ANIMISMO ESOTÉRICO - Roberto Ribeiro Reis


Parecia o Clube da Esquina, porém sui generis. Reuniam-se, ritualisticamente, o compasso, o esquadro, o nível e o prumo. Era meio-dia, e o sol transcendia todo seu ardor e magnificência, iluminando com avidez aquele Templo de Harmonia e Concórdia.

O compasso, eminentemente espiritualizado, ponderava sobre a leveza da vida, sobre as sutilezas da alma, que têm o poder de trazer equilíbrio e paz interior aos homens, conquanto estes observem os preceitos reais, aqueles condizentes com a Cartilha Sagrada do Excelso Criador.

O esquadro a tudo ouvia, marchando com uma beleza singular e de simetria única. Por mais que entendesse a palestra do irmão compasso, considerava que a materialização das coisas era uma dádiva do Grande Arquiteto, que possibilitou às criaturas um universo de situações palpáveis, cuja essência das substâncias e Ele mesmo retornava.

E isso era de um encantamento grandioso!

O nível buscava harmonizar aquela “prosa real”, obtemperando que espírito e matéria são imprescindíveis para o desenvolvimento do homem; que todos temos o privilégio de  sermos iguais em direitos e obrigações, mas que alguns homens primam mais pelo espírito do que pela matéria e vice-versa.

O prumo foi o último do quarteto fantástico a se pronunciar. Considerou que todos ali presentes possuíam retidão de caráter; que espírito e matéria estão umbilicalmente ligados, de sorte que o primeiro rege o segundo. 

Que a intelectualidade daqueles irmãos era fundamentada, à luz da razão, e que a tolerância continuaria sendo a relação cardeal entre aquele grupo.

A cada nova informação prestada por um daqueles integrantes, o que se observava era um fulgor incandescente da estrela flamejante, que em nada opinava, mas que a todos observava, com um sorriso de uma resplandecência sem limites, sinalizando que aquele grande encontro era, além de estelar, uma manifestação inequívoca da Sabedoria, Força e Beleza contidas naquele Templo de Luz e de Glória.

O tempo passava rapidamente, e já era meia-noite, ocasião em que os trabalhos daquele “animismo esotérico” chegavam ao fim.

Os quatro amigos, vertidos em alegria e profunda emoção, contemplavam a universalidade da abóbada celeste e, em uníssono, só agradeciam ao Benevolente Arquiteto pela benção concedida naqueles momentos.

Se fosse, de fato, o Clube da Esquina, terminaríamos esse encontro com os Irmãos cantando “e lá se vai mais um dia”; todavia, o quarteto preferiu valer-se de um “silêncio eloquente”, elevando seus pensamentos ao Excelso Criador, rogando luz e paz à humanidade, tão carente de princípios e tão órfã de solidariedade.

Um silêncio tão grandioso e majestoso, com a eficácia da mais inebriante das preces...

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