O PODER DO SILÊNCIO




Originária do latim (silentiu), a palavra silêncio significa segredo, sigilo, calma, sossego e paz. Pela sua essência tão elevada tornou-se disciplina iniciática adoptada pelos mistérios da Antiguidade e cultivada pelas várias sociedades secretas dos primeiros tempos. Nos mistérios do Egipto, Ísis apresentava-se com um dedo nos lábios fechados, convidando o sábio ao silêncio que atrai as revelações. Nos mistérios Elêusis, aparecia o mista gogo colocando uma chave de ouro sobre a língua dos iniciados, impondo-lhes punições severas como ser banido, confisco de bens, morte e a proibição de enterrar o delinquente na sua terra natal.

A Maçonaria cultiva o silêncio, pois prescreve que a verdadeira sabedoria está na comunhão do pensamento humano com os eflúvios que lhe chegam dos poderes superiores. Tais eflúvios, palavras divinas perceptíveis ao entendimento mais elevado, não podem ser percebidos senão no recolhimento mais profundo. É através dele que o iniciado tem verdadeiramente consciência das suas forças latentes e das que o envolvem em função dos ensinos mais puros que lhe são transmitidos.

O silêncio desenvolve as nossas faculdades mais elevadas, permitindo ao ser humano adquirir o seu mais alto grau de aperfeiçoamento. Ele tem voz e tem alma, e nessa voz existe a majestade de uma força superior emanada do mistério da Divindade; é uma voz soberana, cuja modulação se estende por todo o Universo em harmonia infinita com a eternidade.

É valioso relembrar que do silêncio surgiu o mundo em que vivemos, obra do Grande Arquiteto à disposição dos seus filhos, facultando-lhes usufruir da mudez dos astros, da solidão oceânica, da calma ardente dos desertos, da quietude das tumbas milenares e de todas as riquezas naturais. E em tudo isto encontramos as formas que nos fazem sentir até ao fundo de nós mesmos as energias da Terra, esse magnetismo universal que devemos canalizar para dentro de nós próprios para sentirmos cada vez mais adeptos da perfeição humana.

É no silêncio, na solidão e na meditação que o espírito se eleva e atinge as regiões mais elevadas e onde vivem, em radiosa harmonia, as correntes nas quais haurimos as energias que nos faltam para a concretização dos nossos anseios mais dignos. E a voz do GADU não se faz ouvir se não no silêncio e no repouso da alma.

Nas práticas maçónicas a imposição do silêncio não constitui somente uma disciplina que visa fortalecer o carácter, mas um induzimento à meditação sobre o conteúdo maior dos augustos mistérios que nos indicam de onde viemos. O que somos? Para onde vamos? O silêncio é eterno… É divino… É emocional e é infinita elevação do espírito. Dele brota o estudo, fruto bendito de toda uma vida cheia de meditação, em que a mente humana vence tudo na conquista do saber.

Nos trabalhos maçónicos o culto ao silêncio é exercido não por força de normas regulamentares ou por educação, mas para que seja mantido um ambiente de espiritualidade no interior do Templo. É simbolizado pela Trolha, utensílio com o qual devemos, silenciosamente, colocar uma capa sobre as imperfeições dos nossos irmãos, tal o pedreiro comum, ao realizar o trabalho nas suas obras físicas.

Finalmente, no silêncio começa a vida, a nossa existência. Nele é dirigido o nosso pensamento positivo para o bem-estar das nossas almas, a oração fervente que conforta os nossos corações, transpondo-nos aos planos superiores do santuário do nosso espírito.

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