Uma leitura, algumas reflexões e várias possibilidades
A Liturgia Maçônica é, sem sombra de dúvidas, uma preciosidade. No conjunto dos elementos e das práticas se encerram verdades e nuances que torna o aperfeiçoamento dos costumes, uma necessidade determinante.
Por exemplo: o Salmo 133 é recitado na abertura da Loja de Aprendiz, invocando a união fraternal. No versículo 2, do Salmo, está a citação do derramamento do óleo precioso sobre a cabeça Aarão. O Oficiante, incumbido da ritualística, na sequência, compõe as joias sobre o Livro da Lei.
Mas quem foi Aarão?
Na obra de Dom Jean de Monléon, História Santa, Tomo I, Ed. Ecclesiae, julho/2023, 1ª Edição, consta que depois de ter saído do Egito, no vale do Sinai, Deus mandou Moisés erigir o tabernáculo e, consagrar o sumo sacerdote para dirigir os trabalhos religiosos e que agradassem a Deus.
Foi consagrado e ungido Aarão, irmão de Moisés, com o óleo precioso, como está no Salmo 133, depois de ter recebido as vestimentas de sumo sacerdote: o Manto; o Efod; a Echarpe; o Racional e a Tiara. Destacada na cabeça de Aarão, a tiara continha inscrito o tetragrama sagrado - YOD HE VAU HE - usado para designar Deus. Somente o pontífice tinha acesso ao santo santorum conforme aprendemos nas instruções.
Na mesma obra, Dom Jean de Monléon, O.S.B., assegura que Moisés recebeu detalhadamente, as especificações do Tabernáculo e de seu mobiliário, que seria montado e desmontado à medida que o povo hebreu caminhava em direção à Terra Prometida. O levante e o assentamento eram definidos por Deus.
Vale salientar que na mesma intensidade em que o povo eleito se afastava da antiga aliança, havia a manifestação da cólera divina e, Moisés era o interlocutor dos regozijos e castigos direcionados ao povo eleito. Mais um exemplo a ilustrar a dualidade, que deixa de ser tão terrível e fatídica para tornar-se contrapeso...
Está na obra História Santa, que Moisés, filho de Amrão e Jocabed era da tribo de Levi. Tinha como irmãos Aarão e Maria, ela quem tinha o poder de convencimento e persuasão pela força da profecia e da oração.
Maria fora duramente castigada pela lepra, depois de conspirar e atacar seu irmão, Moisés, o escolhido por Deus para chefiar a libertação dos hebreus do jugo do faraó. Por ocasião do afrontamento, Maria foi isolada do convívio com a comunidade. Vendo o sofrimento de sua irmã, Moisés orou e pediu a Deus que a curasse. E Deus, compadecido com a humildade e a sinceridade da súplica, a curou.
Naquele tempo tudo parecia mais difícil. No início de nossa construção, também! Mas com dedicação, estudo, frequência, vontade e prática, nosso edifício vai tomando forma e, cada detalhe, ganha valor e beleza, se dependerem do capricho e zelo dispendidos para se efetivarem. Louvemos a Grande Secretaria de Educação Maçônica, da GLESP, e seu poder educativo e cultural que facilitam o pertencimento e a permanência no canteiro de obras.
Sem muito compromisso com a cronologia, prosseguimos nossa reflexão salientando que a tribo de Levi era descendente de Jacó; filho de Isaac; que era filho de Abraão. Os antigos patriarcas...
Jacó, o patriarca, nasceu gêmeo com Esaú, e para quem em sonhos foi mostrada a escada que unia a terra e os céus, e por meio dela, os anjos subiam e desciam, parece que em respeitável hierarquia...
No Painel de Aprendiz está destacada a Escada de Jacó com sua tríplice recomendação: Fé, Esperança e Caridade.
Na tradição judaica, para Esaú seriam transferidos as bênçãos e o direito da chefia da família, mas já com baixa-visão e idade muitíssimo avançada, Isaac abençoou a Jacó, numa armação coordenada por sua mãe, Rebeca.
