ENTRE O DIVINAL E O FILOSÓFICO - Newton Agrella



Saber e acreditar que DEUS existe é uma condição "sine qua non".

Trata-se da única explicação plausível que justifica e ratifica a nossa existência.

Em outras palavras, trata-se de um Princípio Criador e Incriado do Universo.

O surgimento das religiões, crenças e credos no entanto, em tese, é um dispositivo humano cuja missão é a de um  "amortecedor espiritual" que se traduz como forma de amenizar dores, sofrimentos e além disso, de injetar uma contínua dose de esperança por uma jornada cada vez mais profícua ao longo da vida.

No entanto, as repetidas e insistentes tentativas de vincular a filosofia maçônica aos preceitos divinais e religiosos inclusive de âmbito  proselitista parecem inesgotáveis por parte de significativo contingente de maçons.

Não raro, a impressão que fica, é que estamos participando de um Culto, de uma Missa, de uma Sessão Espírita ou de qualquer outro Serviço Religioso.  

Na apresentação de textos e mesmo em Palestras ou nas singelas saudações entre Irmãos, são recorrentes as eloquentes e efusivas manifestações de bençãos, exaltações divinas e principalmente de citações bíblicas, bem como de algumas outras citações contidas em outras literaturas religiosas, inobstante suas origens.

Esta entrega ao dogmatismo, quer queira quer não, impõe um freio à capacidade de elaborar meios de se buscar a explicação dos fenômenos humanos e naturais através do processo "especulativo".

A Maçonaria  Especulativa, que é a que se pratica hoje em dia, é o processo

de transformação que os ingleses  denominaram de "Revival", que significa renovação, renascimento, cujos indícios sugiram por volta do início do século XVIII.

O adjetivo “especulativo” só foi aplicado aos Maçons “Aceitos” em meados do século XVIII.

A referida denominação de  era dada, a todo aquele propenso à contemplação e à reflexão. 

O “especulativo” era o idealista, o pensador e não o homem de ação ou profissional

Eram homens cultos, eruditos, artistas, escritores e historiadores que passaram a ser "Aceitos" na Sublime Ordem.

Lembrando que o verbo especular advém do Latim *"speculari"* que significa observar ou examinar minuciosamente, cuja raiz é *"specio"* (espelho) que quer dizer ver, olhar, enxergar.

Com o processo de transformação linguística ao longo do tempo,  tanto no âmbito morfológico quanto semântico, *"speculari"* ganhou o significado de examinar alguma coisa, um tema, ou um assunto, refletindo sobre o mesmo mentalmente, ou seja; analisando suas origens, desenvolvimento e consequências sob o ponto de vista dialético. 

Assim, o adjetivo "especulativo"   no que se refere à Filosofia é aquilo que impõe uma análise abstrata e teórica para se chegar ao conhecimento.  

A filosofia Especulativa se concentra no âmbito do raciocínio, na natureza da razão, e no exercício infinito do pensamento.

É justamente essa natureza que confere à Maçonaria um caráter universal na sua essência, permitindo uma diversidade de posições filosóficas, desde que não sejam radicais ou extremistas, razão pela qual nela encontraremos ritos deístas, teístas e até mesmo agnósticos.

Essa é a Tolerância e a Liberdade de Pensamento que caracterizam seus Princípios e sua verve filosófica.

Portanto, a Maçonaria Especulativa constitui-se  numa entidade filosófica, posto que seu propósito é o de investigar, pesquisar as leis da natureza, as relações humanas e o Universo;  bem como, estabelecer uma relação do conhecimento com as bases da moral e da ética.

Esse arcabouço dialético é o que a torna um instrumento para o progresso e a evolução humana, sem se prender a sincretismos, dogmas, estereótipos ou superstições.  

A Maçonaria Especulativa é progressista e evolucional porque parte do entendimento da existência de um "Princípio Universal Criador e Incriado",  fonte inspiradora que não impõe qualquer barreira ou limite para que o ser humano se esmere na busca da verdade.

Além disso, esse caráter oferece ao homem o exercício de aprimoramento da própria consciência.



Comentários