DA VELHICE - Heitor Rodrigues Freire


Heitor Rodrigues Freire é corretor de imóveis, Grão Mestre “Ad Vitam” da GLEMS e atual presidente da Santa Casa de Campo Grande.

O ser humano nasce, cresce, se desenvolve, envelhece e morre. Certo? Errado.

A composição da encarnação de cada um é muito complexa: temos espírito, mente e corpo constituído de milhares de células – que se renovam constantemente até o desencarne –, motivo pelo qual o envelhecimento como um todo é uma falácia. O que envelhece é o corpo, o espirito é imortal e eterno, infinito. 

Nós não nos conhecemos, e por isso, acabamos incorrendo em erro de avaliação a respeito da nossa verdadeira essência. Há dois elementos fundamentais na vida: o ar e a água. E nem sempre sabemos utilizá-los de forma inteligente. Respiramos de qualquer jeito. E não nos alimentamos da água como deveríamos.

Todos vivemos muito apressados, correndo, sem entender o tempo e sem utilizá-lo de forma coerente e satisfatória. É como diz o povo: “O apressado come cru”. 

A maioria das pessoas procura sua realização financeira, para a qual dedica a grande maioria dos seus atos e pensamentos, e quando “chega lá” sente uma grande frustração, porque nessa caminhada acabou se esquecendo de amar, atropelando tudo na busca insensata pelo ter.  

Falta uma ação consciente e verdadeira. “Conhece-te a ti mesmo”, já enunciava o frontispício do Templo de Apolo na ilha de Delfos, tema que foi também a base do ensinamento de Sócrates.

O que não se usa se deteriora. Ou se é mal-usado não cumpre a sua finalidade, vindo quase sempre a causar prejuízos quando poderia proporcionar benefícios. É o caso específico da respiração.

Quando bem orientada e consciente, a respiração é fonte permanente de ativação das células, proporciona um bem-estar geral, estimula a mente, educa o corpo, eleva o espírito. Pela respiração recebemos a energia vital, processando a oxigenação do sangue, que por sua vez fornecerá a todas as células do organismo o alimento necessário a suas funções. 

A água, que constitui a maior parte do nosso planeta e também do nosso corpo, muitas vezes é relegada a um plano secundário, deixando de nos proporcionar a plena fonte de renovação e elevação, parte de sua ação transformadora. Os idosos, às vezes, se esquecem de beber água, o que pode causar perda de memória e de discernimento. A recomendação é que se tome, no mínimo, dois litros de água por dia. 

A longevidade da existência humana em nosso planeta, enunciada no primeiro parágrafo deste artigo, não é uma equação que vai se desenvolver de forma automática. Pelo contrário, quando a encarnação é desenvolvida de forma consciente e ativa proporciona uma verdadeira revolução em nós mesmos. De acordo com os ancestrais de diferentes partes do mundo, nosso corpo sente e pensa.  

Por exemplo, nas tribos australianas quando uma pessoa se fere ou adoece, a tribo se reúne ao redor do enfermo e canta pedindo perdão à ferida ou à parte afetada. E esta começa naturalmente a dar sinais de melhora. 

O mesmo acontece nas assombrosas curas dos kahunas, ou médicos magos havaianos. Eles entram em oração direta com a parte afetada pedindo-lhe perdão. Esse ato de oração envolve os magos, o paciente e todas as vidas durante as quais eles possam ter se encontrado. E esse ritual também resulta em curas consideradas prodigiosas. 

No conhecimento ancestral inca, tudo é reciprocidade; acredita-se que quando alguém adoece ou se enche de energia pesada ou hucha, por ter atitudes egoístas, não deixa fluir o sami ou energia leve. Por isso, nas curas, pede-se que aquela parte do corpo se harmonize com o pachamama – o tempo que cura as dores –, permitindo que o bloqueio se reequilibre. E assim a pessoa se cura.

No caso dos índios Lakota (que significa sentimento amigável, união, aliança) na América do Norte, eles falam com o corpo para informar-lhe que existe uma medicina que vai curá-lo. E, naturalmente, as pessoas se curam. O famoso líder indígena Touro Sentado foi um chefe Lakota.

A sabedoria do corpo é um bom ponto de acesso às dimensões ocultas da vida: é invisível, mas inegável. Os investigadores médicos começaram a aceitar este fato em meados dos anos oitenta do século passado. 

Há dez anos, parecia absurdo falar de inteligência nos intestinos. Sabia-se que o revestimento do trato digestivo possui milhares de terminações nervosas, mas eram consideradas simples extensões do sistema nervoso, um meio para manter a tarefa de extrair substâncias nutritivas da alimentação. Hoje sabemos que as células nervosas que se estendem pelo trato digestivo formam um fino sistema que reage a acontecimentos externos: um comentário perturbador no trabalho, um perigo iminente, a morte de um familiar.

Ou seja, à medida que desenvolvermos o autoconhecimento iremos descobrindo um potencial inimaginável em nosso corpo que irá gradativamente nos libertar de todos os dogmas, medos, receios. Depende de cada um.


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