A LETRA "G" NA MAÇONARIA - Paul Foster Case. Tradução de S.K.Jerez


Introdução

Paul Foster Case (1884-1954), autor deste tratado, é conhecido por estudantes de ocultismo como uma proeminente autoridade de Tarot, Cabala, Alquimia e assuntos relacionados da Tradição Oculta Ocidental. Suas outras publicações, incluindo a Ordem Rosacruz Verdadeira e Invisível; Tarot, chave para a sabedoria dos tempos; O grande selo dos Estados Unidos, a linguagem mágica; O Livro de Tokens, testemunham a sua profunda visão e sua abordagem maravilhosamente compreensível para esses assuntos.

O presente trabalho deixa claro que seus conhecimentos incluiam um domínio profundo da tradição maçônica. Nele, ele desenvolve a ligação inconfundível que existe entre os graus e rituais maçônicos e a tradição cabalística. Mostra que a Maçonaria não pode ser plenamente apreciada ou compreendida sem o conhecimento da Árvore da Vida cabalística e sua visão sobre a verdadeira natureza do homem e do cosmos. Um dos notáveis conceitos que ele explora é a relação entre a geometria, na qual o edifício e o simbolismo arquitetônico da Maçonaria estão baseados, e a Gematria dos cabalistas, que é um sistema de correspondências numéricas para palavras e frases que revela os significados subjacentes aos números, medidas e proporções geométricas que ocorrem tanto no Antigo como no Novo Testamento.

As contribuições de Paul Case para os estudantes da espiritualidade vai além das obras mencionadas acima. Ele fundou a Builders of  the Adytum[1], uma organização religiosa sem fins lucrativos, que divulga um sistema de formação espiritual com base em suas obras, sob a forma de lições graduais por correspondência. É um sistema que permite aos aspirantes sinceros dos dias de hoje receberem treinamentos que em épocas passadas estavam disponíveis apenas para os poucos que podiam entrar em uma escola de mistério e se retirar, pelo menos temporariamente, da sociedade e das preocupações do mundo exterior.

Um Mestre da Escola Oculta deu a Paul Case a incumbência de preservar, ampliar e atualizar a Sabedoria Antiga que existe desde o início do mundo. Sua notável contribuição é ter-nos deixado um sistema claro e gradual para desenvolvimento espiritual, que nos permite manter totalmente nossas relações e responsabilidades no mundo moderno, enquanto gradativamente nos revela uma visão sobre o que há de mais elevado.

A LETRA G MAÇÔNICA

uma interpretação

É difícil determinar quando a letra G foi introduzida na Maçonaria especulativa como um símbolo. A Enciclopédia da Maçonaria, de Mackey, diz que esta letra não é derivada dos maçons operativos da Idade Média e que não fazia parte das decorações arquitetônicas das antigas catedrais. Se entrou no simbolismo sob a influência dos rosa-cruzes e cabalistas que se juntaram à Ordem durante a última metade do século 17, ou se foi introduzida em algum momento posterior a 1717, quando a primeira Grande Loja foi estabelecida na Apple-Tree Tavern, em Londres, parece impossível determinar.

O significado maçônico da letra G nunca foi esotérico. Tem sido dito ao mundo todo que o símbolo deve o seu destaque ao fato de que “G” é a inicial de geometria. Isto o torna um resumo simbólico de todo o sistema maçônico. O cerne da Maçonaria é uma doutrina esotérica fundada sobre a ciência da geometria e expressa por meio de figuras geométricas e teoremas. Nas antigas constituições maçônicas é expressamente declarado que Maçonaria e geometria são uma coisa só. Também não é segredo algum que a letra G é um símbolo para a Divindade. Acontece que God[2] é o nome, em inglês, do Grande Arquiteto do Universo. Mas isso não quer dizer que, por  G ser a primeira letra de “God“, que esta é a única ligação entre o símbolo e a Divindade.

Vários escritores modernos sobre a Maçonaria parecem pensar assim e até chegaram ao ponto de dizer que acreditam que o simbolismo maçônico foi prejudicado, mais do que ajudado,  pela adoção da letra G.

É de se lamentar “, escreve Mackey, “que a letra G, como símbolo, tenha sido admitida no sistema maçônico. Seu uso, como uma inicial, necessariamente a confina ao idioma inglês dos tempos modernos. Um símbolo requereria dispor das características necessárias, tanto de universalidade quanto de antiguidade.”

“É uma coincidência singular” de acordo com McClenachan “que as letras que compõem o nome em inglês da Divindade sejam as mesmas iniciais em hebraico das palavras sabedoria, força e beleza, as três grandes colunas ou suportes metafóricos da Maçonaria. Quase parecem representar o único motivo capaz de conciliar um maçom com o uso da letra “G” em sua suspensão visível no Oriente da Loja, no lugar da Delta. O incidente parece ser mais do que acidente.”O Irmão McClenachan continua a dizer que a palavra hebraica para a beleza é Gomer,da qual deriva a inicial G; que, na mesma língua,  força é Oz, que em inglês é O, e que o D é a inicial de Dabar, que significa sabedoria. Por isso, ele argumenta, G.O.D. pode ser entendido maçonicamente como sabedoria, força e beleza.

Isso seria interessante, se fosse verdade. A primeira objeção, no entanto, é que na Maçonaria as colunas da Loja são sempre nomeados na seguinte ordem:  sabedoria,  força e beleza. Se os supostos originais hebraicos dessas palavras fossem tomados pelo irmão McClenachan na mesma ordem maçônica invariável, os equivalentes em inglês de suas iniciais significariam não Deus, mas cão! Se a maçonaria fosse responsável por tal peça de simbolismo, mereceria os anátemas atribuidos a ela por alguns prelados.

Na realidade, o substantivo hebraico dabar, não significa sabedoria. Seu verdadeiro significado é palavra, discurso, ordem, matéria de comando, caso, evento. Nem gomer,, quer dizer beleza. É a palavra hebraica para terminar, deixar de ser, ou, em sentido secundário, realizar. Além disso, embora seja verdade que oz,é uma das palavras hebraicas que significam força, não é uma palavra que, na antiga Cabala Hebraica que deixou tantas marcas na terminologia maçônica, seja sempre usada em combinação com sabedoria e beleza. Essa palavra é Geburah,  não oz.

Assim, as três colunas do argumento do irmão McClenachan tornam-se colunas de areia. Nada resta a ele além de sua objeções quanto a letra G, pela qual ele substituiria o delta. Nisso ele está em desacordo com Mackey, que acha que a letra no Oriente deveria ser um yod hebraico.

