FOGO MAÇONICO - texto de Walter Celso de Lima

 




        O irmão Walter Celso de Lima da ARLS Alvorada da Sabedoria, nº 4285 de Florianópolis e da Academia Catarinense Maçônica de Letras é engenheiro eletrônico, estudou medicina e é professor universitário aposentado, com doutorado e pós doutorado. Lecionou em universidades no Chile, EUA, Japão e Inglaterra. Publicou dezenas de obras, entre livros técnicos e maçônicos e é tido como um dos mais notáveis intelectuais da Ordem no país. Ele autorizou a publicação de seus textos.


        1. Introdução:

        Ao exercer a função de instrutor para as Preleções em nossa Loja (Trabalho de Emulação) deparei-me nas págs. 86 e 87 com o ritual do Fogo Maçônico (Foster, 2016). O mesmo ocorre na edição anterior (Martinez Alonso, 2002). Em outra tradução (Mello, 2010), encontramos o mesmo. No original em inglês (Lewis, 2008), encontramos o mesmo (pag. 58).

        Este fato me ocasionou uma grande questão. O Fogo Maçônico não existe nos rituais do Trabalho de Emulação. Em nenhum grau. Existe Fogo Maçônico nos rituais de banquete dos ritos de origem francesa (REAA, RM, RAd e RB). No ritual de banquete da Maçonaria inglesa (não é do Trabalho de Emulação – The Royal Festive Board – Ceia Festiva Real) não existe o Fogo Maçônico. Mas existe Fogo Maçônico na Maçonaria inglesa, por tradição, independente de rituais. Usa-se para saudar autoridades, num brinde de gala.

        Como compreende-lo? Como será a instrução do Fogo Maçônico?


        2. Origens. História:

        O Dr. Richard Kuerden, também conhecido como Richard Jackson (1623-1690), morador em Preston, Lancashire, descreveu uma celebração do Comerciante de Ouro de Preston: “ ... o prefeito faz um cortejo até a Igreja de Preston, onde são servidas cervejas. Com um copo, o prefeito deseja boa saúde ao Rei, depois à Rainha, à nobreza, e a cada saúde é atendida por uma salva de tiros dos mosqueteiros



                        Fig. 2 – Polícia Militar preparando-se para uma salva de gala de Fogo.

        Outro exemplo do século XVII: em fevereiro de 1694, o capitão de um navio, referiu-se à pratica semelhante. Estando no Castelo de Cape Cost, na costa oeste da África, no jantar, antes de sua partida, tendo seis novos canhões do convés, trazidos para terra, a cada saúde brindada, foi disparada onze tiros,


                                                        Fig. 3 – Fogo de gala na Inglaterra.

        Onze tiros não é o padrão. O padrão depois de 1808, é vinte e um tiros ou três tiros, dados por mosqueteiros ou por canhões. Por que 21 ? Por que 3? Os 21 surgiram ainda no período medieval, quando foram unificadas as celebrações de gala e as celebrações de funeral. O número 21 teria se dado porque, na época, sete tiros era a salva máxima de tiros à bordo, que devia ser respondida 3 vezes pelas fortificações de terra, ou seja, com 21 tiros



                                       Fig. 4 – Salva de gala feita por canhões.

        A razão de 3 tiros, é a mesma porque a Maçonaria usa o número 3. Trata-se de um número perfeito. Há quem diga que se refere às 3 pessoas da Santíssima Trindade, mas isso não é uma razão original. No início do século XVIII, o governo britânico reconheceu o gesto e autorizou a Marinha Real a usar 21 tiros para homenagear membros da Família Real. Depois, essa virou a maneira oficial de se honrar a realeza.



                                                        Fig. 5 – Fogo de gala em Brasília.

        Não se sabe, exatamente, como o Fogo Maçônico começou na Maçonaria. James Anderson (1679-1739) registrou em seu novo livro das Constituições de 1738, que John Theophilus Desaguliers (1683-1744), recém empossado Grão-Mestre, em 24 de junho de 1719, foi saudado com brindes e Fogo Maçônico de mosquetes.


                                                    Fig. 6 – Fogo de gala na Inglaterra.

        Dada a dificuldade de dar tiros de mosquetes em templos maçônicos, os tiros foram substituídos por palmas e o brinde é feito, por 3 vezes, levando a taça (ou copo) à frente, à direita (ombro direito) e à esquerda (ombro esquerdo), seguido da bebida de um gole. O cálice ou copo só se enche antes das três bebidas. Ao final de cada bebida, o cálice ou copo é batido com força na mesa, em uníssono com todos os Irmãos. Este ato é chamado de disparo. Para não quebrar taças ou copos nesta batida, usa-se comumente copos de metal. Segue-se uma salva de três vezes palmas, por 3 vezes.

        3. Considerações Finais:

        Embora o Fogo Maçônico não faça parte dos rituais simbólicos, o Fogo Maçônico é um ato litúrgico chancelado pela tradição britânica. O Fogo Maçônico encontra-se nos rituais de banquetes dos ritos de origem francesa: REAA, RM, RAd e RB




                                                            Fig. 7 – Fogo de gala nos EUA.

        O Fogo Maçônico é usado para saudar autoridades, por brindes e acompanhamento litúrgico.


Fig. 8 – Fogo de gala pelo falecimento do Irmão Principe Philip, Duque de Edimburgo, em 9 de abril de 2021.




BIBLIOGRAFIA:

- ELoI. “The Lectures of the Three Degrees in Craft Masonry”.
Emulation Lodge of Improvement (ELoI) Reprinted Edition. London; Lewis Masonic, 2008.
- Foster, C. V. (trad.), “As Preleções dos Três Graus na Maçonaria Simbólica”. São Paulo: Loja Campos Sales, 2016.
- Marasciulo, M.“Por Que as Salvas Fúnebres e de Gala têm 21 Tiros?” Galileu, 2020.
https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2020/02/por-que-salvas-funebres-e-de-gala-tem-21-tiros.html Acessado em 15.fev.2021.
- Martinez Alonso, S. (trad.).“As Preleções dos Três Graus na Maçonaria Simbólica”. São Paulo: Loja Campos Sales, 2002.
- Melo, L.C. “Preleções dos Três Graus na Arte Maçônica”. São Paulo: ed. LCM, 2010.
- Portilho, G. “Por Que a Salva de Funerais tem 21 tiros?”.Super Interessante,201
https://super.abril.com.br/mundo-estranho/por-que-a-salva-de-funerais-tem-21-tiros/
Acessado em 15.fev.2021.








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