novembro 12, 2025

PREPOSIÇŌES MUDAM HISTÓRIAS E DISTORCEM VIDAS - Newton Agrella


 

É um tanto instigante, porém incrível, como duas meras preposições, cada uma, a seu modo, dotadas de uma única sílaba e de apenas duas letras, têm o poder de transfigurar o sentido das coisas e o próprio comportamento humano.

Senão vejamos, nos exemplos que se seguem:

Uma pessoa pode "perder-se *em* sí" 

ou

 "perder-se *de* sí"

A rigor a diferença reside no âmago da questão e nas circunstâncias que a envolvem.

 Na primeira assertiva,  "perder-se *em* si" indica uma profunda imersão de caráter,  supostamente negativo em si mesmo. 

Trata-se de um mergulho no próprio pensamento, no próprio íntimo, e que de algum modo pode ser interpretado como uma espécie de egocentrismo ou até mesmo como um processo de autoconsciência, que de certa maneira, pode ser prejudicial, na medida em que ao perder-se em si mesmo, o indivíduo não consegue enxergar outros pontos de vista, ou entender outras formas de ver a vida,  senão, exclusivamente, aquela que carrega consigo. É a vaidade e orgulho que aprisionam.

Por outro lado, "perder-se *de* si" indica um afastamento e uma desconexão do seu próprio eu, do seu próprio eixo, sob o risco inclusive de se deixar levar a um estado de submissão ou de subserviência.

Trata-se da busca ou necessidade em querer se encaixar em outra pessoa ou situação. 

É uma forma de se anular e principalmente de se afastar da própria identidade.

Se com a preposição *"em"* , o indivíduo mergulha e se perde num labirinto insondável dentro de si, não menos traumático é perder-se para fora *"de"* sí  desvinculando-se da própria realidade.

Estes singelos exemplos são combustível suficiente para provar o quanto as palavras têm vida.



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