Nem delta nem yod são mais universais do que G; são apenas um pouco mais antigas. As letras em inglês são as letras do alfabeto romano, e letras romanas são simplesmente letras gregas modificadas, ao passo que o grego e o hebraico são adaptações de um alfabeto de origem semita, provavelmente fenício.

Além disso, o simbolismo principal da letra G se refere à geometria, da qual a letra é a inicial, enquanto o seu homólogo grego, gama, é a inicial do nome grego para a mesma ciência. Nem o yod hebraico nem o delta grego tem qualquer ligação direta com esta ciência, de modo que substituir qualquer um deles pelo G maçônico seria privar o ofício de uma importante referência simbólica para a própria base de seu sistema esotérico de instrução. Mais uma vez, o G é o equivalente em inglês da letra hebraica, Gimel e, em hebraico rabínico, Gimel é a inicial de uma palavra que é uma adaptação hebraica do substantivo grego geometria. Assim, a letra G é realmente a inicial de geometria nas três línguas mais importantes para a Maçonaria. Porque o hebraico do Antigo Testamento, o grego de Euclides, Pitágoras e do Novo Testamento – e o inglês em que todos os rituais maçônicos regulares foram lançados na época do renascimento de 1717 – a partir dos quais todas as instruções maçônicas regulares nas línguas de outras nações têm sido traduzidas – são certamente as línguas através das quais os mistérios do ofício foram transmitidos desde tempos imemoriais.

Quando chegamos à letra G como um símbolo da divindade, há uma plausibilidade superficial para a afirmação de que o yod hebraico seria preferível. Pois é verdade que yod é a primeira letra do tetragrammaton , traduzido como Jeová na Bíblia em inglês. O argumento em favor de yod seria mais convincente se todos os rituais maçônicos concordassem que o G fosse colocado no Oriente porque é a inicial da palavra Deus. Algumas explicações americanas modernas só fazem dizer apenas isso. Mas uma explicação mais antiga, e que nós julgamos melhor, sobre o símbolo, é simplesmente que ele denota a Divindade. Como ele o faz não é explicado, mas esperamos esclarecer isso.

Certamente o yod hebraico, inicial de Javeh,, não é nem mais nem menos exclusivo do que G. O delta grego proposto pelo Irmão McClenachan poderia significar o grego dios, o deus do latim, ou mesmo o inglês deity[3], mas não faria referência a Deus em hebraico.

G, no entanto, é a inicial de God.

Seu equivalente grego é a inicial de Gaia, a mãe terra, a mais velha nascida do Caos, e cujo nome é a raiz do substantivo geometria. Gimel, o correspondente hebraico para G, é a inicial de , gadol, majestade e de, gebur, forte, palavras usadas para designar a divindade ao longo dos escritos sagrados hebraicos. Não existindo nada mais a ser dito sobre isso, parece-nos que estes fatos fariam da letra G um símbolo do Grande Arquiteto suficientemente universal, bem como suficientemente antigo.

Por outro lado, o G, de gamma, seu equivalente grego, não apenas é a inicial de Gaia, a mãe terra, e de geometria, a ciência pela qual seus poderes são medidos, mas tem ainda uma outra alusão maçônica. A forma da letra gamma é G, obviamente, nem mais nem menos do que o esquadro de um pedreiro.

A partir do equivalente hebraico de G, no entanto, iremos descobrir os significados mais importantes deste antigo símbolo. Quando consideramos o significado esotérico de gimel, veremos não só que é a inicial de um termo rabínico emprestado diretamente do substantivo grego geometria, e não só que é a inicial de duas palavras hebraicas freqüentemente aplicadas a Deus, mas também que a letra gimel em si é considerada pelos sábios de Israel como sendo o sinal alfabético da sabedoria sagrada que está assentada sobre a ciência da geometria. Veremos, ainda, que gimel está diretamente ligado com o delta triangular indicado pelo irmão McClenachan e que também está relacionado, de forma oculta, à letra yod preferida pelo irmão Mackey.

Para deixar isso claro, devemos lembrar aos nossos leitores que, ao longo de seus rituais e instruções, a Maçonaria carrega as marcas de ter sido desenvolvida em sua forma atual por pessoas que tinham alguma familiaridade com o sistema hebraico de filosofia oculta conhecido como Cabala. Assim, Mackey nos diz que os nomes das três colunas que sustentam a loja (sabedoria, força e beleza), e a atribuição maçônica da terceira destas colunas ao Segundo Vigilante e a Hiram Abif, provavelmente derivaram da Cabala. Estas colunas, e os seus nomes, foram tirados diretamente de um diagrama cabalístico conhecido como a Árvore da Vida. O diagrama é formado por dez círculos, ligados por vinte e duas linhas. Os círculos representam dez aspectos ou fases da emanação divina, são numerados de 1 a 10, e são chamados sefirotes, ou enumerações. Diz-se que as vinte e duas linhas que ligam estes dez círculos um ao outro representam as letras do alfabeto hebraico e as forças correspondentes a essas letras. A árvore inteira, com seus dez números e vinte e duas letras, representa os trinta e dois caminhos da sabedoria. Os cabalistas a consideram tão importante que a declaram ser a chave para todas as coisas.

Os cabalistas também dizem que esta árvore contém três colunas. A que fica à direita do observador, que consiste nas sefirotes de número 2,4 e 7, é denominada a “coluna da misericórdia”, após a quarta sefirote,, chesed, misericórdia. A coluna do lado esquerdo da árvore é chamada de “coluna da força”, após a quinta sefirote,, geburah, o substantivo hebraico mais frequentemente usado para força. Esta coluna é composta por três sefirotes, de números 3, 5 e 8. A terceira coluna está a meio caminho entre as outras duas e é composta pelas sefirotes números 1, 6, 9 e 10. Os cabalistas a chamam de “coluna da brandura”, porque dizem que é o equilíbrio entre as outras duas.

Estas três colunas cabalísticas são, obviamente, os sustentáculos da loja maçônica. Mas a Maçonaria dá nome à coluna da direita após a sefirote de número 2, e a chama de, chokmah, sabedoria. Para a coluna da esquerda, mantém o nome cabalístico, força. Para a coluna do meio cabalística, que é também a coluna do meio na loja, aplica-se o nome de beleza, retirado do título da sefirote de número 6,, tiphareth, beleza. Tudo isso vai ser melhor compreendido depois que o leitor analisar o diagrama da Árvore da Vida, abaixo.

