fevereiro 27, 2024

 *MISTÉRIOS DO PRIMEIRO GRAU*

(Desconheço o autor)


"É com o coração que se vê corretamente; o essencial é invisível aos olhos." (Antoine de Saint-Exupéry, O pequeno príncipe).


O trabalho do Aprendiz é lavrar sua pedra bruta, usando o maço e o cinzel, para esquadrá-la e livrá-la das asperezas e elementos supérfluos com o fim de conseguir que se encaixe nas outras pedras, para compor as paredes do edifício da Fraternidade. Este é um trabalho que não envolve somente o aspecto esotérico, envolve principalmente o aspecto prático. 


A matéria na qual o Aprendiz trabalha é, portanto, sua própria matéria, pois assim como o pintor se expressa com o emprego das cores; o músico com os sons; o Aprendiz se expressa por meio de si mesmo.


O Aprendiz não deve acrescentar mais nada à sua pedra, que é ele próprio, mas sim tirar de seu interior a figura perfeita que contém, eliminando tudo o que aprisiona e o impede de aparecer. Trata-se não de adquirir, mas de crescer. Não deve portanto fazê-lo a partir do que é, mas a partir de sua essência revelada.


Aqui, cabe perguntar qual é essa essência, qual a fonte, de onde ela surge, qual a direção de seu crescimento, e quais as ferramentas a utilizar.


Quando se fala em perfeição na Maçonaria, queremos dizer: despertar, desenvolvimento e explosão das três grandes luzes do homem:


a) Consciência moral, representada pelo Livro das Sagradas Escrituras ou regra de vida;


b) Compaixão (do latim cum passio), a virtude representada pelo Compasso que, conforme está estabelecido, deve estar apoiado na lei e ajustado ao reto juízo. Por isso mesmo, no ato do solene juramento que nos une à Maçonaria, colocamos uma das pontas do Compasso sobre o coração, fazendo deste o centro ao redor do qual haveremos de traçar as circunferências de nossas vidas.


c) Juízo, que é a luz e função da mente e a virtude da razão, sendo representado pelo Esquadro.


Segundo se depreende da Maçonaria simbólica, a perfeição consiste na retificação do Compasso e de sua libertação paulatina, sem o que, em momento algum, Compasso e Esquadro (compaixão e juízo reto) deixam de estar apoiados na Lei, que é o fundamento absoluto do Todo. Há uma expressão maçônica muito elucidativa e que diz: "compreender tudo dentro dos âmbitos do Compasso". Em idioma inglês, no qual a Franco-Maçonaria e o Rito de York foram concebidos e pensados, "compreender", no sentido de "abarcar", ou "entender", se diz: to encompass, ou seja, colocar dentro do compasso. Por último, é instrumental para os fins da perfeição o hábito do juízo reto, este que não se faz por força de preconceitos, de dogmas e de fantasias, mas do pensamento.


É provável que o Aprendiz tenha tirado da cerimônia de sua Iniciação a conclusão de que a Maçonaria propõe "uma viagem das trevas para a Luz". Assim o é, de fato; só que aquilo que marcha em direção da Luz, não é ele, mas aquilo que nele é inédito e que, por ser desconhecido, é ainda obscuro. Não somos nós que, como pessoas, estamos iluminados; são nossas potencialidades, nossas latências que vão para a Luz; é o Maçom dentro de nós quem se dirige para a sua "parturição", por assim dizer; é o "profundo" de nós que busca fazer-se acontecimento; é a "Lux in tenebris". 


Disto se deduz que será inútil e até contraproducente aquele que não for Maçom em potencial bater à nossa porta. A natureza não pode dar aquilo que já não tenhamos em potencial.


Na realidade, todo símbolo é apenas um estímulo; a questão está em empregá-lo como fermento do ato iniciático e não como aguilhão para espicaçar a mera especulação imaginativo-mental. A primeira coisa que nossa Arte deve conseguir é que os olhos do candidato se abram para o mundo do símbolo. A Maçonaria é uma práxis, suas verdades são conquistas que não são aprendidas nem explicadas por ninguém, mas frutos de introspecção.


A esta altura, muitos poderão ter perguntado: "Por que a Maçonaria ensina por figuras e atos simbólicos?".


Porque é uma Arte e não pode fazê-lo sem base sensorial.


Paradoxalmente a sutileza da arte não penetra pela mente e sim pelos sentidos. A mente não pode levar-nos ao conhecimento do delicadamente sutil.


Poderia o melhor argumento explicar-nos o que é música? Poderia a Física ou outra ciência levar-nos à vivência musical?


Da mesma forma, só atos litúrgicos nos fazem compreender sua essência. Os níveis do psiquismo humano formaram-se ao longo dos milênios de existência da espécie, sendo o racional o mais recente. A Razão sabe conhecer e dar a conhecer as suas noções; mas, quando se trata de expressar e explicar a sensibilidade pré-lógica, a Razão fracassa, porque aquela carece de outras maneiras de expressão que aquelas que lhe são próprias: as de um simbolismo arcaico. E não podem incorporar-se à consciência a não ser através da vivência simbólica.


Explique ao físico as leis do som; por melhor que as aprendamos, nunca chegaremos a ser músicos. Da mesma forma, expliquemos o conteúdo intelectual dos símbolos, o que será muito útil, sem dúvida, mas ninguém suponha que alcançará a mestria em nossa Arte acumulando e produzindo interpretações, porque a Maçom se chega por atos. É óbvio que é muito importante auxiliar o conhecimento de nossa Arte com "explicações", livros e estudos. Mas, quando se trata de despertar as potencialidades pré-lógicas para dar-lhes expressão, é necessário recorrer a uma ferramenta que tenha a devida capacidade de acesso. E não será só pela cabeça que chegaremos a compreender e absorver o transcendente, mas pela pele, pelos olhos e, sobretudo, pelas mãos que empunham as ferramentas. É por isto que a Maçonaria fala, também, a língua da Arte e não unicamente a do intelecto.


Esse, meus Irmãos, é o grande mistério do grau de Aprendiz na Franco-Maçonaria. Para desvendá-lo é preciso aplicar os nossos cinco sentidos, é preciso abandonar os velhos paradigmas de nossa vivência profana, abrindo nossos olhos, nossa alma e o nosso coração, para uma nova vida que ora se inicia. É o equilíbrio entre a cabeça e o coração.


Fonte: JBNews - Informativo nº 135

Nenhum comentário:

Postar um comentário