abril 27, 2025

MAÇONARIA TÓXICA ?



Naturalmente que quem ler o título da publicação de hoje por certo ficará reticente com o que poderá encontrar nela pelo fato da afirmação escrita por mim ser um tanto forte. Mas desengane-se o leitor, uma vez que, aquilo que o título poderá encerrar não será na verdade o mais correto, apesar de ser uma assunção que para alguns detratores da Ordem Maçónica seria o quanto bastaria um maçom fazer para que todas as opiniões e ideias que têm da Maçonaria serem as "verdadeiras". O que não é o que pretendo com a afirmação que fiz nem é a constatação da realidade em que vivemos.

Quando eu falo em Maçonaria “tóxica” naturalmente que não posso afirmar tal sobre uma tão proba e augusta Ordem como o é na realidade a Maçonaria. Abordo sim, os seus elementos, os maçons. Pois uma coisa é a Instituição Maçónica em si, outra coisa totalmente diferente são os membros que a compõem; Homens com as suas virtudes - e que na sua larga maioria é gente que as tenta enaltecer e potenciar-, mas também com os seus defeitos próprios e naturais. O que importa realmente é o que fazer com estes últimos que citei…

Todavia, não querendo eu efetuar uma análise extensiva sobre o assunto em si mas apenas abordando a toxicidade existente na Maçonaria num sentido lato, quero eu dizer e reafirmando o que atrás disse, a Maçonaria nunca poderá ser tóxica na sua vivência nem na sua praxis, mas antes sim, os seus membros. E esta sua toxicidade - dos seus obreiros - apenas poderá porvir do seu carácter, da sua conduta, da sua forma de viver e estar…

Parece que fiz uma afirmação austera demais e inglória?!

Não!

Disse apenas o que se pode constatar na realidade.

Se a Maçonaria é formada por pessoas com vários caracteres e feitios, existem os “bons maçons” mas infelizmente também, existem aqueles maçons cuja forma de estar intoxica a Ordem que os acolheu e que em última instância acabarão por (tentar) intoxicar os demais. 

Quando falo em maçons “tóxicos”, estes são aqueles maçons que não trabalham em prol da Ordem, não aprendem nem desejam aprender, nem estão sequer motivados para tal; não se comprometendo com nada e se o fazem, fazem-no por "obrigação" e os resultados dessas ações serão por demais evidentes; não praticam os ensinamentos ou os ideais da Maçonaria tanto na sua vida pública como no seu foro privado, que se abstêm de comparecer nas sessões ordinárias da sua Respeitável Loja; que a sua conduta é diferente daquilo que dela tanto propalam, mas que também para além disso, nas suas condutas profanas geralmente são pessoas que envenenam as suas relações profissionais, familiares e fraternais - isto, se as tiverem (!) - E se os há…

Uns sentem-se tão cheios de si, empertigados pelos seus “pedestais” e “medalhas”, outros falando por boca alheia sem meditar no que estão a dizer, cedendo o seu melhor bem que é o seu “pensamento” a outrem, preferindo ser instrumentalizados como “marionetas” a bel-prazer de quem melhor possa atribuir encómios à sua pessoa ou até mesmo se submeterem a aqueles a quem possam retirar qualquer tipo de benefício ou dividendo para si próprios, manipulando a longa lista de contatos a que podem ter acesso pelo simples facto de terem entrado numa Ordem universal e com elevado número de membros.

Estes serão aqueles que geralmente se diz que "entraram na Maçonaria, mas que ela nunca entrou neles..."

Os tais afamados "erros de casting"!

Mas apesar destas situações que confirmo a sua existência – nada que não seja natural nas várias instituições ou grupos sociais que o Homem integre; a Maçonaria é o “espelho” da sociedade em que se insere (!) – “não podemos tomar o todo por alguns” e a maioria suplanta amplamente esses poucos que o tempo sempre se encarrega de extirpar – quais cancros sociais – e são esses - a maioria - que no fundo fazem e refazem as instituições por onde passam, limpando e renovando a imagem que por vezes se torna imunda, pelas atitudes que de lés-a-lés são tornadas públicas, por gente que, talvez, nunca deveria ter sido cooptada pela Ordem.

O que se pode concluir é que a toxicidade existente na Maçonaria não é uma toxicidade "química" mas antes um certo tipo de toxicidade social e comportamental de uma parte ínfima dos seus obreiros.

E que estas pessoas que intoxicam a Instituição Maçónica acabam por dar algum eco e razão aos detratores da Ordem, pois não poderemos nós nunca olvidar que os maiores inimigos da Maçonaria são e serão sempre os Maçons, disso tenho eu a certeza .

E o que fazer com estes “seres tóxicos” que deambulam por uma tão Augusta Ordem?

Dar-lhes “corda” suficiente para se “enforcarem”?

Entregar-lhes o “combustível” e o “detonador” necessário para se “queimarem”?

Deixá-los "caminhar até à ponta do precipício e incitá-los a saltar"?

Ou tentar lhes demonstrar que o caminho que por ora seguem é um caminho para o “abismo”, possivelmente sem retorno, e que se tomado de forma inadvertida ainda poderá ter regresso ao trilho correto?

Algumas vezes pensei que a última sugestão/possibilidade seria a mais certa. Mas hoje em dia começo a ficar titubeante com a decisão a tomar. Se devo tomar a decisão que se suporia como sendo a mais correta ou se aquela que melhor me servirá…

De fato todos na nossa vida pessoal e em situações extremas, temos sempre uma atitude de “sobrevivência” e por isso mesmo temos a tendência de olharmos para o nosso “umbigo” e esquecer por breves instantes o bem comum. - O que não deveria acontecer, mas como humanos que somos, tal é sempre mais forte. Não podemos negar a nossa natureza e existência animal ! 

Queira eu por isso e principalmente com o auxílio do Grande Arquiteto, com a sua Luz e Sabedoria, tomar sempre as melhores decisões que possa tomar em qualquer momento e agir de forma a que os meus pares, principalmente os que me reconhecem e que eu reconheço como tal - eles saberão por certo quem serão - nunca se sintam envergonhados pela minha conduta, seja esta demonstrada através de ações, omissões e/ou palavras... Porque se por vezes é necessário se falar e muito dizer (nem que seja para criar certo "ruído de fundo"), noutras situações será preferível não o fazer sequer.

Aliás sempre retive para mim que o "poder" do silêncio reside não quando nada se diz, por nada se ter para falar; mas antes sim, quanto muito temos para dizer e preferimos conscientemente nos manter calados...