ARVORE SEPHIROTICA

A Maçonaria também tomou emprestado da Cabala o método de usar letras para representar números e números para representar palavras. Mackey diz que este recurso foi frequentemente utilizado pelos inventores dos graus mais elevados, como aqueles que constam agora do Rito Escocês. Ele poderia ter acrescentado que esta é uma das pistas mais importantes para os verdadeiros segredos dos três primeiros graus, constituintes da Loja Azul, em todos os lugares reconhecida como a base de toda a estrutura maçônica. Nada pode estar mais longe da verdade do que a suposição de que os chamados “altos graus” conferem qualquer segredo essencial que esteja contido nas  Lojas Azuis. Todos os mistérios da maçonaria estão sintetizados em três graus primários. Os “altos graus” são apenas a elaboração e exemplificação do que é comunicado ao Aprendiz, ao Companheiro e ao Mestre Maçom. E o sistema numérico de letras da Cabala é a chave que desvenda este mistério essencial.

O mesmo recurso fornece-nos também a única pista para o real significado de muitas passagens obscuras da Bíblia. Ele resolve os enigmas do Antigo Testamento e elucida os enigmas do Novo. Por isso foi utilizado pelos escritores de ambas as seções da biblioteca de sabedoria que se encontra aberta nos altares maçônicos.

Este recurso entrou em uso entre os hebreus e os gregos, porque, quando a Bíblia foi composta, nenhuma nação conhecia os algarismos arábicos. Assim, eles empregavam as letras de seus alfabetos para representar números. As primeiras nove letras do alfabeto hebraico são os dígitos de 1 a 9, sendo as nove seguintes as dezenas de 10 a 90. As últimas quatro letras representam as centenas de 100 a 400. Para cinco formas especiais, conhecidas como kaph final, mem final, nun final, pe h final e tzaddi final – que são sempre utilizadas quando qualquer destas letras vem no final de uma palavra hebraica – eles atribuiram as centenas de 500 a 900. Os milhares eram indicados escrevendo-se a letra em tamanho maior do que as demais. Os gregos usaram um recurso semelhante, mas como seu alfabeto contém apenas vinte e quatro letras, o número mais alto representado por um único caractere era 800, o que corresponde ao omega. O alfabeto grego moderno também não tem um caractere para o número 6, mas os gregos o indicavam através de um caractere antigo conhecido como digamma, ou duplo gamma, que tinha o valor de 6 porque a própria gamma é 3, de modo que uma gamma dupla seria duas vezes 3, ou 6.

Quando as letras do alfabeto eram usadas para operações aritméticas, muitas vezes deve ter acontecido de alguns números formarem palavras reais, tais como, ab, que é o número 3 em hebraico, e também significa “pai”. Uma vez que isto tenha sido notado, seria perfeitamente natural a adoção de grafias especiais para algumas palavras, se não por outra razão, como uma ajuda para a memória, assim como nós lembramos o número de dias em um mês por meio de um arremedo de rima[4]. Daí, até a adoção de um modo enigmático de escrita, em que o significado real de uma palavra ou frase pode ser descoberto a partir do valor numeral, foi apenas um pequeno passo.

Embora isso possa parecer fantástico para a mente moderna, há provas abundantes de que foi isso o que ocorreu na composição de muitas passagens, tanto no hebraico do Antigo Testamento quanto no grego do Novo. Assim, descobrimos que muitos nomes da Divindade no Antigo Testamento, incluindo o Inefável Nome, Jeová, são múltiplos do número 13. No Novo Testamento e nos escritos cristãos gnósticos, o número 37 ocorre repetidamente como um múltiplo dos nomes e epítetos de Jesus Cristo.

O exemplo mais conhecido do uso do sistema de números-letras é do Apocalipse 13, onde lemos: “E faz que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos, lhes seja posto um sinal na sua mão direita, ou nas suas testas, para que ninguém possa comprar ou vender, se não aquele que tiver o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome. Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é 666.”[5]

Nesta passagem, o número 666 é escrito com três caracteres, a letra , chi, para 600, a letra , xi, para 60, e o digamma, , para 6. Na opinião dos melhores estudiosos da Bíblia, diz a Encyclopaedia Britannica, o significado principal deste número, o que quer que ele quisesse dizer além disso, tem a ver com o imperador romano Nero, cujo nome foi escrito no hebraico rabínico desse período como Neron Kaiser,, que soma 666.

Observe que o escritor do Novo Testamento apresenta o número com as palavras : “Aqui há sabedoria”, e diz então: “Aquele que tem entendimento calcule o número…” Evidentemente ele pretendia escrever para ser compreendido por uma classe especial de leitores, para os quais esses cálculos eram familiares.

O nome rabínico para este método de escrita e para a interpretação de uma palavra ou frase das escrituras hebraicas por outra que tem o mesmo valor numeral, é , gematria. Este é o verdadeiro substantivo hebraico mencionado na nossa declaração de que a letra G é a inicial de uma palavra hebraica derivada do substantivo grego geometria.

É assumir demais supor que os rabinos hebreus, quando escolheram o próprio nome deste método secreto de escrever e interpretar as Escrituras, tinham alguma razão definitiva para tomar emprestado a palavra grega geometria, e escrevê-la com letras hebraicas? Não é razoável concluir que, ao selecionar este termo em particular, tinham a intenção de sugerir que muitos dos segredos mais importantes da Sagrada Escritura tem a ver com o número, medida, proporção, peso e outras relações espaciais?

Na Bíblia dos cabalistas, o Zohar, há uma longa passagem explicando o significado de Gênesis 6:8,9, onde lemos: “Noé, porém, achou graça aos olhos do Senhor. Estas são as gerações de Noé.”[6] Não estamos aqui preocupados com os detalhes do comentário cabalístico desta passagem. O que interessa  para o propósito de nossa investigação atual é mostrar que o Zohar faz com que um daqueles que ouvem tal comentário diga para o professor: “A sua exposição é certamente a certa, mas também pode ser deduzida das medidas da arca.” (Grifo nosso)

Isto é o mesmo que dizer que os vários números e medidas mencionados no Antigo Testamento são pistas para um significado oculto. O método cabalístico de encontrar esse significado é transformar os números em palavras e frases. Esta é a “geometria “, cabalística ou gematria, o que nos dá pistas para o significado oculto de muitos detalhes da Maçonaria.

A gematria permitiu que os escritores de ambas as seções da Bíblia escondessem fórmulas geométricas e medidas por meio de palavras e frases ou indicassem palavras pelo que aparenta ser meras medidas. Ambos os recursos foram empregados. A última citação é a chave para o verdadeiro significado da arca de Noé, para o que realmente estava simbolizado pelo tabernáculo de Moisés e pelo templo de Salomão e seus móveis e pertences, para o verdadeiro significado da Santa Oblação e do templo descrito pelo profeta Ezequiel, e muitos outros assuntos.