Cabe aí uma analogia com o número dois: a dualidade. Mesmo porque na História Santa, lê-se que dos gêmeos o primeiro que saísse, sucumbiria ao segundo. Primeiro saiu Esaú, depois, Jacó, agarrado aos seus calcanhares. Enquanto Esaú era dado à caça e manifestações violentas, Jacó era dedicado, terno e servil.
Aqui a manifestação da facticidade é notada. Devemos, então, desvencilhar-se dela escolhendo um lado sem desconsiderar o outro. Significa agir, decidir e escolher, conscientemente. A dualidade é uma realidade sempre presente.
Após a bênção de Jacó, sua mãe Rebeca, o orientou a ir para junto de Labão, seu tio-avô, diante da ameaça de morte proferida por seu irmão Esaú. Na casa de Labão, Jacó conheceu Raquel, e se encantou por ela, pedindo ao tio que a desse em casamento.
Labão exigiu sete anos de trabalho para conseguir seu intento. Ao final dos sete anos, Labão o tapeou, entregando para casamento a primogênita Lia, conforme o costume. Mas Jacó queria Raquel, sendo obrigado a trabalhar mais sete anos para Labão, afim de desposar com Raquel.
Antes de alcançar a dezena, passaremos pelo sete, número místico e contemplativo, vivenciado duas vezes por Jacó, que não abandou seu projeto, sua construção, tudo fazendo para o engrandecimento de seu sogro e, também, da sua família.
Dois e sete, em multiplicação totaliza catorze. De quatro vezes sete o produto é vinte e oito, múltiplo de um, dois, quatro, sete, catorze e, cuja soma desses divisores totaliza vinte e oito, número triangular perfeito; sabe-se que a soma dos dois algarismos é dez. A dezena, ou totalidade, fica para outro estudo.
De Jacó e Raquel nasceu José, vendido como escravo pelos seus irmãos aos ismaelitas. No Egito, José foi comprado pelo chefe de serviços do faraó, o eunuco Putifar. Na casa de Putifar, José sofreu todas as tentações, não se entregando a nenhuma delas. Ainda assim, foi preso e torturado.
Na prisão foi trancado, também, depois de algum tempo, o padeiro-mor e o copeiro-mor. No cárcere, após dizer os sonhos que tiveram, José recitou o que aconteceria aos dois condenados, que nada fizeram para libertar o inocente José. Um, disse, seria posto em liberdade e o outro, em três dias seria condenado à morte, pregado na cruz, e as aves do céu devorariam a sua carne.
Nesse trecho nossa reflexão contempla a atrocidade do poderoso e a fragilidade do inocente. Para extinguir a cólera e fortalecer cada ser senciente, em tempos atuais, o conhecimento, as habilidades, o amor, a verdade e a ética são os ingredientes capacitantes e norteadores.
Reconduzido a seu cargo, o Copeiro-Mor soube do sonho do faraó e que seus feiticeiros e magos não sabiam decifrá-lo. Rapidamente, lembrou-se de José que foi retirado da prisão. Eis a máxima: A justiça seja feita e que beneficie o justo!
O escravo de Putifar, devidamente limpo e trajado, foi levado em presença do rei e, após ouvir seu sonho, teceu seus comentários, sendo tão feliz quanto exato na decifração do mesmo que foi elevado a vice-rei, com todos os direitos e poderes.
José pode, então, exercitar toda a sua humildade, sabedoria e liderança, vivendo em plenitude e fazendo transbordar a justa medida.
Pronto! A Elevação é uma comprovação da evolução da Arte do Pensamento. Treinados no canteiro de obras a meditar e refletir, desbastar e polir, pensar e decidir, aprimoramos os valores, exercitamos o amor-ação, colocando-nos em movimento, ou seja, em processo para cumprirmos o prometido: ser feliz e tornar feliz a humanidade.
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