DIÓGENES, O CÍNICO — Alessander Raker Stehling


    Diógenes, o Cínico (413 a.C. - 323 a.C.) é muito conhecido por sua vida simples, sendo retratado em muitas ilustrações como um “mendigo” vivendo em um barril. Ele rejeitou as convenções sociais, o acúmulo de bens materiais, e foi grande defensor da autossuficiência, independência e vida simples: focada na virtude e necessidades humanas. Foi grande influenciador de Michel de Montaigne e do filósofo alemão Friedrich Nietzsche — só aí já percebemos a importância deste grande pensador. 

    É dele o aforismo: “O silêncio é a maior virtude do homem.”, frase essa que gostaria de refletir — em outro contexto — com você (leitor). Percebemos que Diógenes dá grande importância ao silêncio, sendo assim, podemos nos perguntar: por que o silêncio é tão valioso?

    Mário Sérgio Cortella fala sobre a importância de se deixar um legado, uma obra no mundo. Indiferente do seu desejo de produzir ou não uma obra para a posteridade, creio que identifique a importância de realizar alguma tarefa, criar algo — nem que seja para ganhar algum dinheiro. 

    Não raro encontramos pessoas que dizem: “Eu vou fazer isso amanhã.”, ou, “Eu posso fazer isso mais tarde.”, esse adiamento de tarefas importantes é algo comum ao ser humano, chamado de procrastinação. Entretanto, notamos que as mesmas pessoas que dizem as frases acima — talvez nos incluamos — gastam o próprio tempo fazendo coisas sem importância: navegando em mídias sociais, assistindo vídeos adoidado, ou batendo papo sem propósito algum. É claro que essas coisas têm importância, mas muitos ficam presos nelas, de tal forma que não conseguem realizar nada daquilo que planejaram. 

    Notamos nisso um problema comum a todos, o excesso de estímulos (informações e distrações). E o remédio para ele também podemos encontrar: o silêncio. Neste sentido, a frase de Diógenes acima cai como luva. 

    O silêncio é de grande importância para quem quer criar/realizar alguma tarefa, pois ele nos leva à reflexão e introspecção, permitindo que acessemos pensamentos e emoções profundas que alimentarão nossa criatividade, fazendo com que concretizemos nossas intenções. É impossível imaginar alguém escrevendo um livro de fantasia em meio a um show de rock, ou um poeta acessando suas emoções ao mesmo tempo em que é interrompido pelos “sininhos” constantes das notificações do seu celular. A fórmula é simples: toda criação exige concentração, e o barulho — interno e externo — atrapalha o foco. 

    E já que falamos em barulho interno, não podemos negar que esse é o mais complicado de silenciarmos. Uma TV ou celular podemos desligar, porém, como calar o “grito” de uma mente inquieta e ansiosa? Eu, particularmente, gosto de músicas calmas (clássicas e jazz), meditação mindfulness (diariamente) e técnicas de respiração profunda. Tudo isso me permite ser influenciado pelo inconsciente, que é onde encontramos as melhores inspirações para todos os tipos de arte. Entretanto, isso não serve para todos, cabendo a você encontrar aquilo que te deixa mais concentrado e focado. 

    Concluímos que, se quisermos realizar grandes obras, temos de dar atenção ao aforismo de Diógenes, digo, valorizarmos o silêncio. Tal conselho talvez seja mais importante hoje que em sua época, devido a termos mais estímulos e consequentemente mais distrações. Sem essa atenção, talvez nos arrependamos, ao constatarmos — em idade avançada — que não produzimos nada daquilo que desejávamos. Isso talvez amplie o sentimento de vazio e fracasso, comuns a muitos da nossa espécie.



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