Como um exemplo disso, considere o Santo dos Santos, onde a arca da aliança era mantida. As descrições indicam que era uma sala cúbica. No tabernáculo ela media dez côvados de comprimento, largura e altura. No templo de Salomão media vinte côvados em cada direção. Portanto, a estrutura hebraica antiga – que assume tanta importância na tradição maçônica, onde se diz que era o ponto de encontro da Loja dos Mestres mítica, composta pelo Rei Salomão, Hiram, rei de Tiro, e Hiram Abif – tinha a forma de um cubo.

Para os hebreus, o sanctum sanctorum era a morada real da Presença Divina ou Shekinah, que repousava sobre o propiciatório da arca da aliança. Como a arca estava colocada no Santo dos Santos, a posição do propiciatório coincidia com o centro oculto da sala cúbica. Assim, o lugar da Divina Presença estava no centro, ou no meio. Isso nos faz lembrar de uma passagem do Sepher Yetzirah, que diz que o lugar de Deus é o centro interior do qual irradiam as seis linhas ilimitadas que estabelecem o espaço, selado com as seis permutações do divino nome Jeová .

Um cubo é um sólido, limitado por seis faces iguais e doze linhas iguais. As linhas formam ângulos retos, horizontais e perpendiculares, e eles se encontram em oito pontos externos. Assim, os números necessários para definir um cubo são 6, 8 e 12, cuja soma é 26, o valor numérico do Nome Inefável Jeová,.

Como santuário de Jeová, o Santo dos Santos era a parte essencial do tabernáculo e do templo de Salomão. Por conta disso, a Bíblia diz, invariavelmente, que o templo foi erguido para o nome de Jeová, isto é, de acordo com o número daquele nome, que é a soma dos valores de duas palavras hebraicas que indicam a qualidade essencial da natureza da Divindade.

Uma dessas palavras é, achad, “um”, que designa a noção fundamental da Divindade enfatizada em todo o Antigo Testamento. A unidade de Deus é a grande contribuição do judaísmo para a filosofia religiosa da humanidade, e até hoje os filhos de Israel usam  achad como um nome divino.

A segunda palavra hebraica que soma 13 éahebah, “Amor”. Podemos muito bem supor que ela estivesse na mente do patrono maçônico, São João, que também era o autor tradicional da Revelação, da qual tiramos a nossa referência ao número da besta. O Evangelho de São João dá evidência interna de que foi escrito por uma pessoa familiarizada com a doutrina helênica do Logos, desenvolvido por Fílon, o Judeu. Esta doutrina tem raízes na filosofia matemática dos pitagóricos e platônicos. Assim, não é desproposital supor que, tendo isso em mente, João tenha escrito “Deus é amor”. Porque, assim como o “amor” e “um” são palavras do mesmo valor, 13, dizer que “Deus é amor” é cabalisticamente equivalente à doutrina fundamental do judaísmo,, Jeová achad, “Deus é um.”

Como exemplo de uso maçônico da gematria, podemos tomar a referência, no grau de Aprendiz, para as substâncias giz, carvão e argila. A Enciclopédia de Mackey, e os monitores[7] oficiais, dão uma explicação mais detalhada destas três substâncias dizendo que significam liberdade, fervor e zelo. Os nomes hebraicos para essas substâncias são,  gheer, pecham, ve-teet. O valor total das palavras é 375, exatamente a numeração de, Shelomoh, a grafia hebraica de Salomão.

Tomada por si só, pode parecer que é apenas uma coincidência interessante. Quando nos lembramos de que Salomão é o padrão maçônico de sabedoria, torna-se mais impressionante. Porque isso tanto significa afirmar que esses três símbolos das qualificações de um Aprendiz são, por assim dizer, as matérias-primas que fazem um Salomão, como são os fundamentos cuja combinação adequada resulta na verdadeira sabedoria.

Este exemplo do uso da gematria em Maçonaria, e suas conseqüências como ajuda para a interpretação do simbolismo, é apenas um dos muitos que poderiam ser citados do trabalho da Loja Azul. Nós o apresentamos apenas para mostrar que a gematria não é, de nenhuma maneira, o malabarismo tolo com números e letras que alguns críticos hostis afirmam que ela seja.

Deve-se admitir que a gematria pode ser, e tem sido, usurpada por fanáticos e trapaceiros. Muitos judeus modernos têm aversão à Cabala e a consideram como um foco de superstição e impostura. Por outro lado, este sistema de números letras foi utilizado na interpretação do Antigo Testamento por rabinos que não eram nem cabalistas nem ocultistas. Os livros dos escritores cristãos também contêm uma série de exemplos de interpretação bíblica do mesmo tipo. E já dissemos que há evidências de que o texto de ambos os Testamentos contêm passagens deliberadamente compostas de forma a esconder os números com palavras ou sugerir palavras por números.

Também há que se destacar que pessoas influentes no desenvolvimento da Maçonaria em sua forma atual estavam familiarizados com a gematria. Olhe-se através das páginas de qualquer boa obra de referência sobre a Maçonaria, e tornar-se-á evidente que, no século XVIII, quando a maioria dos “altos graus” foram compostos e trabalhados, as pessoas que estavam mais interessados ​​na Maçonaria especulativa e seu significado eram homens que acreditavam que na Cabala Hebraica eram encontradas pistas para o significado mais profundo das tradições e do simbolismo do ofício.

Outra razão para acreditar que a “geometria” maçônica poderia incluir o sistema número letra de escrita e interpretação das Escrituras, decorre do fato de que na [antiga especulativa] Maçonaria a Bíblia é chamada de tábua de traçar. Assim Mackey escreve:

“No ritual maçônico, o maçom especulativo é lembrado de que, como o artista operativo ergue seu edifício temporal em conformidade com as normas e projetos previstos na tábua de traçar pelo trabalhador mestre, assim então ele deve erguer o edifício espiritual, cujo material é um padrão que obedece as normas e projetos, preceitos e mandamentos previstos pelo Grande Arquiteto do Universo nos grandes livros da natureza e da revelação que constituem a tábua de traçar espiritual de todo maçom.”

