NUNCA CONFIE EM FANÁTICOS - Michael Winetzki


Meu pai nasceu numa pequena aldeia da Ucrânia, quando esta nação fazia parte do bloco da URSS (União da Repúblicas Socialistas Soviéticas) e cursou a Academia Militar até se graduar como capitão de artilharia do exército soviético. Falava russo e contava que a mãe Rússia nasceu séculos antes na cidade de Kiev, capital da Ucrânia.

Ele participou desde a entrada da URSS na Segunda Grande Guerra onde combateu ao lado de soldados de todas as etnias daquele grande bloco, e muitos anos depois me dizia: - nunca confie nos fanáticos russos, na origem eles eram eslavos, vikings, e só entendem a linguagem da violência. Somos primos irmãos, ucranianos e russos, tudo gente boa, mas os fanáticos são capazes de qualquer coisa: mentem, roubam, matam, tudo em nome de uma causa que nem sequer entendem, a Grande Rússia. A primeira vítima do fanatismo é o bom senso.

A mesma coisa vale dizer para o atual conflito em Israel. Judeus e árabes são primos irmãos, desde a origem comum com Abraão. Viveram no mesmo território durante muitos séculos em ordem e paz, que foi apelidado de Palestina (Philistina, terra dos filisteus) pelo imperador romano Adriano. É uma lenda a ideia de que o conflito árabe israelense é secular, na verdade é relativamente recente.

O conflito não se dá pelas religiões diferentes. O Deus é o mesmo qualquer que seja o nome que se dê a ele. Carlos, Charles, Carlo, Carolli, qualquer que seja o nome, é sempre a mesma pessoa. Mas nenhum dos Deuses de qualquer religião prega conflito, guerra, matança. Na verdade, apenas para pontuar um dos mais sagrados preceitos do islamismo é a hospitalidade que deve ser dada a qualquer pessoa, inclusive aos inimigos.

Com a queda do Império Otomano e a entrada em cena do Protetorado Britânico na região, no início do século 19, tem início uma série de pequenos conflitos entre milicianos muçulmanos e colonos judeus lá estabelecidos pela posse de terras e mais importante ainda, de fontes de água, indispensável a sobrevivência naquela área desértica. Havia judeus secularmente estabelecidos e havia judeus recentemente estabelecidos em terra compradas por mecenas judeus como o Barão Hirsch e os Rothschild. A maior parte vivia em paz.

Eu nasci em Israel em 1950. Ao final da Grande Guerra, papai, judeu que era, imigrou para Israel, para ajudar a construir uma nação. Vivíamos próximos a Hadera, uma cidade criada sobre um pântano drenado, onde ele entregava barras de gelo com uma carrocinha, indistintamente para palestinos ou judeus, numa época de escassa energia elétrica e praticamente nenhuma refrigeração.

As instalações públicas e industrias, como a fábrica de gelo e o hospital foram herança deixadas pelos ingleses. Também foi deixada como herança a simpatia que os ingleses tinham pelos nativos árabes, mais ricos e afluentes, do que a maioria dos pobres colonos judeus. Em diversas ocasiões os ingleses fizeram vista grossa a agressões cometidas contra os israelenses.

O conflito atual não tem motivação religiosa ou territorial. Na realidade, se os povos árabes quisessem poderiam elevar exponencialmente o padrão de vida dos palestinos de Gaza e Cisjordânia com o extraordinário poder econômico de que dispõe, haja vista por exemplo o salário pago a Neymar que proporcionaria boa vida a centenas de famílias palestinas. Mas o interesse é o terror, apenas a maldade de extremistas fanáticos, cujo deus é o deus da mortandade, do extermínio e não o suave Allah do Alcorão.

Como papai dizia: - não se pode confiar em fanáticos. Eles são capazes de qualquer coisa, guardam e reciclam o seu ódio e a prova disso foi a barbárie como que atacaram Israel, decapitando bebes e matando civis em suas casas e camas. Não há alternativa para Israel além de tentar exterminar o Hamas. Claro que como um câncer talvez fiquem algumas células remanescentes. Infelizmente também usando como metáfora o tratamento do câncer outras células saudáveis serão afetadas pela rádio ou quimioterapia, e me refiro ao pacífico povo palestino que irá sofrer com a invasão. Não existem alternativas. Os próprios palestinos são reféns do Hamas, assim como os moradores das comunidades do Rio de Janeiro são reféns do tráfico.

O que resta é rogar a Adonai, Allah, Jesus que o conflito seja encerrado com o menor número possível de baixas de ambos os lados e que povos irmãos e vizinhos voltem a viver em harmonia e paz. Shalom. Salam.










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