MINHAS EXPERIÊNCIAS AÉREAS - PARTE 2


 Minhas experiências aéreas – parte 2

O problema de escrever sobre memórias é que elas alçam voo sozinhas. A intenção quando iniciei era contar o meu relacionamento com aviões, mas as lembranças decolaram e foram muito mais longe. Que seja! Quem tiver paciência de ler vai compartilhar esta viagem pelo meu passado, como se estivesse no assento ao meu lado.
Depois da experiência como corretor de imóveis fui trabalhar nos Supermercados Soares, dos irmãos Sandoval, José, Valdeci, Ruberval e Jair que cresceram de maneira explosiva passando de uma pequena loja (na origem uma barraca de feira em Pedro Gomes) para 13 grandes lojas. Sandoval, o presidente, foi um dos empresários mais honestos e um dos homens mais decentes que conheci na vida, meu padrinho da maçonaria. Eu era o faz tudo na empresa, assessor, secretário, braço direito e esquerdo, e morava em um amplo apartamento em cima da loja da Av. Mato Grosso para estar à disposição 24 horas por dia, o que era literal. Eu trabalhava de manhã até a noite, sábados, domingos e feriados. Comecei a viajar de avião acompanhando José, que era o relações públicas da empresa, para congressos, feiras e eventos. Ele era simpático, bem apessoado e rico e fazia enorme sucesso com as mulheres, o que acabou por comprometer o seu casamento.
Ao deixar a empresa, com o apoio e as bênçãos do Sandoval montei uma das primeiras lojas de 1,99 do Brasil, na Av. Calógeras quase esquina com a Afonso Pena, em frente onde hoje é o Bradesco e que se chamava Panela Velha. Estava arrumando a loja no domingo para inaugurar na segunda-feira com as portas abertas. Eis que entra Sérgio Reis, a caminho de sua fazenda em Pedro Gomes, precisando de uma quinquilharia qualquer. Era o meu primeiro cliente. Durante a conversa com o simpático ídolo eu lhe disse, em um rompante de valentia, que iria batizar a loja com o nome de fantasia de Panela Velha, em homenagem ao estrondoso sucesso que essa música fazia na ocasião e ele prometeu que voltaria para fazer uma apresentação gratuita para mim. Ele nunca mais voltou mas o nome deu sorte e loja foi muito bem por muitos anos.
Eu havia montado algum tempo depois as agências da TAM, mas não existiam computadores, raríssimos e caros e todo o complexo controle financeiro e logístico dos voos era feito à mão. Havia dois funcionários em tempo integral fazendo isso. Decidi que não compensava mais ter as agências e as transferi para outra pessoa. Investi em um estacionamento na Av. Mato Grosso na frente ao Colégio D. Bosco e me tornei sócio de um restaurante e casa noturna chamada Spazio, em frente à igreja matriz, onde cantavam Alzirinha Espíndola, Almir Sater e outros talentos locais. Ainda tive uma revenda de jeans e de joias, que se transformaria na Brilhante Joias, em sociedade com o Zelão de Coxim, revenda e indústria, que seria durante anos o meu negócio principal.
Eu me tornara diretor da Associação Comercial de Campo Grande e da Federação das Associações Comerciais de MS. Uma chapa alternativa presidida pelo empresário Vagner Simone Martins, meu vizinho na Avenida Mato Grosso, havia vencido as eleições derrotando um grupo que há décadas comandava a instituição e vários empresários jovens e ativos como eu faziam parte da diretoria, junto naturalmente com alguns antigos e prestigiadíssimos medalhões como Nelson Nachif. Passei a voar com frequência para representar a entidade em encontros, congressos e feiras. Numa dessas viagens conheci Brasília e me apaixonei pela cidade à primeira vista. Pensei – “quem sabe, algum dia, poderei vir morar aqui.”
Adelino Martins, dono da Floricultura Arakaki, que também era diretor da Associação Comercial me levou para o Rotary Clube de Campo Grande Norte, o maior Rotary do Distrito, e permaneço rotariano até hoje. Anos mais tarde fui presidente do Clube, da Associação dos rotarianos de Campo Grande, vendi a luxuosa, caríssima e inútil sede na cobertura de um edifício e ganhei do Prefeito Lúdio Coelho um grande terreno situado em um bairro nobre onde seria construído um consultório dentário para atender aos menos favorecidos. Estive há pouco mais de um ano em Campo Grande e fiquei muito triste ao ver que nada aconteceu no terreno e que o meu Rotary do coração está bem pequeno, embora conte com valorosos companheiros.
Aldoir Pedro Teló, pai do Michel Teló, também era meu vizinho na Avenida Mato Grosso, proprietário da Padaria Espanhola e foi meu vice-presidente na minha gestão rotária. Michelzinho desde muito pequeno era um ótimo cantor e instrumentista e animava as festas de nosso Clube. Eu disse ao Aldo que Michel viria a ser um grande artista. Não era difícil prever quando se via tanto talento e carisma no garoto.
A fábrica de joias estava estabelecida em uma casa vizinha à minha e funcionava a pleno vapor. Eu tinha cerca de 30 revendedoras de porta em porta. Estavam na moda na época as leves joias chamadas de “ouro italiano” que eram comercializadas em até 10 pagamentos, porque a economia era estável e o país estava em acelerado desenvolvimento. Eu vendia para outras cidades do Estado de MS e até para S.J. do Rio Preto em SP. O Zelão fornecia os diamantes, eu os lapidava em São Paulo e Petrópolis para transformá-los em brilhantes e montava em armações de ouro 18, metal que adquiria em São Paulo e Cuiabá. Já era um tipo de comércio “globalizado”. Meu ourives chefe, Zequinha, cearense de Juazeiro do Norte, terra de Padre Cícero, era dedicado e habilidoso e ensinou a profissão a muitos outros jovens que contratei. Peças mais caras e elaboradas eu adquiria do cuiabano Denis Correa Fortes que tinha uma belíssima produção de peças sofisticadas na Joias Denis, na Avenida Sumaré em São Paulo.
Mas a certa altura começamos a ter problemas de segurança. Algumas revendedoras foram roubadas, um dos meus veículos foi acidentado e se perderam muitas joias e valores, um dos meus clientes foi assassinado e preocupado com o crescendo da insegurança doei os equipamentos da fábrica aos empregados e encerrei as atividades da joalheria.
SEGUE

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