O mesmo escritor diz, ao falar de tábua de traçar do maçom operativo: “O cavalete é uma estrutura para uma mesa – trest, em escocês; a tábua de traçar é uma placa colocada para o caso em que se queira desenhar. Ela não contém nada além de alguns diagramas, geralmente figuras geométricas.” Em suma, a tábua de traçar mostra os planos de um arquiteto. Tais planos são baseados nos princípios da geometria. Para ser capaz de ler os planos e interpretá-los corretamente, é preciso entender a ciência que rege a sua formação. Assim, pelas óbvias implicações da doutrina maçônica, a “geometria ” da Maçonaria especulativa deve ser entendida como sendo uma chave para a compreensão correta das palavras da Bíblia. Isto é precisamente o que os cabalistas querem dizer com gematria, que usaremos para deixar claro o significado esotérico da letra hebraica Guimel, correspondendo ao G.

Letras hebraicas são distintas das de outros alfabetos por terem nomes, a maioria dos quais representam objetos naturais conhecidos. Quando um menino judeu aprende seu alfabeto, ele não memoriza uma série sem sentido de sons convencionais. Ele descobre nisso uma lista de coisas reais. Quando ele diz aleph, beth, gimel, daleth, está recitando as palavras hebraicas para boi, casa, camelo e porta.

Como palavras hebraicas, esses nomes-letra têm valores próprios, distintos dos números representados pelos caracteres individuais. Assim, o nome , guimel, tem o valor de 73, que é a soma dos números de seus três caracteres. O número representado pela letra única para a qual esse nome é dado, é apenas 3. O nome gimel significa ” camelo “. E os léxicos hebraicos nos dizem que é devido a uma semelhança imaginária entre o caracteres um retrato tosco da cabeça e pescoço de um camelo.

Se alguém se pergunta: “Qual é a ideia fundamental trazida à mente pela imagem de um camelo?” não vai demorar muito para concluir que os camelos, para os antigos hebreus, representavam o que os automóveis representam para a mente moderna, ou seja, viagens, jornadas para lugares distantes e assim por diante. Portanto, o camelo é um símbolo que marca o Mestre Maçom pela capacidade de “viajar em países estrangeiros.”

Todo o trabalho do Ofício, de fato, pode ser resumido pela palavra “viagem”, da qual o camelo é um símbolo. Maçons, quando falam de si, dizem que estão em viagem para o Oriente, em busca de luz. Sua busca é, portanto, indicada como sendo uma busca por origens e causas. Já o Ocidente é o lugar do sol ao fim do dia. Assim, representa o fim de um ciclo de trabalho ou manifestação. E, no final de tal ciclo, está o produto do referido ciclo, a coisa ou forma produzida pelo dia de trabalho. Daí que o Ocidente seja a direção que  simboliza as coisas e formas produzidas pelo trabalho do Grande Arquiteto no universo. Viajar do Ocidente para o Oriente é, portanto, passar das formas e aparências para as suas causas ocultas, e, por meio destas causas, voltar à Causa Primeira, ao princípio mestre cuja localização simbólica está no Oriente.

Precisamente o mesmo pensamento é expresso no que instruções maçônicas nos dizem a respeito de geometria. Dizem que, por meio desta ciência, somos capazes de rastrear a natureza através de suas várias sinuosidades até seus mais recônditos recessos. Note-se que isso nos remete a duas imagens: (1) do movimento em direção a um centro interior, (2) de movimento sinuoso, que, se for considerado como a condução de alguém da superfície para o centro, deve ser necessariamente espiral. Deve ter algum significado o fato da letra G ser, na verdade, uma curva tirada de uma espiral, pois a nossa experiência mostra que, quando se está considerando o significado de um símbolo idealizado por homens muito sábios, cada detalhe tem significado. Certamente as instruções maçônicas afirmam isso, pois dizem: “Não há uma observação na Maçonaria que não tenha um significado profundo; busque diligentemente e você vai achar as ilustrações de seus ensinamentos simbólicos quase infinitas.”

Mas voltemos à nossa letra Gimel.

Seu nome vem do verbo gawmal, escrito com os mesmos três caracteres, mas com diferentes pontos de vogal. Este verbo significa: (1) pôr fim ou limite a algo, daí amadurecer, (2 ) dar de acordo com o mérito, recompensar, retribuir, beneficiar. Quem pode deixar de ver a aplicação direta dessas idéias na Maçonaria? O trabalho do Ofício é projetado para trazer o homem de seu grosseiro estado de ignorância para os mais altos limites possíveis de realização humana. É um processo de construção espiritual por meio do qual um homem pode incorporar ao seu caráter qualidades que distinguem um ser humano amadurecido e perfeito.

Quando este processo de amadurecimento é efetivamente realizado, a pessoa é realmente elevada ao grau sublime de Mestre Maçom. Então, torna-se plenamente competente não só para viajar em “países estrangeiros”, mas, também, a palcos diferentes neste processo de vida, e o que eles dramatizam deve ser vivido antes de alguém tornar-se realmente um Mestre Maçom. E note-se bem o fato de que a justa recompensa de acordo com o mérito, o salário do Mestre, recebido por alguém que completou sua jornada do Ocidente para o Oriente, é designado por uma palavra hebraica escrita pelos mesmos caracteres que compõem o nome hebraico da letra G.

O valor de numérico de guimel, o caractere que leva esse nome, é 3. Este é o mais significativo de todos os números venerados pelos maçons. Mackey diz:

“Em todos os Ritos, qualquer que seja o número de graduações sobrepostas, está a base dos três graus simbólicos. Há, em todos os graus, três agentes principais, três colunas, três luzes maiores e três luzes menores, três jóias móveis e três imóveis, três princípios fundamentais, três ferramentas de trabalho de um Companheiro, três ordens de arquitetura principais, três sentidos humanos principais, três Grão-Mestres Antigos. Na verdade, em todo o sistema, o número três é apresentado como um símbolo destacado. Tanto é verdade que todos os outros números místicos dependem dele, porque cada um é um múltiplo de três, seu quadrado, seu cubo ou derivados deles… Mas nada no significado maçônico do ternário é mais interessante do que em sua conexão com o delta sagrado, o símbolo da Divindade.”

