As incertezas da vida moderna estão a exigir das pessoas uma atividade cada vez mais opressiva, gerando perplexidade e determinando uma ação apressada, sem muita reflexão. Vivemos os tempos da ambiguidade, do paradoxo. Vivemos fugindo do passado, procurando alcançar um futuro imprevisível, perdendo o verdadeiro momento em que a vida transcorre, o presente. E, assim, não vivemos nem aqui nem lá.
Carlos Drummond de Andrade, com sua sensibilidade de grande poeta, escreveu:
*“Não serei o poeta de um mundo caduco*.
*Também não cantarei o mundo futuro.*
*Estou preso à vida e olho meus companheiros.*
*Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.*
*Entre eles, considero a enorme realidade.*
*O presente é tão grande, não nos afastemos.*
*Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.*
*Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,*
*não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,*
*não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,*
*não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.*
*O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente”*.
Drummond sintetizou, assim, uma fórmula, uma lição clara e verdadeira de viver a vida: o tempo presente. A afobação que caracteriza estes tempos provoca grande frustração e angústia. No Livro dos Provérbios, há uma orientação muito precisa no capítulo 19, v.2: “Não adianta agir sem refletir, pois quem apressa o passo acaba tropeçando”. Não vos afobeis porque a morte é certa, proclama um dito popular.
Pitágoras, no verso 16 de seus Versos de Ouro, proclama: “Mas lembra sempre um fato, o de que a morte virá para todos”. Mas a morte em si, longe de ser uma ruptura, um fim, representa apenas uma ponte que liga esta terra maravilhosa ao mundo espiritual, onde receberemos de acordo com o nosso merecimento. Esse é o nosso verdadeiro futuro. Queiramos ou não. Saibamos ou não. O que realmente devemos fazer é nos preparar para esse momento, e essa preparação passa necessariamente pelo que diz a poesia de Drummond: viver o momento presente, porque nele, e somente nele, podemos atuar de forma consciente e criteriosa, agindo com sabedoria.
Socorrendo-nos mais uma vez no poeta maior, transcrevo mais uma contribuição dele:
“A cada dia que vivo mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, *esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade”.
O noticiário está repleto de crimes que se repetem constantemente, assustando a população que, acuada, não sabe como reagir ou se prevenir. A orientação dada pelas autoridades policiais é a de que em situação de assalto, não se deve reagir, buscando ao menos preservar a vida. Vão se os anéis, ficam os dedos. O difícil é praticar esse ensinamento.
Juvenal Arduini, em seu livro Destinação antropológica (Edições Paulinas, 1989), escreveu: “A vida é a resposta maior aos inquietantes desafios de nosso tempo. As decisões que irão plasmar o futuro do mundo hão de acolher, projetar e cultivar a vida humana, como núcleo primacial. Só haverá antropologia, e, consequentemente, só haverá ética, a partir do momento em que se tenha a sabedoria de decifrar ‘a marca do homem’ na vida, ainda que seja miúda, ainda que seja vida severina”.
É isso aí.
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