DESENVOLVIMENTO DE ESTUDOS EM UMA LOJA MAÇÔNICA - Arabutan Alves Marinho



Modernamente, as Lojas Maçônicas carecem de um avanço na técnica e sistemática quanto à arte de ensinar com a finalidade de transmitir, com resultados mais promissores, sua Doutrina Filosófica comum a todas as Ordens Maçônicas.

Dizer da existência de uma filosofia especificamente maçônica é praticamente inviável, pois ela aglutina, numa espécie de sincretismo cultural e de conhecimentos, pensamentos de vários luminares, a maioria não maçons. Isto obriga a uma organização de estudos acurada e dialeticamente livres para discussões e para pesquisas além dos simples rituais que são oferecidos á guisa de orientação e que não passam de normas, algumas esotéricas, para procedimentos em Loja.

Entender a Maçonaria exige muito mais e registramos, aqui, alguns questionamentos:

A quem cabe essa tarefa? 

- Aos Mestres ou fica por conta do interesse do neófito, perdido em tantas informações desencontradas? 

- Aos instrutores capacitados, os quais enfrentam a “claque” de Maçons, divorciados da leitura e do conhecimento, que batem palmas para o “oba-oba” das dignidades com fixação em promover o não conhecimento maçônico? 

- Ou ao “bel prazer” da vontade de cada um em buscar esses conhecimentos e respectiva sabedoria, mesmo correndo o risco maior de deformações nos conceitos e erros de interpretações, para encontrar a “sua” verdade, por comodismo dos responsáveis que o induziram a ser maçom?

A resposta a estas questões dirá do destino da sinceridade em relação à Oficina quanto às responsabilidades impostas pelos Princípios Maçônicos.

A escolha é de cada uma, mesmo porque os impérios (não existe contexto maçônico republicano ou democrático e se a realidade é esta, é porque o apelido que achamos para estes impérios é de “ditadura democrática”) das administrações maçônicas não têm interesses em promover o neófito [quantos mestres maçons ainda continuam neófitos?] aos parâmetros de exigências que construam o verdadeiro conhecimento dos tão decantados princípios maçônicos. Dá muito trabalho...

“A construção do conhecimento fundado sobre o uso crítico da razão, vinculado a princípios éticos e a raízes sociais é tarefa que precisa ser retomada a cada momento, sem jamais ter fim” . (Prof. Vanderlei de Barros Rosas - Professor de Filosofia e Teologia. Bacharel e Licenciado em Filosofia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro).

Além do que expomos vários são os pontos de estrangulamento para que se faça presente o verdadeiro estudo maçônico evitando a caricatura que aí existe:

1) o primeiro estrangulamento é período destinado ao estudo (tempo de estudos, de acordo com o ritual) onde se recomenda quinze minutos e, com muito custo e concessão estende-se para trinta minutos;

2)  o segundo estrangulamento está na disposição recomendada no estudo dos textos contidos nos rituais que não se sequenciam nas explicações, principalmente nas ênfases esotéricas dos simbolismos e respectivas ilações, ficando ao bel-prazer das fantasias e mitos de cada um;

3) o terceiro estrangulamento está na fixação psicológica da maioria dos Mestres em achar que aprender maçonaria é praticar, ritualisticamente, o ritual e desenvolvê-lo de uma forma militar;

4) finalmente, o quarto estrangulamento está no número bastante restrito de MM.'. MMaç.'. capazes de transmitir informações e conhecimentos  historicamente corretos e baseados na Razão Crítica.

Os que utilizam como argumentos para justificar os estrangulamentos descritos são, na mais simples dialética analítica de bom senso, quiçá de bom e firme conhecimento, infantis e desprovidos de alicerces que convençam!

Como fazer para atender, pelo menos, cinquenta minutos de estudo sério e sistematizado, é do esforço e intenso interesse da Loja, cauterizando os penduricalhos administrativos e com a criatividade necessária, erradicá-los...

Confeccionar um programa de estudos que privilegie as seguintes vertentes de conhecimento:

- Assuntos de interesses sociais, éticos e de relevância pública. (O Maçom não é um alienado social e nem membro especial da sociedade em que vive).

- Assuntos que contemplem os graus maçônicos em seus aspectos ritualísticos, simbólicos e de conteúdos formadores, das Lojas simbólicas.

- Assuntos sobre a Maçonaria baseados em pesquisas de autores de formação acadêmica em historiografia que agregue a filosofia da formação do homem maçom junto à sociedade atual. (O descompasso entre a participação da Maçonaria e os problemas da Nação é enorme e evidente).  

Exemplificamos, neste ponto, com uma questão: A Maçonaria prima e se auto elogia pelo valor de suas iniciações, onde cada grau tem seu esoterismo ou a finalidade de atingir a mente do candidato para que amplifique suas qualidades e combata seus vícios, porém, como base natural da necessidade de se conhecer para mudar fica a pergunta: Onde, historicamente, poderíamos buscar fontes esclarecedoras das raízes desses rituais e seu verdadeiro papel na mudança da intimidade do homem? Por que são necessários esses rituais de iniciações? Acredito que em tal conhecimento se finca (fundação) a primeira estrutura do conhecimento necessário, perfeito, sobre os já maçons.  – Aguardamos respostas...!

Voltando ao tópico dos assuntos a serem estudados, observa-se que todas as organizações de cunho formador ou doutrinador se atualizaram, ao longo do tempo, diante das proposições dos grandes pensadores e do avanço social e cultural da humanidade, modernizando seus ensinamentos e atualizando-os sem desfigurar suas ideias e conceitos. 

Utilizam-se de métodos modernos de debates e estudo, organizam sistematicamente os assuntos de relevância para o meio social impregnando suas ideias e o que é de vital importância: dão conhecimento ao mundo sobre o que pensam permitindo a avaliação pública dos enunciados que defendem.

A Maçonaria viveu, durante um bom tempo, a fase do secretismo – o que teve suas justificativas pelos tempos turbulentos que atravessou e sobreviveu – porém, hoje, tendo em vista a vasta literatura exposta sobre a Ordem, não tem sentido vivermos a ilusão de colocar o Maçom acima da exposição pública em seu comportamento e adoção das ideias maçônicas. 

O julgamento público faz parte inalienável da democracia e da justeza dos próprios princípios maçônicos. O que temos e tememos para esconder?

Vamos melhorar o nosso conhecimento... vamos utilizá-lo para formular soluções efetivas numa sociedade que, atualmente, precisa de lideranças bem formadas nos princípios qualificativos do caráter humano e, isto, a Maçonaria pode, perfeitamente, preparar e atuar!

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