maio 19, 2025

ANNUS MIRABILIS - Jorge Antônio Vieira Gonçalves


Em 1666, na Inglaterra, a peste bubônica se espalhava com fúria, causando terror e morte em grande escala. Em setembro, o Grande Incêndio reduziu Londres a cinzas. Nada havia a celebrar naquele ano, cenário sombrio e apocalíptico. O número 666 carregava superstições antigas, segundo o Livro do Apocalipse 13, versículo 18: “ _Aqui está a sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta, porque é número de homem. Ora, esse número é seiscentos e sessenta e seis._ ”


O poeta inglês John Dryden (1631–1700) utilizou em um dos seus poemas, curiosamente, a expressão latina annus mirabilis, que significa “ano miraculoso”. Parece totalmente contraditório, diante daquele ano que remetia à dor, destruição, desgraça e morte. No entanto, a palavra mirabilis deriva do verbo mirari, que significa “maravilhar-se”, “admirar”.


Em meio a tantas desgraças, lá em 1666, o milagre realmente estava por acontecer. Isolado na zona rural por conta da peste, um jovem recluso e de temperamento difícil, de apenas vinte e três anos, desvendou segredos ocultos que mudariam para sempre o entendimento humano da natureza. Isaac Newton (1643–1727), o maior gênio que já pisou sobre a Terra, na minha opinião, é claro, formulou as bases do cálculo, descobriu as leis do movimento, definiu a gravitação universal e analisou a natureza corpuscular da luz.


Dois séculos e meio depois, em 1905, outro titã da ciência desvelou à humanidade novos segredos, um novo annus mirabilis. Albert Einstein (1879–1955), então funcionário frustrado do Escritório de Patentes em Berna, na Suíça, publicou quatro artigos científicos que redefiniram os fundamentos da física: o comportamento da luz, o movimento das partículas, a estrutura da matéria, a natureza do tempo e do espaço, o efeito fotoelétrico, a teoria da relatividade restrita e a famosa equação que expressa a equivalência entre massa e energia.


Cem anos depois, em 2005, por ocasião desse “milagre”, o mundo celebrou o Ano Mundial da Física. No Brasil, instituiu-se o dia dezenove de maio (19/05) como o Dia do Físico, em homenagem ao centenário do annus mirabilis de Einstein. *Parabéns aos colegas e ao aniversariante do dia.* 


O annus mirabilis, por mais contraditório que pareça, surgiu em uma época em que a razão, mesmo cercada de sombras, consegue iluminar os escuros corredores da ignorância e do medo.

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