à solidariedade, às orações.
Onde estaria Deus no meio de tantas injustiças que nos atinge a todos, independente das nossas concepções, no dia a dia da nossa curta existência?
Podemos por outro lado, apenas acreditar que como ensina o Budismo, o sofrimento é omnipresente em toda a natureza e vida humana.
Existir já significa que nos vamos encontrar com o sofrimento.
O nascimento é doloroso, assim como a morte.
As doenças e a velhice são dolorosas.
Ao longo da vida, todas as coisas vivas encontram sofrimento.
Não teríamos, pois, o direito à alegria, à felicidade?
Alongando-me neste conceito budista, aqui não se encaixa um Deus personalista.
Em geral, os budistas são panteístas na sua perspectiva de Deus.
Panteísmo diz respeito a uma doutrina filosófica caracterizada por uma extrema aproximação ou identificação total entre Deus e o universo, concebidos como realidades directamente conexas ou como uma única realidade integrada.
É um antagonismo ao tradicional postulado teológico segundo o qual a divindade transcende absolutamente a realidade material e a condição humana.
Que poderíamos dizer e pensar acerca das inúmeras interpretações que se tem nas diferentes formas de sentir e crer em Deus?
E os conceitos de Deus no Judaísmo, no Islamismo, no Hinduísmo?
E as contraposições filosóficas entre deísmo e teísmo?
Conceito, dizem os dicionários, é uma faculdade intelectiva e cognoscitiva do ser humano; é mente, espírito, pensamento, compreensão que alguém tem de uma palavra, de uma acção; é noção, concepção, ideia, opinião, ponto de vista, convicção.
É a noção abstrata contida nas palavras de uma língua para designar, de modo generalizado e, de certa forma, estável, as propriedades e características de uma classe de seres, objectos ou entidades abstratas.
Conceituar, pois, Deus na Maçonaria, seria no meu entender, cair em mais uma cilada.
Deus não é um conceito.
Deus é busca, sentimento, caminho, propósito, escopo, finalidade, alvo.
Nós, maçons
, apenas o denominamos de forma diferente, como o “Grande Arquitecto do Universo”.
Quando Philibert Delorme, falando de Deus no seu tratado de arquitectura, usou em 1567, possivelmente de forma pioneira, a expressão *“esse grande Arquitecto do Universo, Deus Todo-Poderoso”*, estava incutindo um conceito: o de Deus como um grande ordenador e planeador do Universo.
Ou seja, nada fugiria dos seus desígnios, da sua vontade, da sua determinação.
Arrisco-me a dizer que este não é um conceito próprio do que quer nos ensinar a Maçonaria.
Deus é razão, e como tal ilumina os nossos caminhos concedendo-nos a faculdade de raciocinar, de apreender, de compreender, de ponderar, de julgar.
Concede-nos a inteligência, ou seja, a faculdade intelectual e linguística que nos distingue, para modificarmos a natureza e fazermos as nossas escolhas.
Se Ele nos distingue com tamanhos privilégios, temos a obrigação, o compromisso, o dever de saber bem usá-los.
Usá-los na busca do aperfeiçoamento individual e colectivo; no sentimento de amor e compreensão que devemos ter para com todos os demais seres vivos; na visão de um caminho de sofrimentos, porém, também de alegrias.
No propósito de honrarmos, respeitarmos e aceitarmos todos os conceitos humanos que Dele se possa ter, com a finalidade de obtermos não a sua graça, mas, o seu respeito, e mesmo, por que não, a sua admiração; enfim, como um alvo, tentando nos aproximarmos da sua grandeza.
Na verdade, Ele nunca se definiu.
Nós é que temos esta necessidade incompreensível de tentar definí-Lo.
É mister que entendamos que para a Maçonaria, Deus não é castigo e apesar da denominação “Grande Arquitecto”, não planeia as coisas impedindo as nossas escolhas.
Dá-nos sim, o livre arbítrio.
As nossas escolhas não serão julgadas, elogiadas ou castigadas com o céu ou o inferno.
As nossas escolhas representarão dualidades contrastantes do piso mosaico como enobrecimento ou embrutecimento das nossas almas.
O bem ou o mal para os nossos semelhantes e demais criaturas vivas; o conhecimento ou a ignorância, a luz ou a escuridão, alegria ou infelicidade.
Todo o ensinamento maçónico está envolvido nestes conceitos: *mente e razão*.
*Mente* como conceito de processos cognitivos e actividades psicológicas, inteligentes e sensíveis do ser humano.
*Razão*, como pensamento moral, na sua função orientadora da conduta humana, prevendo as consequências e avaliando, com absoluta autonomia, o significado das nossas acções, com base na nossa capacidade lógica de discernir entre o verdadeiro e o falso, o bem e o mal.
Na minha visão, conseguir visualizar, idealizar, conceber, estar convicto e partilhar destes conceitos, independentemente de crenças e práticas pessoais, representa orar a melhor das orações: a da bondade, da virtude, da honra, da dignidade, do compartilhamento, da solidariedade, do sentimento humanitário, da honestidade e do amor.
É, enfim, seguir em busca da mais sublime concepção de DEUS!

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