AONDE É QUE A MARIA VAI ? - Newton Agrella


A Língua Portuguesa é riquíssima em figuras de imagem, pensamento e construção, mas especialmente em adágios e provérbios.

Muitos deles acabam caindo no gosto popular e atravessam séculos sendo empregados no dia a dia.

Assim por exemplo, dispomos de uma expressão típica que denota a idéia de falta de opinião, ou simples acomodamento diante das mais variadas situações que é a famigerada "...Maria vai com as outras..."

A tal expressão traduz com rara propriedade algo que evidencia um comportamento muito peculiar de um grande contingente da população, que diz respeito à falta de vontade, desânimo e em muitos casos até de coragem para assumir uma postura, defender uma idéia própria ou lutar por um ponto de vista que entenda pertinente e consistente.

Algo que talvez possa ser associado ao receio de tomar decisões e preferir que terceiros o façam.

"Maria vai com as outras"  impacta insuspeitamente na submissão a que a pessoa se entrega diante de um dogma ou de uma afirmação radical. 

Esta subserviência pode inclusive ser confundida de como uma espécie de preguiça intelectual.

Deixa-se de lado o poder da consciência crítica e do valor da contra-argumentação, e submete-se a um convencimento simples, tornando-se deste modo mero instrumento de massa de manobra.

"Maria vai com as outras"  contudo, merece uma consideração histórica.

Reza a lenda que a referida expressão teria ganho corpo a partir de uma referência à  figura de D. Maria I,  rainha de Portugal, mãe de D. João VI, conhecida como "A Louca".

Em razão de problemas mentais, D.Maria I  passou a ter uma vida reclusa e só era vista quando saia para caminhar com suas damas de companhia.

Desta forma, o povo passou a utilizar : 

"Maria vai com as outras" para se referir a alguém que não tivesse a iniciativa ou capacidade de andar por sí só e por conseguinte de tomar a frente de alguma situação ou ter vontade própria.

Algo que sugere um certo maniqueísmo, no sentido da absorção de uma idéia ou de uma postura doutrinária, conformando-se, sem discussão, com o conteúdo de sua essência.

Nos mais variados campos da atividade humana; mas sobretudo no ambiente familiar, político, acadêmico ou profissional a figura de "Maria-vai-com-as-outras" muito a contragosto poderia até ser até interpretada como uma questão de sobrevivência.

Muito se tem escrito a respeito do estereótipo. 

São livros, tratados e teses a respeito; uma vez que este é um tema que não se esgota.

Neste despretensioso fragmento, o propósito é somente trazer à luz, como este comportamento é tão nítido inclusive na Maçonaria.

Convergem-se habitualmente a favor de determinadas propostas, idéias ou mudanças, sem ao menos elaborar uma discussão mais aprofundada, densa e consistente sobre questões de foro exotérico (administrativo) ou esotérico (filosófico e dialético) em nome de uma hipotética iniciativa evolucional. 

E aí levantam as mãos os partidários do time "Maria-vai-com-as-outras"   - cujo premio máximo que poderão almejar um dia será o "OSCAR" de melhor coadjuvante.

Protagonistas fazem a história, coadjuvantes simplesmente a contam da forma como lhes foi passada.



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