Quanto aos seres tóxicos que por aí deambulam, esses, terão de fazer por eles…

Até porque se afirmam que também nem sabem ler nem escrever, alguns até mesmo dificilmente conseguiriam soletrar... até mesmo a sua língua materna!

Fonte: Estudos.

abril 26, 2025

ARGBBLS CARIDADE E JUSTIÇA N. 36 – GOP - Lorena





Na noite de ontem coube-me a honra de fazer a palestra "O caminho da felicidade" em sessão pública, na Augusta Respeitável Grande Benfeitora e Benemérita Loja Maçônica de Lorena.

Cerca de 50 pessoas estiveram presentes ao evento, cujo ingresso foi a arrecadação de alimentos para beneficência.

Também expusemos os livros da Mostra Literária Itinerante da Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras.

O belo prédio da Loja, que tem 72 anos é tombado como patrimônio público e realmente é emocionante ver como é bem conservado.

No final o jovem VM LUCCA FERRI LATROFE, lembrando que o Dia das Mães é comemorado em duas semanas, presenteou todas as senhoras presentes com um botão de rosa, delicado mimo.

Depois todos confraternizaram com mesas de pizzas e quitutes.

O. OVO, DO SAGRADO AO PROFANO

 


Antes de você começar a ler este quadro, gostaria de explicar o contexto de sua existência.

Em março de 2006, nosso Venerável Mestre queria um "quadro reserva" para o caso de uma falha durante uma reunião.

A proximidade da Páscoa me fez sugerir o ovo, meio que numa brincadeira.

Estou oferecendo isso a você hoje em um contexto um pouco "inusitado"...

Em vez de eclodir em 24 de março, o ovo abre em 8 de setembro...

Plano

O ovo ou a galinha?

O simbolismo do ovo   através de mitos e lendas... 

      Osíris, a Fênix

Tradições de Páscoa

Ovo de Cristóvão Colombo!

"O Ovo Maçônico"?


E no princípio era o ovo... ...Começou mal!                                        

O ovo ou a galinha?

Os escolásticos se perguntavam sobre a prioridade relativa da galinha e do ovo: o ovo está na galinha, a galinha está no ovo... um ovo posto e uma galinha poedeira... e uma relação complicada que diz que uma galinha poedeira põe ovos que, uma vez postos, por sua vez darão origem a galinhas poedeiras... e vice-versa e vice-versa e reciprocamente!

A resposta da Igreja é peremptória: foi Deus quem criou a galinha, na semana em que criou o mundo. Ele poderia ter criado o ovo primeiro. Mas o Antigo Testamento é formal: Deus criou os pássaros. Então esses pássaros   botaram ovos para se perpetuarem. A primeira galinha, criada por Deus, botou o primeiro ovo. Este primeiro ovo deu à luz a próxima galinha.

Teoria criacionista em oposição à teoria evolucionista que parte dos dinossauros ovíparos   para chegar às aves e às nossas galinhas. Remeto a um artigo de Eric Brasseur intitulado   "o ovo e a galinha, uma variação da evolução",   de outubro de 2005.

Um quebequense, Pierre Cloutier, que luta energicamente contra as teorias criacionistas que atualmente surgem no continente norte-americano, fornece a seguinte resposta científica:


"A natureza nunca para de imaginar maneiras de ter um ovo sem uma galinha. O método mais simples é a replicação, ou seja, uma célula - e o ovo é uma célula - se duplica coletando do ambiente ao redor, átomo por átomo, o material necessário para fazer uma cópia de si mesma.

...

A célula fica vulnerável durante seu processo de divisão. Aquele que conseguir se envolver em uma membrana protetora aumentará suas chances de levar sua replicação até o fim.

...

E é essa membrana protetora que se torna o objeto da evolução...a primeira galinha foi provavelmente o ápice da evolução desse tipo de membrana.

...

Quem veio primeiro? É o ovo, claro!

...

Uma questão corolária permanece: o que veio primeiro, o ovo cozido ou o frango frio com maionese?

Agora vamos entrar no mundo dos mitos e lendas...

No princípio, havia apenas o "não-ser". O mito do ovo original, o ovo cosmogônico, é encontrado na maioria das civilizações   onde o pensamento tradicional sobre o sagrado não foi substituído por um tipo bíblico de teologia... embora possamos olhar para a Arca de Noé como   esse ovo original, o reservatório de todas as formas de vida terrestre.

O nascimento do mundo a partir de um ovo é uma ideia comum aos celtas, gregos, egípcios, fenícios, cananeus, tibetanos... e muitos outros.

Todas as origens e começos retratados no ovo simbólico descrevem a passagem do um para o muitos, do caos para a ordem, da não existência para a vida.

O ovo primordial — ou caos em forma de ovo — é sempre definido como o reservatório de todas as possibilidades de existência.

Para os egípcios , na doutrina de Hermópolis, o ovo do mundo é posto por um pássaro maravilhoso. Essa aparente anterioridade do pássaro desaparece no momento em que nos colocamos não mais na ordem natural das coisas, mas na da causalidade simbólica: o pássaro é, na verdade, o Grande Pântano, o Caos original. O ato – a postura dos ovos – é a revelação do mistério da vida.

Na Grécia primitiva , o mito do ovo original conta como a "Noite Primordial", apelidada de "a deusa com asas negras" ou "Eros",   "a vida original", era cortejada pelo Vento Norte. Enquanto dança para se aquecer, ela agita o Vento Norte e, de suas evoluções,   nasce a serpente Orphion   , à qual ela se une transformando-se em uma pomba. A pomba, o ganso e o pato são aves simbólicas frequentemente presentes em diferentes lendas.

 A deusa se torna mãe ao botar o ovo universal, o ovo de prata, a Lua. Este é o mito órfico onde o ovo de prata simboliza a revelação da vida e do ser.                       

No Kalevala, o livro sagrado dos antigos finlandeses , é também do ovo que o mundo nasceu. Conto-vos a lenda:

"A mãe-d'água, Iltamara, dormia no fundo do oceano sem margens. Durante o sono, ela se mexeu e seu joelho emergiu da água, como uma ilha. Então, o Mestre do Ar, em forma de pato, caiu dos céus e pôs um ovo neste joelho divino (uma variante fala de   7 ovos, 6 de ouro e 1 de ferro). Mas, mal tocada, como uma pessoa sonolenta incomodada por um inseto, a deusa estremeceu e quebrou a casca perfeita. Então, todos os pedaços se transformaram em coisas úteis e boas. O fundo da concha formou o firmamento sublime, o topo da parte amarela tornou-se o sol radiante, o topo da parte branca era no céu a lua brilhante, cada fragmento manchado da concha era uma estrela no firmamento, cada pedaço do casco tornou-se uma nuvem no ar... e a partir daí, o tempo avançou."

