junho 11, 2025

Discurso de Posse - Jorge Antônio Vieira Gonçalves



Discurso de Posse do Venerável Mestre da Loja Constâncio Vieira nº 3300 - Jorge Antônio Vieira Gonçalves 

Meus inestimáveis Irmãos,

Boa noite e muito obrigado pela gentileza da presença de cada um de vocês.

A vida é feita de memórias, e há momentos em que o tempo parece parar. É como se, por um breve instante, fosse possível contemplar, com silêncio e admiração, tudo aquilo que está acontecendo diante dos nossos olhos. Este é um desses momentos. O poeta libanês Khalil Gibran escreveu: “Existe um espaço entre a imaginação do homem e as realizações do homem que só pode ser transposto através do querer.”

Segundo a Bíblia, no Livro dos Reis, no quarto ano do reinado do Rei Salomão, iniciou-se a construção do Templo de Jerusalém, sobre o monte Moriá, lugar sagrado onde Davi já havia erguido um altar (1 Reis 6, 1 e 2 Crônicas 3, 1). O templo foi construído com proporções precisas, paciência e silêncio, pois “não se ouvia martelo, nem machado, nem qualquer instrumento de ferro” enquanto se edificava (1 Reis 6, 7).

Segundo nossa mitologia, foi no Templo de Jerusalém que germinou a semente da Maçonaria Operativa. Com o passar do tempo, a arte de construir e os segredos que a envolviam foram transformados. As ferramentas utilizadas pelos antigos pedreiros, que outrora serviam para erguer catedrais, passaram a ser interpretadas de forma simbólica, convertendo-se em instrumentos voltados à construção dos templos interiores.

Foi durante esse processo que nasceu a Maçonaria Especulativa. Na realidade, ninguém sabe ao certo como ela surgiu das antigas corporações de ofício. O que se sabe é que ferramentas como o esquadro e o compasso deixaram de servir à pedra e passaram a simbolizar a retidão moral, o domínio das paixões e o aperfeiçoamento interior.

Nossas cerimônias são repletas de simbolismo atemporal e nos iniciam em um método de ensino próprio, que transmite, com profundidade e beleza, ensinamentos sobre os grandes mistérios da existência: o nascimento, a vida e a morte.

Dentro de nossas lojas, somos conduzidos pela luz da razão, somos chamados a praticar a fraternidade humana e a refletir sobre como viver com retidão, e partir deixando a lembrança de uma vida que valeu a pena.

Nesse processo de aperfeiçoamento, cada um de nós, com virtudes e imperfeições, vai lapidando sua pedra bruta, construindo de forma única seu Templo Interior.

As antigas Lojas eram lugares de aprendizado e de debate de novas ideias. E mesmo quando as guerras dilaceraram o mundo, mesmo quando tudo parecia desabar, nossos irmãos continuaram a se reunir, confiando na força dos rituais e nos princípios que nos sustentam. Veja o exemplo da pandemia iniciada em 2019. Com a criação das Lojas virtuais, conseguimos concretizar o ideal maçônico em suas raízes, que é transformar a Maçonaria Universal em realidade. Ampliamos os limites de uma Loja física para todo o globo terrestre.

Somos herdeiros da mais antiga ordem iniciática ininterrupta do mundo. Hoje, aqui, na Loja Constâncio Vieira nº 3300, recebo com humildade e alegria a honra de servir como Venerável Mestre, não como quem sobe ao trono de Salomão, mas como quem se curva diante da obrigação de servir.

Pois, como diz o Livro dos Provérbios: “Com sabedoria se edifica a casa, e com inteligência ela se firma.” (Provérbios 24, 3) Que esta sabedoria seja a de todos nós, reunidos em Loja.

Segundo o escritor português José Saramago: “O que dá o verdadeiro sentido ao encontro é a busca, e é preciso andar muito para se alcançar o que está perto.”

O Alcorão nos ensina: “Deus não muda a condição de um povo até que ele mude aquilo que está em si mesmo.” (Surata 13, áia 11)

No Espiritismo, Allan Kardec nos alerta: “Fora da caridade não há salvação.” E essa caridade é mais do que esmola, mais do que ajuda, é a capacidade de compreender a necessidade do outro, mesmo quando se discorda dele, mesmo quando se acredita que o outro esteja errado.

A prática da conciliação é o fundamento essencial da nossa Primeira Obrigação, nosso primeiro juramento, escrito nas Constituições de Anderson, de 1723: “A Maçonaria é o meio de conciliar a amizade entre aqueles que, de outra forma, deveriam ter permanecido a uma distância perpétua.”

Nosso irmão Zé Rodrix cantou:

"Nada no passado,

Tudo no futuro,

Espalhando o que já está morto

Pro que é vivo crescer."

É com essa consciência de conciliação entre passado, presente, futuro e renovação que conduziremos nossa Loja, pois presidir, na Arte Real, é servir.

E servir, como escreveu no poema Andares o escritor suíço Hermann Hesse: “A cada chamado da vida o coração deve estar pronto para a despedida e para novo começo, com ânimo e sem lamúrias, aberto sempre para novos compromissos. Dentro de cada começar mora um encanto que nos dá forças e nos ajuda a viver.” É com este encanto, com esta centelha que não se apaga, que estamos reunidos nesta noite.

Mesmo quando a escuridão do mundo ameaça cobrir de sombras nossas esperanças, aprendemos no nosso ritual: “A Luz que ilumina o Templo deve irradiar sobre todo o Universo.”

Aos irmãos que me antecederam, deixo minha reverência. Aos que caminharam comigo, ofereço minha vontade de servir e ajudar. Aos que virão, que encontrem em nossa obra um alicerce firme e uma inspiração duradoura.

Porque construir, na essência do sentido maçônico, é deixar um mundo melhor do que o encontramos. Os maçons passaram os últimos séculos construindo e espalhando essa luz da tolerância, do aprimoramento pessoal e do serviço ao próximo.

Finalizo este momento com um compromisso diante de todos os irmãos aqui presentes e diante dos olhos de Deus: trabalharei com empenho, levarei com honra o nome da Loja Constâncio Vieira nº 3300 e presidirei com ternura. Que os instrumentos da Arte Real me ajudem a cumprir esta missão.

E que, ao final da jornada, quando mais uma pedra estiver assentada nessa magnífica obra e meu ciclo estiver finalizado, que não reste em mim orgulho, mas gratidão. Gratidão por ter servido à nossa Ordem, que atravessou os séculos de história inquebrantável. Gratidão por poder erguer, com vossas mãos e com a minha, juntos, mais uma pedra justa e perfeita nesse templo invisível que chamamos de vida.

Muito obrigado, meus inestimáveis Irmãos.

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