Este delta sagrado é o triângulo equilátero, composto por três linhas iguais e três ângulos iguais. Conforme diz o mesmo autor: “Não há símbolo mais importante em seu significado, mais variado em sua aplicação ou mais amplamente difundido em todo o sistema da Maçonaria, do que o triângulo. Além disso, ele é não apenas um símbolo da divindade, mas também de importância fundamental na geometria. A primeira proposição de Euclides, que é venerado como um dos fundadores da Maçonaria, diz respeito à construção de um triângulo equilátero, por meio da intersecção de dois círculos de raio igual…”

O espaço delimitado por esta intersecção é chamado de vesica piscis, e o erudito autor de The Canon[8] mostra que a vesica piscis foi a base de alguns dos segredos geométricos mais importantes dos antigos Maçons Operativos. As proporções subjacentes à arquitetura de todas as maravilhosas catedrais da Idade Média foram provenientes principalmente da vesica piscis e do triângulo equilátero. Além disso, na construção da Árvore da Vida cabalística, como pode ser visto a partir de um exame cuidadoso de suas proporções, a própria primeira proposição de Euclides é empregada. Assim, o diagrama mestre da Cabala, a “Chave Para Todas as Coisas”, tem o mesmo fundamento geométrico do delta, o mais relevante de todos os símbolos maçônicos. E o delta está associado ao místico número 3, e pelo caractere hebraico guimel, que corresponde ao G.

Os três caracteres que compõem a letra-nome guimel são , guimel (3),, mem (40), elamed (30), de modo que o valor da palavra é 73. Esta é também a numeração de, chokmah, sabedoria, título da segunda sefirote da Árvore da Vida, da mesma forma que é o número do verbo gawmal, que se refere aos salários do Mestre Maçom.

Ou seja, para um cabalista, a sabedoria em si é a recompensa ou benefício que constitui o salário de um mestre, uma vez que há identidade entre as palavras gawmal e chokmah. Assim, encontramos o nosso antigo Grão-Mestre, Salomão, dizendo. “Feliz é o homem que encontra a sabedoria e o homem que adquire entendimento. Porque é mercadoria melhor do que a prata, e maior o seu lucro do que o do ouro fino.”

Entre os cabalistas, o Rei Salomão tem a fama de ter sido o maior mestre da sabedoria secreta, ao lado de Moisés. Na Maçonaria, ele representa o poder da concepção, o poder de formar idéias abstratas ou universais, a capacidade de compreender os princípios fundamentais. Este poder é a raiz de toda a verdadeira maestria, em qualquer campo, e é precisamente o que se quer dizer com o substantivo hebraico chokmah.

Os cabalistas associam chokmah com a astronomia, a sétima e mais elevada das artes liberais. Porque eles dizem que chokmah é, masloth, termo que significa literalmente “os altos caminhos das estrelas”, embora muitas vezes seja traduzida como “a esfera do zodíaco.” A astronomia é o pináculo da pirâmide maçônica de instrução. Também não devemos esquecer que a astronomia das antigas escolas de mistério das quais a Maçonaria afirma descender era inseparável da astrologia.

Assim, a sabedoria, no verdadeiro sentido maçônico, está associada ao conhecimento profundo de relações cósmicas que combinam a medição exata dos movimentos dos corpos celestes com o conhecimento, para o homem, do significado das influências que correspondem ao mutante panorama dos céus. Este conhecimento é o fruto amadurecido de eras de experiência humana. Depois de ter ficado por algumas décadas em eclipse quase total, está começando mais uma vez a lançar a sua luz sobre os problemas humanos. A astrologia hoje absorve o interesse de numerosas mentes de primeira classe.

Isto é como deveria ser. Em ambos os seus ramos, a sabedoria das estrelas é o único fundamento adequado para a construção do templo pessoal de Deus ou para se erguer uma estrutura social duradoura.

Chokmah, portanto, é denominada, ab, pai, pelos cabalistas. Porque eles consideram que esta altíssima sabedoria, da qual a astronomia é a expressão mais valiosa, tem em si a força fecundante das generalizações abstratas sublimes, que dão frutos a todas as invenções que marcam o progresso da humanidade. A primeira letra de, ab, é aleph, o touro. É um símbolo de fertilidade e do poder vital de fecundação inerente à sabedoria. A segunda letra é beth, a casa, um símbolo das conseqüências da atividade do poder vital representado por aleph. Beth também significa família e posteridade, como quando dizemos “a casa de York”[9] e também significa tudo o que uma casa implica, por sua ligação com a arquitetura e geometria. Assim, as duas letras de, ab, significam vida () e arte (), no sentido estritamente maçônico.

Mais uma vez,nos leva de volta à letra G, porqueé 1 e  é 2. Assim, é o número 3, simbolizado no alfabeto hebraico pelo caractere, equivalente ao G. E isso não é tudo. Nenhum homem se torna um maçom sem ter manifestado a sua confiança em Deus. Assim, todo o currículo do ensino maçônico pode ser considerado um desenvolvimento desta atitude inicial de confiança. A confiança é a semente da sabedoria, e a semente é realmente una com o fruto, já que ambos são partes de um processo contínuo de desenvolvimento. Assim, vemos que o verbo hebraico chasah, que significa “confiar em” compreende as letras cujos valores são 8, 60 e 5, de modo que sua soma é 73, o número de chokmah, sabedoria, e de Gimel, ou G.

Os leitores maçônicos devem ter notado que os dígitos de 73, 7 e 3, se destacam ao longo dos graus do Ofício. Já mencionamos as muitas repetições de 3. O número 7 é quase tão amplamente difundido quanto o 3 em todo o sistema maçônico. Na Loja Azul seu principal significado é com relação às sete etapas que representam as sete artes e ciências liberais, ou libertadoras. Estes sete passos são os estágios finais de uma ascenção gradual começada por outras três etapas que denotam sabedoria, força e beleza, de modo que o primeiro degrau da escada maçônica simbólica é a sabedoria. A escada, aliás, é em caracol, ou em espiral, ascendente, levando à câmara do meio, onde os trabalhadores recebem seus salários.

Se somarmos os dígitos 3 e 7, seguindo uma prática comum cabalística, a soma é 10. Esse número não é de grande importância na Maçonaria, que deriva a maior parte de seus números místicos do 3. A tradição maçônica, no entanto, chama Pitágoras de “nosso antigo irmão” e no sistema pitagórico o número 10 era venerado como um símbolo da perfeição e consumação de todas as coisas. Assim, o número 10 pode ser tomado como um símbolo da harmonia, que é a força e o apoio de todas as instituições bem ajustadas.

Aqui, é interessante notar que, pela gematria grega, o substantivo αρμονία, harmonia, é o número 272. Este também é o número do substantivo hebraico , ereb, que significa anoitecer, ou final do dia. O mesmo substantivo às vezes designa a direção Oeste. Daí o significado oculto de “harmonia”, pela gematria, estar diretamente ligado com o lugar do Primeiro Vigilante, que é o representante maçônico da harmonia.