De acordo com as tradições cananeias , Mochus coloca na origem do mundo "o éter e o ar",   dos quais nasce Oulômos, o infinito. Oulômos engendra "o ovo cósmico e Chansör, o deus artesão". Chansör abre o ovo cósmico em dois e forma o céu e a terra a partir dessas duas metades.

Mantive esse mito da dualidade   porque ele é encontrado no hinduísmo, no yin/yang chinês (os elementos pesados ​​do ovo do caos formam a terra e os elementos leves, o céu).

É também o mito do Andrógino que está emergindo: tudo está no ovo que contém o germe da multiplicidade dos seres. A diferenciação progressiva   está em andamento   à medida que o mistério da vida é revelado. O recente programa "A Odisseia da Vida" nos mostrou, em maravilhosas imagens geradas por computador, a evolução da diferenciação sexual da criança humana durante a gravidez.

Os dois ovos   de Leda, seduzida por Zeus que assumiu a aparência de um cisne, continham gêmeos: Castor e Pólux, Helena e Clitemnestra. Esses 4 gêmeos formarão dois   casais heterossexuais.

Nas crenças celtas , o simbolismo do ovo está incluído no do ouriço-do-mar fóssil assimilado ao ovo de uma serpente e que contém o germe de todas as possibilidades.

O mito do ovo cósmico também é encontrado entre os povos Dogon e Bambara do Mali. Deixo para minhas irmãs "africanas" contar a vocês sobre o ovo do Deus Amma e a semente oval do po! Entre os Liboubas do Congo, o amarelo representa a umidade feminina, o branco o esperma masculino e a concha o sol.

Ovo   filosófico é um termo alquímico . É um nome simbólico que representa tanto a criação do universo quanto a transmutação dos metais.

A alquimia considerava o ovo o sinal do "trabalho" sagrado. Ela representa tanto os dispositivos utilizados nas diferentes operações (o atanor, o forno alquímico, em forma de ovo) quanto os produtos que ali aparecem.

A ideia do germe aqui é a da vida espiritual:

"Dos produtos do composto deve nascer o filho da filosofia"... isto é, ouro, isto é, sabedoria...

O propósito do ovo sagrado é gerar mundos.

De fato, todas as formas sagradas e reveladas do ovo dizem respeito à origem, ao começo, ao nascimento ou renascimento.

O ovo primordial se revela   como a passagem do Incriado para a Criação.

Esse renascimento pode ser aplicado ao mito de Osíris : o ovo de Osíris contém 24 pirâmides que Osíris compartilha com seu irmão Seth, 12 brancas para Osíris, 12 pretas para Seth. Osíris é morto por Seth, mas, graças a Ísis, ele renasce para a vida eterna, a metamorfose suprema da vida. O ovo de Osíris pode ser chamado de "Pascal" — passagem, ressurreição, imortalidade — porque se trata de emergir da morte. Também falamos da trindade osiriana "vida/morte/sobrevivência". Entendo, nesta expressão, a palavra "sobrevivência" como vida acima, vida superior, que se refere à espiritualidade... A posição encolhida do morto imita a posição do feto na matriz do segundo nascimento, sendo este nascimento situado no plano da alma. Nós nos tornamos Osíris como o Cristo ressuscitado na Páscoa... e o ovo de Páscoa é tanto ninho quanto túmulo.                                                                                                                    

O simbolismo do ovo de Páscoa também encontra sua expressão universal na ave Fênix .

Ave fabulosa, nativa da Etiópia e ligada ao culto ao Sol, principalmente na antiguidade.

Egito e antiguidade clássica.

A fênix era uma espécie de águia, mas de tamanho considerável; sua plumagem era adornada com vermelho,

de azul brilhante e dourado, e sua aparência era esplêndida.

Nunca houve mais de uma fênix ao mesmo tempo; ele viveu muito tempo:

nenhuma tradição menciona uma existência de menos de quinhentos anos.

Não tendo conseguido reproduzir-se, a fênix, quando sentiu que seu fim se aproximava,

construiu um ninho de ramos aromáticos e incenso, ateou fogo nele e se consumiu nas chamas.

Das cinzas desta pira surgiu uma nova fênix.

Foi Heródoto quem primeiro mencionou esta ave; Ele deu uma versão muito original: assim a velha e a nova fênix coexistem por um tempo: quando seu pai morre, o jovem pássaro deixa a Arábia, seu país de origem, para levar ao santuário de Heliópolis o cadáver de seu pai envolto em um ovo de mirra .

Do renascimento à renovação da vida e à primavera, há apenas um passo.

O Ano Novo, entre os persas , correspondia ao equinócio da primavera e era acompanhado de festividades durante as quais os ovos eram coloridos e oferecidos.

Entre os romanos, o equinócio da primavera era dedicado ao culto de Ceres, a Cerealia, que durava 8 dias.

A lenda dos ovos de Páscoa, embora não possa ser datada com precisão, remonta à Idade Média para os cristãos ocidentais. Entretanto, sabemos que entre os cristãos coptas do Egito, dos   séculos X e XI, havia o costume de oferecer ovos de Páscoa uns aos outros. O costume pode ter sido introduzido pelos cruzados em seu retorno da Terra Santa.

No século IV, a Igreja proibiu o consumo de ovos durante o período penitencial da Quaresma, de 40 dias... Para conservá-los, reconhecendo os mais velhos dos mais frescos, eles eram cozidos e pintados. Esse hábito se tornou uma tradição. Como as galinhas continuaram a botar ovos, uma grande quantidade de ovos ficou sem uso.

É por isso que se tornou costume comê-los em abundância na Páscoa.

Já no século XII, em muitos países europeus, pessoas comuns trocavam ovos simples, abençoados na igreja.

Os nobres rapidamente adotaram esse costume, mas contataram pintores, ourives e gravadores, e esses artistas criaram "ovos de joias" com pinturas delicadas, decorados com esmaltes ou pedras preciosas.

No ano de 1200, no reinado de Eduardo I da Inglaterra, encontramos nas contas do palácio real a quantia de 18 pence para a compra de 450 ovos que seriam pintados com folhas de ouro antes de serem distribuídos à família real.

Quanto à surpresa contida no ovo, é uma tradição que remonta ao século XVI e algumas até passaram para a história: é o caso da estatueta de Cupido encerrada num enorme ovo de Páscoa oferecido por Luís XV à Madame Du Barry ou do incensário encontrado por Catarina II em 1770.

