ONDE FOI PARA O ESTUDO ? Jorge André Wilbert









Foi depois de uma discussão tola que reavaliei a minha atitude e notei que eu não estava, naquele momento, submetendo as minhas paixões, ou mesmo cavando as malditas masmorras ao vício. Aquilo que repetimos tantas vezes, e que é o básico do nosso trabalho, eu estava desconsiderando de forma inconsciente e trivial. Tão ruim quanto isso, foi notar que os demais envolvidos na discussão, irmãos com muito mais tempo que eu na Ordem, já “instalados” e frequentemente elogiados pelos seus pares, estavam tendo a mesma atitude. Onde foi parar a luz?

Somos homens livres para pensar? Sim. A tolerância é uma das virtudes mais alardeadas no meio maçônico? Sim. Então, porque é tão difícil aceitar que o irmão tenha uma opinião contrária à sua, e queira exprimi-la? Conversar ainda é uma das melhores formas de chegar à verdade. O debate é a premissa básica da democracia, e onde se procura encontrar o ponto de convergência entre as opiniões acerca de um assunto. Sempre pensei que a capacidade de decidir sozinho sobre um assunto não é privilégio dos mais sábios, mas sim, dos solitários e dos arrogantes.

Para conduzir a busca da verdade, o maçom estuda e debate com seus irmãos, e a Oficina é o ambiente propício para isso; principalmente para os assuntos mais controversos. Na Oficina aberta é garantida a livre expressão, onde se busca o auxílio inadvertido e imparcial daqueles que se tratam por iguais. São vedadas a ofensa, a crítica preconceituosa e qualquer forma de cerceamento da razão pura. Ainda assim, as paixões e vícios tomam lugar diariamente nas colunas; dissimulados em termos como “eu acho”, “eu penso” e “quem sabe”, avançam sobre a razão dos fatos até o amor fraternal, e encontram reforços naqueles que ainda tropeçam na vaidade e se consideram preparados.

Porém, temos o problema de quando empreitar enquanto a Oficina estiver aberta. Dentre os diversos Ritos, temos quatro momentos comuns onde há algum trabalho dos Obreiros, que são o Expediente, a Ordem do Dia, o Tempo de Estudos (ou seja qual o termo adotado), e a Palavra a bem da Ordem. Os trabalhos do Expediente são para divulgação de mudanças ou determinações, os da Ordem do Dia são para decisões, a Palavra a bem da Ordem é a oportunidade para pequenas contribuições de cada um, sem gerar debate; restando assim o Tempo de Estudos.

O Tempo de Estudos possui diversos nomes, e este pode ser um dos motivos de ser tão desvalorizado. Alguns chamam de “quarto de hora”, e acreditam que isso significa que não deve passar de 15 minutos, eliminando qualquer chance de se estabelecer um estudo sério e aprofundado. Outros trocam a palavra “estudos” por “instrução”, e acabam convencidos de que se trata de utilizar o tempo para instruir aprendizes e companheiros (como se um mestre não precisasse mais de instrução), e com isso elogiam aquele que copia um texto da internet, e cerram-se as portas para que um questionamento real estabeleça um debate mais longo.

Poderia então o debate franco, ser algo praticado somente nos graus superiores, do grau quatro para cima? Não há lógica alguma nisso, pois, não só estaríamos “elitizando” o conhecimento ao deixar de fora os irmãos dos graus simbólicos, como cada assunto ficaria tão restrito à apenas um grau que não há nem como desenvolver a correlação entre eles. De qualquer forma, o termo “pensador livre” não mais poderia ser aplicado, e a própria razão da maçonaria especulativa deixaria de existir.

Este assunto fica sem um encerramento, mas deixa um questionamento final: Se não estamos realmente estudando e debatendo livremente os assuntos pertinentes, o que estamos fazendo em Loja meus Irmãos?



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