Na Cabala o número 10 tem a mesma importância que no sistema de Pitágoras. No Jardim das Romãs, o rabino Moisés Cordovero[10] diz: “O número dez é um número que abrange tudo. Fora dele não existe nenhum outro, motivo pelo qual o que está além de dez retorna novamente às unidades.”. A Árvore da Vida, também, representa os dez aspectos de uma realidade. Por isso, o Sepher Yetzirah diz: “Dez sefirotes a partir do nada, dez e não nove, dez e não onze; compreender com sabedoria e apreender com cuidado… e restituir o Criador ao seu trono. ”

Será que isto significa que há apenas dez possíveis aspectos da Divindade? Não, porque isso seria limitar Deus. Isto significa apenas que, independentemente de quantas palavras diferentes o homem possa adotar para expressar suas noções de uma realidade, sua mente está constituida de modo a poder formular nem mais nem menos do que dez idéias distintas daquela realidade. O limite está na mente humana, e não no Ser Divino. Assim como temos dez dedos nas mãos e dez dedos nos pés, da mesma forma estamos limitados mentalmente a dez idéias básicas que expressam tudo o que é inteligível sobre a natureza e os poderes do Grande Arquiteto. Essas dez idéias são representadas pelas dez sefirotes.

Fílon, o Judeu, embora não fosse um cabalista, estava familiarizado com muitos dogmas da filosofia pitagórica. Com relação à década, ou ao número 10, ele escreve: “Qualquer pessoa pode admirar racionalmente a década pelo fato de que ela contém em si uma natureza que é, ao mesmo tempo, desprovida de intervalos e capaz de contê-los. E a natureza que não tem nenhuma ligação com intervalos é contemplada em um ponto só; mas aquela que é capaz de conter intervalos é contemplada com três aparências, uma linha, uma superfície e um sólido. Pois o que é delimitado por dois pontos é uma linha; e o que tem duas dimensões ou intervalos é uma superfície, a linha que está sendo ampliada pela adição de largura; e o que tem três intervalos é um sólido, comprimento e largura tomando para si a adição de profundidade. E com estas três naturezas há o conteúdo;  porque elas não geraram intervalos ou dimensões além destas três. E os números de arquétipos que são os modelos destas três são, do ponto, a unidade, da linha, o número dois, das superficies o número três, e do sólido o número quatro, com a combinação dos quais, isto é, de um, dois, três e quatro, completa-se a década”.

Aqui Filon nos diz que 10 é o resumo aritmético de tudo o que pode ser encontrado em qualquer lugar na natureza. Além disso, ele faz sua demonstração por meio da geometria, usando termos que devem ser familiares a todo Maçom.

Assim, o número 10, representando o que cabalistas chamam de essência do número 73, que é o número de , chokmah, sabedoria, de, chasah, confiar, e da letra-nome, Gimel, simboliza a natureza essencial de toda a empreitada maçônica. É, além disso, o número da letra hebraica yod, de modo que podemos dizer que a letra-nome Gimel é apenas um véu para o yod que o irmão Mackey prefere em lugar da letra G.

Yod, além disso, é a letra inicial de, Jeová (mas note-se aqui que no idioma Inglês a primeira sílaba de Jeová é pronunciada exatamente como o som da letra G ao se dizer o alfabeto). Do mesmo modo, a primeira letra do Nome Inefável, yod, é atribuída na Cabala a chokmah, provavelmente porque chokmah também é conhecida como ab, o pai, uma sefirote masculina. Porque é bem compreendido pelos cabalistas que, embora o nome da letra yod signifique mão, a letra é realmente um emblema de que o poder divino da criação à sua própria imagem pertence à Divindade. Assim yod representa o que os gregos chamavam de phallus, o órgão masculino de geração.

Para algumas mentes modernas isto pode parecer indelicado, mas até mesmo uma ligeira familiaridade com os símbolos dos antigos mistérios – dos quais a Maçonaria tem o orgulho de se afirmar descendente – será suficiente para mostrar que os hierofantes daqueles dias não tiveram modéstia. Era patente para eles que toda a natureza afirma o valor e a santidade do poder que o homem degrada quando se permite tornar-se escravo de seus sentidos. Daí Mackey diz:

“O falo, portanto, como símbolo do princípio gerador masculino, foi muito venerado universalmente entre os antigos, inclusive em ritos religiosos, sem a menor referência a qualquer impureza ou aplicação lasciva”.

Nem a instrução prática da loja maçônica está livre de referência à mesma idéia antiga da importância do poder gerador. O avental, que é o emblema distintivo de um Maçom, é usado para esconder essa parte do corpo e é um símbolo de inocência e pureza. O compasso é usado simbolicamente para circunscrever os nossos desejos e manter nossas paixões dentro dos devidos limites. Além disso, as obrigações de um Mestre Maçom não deixam margem a dúvidas quanto ao que se entende por esta circunscrição das emoções.

É importante lembrar que tal obrigação não é imposta aos Aprendizes ou aos Companheiros. Parece óbvio que, quando o significado da Maçonaria era mais bem compreendido do que parece ser agora, essa obrigação não era ministrada até que o irmão que estivesse avançando tivesse tido tempo para digerir e aplicar as lições dos graus anteriores. Ser totalmente auto-controlado é uma marca de maestria e o controle é fruto do treinamento.

Se levarmos em conta o que é dito ao Aprendiz quando lhe é ensinado como usar seu avental e a procurar as referências bíblicas à “argamassa fraca”, nos deparamos com o substantivo hebraico, taphel, derivado de uma raiz que significa “ser viscoso, pegajoso”. Assim, esta palavra é usada em Jó 6,6 para significar “insípido”, em Lamentações 2,14 significando “coisas tolas”, e cinco vezes na profecia de Ezequiel, como na Maçonaria, com o sentido de “argamassa fraca.”

O significado oculto é estabelecida pelo fato de que o número de, taphel, é 510, que também é o número detaneen, traduzida como “serpente” na história em que Moisés lança a sua vara (Êxodo 7,9), e “dragão” em outras partes do Antigo Testamento. Em todo o mundo, a serpente e o dragão são símbolos fálicos representando o impulso subconsciente que a psicologia moderna denomina libido.


No entanto, o mesmo símbolo da serpente é usado também para designar a sabedoria, ou seja, chokmah, o verdadeiro aspecto da Realidade Una, que é representado pela coluna oriental da loja e pelo Venerável. Esta mesma sabedoria é designada pela letra yod e pelo número 10.

Porque a libido, que provoca tanta dificuldade e sofrimento quando está no estado de “argamassa fraca”, é realmente a força motriz da vontade que é mantida sob controle no longo caminho do Ocidente para o Oriente, e que termina no assento do Venerável. Assim, vemos que o Zohar afirma especificamente que o yod é atribuído ao caminho chamado de “A Inteligência da Vontade”.