Dizem que na França, o maior ovo do reino, que era posto durante a Semana Santa, ia legitimamente para o rei... a história não diz como a competição era organizada!

Após a Revolução, a tradição dos ovos de Páscoa continuou em outras cortes reais e encontrou um desenvolvimento exuberante na corte da Rússia. O clímax da "Páscoa" foi alcançado pelas criações do famosíssimo joalheiro Fabergé.

Em 1884, o czar Alexandre III encomendou-lhe um ovo de Páscoa. O ovo de ouro esmaltado branco continha uma galinha em miniatura. Fabergé se tornou o fornecedor oficial da corte e fez 44 ovos para o czar e seu filho Nicolau II.

É na Europa Oriental que a tradição de ovos decorados ainda está mais viva. Eles são dados na Páscoa, é claro, mas também em casamentos ou nascimentos. A "Pysanka", como é chamada, é decorada com símbolos: estrelas, sóis, suásticas, círculos, cruzes, triângulos, ondas...

Os ovos de Páscoa eram antigamente pintados com decocções de ervas e o vermelho, a cor mais comumente usada, simbolizava o sangue de Cristo, mas também a energia vital.

Esse simbolismo é tão forte que hoje, em algumas partes da Europa Central, as pessoas continuam enterrando ovos nos campos para incentivar uma boa colheita.

Também é um símbolo de prosperidade entre a população "A-Khas" do norte do Laos: se você sonhar que uma galinha põe vários ovos, é uma promessa de riqueza futura!


Para terminar com um pouco de humor, não resisto a contar-vos sobre o ovo de Cristóvão Colombo!


" Durante uma refeição, alguns convidados teriam perguntado a Colombo como ele sozinho havia descoberto novos territórios, onde ninguém imaginava que existissem.

Para respondê-las, ele então perguntou aos convidados como equilibrar um ovo sobre uma mesa.

Diante da impossibilidade de todos conseguirem fazer o ovo ficar em pé, Colombo teria achatado uma das pontas do ovo sobre a mesa e, em seguida, colocado-o no chão, dizendo ironicamente: "É fácil, bastava pensar... "

Eu fiz isso... sem quebrar nada!

(traga um ovo decorado e seu suporte)

Voltando a assuntos mais sérios, poderíamos também mencionar o simbolismo ligado ao consumo de ovos: na refeição da Páscoa judaica, o sexto recipiente de comida colocado na mesa contém um ovo cozido, cozido em cinzas, como sinal de desolação. O ovo é um alimento consumido em sinal de luto.


E como não associar o ovo ao conforto aconchegante do ninho, ao descanso do lar, ao aconchego

da mãe... Dentro da casca, há o   ser potencialmente livre e o ser prisioneiro.   Dessa doce segurança, o vivo aspira emergir: o filhote rompe sua casca protetora...

Como a nossa vida... conforto burguês ou aventuras cheias de desafios, introvertida ou extrovertida?


E para nós, maçons, que símbolos o ovo pode nos sugerir?

O nosso Templo não é um ninho protetor e um túmulo ao mesmo tempo?

Quando o candidato entra na sala de estudo, ele não está se preparando para morrer para a vida profana?

E ele não renasce quando, como aprendiz, recebe a luz?

Estamos passando pela trindade osiriana, o sacrifício pascal, nós também...

Escolhemos nos tornar livres, saímos do ovo profano e assumimos o risco desta jornada sem fim que é a do nosso caminho interior...

Neste período de renovação, onde a energia vital nos dá força, trabalhemos sozinhos e juntos para dar à luz uma pepita de ouro da "criança da filosofia" que sonhamos, como os alquimistas, em aproximar...

DH Alojamento : NP 08/09/2006





A princípio trivial, o ovo me levou a um mundo simbólico, maçônico e profano, que pode ser expandido, iluminado por outras luzes...

E a brincadeira do ovo e da galinha me levou a problemas reais sobre as relações entre ciência e divino... sem esquecer o status da liberdade educacional em países onde o dogma religioso prevalece sobre a verdade científica comprovada...

Conto com vocês, meus irmãos e irmãs, para enriquecer o início desta reflexão.

ORADOR - Sérgio Quirino



Talvez a joia de cargo mais incompreendida seja a do Orador.

Como a maioria de nós adota o pensamento simplista de associar orador com oratória e oratória com "falar bonito", a joia deveria ser, então, um púlpito em vez de um livro.

Contudo, não é um simples livro. Ele está aberto, e, de forma erronea, alguns Irmãos acham que ele está sobre algo fulgurante. Na verdade, a joia é um livro fulgurante. Em alguns Ritos, esse objeto recebe o nome de "Livro Rutilante".

Portanto, é o livro em que há luz. Dessa forma, o Mestre Maçom, aquele que o carrega no peito, deve tornar claro esclarecendo dúvidas e dissipando erros.

O ORADOR MAÇÔNICO NÃO É AQUELE QUE MUITO FALA, MAS SIM O QUE MUITO LÊ, POIS É O GUARDIÃO DAS LEIS!

Se fosse para falar sempre, muito e a toda hora, não seria Orador, e sim Falador. É tão lógico que, ao ocupar este cargo, o Mestre Maçom deve abrir mão dos seus pontos pessoais e manifestar-se estritamente dentro dos princípios das Leis, Regras e Procedimentos Maçônicos. Alguns Ritos prescrevem que ele não participa das votações nas sessões.

Ele é o "Ministério Público" da Loja, incumbindo-se da defesa da ordem juridica e ritualistica, do regime fraterno e dos interesses coletivos e individuais. Ele é o quarto na hierarquia da Loja e, sozinho, pode abrir um processo contra qualquer Obreiro, Oficial, Dignidade e, mesmo, as Luzes.

Sua autoridade é reafirmada não pela eloquência de frases, mas pelo conteúdo das palavras. Observemos alguns detalhes do respeito que a ele devemos ter. Quem abre e fecha o Livro da Lei é um Past-Venerável. Porém, na impossibilidade, é o Orador, o qual, muitas vezes, não é um Mestre Instalado.

Havendo emendas ao Balaústre, o VM deve pedir opinião ao Orador antes de submetê-las à votação. As Leis do Grão-Mestre (decretos) chegam aos Irmãos pela voz do Orador. O VM pode trabalhar a Ordem do Dia segundo sua planificação, porém quem faz as conclusões é o Orador, que pode e deve dar sustentação ou alertas legais sobre assuntos polêmicos.

E, por fim, cabe a ele solicitar que se proceda a iniciação de um candidato.

De fato, espera-se que o Orador não use seu conhecimento para discursos pomposos e vaidosos. Sua manifestação deve ser uma exposição metódica e imparcial a respeito do assunto tratado. Cabe a ele apresentar em linguagem compreensiva a todos, subsídios para a organização de ideias e fluidez de raciocínio dos Irmãos.

O filósofo grego Aristóteles ensinava que há quatro tipos de discursos, entre os quais apenas um tem valor maçónico. O Discurso Poético é aquele em que a certeza ou a veracidade pouco importam. Sendo assim, a razão é abandonada. No Discurso Retórico, não há o menor comprometimento na busca da verdade, visto que o orador quer apenas garantir que sua tese esteja certa,

No Discurso Dialético, tenta-se o possível esclarecimento, mediante teses e antíteses, em um misto que pode esclarecer ou confundir conforme as afirmações antagônicas.

Na Maçonaria, o pragmático é o Discurso Lógico, cujo único propósito é alcançar a resposta/resultado correto e indubitável.

Permitam-me uma alegoria: recordemos que o Trono de Salomão está colocado sobre o degrau da Verdade. Esse degrau é construído pelas tábuas da lei, e quem faz a manutenção é o Orador.



abril 25, 2025

MAÇONARIA OPERATIVA–A ORIGEM DA ARTE REAL - Lucas Galdeano



A Maçonaria Operativa, ou dos Construtores foi um período em que a Ordem Maçónica estava diretamente ligada à arte da construção e que teve o seu apogeu no século XIII. 

Também conhecida por Maçonaria de Ofício, resplandeceu na Idade Média, sob a influência espiritual da Igreja.

A Europa vivenciou, no período, efervescente procura por construções de catedrais, igrejas, abadias, mosteiros, conventos, palácios, basílicas, torres, casas nobres, mercados e paços municipais. 

Pode-se afirmar que o continente possuía grande abundância de monumentos e construções arquitetadas e executadas por Maçons Operativos. 

As principais obras da época incluem, de entre outras, a famosa Notre Dame de Paris, as Catedrais de Reims, de Estrasburgo, de São Pedro em Roma, de Sevilha, de Toledo, a Abadia de Westminster, o convento de Monte Cassino e o Mosteiro da Batalha.

Os primeiros documentos de grande importância para a Maçonaria – não por coincidência – surgiram nessa época. 

A Constituição de York, o Manuscrito Régius, o Manuscrito de Cooke, os Estatutos e Regulamentos da Confraria dos Talhadores de Pedra de Estrasburgo, o Regulamento de 1663 ou Leis de Santo Albano, o Manuscrito Hallywell, o Manuscrito de Schaw, o Manuscrito de Kilwinning, constituindo-se documentos que viriam compor a Maçonaria Moderna e que ficaram conhecidos como as “Old Charges”, denominação inglesa das Constituições Antigas. 

As Old Charges ou Antigas Obrigações ou Antigos Deveres são escritos que se referem às Lojas e aos Regulamentos Gerais. 

Tais manuscritos ilustram os deveres, os segredos, os usos e os costumes dos Maçons Operativos e constituem-se como base da jurisprudência para a Maçonaria Moderna.

Credita-se o surgimento das Old Charges ao século XIV, à Inglaterra, porém é da Escócia que provêm as publicações dos primeiros documentos, a partir de 1600. 

O número dos manuscritos, conhecidos e reconhecidos como autênticos, ultrapassa os 130.

A importância histórica das Old Charges reside no facto de terem sido fundamentais para o florescimento de uma Maçonaria organizada, principalmente em Inglaterra. 

Tal evento histórico ocorreu antes da fundação de um Sistema Obediencial e concorreu de modo marcante para a estruturação da Maçonaria Especulativa.

Alguns estudiosos apontam a Carta de Bolonha como o documento mais antigo de entre as Old Charges, entretanto, a esmagadora maioria dos pesquisadores afirma ser o Manuscrito Régius, também conhecido como Manuscrito Halliwell, grafado em inglês arcaico, com letras góticas sobre pele de carneiro, verdadeiramente o mais antigo. 

O Halliwell compõe-se de 64 páginas, com 794 versos. 

A sua produção data da década de 1390, e teria sido cópia de um documento anterior. 

O autor é desconhecido, mas o seu local de origem é Worcester/Inglaterra, fundada em 407 DC, segundo o historiador maçónico Wilhem Begemann. 

Durante muito tempo o Manuscrito Régius foi considerado um poema sobre obrigações morais. 

Em 1840, todavia, estudos realizados por James Orchard Halliwell Phillips – antiquário inglês não maçom – comprovaram tratar-se verdadeiramente de um documento relativo à Maçonaria Operativa.

O trajeto percorrido pelo manuscrito, até ser descoberto como documento maçónico, é um tanto incerto. 

Especula-se que ele teria sido propriedade de vários antiquários e colecionadores. 

Adquirido pelo Rei Carlos II, integrou o acervo da Biblioteca Real. 

Em 1757, foi doado pelo Rei George II ao Museu Britânico e hoje encontra-se na Biblioteca Britânica, fazendo parte da Colecção Real de Manuscritos – Royal Manuscript Collection.

O estudo das Antigas Obrigações propicia ao Maçon o conhecimento das suas origens e uma melhor visão de conjunto da instituição, revelando o que até então parecia obscuro sobre questões relacionadas com a Ordem Maçónica. 

Os Antigos Deveres compreendem a regulamentação da conduta moral dos maçons; os juramentos e compromissos; o amparo para casos de doença ou desemprego; os recursos à instância superior; a dedicação exigida para a obra a ser edificada; as bases do Conselho de Família; a transformação das Lojas em grupos familiares maçónicos como instrumento racional de solução de problemas. 

As Old Charges também tratam da implantação de uma saudável organização familiar como elemento básico para a aquisição de um bom e futuro obreiro; da prática do Tronco de Beneficência ou de Solidariedade; do socorro aos maçons nos seus problemas, inclusive com a Justiça; da polémica questão sobre o “Livro da Lei”, não aceite naquela época como um “Livro Sagrado”, mas tão somente como o “Livro da Corporação”, ou seja, o Regimento da Oficina. 

Tais documentos antigos expressam grande religiosidade. 

Temia-se naquele tempo o inferno e é por essa razão que a Maçonaria teve vários padroeiros, como Severo, Severiano, Carpóforo, Vitorino (os Quatro Coroados), São Thomaz, São Luís, São Braz, Santa Bárbara e São João, que permanece em alguns Ritos Maçónicos até os dias de hoje. 