Que essa força de vontade de yod é algo conectado com a geração fica claro n’O Livro do Mistério Oculto[11], que diz (Seç. 33) que o yod é masculino e refere-se ao caminho da fundação. Este caminho é a nona sefirote da Árvore da Vida. Seu nome é yesod, que significa fundação ou base, à qual estão associados os órgãos reprodutivos do Grande Homem. Mais uma vez, na Seção 42 da mesma obra, a letra yod é chamada de “o símbolo do membro da aliança”, e o membro da aliança é o falo.

Uma falsa-modéstia de avestruz que não permite que algumas pessoas percebam que o que está acontecendo em seus próprios organismos não aflige nossos antigos irmãos. Eles sabiam perfeitamente que o trabalho de aperfeiçoamento do homem natural rude tem muito a ver com o domínio do desejo mais forte de todo ser humano normal. Daí eles excluirem da participação em seus mistérios, assim como a loja maçônica de hoje, aqueles que eram imperfeitos no organismo, ou notoriamente carentes de auto-disciplina.

Aquele que procura atingir as alturas da sabedoria prática deve querer ser um homem com domínio de seus poderes, e grande parte de seu trabalho consiste em aprender a elevar o que a psicologia moderna chama de libido, da morte e dissolução de sua expressão física bruta, para as alturas da sabedoria que traz, àquele que a alcança, a consciência direta da imortalidade.

Em todas as escolas de mistério da antiguidade era comunicado um segredo que afirmava a imortalidade. Não por meras palavras. Nem só por representações dramáticas. Estes deixam a desejar quando avaliam a natureza dos mistérios, pois pressupõem que a explicação dos símbolos e os espetáculos solenes era tudo o que tinham a oferecer. Os ritos de Elêusis e da Samotrácia, como aqueles das escolas dos templos do Egito, eram apenas a preparação para uma experiência, e aquele cuja mente consciente retivesse a memória da experiência, sabia-se imortal.

Os verdadeiros segredos da Maçonaria são os processos por meio dos quais um homem pode se aperfeiçoar e amadurecer sua própria consciência, e purificar e mudar o seu corpo, a fim de que,  como nossos antigos irmãos, tenha contato direto com sua parte imortal. Eles são indicados com detalhes e clareza suficientes nos ritos e símbolos dos graus da Loja de Companheiro.

Não é por acaso que o mais alto dos chamados graus sublimes[12] seja o de Mestre Maçom. Não é por acaso que a lenda deste grau esteja relacionada a uma dissolução e um ressurgimento. Porque as antigas formas pelas quais a força da serpente se expressa devem morrer antes que o homem possa ser elevado para uma nova vida. Também não é sem significado que aquele que morre e é ressuscitado seja conhecido como um “homem de Tiro”, ou um homem da rocha, já que “rocha” é o significado de Tiro, nome da cidade.

A força secreta que é temperada e trazida sob controle é uma força tripla em aspecto. Sua natureza é, portanto, muito bem simbolizada pelos oficiais da loja, porque esta força é realmente tirada por nós diretamente do sol. Tríplice em sua natureza fundamental, ela é elevada através de sete etapas ou estágios que os antigos alquimistas chamavam de sublimação. Esta mesma palavra foi adotada pela psicologia analítica para descrever processos pelos quais as manifestações destrutivas da libido podem ser elevadas e transformadas em expressões benéficas.

Na verdade, as antigas escolas de mistério estavam muito à frente do conhecimento prático e teórico da psicologia moderna. A longa experiência aperfeiçoou suas técnicas, e aquele que tem algum conhecimento em primeira mão de seu procedimento, sabe, sem qualquer dúvida, que ele é o verdadeiro segredo da Maçonaria.

Até isso é sugerido pela letra G, porque no hebraico e no grego, como mostramos, as letras correspondentes a G tem o valor de 3. Mas, em inglês, G é a sétima letra. Assim, ele representa tanto a força tripla quanto as sete etapas de sua sublimação. Por isso, corresponde tanto aos dígitos de 73, significando chokmah, sabedoria desenvolvida a partir da semente da chasah, confiança, e constituindo gawmal, a recompensa, que é o salário do mestre para aqueles que viajam para o Oriente no camelo (Gimel) do esforço sério, como à única letra em Inglês que pode representar tanto 3 quanto 7, e que combina em si os dois números significativos cuja soma é 10, o valor do yod hebraico. Assim, parece-nos ser um símbolo maçônico perfeito.

O que vocês acham, irmãos? Vamos abolir a letra G? Devemos estar entre aqueles que deploram a sua presença na loja como sendo um anacronismo ignorante? Ou devemos despertar, nós mesmos, determinando-nos a exemplificar em nós o poder e a sabedoria para a qual o G é um símbolo tão apropriado?

O objetivo deste breve ensaio foi defender um honorável símbolo contra as calúnias lançadas sobre ele por críticos honestos mas equivocados.

Acreditamos na Maçonaria. Acreditamos que ela tem um grande trabalho a realizar, especialmente nos Estados Unidos. Mas esse trabalho não pode ser feito por pessoas que não vivem a sua Maçonaria, e não pode vivê-la quem realmente não a conhece. Onde você se posiciona?

NOTAS

[1]     Construtores do Adytum (N.T.)

[2]     Deus (N.T.)

[3]     Divindade (N.T.)

[4]     Na realidade, os versos originais, em língua inglesa, não rimam muito. (N.T.)

[5]     Apocalipse 13:16-18, segundo o site http://www.bibliaonline.com.br, que usamos em substituição ao texto da versão original (N.T.)

[6]     Idem. (N.T.)

[7]     Monitor é um tipo de publicação em que os maçons procuram elucidar ou discutir aspectos dos rituais e instruções maçônicas. (N.T.)

[8]     The Canon – An exposition of the pagan mystery perpetuated in the Cabala as the rule of all the arts, de William Stirling, publicado originalmente em Londres, no ano de 1897.(N.T.)

[9]     Acredito que esta seja uma referência à casa real inglesa. (N.T.)

[10]    Rabino espanhol que viveu entre 1522 e 1570. (N.T.)

[11]    Este livro é uma das dezoito partes do Zohar, o Livro do Esplendor, surgido na Espanha, no séc. XIII, e considerado um dos trabalhos mais importantes da Cabala. (N.T.)

[12]    Aqui o autor faz um jogo de palavras com o verbo sublimar. (N.T.)

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