É importante salientar que ainda não havia citações sobre as Antigas Civilizações, como a egípcia e a grega. 

Essa influência mística só viria a incorporar-se na Maçonaria, no Renascimento.

No decorrer do tempo, a arquite
tura sofreu transformações e as corporações de ofício perderam o monopólio do poder sobre artistas e construtores. 

No século XVII, quando os segredos da arte de construir grandes obras chegaram ao domínio público, ocorreu a desestruturação da Maçonaria Operativa. 

O seu declínio, contudo, teve início no final do século XIII, quando a procura por construção de catedrais e outras obras de porte teve um arrefecimento considerável.


COISAS SIMPLES - Newton Agrella


Não precisa ser culto, esperto ou inteligente..

Basta olhar pros lados e ver que estamos cercados de gente.

Gente de todo tipo, cor e credo.

Gente que enxerga as coisas com os olhos d'alma e outras com um fosco olho de vidro.

Há gente de toda espécie.

Os que gostam de achar, e os que acham que gostam.

Há os que fazem ares de sabedoria, mas lá no fundo não entendem nada.

Encontramos os que ficam quietos e preferem ser testemunhas do silêncio.

Em contrapartida, há os que fazem muito barulho, porém não comparecem.

Sim, há de tudo um pouco e um pouco de tudo no universo humano.

Se de algum modo uns  preferem descascar a laranja da direita pra esquerda, outros entendem que se descascá-la no sentido contrário, seu sabor será mais intenso.

Fato é, que ninguém agrada a todos o tempo todo.

E ainda bem.  Senão  a vida não faria o menor sentido.

O valor da nossa existência é produto de nossas experiências.


Todos temos um raio de alcance e as nossas frontreiras.


Nossa capacidade de compreensão é variável  e se ancora no interior de cada um.


Não se mede o que se expressa pelo número de palavras, mas pelo conteúdo que a mensagem encerra.



abril 24, 2025

ARLS XI DE AGOSTO - Itanhaém

 



    Na noite de ontem visitei novamente a ARLS XI de Agosto de Itanhaém, do Rito de Emulação, uma Loja que aprecio muito porque é fortemente dedicada aos estudos.
    O jovem Venerável Mestre, Anderson Moreira de Matos me honrou com o convite para exercer o cargo de capelão. Foram apresentados três ótimos trabalhos no grau de companheiro, que mostraram o alto nível cultural dos irmãos do quadro, com comentários enriquecedores dos demais irmãos. 
    Esta Loja costuma presentear os irmãos aprendizes com meus livros, o que me enche de orgulho.
    Apesar o rigor ritualístico a sessão transcorreu com leveza e bom humor, e mesmo tendo terminado quase as 23 horas, ninguém sentiu a passagem do tempo  graças a qualidade das apresentações.
    A noite foi encerrada com um esplendido ágape e a confraternização dos irmãos.

AS ORAÇÕES NA ORDEM DOS CAVALEIROS TEMPLÁRIOS - Klaus Dante

 


As Orações na Ordem dos Cavaleiros Templários e seus Impactos.

A Ordem dos Cavaleiros Templários, fundada no início do século XII, foi uma das instituições mais poderosas e enigmáticas da Idade Média. 

Com sua missão de proteger os peregrinos na Terra Santa, suas atividades militares e financeiras e sua forte ligação com a Igreja, os cavaleiros desenvolveram um conjunto de práticas espirituais que refletiam seu duplo compromisso com a fé cristã e a vida de guerreiro. 

As orações, dentro desse contexto, não eram apenas uma expressão de devoção religiosa, mas também uma ferramenta de coesão interna e disciplina moral.

Este texto busca analisar o papel das orações na vida dos cavaleiros, considerando as fontes históricas disponíveis e os impactos que essas práticas tiveram na Ordem e no imaginário medieval.

A Prática de Oração na Ordem Templária

✝️. A Regra e a Espiritualidade

A Ordem dos Cavaleiros do Templo seguiu uma adaptação da Regra de São Bento, estabelecendo um regime de oração rigoroso para seus membros. 

A Regra templária, escrita por volta de 1129, determinava que os cavaleiros rezassem ao longo do dia, dividindo o tempo entre o combate e a devoção.

 A estrutura das orações e a sua frequência eram estabelecidas para reforçar a vida espiritual dos membros, assegurando que a fé estivesse no centro de suas ações.

✝️. A Oração Litúrgica: Missa e Salmos

A liturgia diária era composta por orações comuns do cristianismo medieval, como a Missa e os Salmos. 

Para os cavaleiros, a oração tinha um caráter comunitário, com celebrações em suas fortificações e templos.

 O uso de salmos, como o Salmo 91 ("Quem habita no abrigo do Altíssimo..."), frequentemente recorria como proteção espiritual, refletindo a constante tensão entre o papel de guerreiros e a necessidade de consagração divina.

A prática das orações no contexto da Regra também estava relacionada ao conceito de "milícia cristã", onde o cavaleiro era visto como defensor da fé. 

A oração não só preparava para a batalha espiritual, mas também reforçava a ideia de que o combate estava sob a bênção divina.

✝️. A Oração do Cavaleiro e o Simbolismo Cristão

Dentre as orações mais associadas à Ordem, a Oração do Cavaleiro reflete uma visão espiritualizada da guerra. 

O cavaleiro rezava por força e coragem, pedindo a Deus para ser uma espada contra o mal.

 O impacto dessa oração era duplo: ao mesmo tempo que promovia um compromisso com a fé, ela consolidava a visão dos membros da Ordem como defensores da cristandade, cujos combates na Terra Santa eram justificados por uma missão divina.

A Ordem dos Cavaleiros não se destacou apenas como uma instituição religiosa, mas também como uma potência política e militar. 

A oração era um instrumento de disciplinamento interno, mas também de propaganda, o comportamento devocional reforçava a identidade do grupo e sua coesão, além de destacar a importância do compromisso com Deus em suas ações militares.

As orações também serviam como um elo entre os membros da Ordem e a Igreja Católica. 

Em um contexto de disputas entre o clero e as ordens militares, a constante reafirmação de fé e devoção ajudava a legitimar a presença na Terra Santa e suas atividades econômicas e financeiras na Europa.

 Além disso, as práticas devocionais vinculavam a guerra a uma causa sagrada, justificando o uso da força com o respaldo divino.

A prática de oração dentro da Ordem também teve um impacto significativo na cultura medieval. 

A figura do cavaleiro devoto, que ora antes de entrar em batalha, tornou-se um arquétipo central no imaginário medieval. 

Ao longo dos séculos, essa imagem foi romantizada, e a ideia do cavaleiro cristão, guiado por uma fé inabalável, serviu de inspiração para outras ordens militares, bem como para a literatura de cavalaria que floresceu na Europa.

A oração e a devoção também tiveram um impacto na percepção popular da Ordem. 

Para a população, as práticas espirituais, especialmente aquelas realizadas em momentos cruciais, como antes das batalhas, reforçavam a ideia de que os cavaleiros eram agentes divinos, enviados para defender a cristandade. 

Essa aura mística ajudou a consolidar a popularidade do grupo, mesmo quando se envolvia em controvérsias, como no processo de dissolução em 1312.

O declínio da Ordem, após a repressão conduzida por Filipe IV de França e o Papa Clemente V, também marcou o fim de muitas de suas práticas internas, incluindo as orações regulares.

 Contudo, o legado espiritual da instituição permaneceu, e as orações associadas a seus membros passaram a ser vistas como parte de uma tradição perdida, perpetuada por escritos posteriores, especialmente durante o Renascimento e o Iluminismo, quando o misticismo templário foi resgatado por algumas correntes esotéricas.

Por meio de práticas litúrgicas regulares, as orações não apenas consolidavam o vínculo entre os cavaleiros e a Igreja, mas também serviam como uma ferramenta de coesão interna e de justificativa espiritual para suas ações. 

O impacto dessas práticas pode ser observado na perpetuação de sua imagem como defensores da fé e na inspiração que exerceram sobre a cultura medieval e moderna.

Embora a instituição tenha sido desmantelada no início do século XIV, o simbolismo de suas orações e devoção continua vivo, refletindo a importância da espiritualidade na vida de uma das ordens mais fascinantes da história medieval.



abril 23, 2025

AO REMÉDIO URGENTE - Adilson Zotovici

 










Ao remédio agora, urgente !

Os sinais estão denotados

O assédio é evidente

De dentro e fora arraigados


A Sublime Ordem doente

Os tesouros são profanados

A garimpagem incoerente

Com desdouros recomendados


Vê-se brotar a má semente

Novas plantas, por todos lados,

De aprendiz a presidente 

Que condiz  aos  mancomunados


Atônito, o artesão prudente,

Com ferramentais preparados

Tenta em vão, mas renitente

Aparar maus rebos notados


Comum na Ordem, frequente

Políticas de aficionados

Que em militância fremente

Em constância em indicados


O “quem indicou” é patente

Vez que os apadrinhados

Que a alguém conveniente

No vaivém não são barrados


Por  grande apuro, recorrente

Livres pedreiros...iniciados,

_Antídotos_ ao “ovo da serpente”!

A um bom futuro agraciados


Herdados de antigamente

Apliquemos os _estudos Sagrados_

Pela Arte Real conducente

Com o fanal do bem, _coroados_ !


Adilson Zotovici

AMVBL

PORTA DA VIDA - Newton Agrella



Vez ou outra somos instados a bater à porta de nossa própria vida.

Entrar com cuidado, tomar um longo fôlego e no silêncio do nosso íntimo começarmos a nos questionar.

Fazemos uma espécie de inventário e então avaliamos aquilo que realmente deve ser mantido e tudo aquilo que não serve pra nada, mas que involuntariamente, deixamos acumular.

É o momento de se fazer uma profilaxia.

Hora de remover todos os dejetos, oxigenar a mente, eliminar pensamentos negativos e se renovar.

Antes de fechá-la, após o término da faxina, cumpre-nos ainda, deixá-la aberta por mais um breve período para que o ambiente se restaure e torne-se anfitrião de novas idéias.

Rever conceitos, reinventar-se humanamente, aquiescer as diferenças e combater preconceitos arraigados, certamente podem contribuir nesse processo.

Lembrando que a vida não é feita pra ser guardada a sete chaves, mas para ser vivida com a parcimônia da sabedoria, do equilíbrio, e do discernimento.

Porém, que uma fresta sempre se mantenha aberta, afinal sem ela, não há como compartilhar para percorrer o caminho rumo a mútua evolução.



abril 22, 2025

LIVRE E DE BONS COSTUMES - Derildo Costa



Ao longo de minha vida estudantil, alguns conceitos intrigaram-me. 

Um deles foi no estudo de sistemas onde um dos conceitos fundamentais diz que “todo sistema é subsistema de outro sistema”. 

Também em filosofia já tinha estudado que todo o todo é parte de um todo. 

Estes conceitos só ganharam entendimento pleno quando alcancei o pleno entendimento de infinitude.

Ainda para ancorar este introito, busco na lembrança um conselho amplamente repetido por minha mãe que com a simplicidade de analfabeta mas com a inteligência de filósofo, me dizia

... "Meu filho, liberdade é uma coisa que quanto menos você usa mais você ganha e quando mais você usa mais perda daquela que lhe tinham dado"...

Agora, maduro, alço estes conceitos (que na essência é um único) para outras áreas do saber, mormente no âmbito do social, assim entendido a pessoa humana envolvida com outras pessoas, não como opção, mas como condição necessária à sua sobrevivência e à perpetuação da espécie.

O homem nasce tão livre quanto nu. Mas a sua liberdade vai sendo “moldada” pelos usos, pelos costumes, pelo ordenamento jurídico. 

Assim, aquele direito natural vai-se transformando em direito permitido ou até mesmo direito concedido. 

E porquê esta metamorfose no direito inerente ao ser humano? 

Não há dúvida que isto decorre do uso que da liberdade se faz.

Liberdade é elemento da essência humana, tanto assim que é o tema preponderante no estudo e desenvolvimento da filosofia tendo sido o tema central de alguns dos filósofos. 

Embora Sócrates e Platão e outros tantos tenham dedicado boa atenção aos conceitos de liberdade e tenham deixado as suas marcas na luta pela preservação do direito a ela, Aristóteles talvez tenha sido o que mais se dedicou a essa luta.

Convivendo numa sociedade onde a escravidão era normal e base do desenvolvimento económico, e mais ainda, numa sociedade onde o devedor se entregava ao credor como escravo para quitação da dívida, voltou-se contra tais práticas por tê-las como violação à essência humana.

Como a grande maioria dos demais filósofos, Aristóteles entendia que a harmonia e a paz dependiam o pleno exercício da liberdade. 

Para ele o homem é um animal privilegiado porque sabe quando está a praticar o bem e quando está a praticar o mal e tem o livre arbítrio de exercer acção no sentido da sua vontade. 

Como entendia ele que o primordial objetivo do homem é ser feliz e que a harmonia e a paz são caminhos seguros para a felicidade, o homem livre tende a ser bom não no sentido de agradar aos outros mas, principalmente, no sentido de conquistar a sua felicidade.

O conceito de Aristóteles é o fundamento básico para o Direito Natural que, por sua vez, é a base do direito positivo. 

Ora, se tudo isto é verdade, então porque a existência de um enorme e complexo conjunto de leis, normas, princípios a reger a nossa conduta. 

Haverá esta liberdade onde se transita num labirinto determinado pelo ordenamento jurídico? 

Até que ponto podemos dizer-nos livres se estamos sempre subordinados a um poder coercitivo?

A ideia de valores tão distinta entre as pessoas e as não menos distintas reacções diante das decepções é-nos mostrada no livro de Génesis na parábola dos irmãos filhos de Adão. 

Quando Abel fez a sua oferta estabeleceu um juízo segundo o qual o acto de dar, para produzir o real efeito do bem, há de ser o de se dar o melhor, diferente do conceito de Caim para quem, em dando algo útil para o receptor, a sua ação teria de estar coroada de êxito vez que a sua doação seria de bom proveito para quem a recebeu. 

Como na avaliação divina o conceito mais adequado do ato de dar era o de Abel, Caim buscou, de maneira torpe, eliminar a hipótese de comparação eliminando o seu concorrente.

É da natureza humana estabelecer conceitos de valores que invadem o espaço do outro impondo-se a necessidade de o outro criar mecanismos de proteção àquilo que entende como seu mas que o outro insiste em querer ter como seu ou, pelo menos, uma copropriedade. 

Os mecanismos de controle nada mais são do que a declaração de desconfiança do outro.

Para Aristóteles, a invasão do espaço alheio é perfeitamente perceptível e é o livre arbítrio de encaminha para frear ou avançar. 

O respeito espontâneo a esse limite veio a ser chamado de Ética.

O exercício da ética não é pois algo que precise ser imposto ou normatizado nos tantos códigos de ética que por aí existem. 

A permanente avaliação do limite da nossa liberdade é que inspira confiança das outras pessoas em nós e quanto mais as pessoas confiam em nós mais se despojam dos elementos de controles que usavam para se proteger das nossas eventuais invasões. 

Despojar-se de mecanismos de segurança e de controle com base na confiança nos nossos a
tos é o maior respeito à nossa liberdade.

Não é uma concessão, é respeito. 

Respeito adquirido pelo exercício da nossa liberdade.

Como pessoa, somos livres para, dentro dos meandros estabelecidos pelo sistema em que nos inserimos, tomar o sentido que desejamos dentro deste labirinto. 

E mais, os nossos atos, quaisquer que sejam, acabam por ensejar algumas pessoas a copiá-los com vistas a obterem resultados semelhantes aos por nós alcançados, o que repetido sucessivamente denomina-se costume. 

O bom costume torna-se lei. 

A lei submete-nos. 

Somos assim, subsistema desse sistema. 

Somos um todo parte desse todo.

Ser livre é, pois, exercer a plenitude da sua vontade desde que a sua vontade seja voltada para o bem de todos que reflexivamente volta para o seu próprio bem. 

Buscar o bem de todos é um bom costume.


abril 21, 2025

BRASÍLIA 65 ANOS - Michael Winetzki



Brasília era uma cidade adolescente, de apenas 16 aninhos, quando estive aqui pela primeira vez. Eu fiquei deslumbrado pela audácia da arquitetura e aterrorizado pela amplitude dos espaços, acostumado que estava aos altos e baixos de Petrópolis, onde eu havia estudado e de Santa Tereza no Rio onde residia, cujos horizontes terminavam sempre na próxima fralda de morro.


Mudei-me depois para Campo Grande e no Mato Grosso do Sul o horizonte também se estendia ao infinito e acabei me acostumando com esses amplos espaços.


Voltei a Brasília algumas vezes a trabalho, muito rapidamente, e a cada retorno  ela, sorrateiramente, se infiltrava em meu coração. Os espaços verdes e organizados, a extraordinária beleza de seus edifícios, a placidez do Lago Paranoá, o indescritível azul do céu, o multicolorido pôr-do-sol, o alto astral da cidade iam me cativando pouco a pouco.


Quando fui nomeado diretor do SIPRI de MS (orgão do MRE de promoção de comércio internacional) acabei por ficar duas vezes por algumas semanas no Instituto Israel Pinheiro, uma das mais lindas propriedades de Brasília (e do Brasil também) e acabei por me apaixonar completamente pela cidade. Prometi a mim mesmo, sentado a beira do lago: - um dia eu virei morar aqui.


Poucos anos depois tive a chance de instalar em Brasília o escritório brasileiro da Card Guard Scientific Survival e o meu recôndito desejo se realizou. Em cerca de vinte e quatro anos em Brasília e no seu entorno, em Valparaíso, desfrutei de tudo que esta maravilhosa cidade tem a oferecer. A cidade parece fria e distante a primeira vista, mas como os amores de romance tem que ser conquistada aos poucos, e a medida que se revelam os seus segredos nosso amor por ela aumenta.


Ela também me presenteou com a minha amada mais amada, a Alice Ribeiro, esposa, companheira, parceira de momentos bons e difíceis, luz de minha vida.


Envelhecemos juntos a cidade e eu. Tenho 10 anos a mais do que Brasilia, e tanto em mim quanto nela aparecem coisas indesejadas. Eu adquiri diabetes e hipertensão e ela um triste desgoverno, violência urbana, buracos nas ruas, saúde pública em crise. Mas apesar das marcas do tempo continua linda, poderosa, cheia de promessas, aguardando apenas um governo que a ame mais do que a seu próprio bolso para coloca-la outra vez em ordem. Tenho confiança que a cidade irá receber o respeito e o cuidado que ela merece.


Esse é o presente que eu lhe desejo nos seus 65 anos. Parabéns Brasília. Eu a amo.

TIRADENTES - Adilson Zotovici


Vê do céu herói louvado

Mesmo face à violência

O teu sonho realizado

Por um grupo de excelência


Muito tempo já passado

Embora com tua ausência

Vivo e forte é o teu legado

De liberdade em essência !


Não fiques acabrunhado

Pois, há ainda imprudência

Mas teu povo é arrojado


És mártir da Inconfidência

Brasileiro eternizado...

Esteio da Independência !