Amanheci neste domingo pensando no meu velho pai, um modesto bodegueiro de secos e molhados, instalado na rua Gonçalves Ledo (maçom) nº 1092, no modesto bairro da Aldeota, que ficava próximo da Escola de Cadetes do Excército - hoje Colégio Militar e da Igreja do Cristo Rei. Por isto, parte de seus fregueses eram militares de baixa patente - até sargento -, que serviam na referida Escola. Era criança, mas lembro-me bem de um deles, o sargento Laranjeira, grande bebedor de cerveja, com tira gosto de queijo, vendidos pelo meu pai.
Me veio à lembrança de um cidadão humilde, de alta estatura, chamado Saldanha, cego de um olho, trabalhador braçal, que usava um boné com uma chapa que lhe identificava como chapista. Próximo a bodega do meu pai tinha uma casa residencial, onde o morador pintou uma grande Bandeira do Brasil, numa parede lateral, que dava para a rua Fiúza de Pontes (maçom). Pois bem, este cidadão todos os dias ao voltar do trabalho, ao avistar a Bandeira Nacional postava-se diante dela e em sinal de respeito retirava seu boné e a comprimentava. O respeito aos símbolos nacionais era muito diferente.
A bodega do meu pai era um centro de convergência, com fregueses diferenciados - pobres e ricos. Ele comprava os gêneros alimentícios para revender em um atacadista situado na rua Conde D'Eu (esposo da Princesa Isabel, a redentora). E sempre era atendido por um dos filhos do dono, chamado Edson Queiroz.
Este jovem se tornou um cidadão muito rico, dono da Ceará Gaz Butano, de jornal (Diário do Nordeste) de uma universidade (Unifor) e de muitas outras empresas no Ceará e em outros Estados nordestinos. Enquanto meu velho pai continuava em sua modesta atividade de bodegueiro e depois dono de uma pequena oficina mecânica. Porém, este cidadão que ficou muito importante, no Ceará e no Nordeste, nunca esqueceu de meu pai e sempre que podia ia lhe visitar e lhe telefonava para dar notícias, inclusive sobre um enfarto que ele teve em pleno voo, em um dos seus aviões. O respeito aos mais velhos era muito diferente.
Este grande cearense, Edson Queiroz, sogro do ex-senador Tasso Jeressati, faleceu em triste acidente de avião, que nas proximidades da capital cearense chocou-se com a serra de Aratanha, falecendo todos que estavam a bordo, a maioria empresários cearense. Pois é na vida tuda passa, fica apenas a fotografia e bons momentos vividos.
Lembrei-me que quando estudei no Colégio Castelo Branco, dirigido por padres, situado na avenida Dom Manoel, esquina com a rua Costa Barros ( um dos fundadores do Grande Oriente do Brasil), estudava uma matéria chamada OSPB - Organização Social e Política do Brasil, e que antes do início da aula, a Bandeira do Brasil era hasteada e todos cantavámos o Hino Nacional. O respeito aos Símbolos Nacionais era diferente.
Uma de minhas lembranças mais antigas e que à época muito me assustou, foi quando vi passando muito baixo por cima da bodega de meu pai um Zepellin, uma aeronave em forma de charuto, provavelmente no ano de 1944, próximo ao fim da Segunda Guerra Mundial, tinha eu quatro anos de vida. Bravos guerreiros cearenses deram a vida na Itália e se tornaram heróis de guerra na tomada de Monte Castelo.
Lembrei-me que fiz o curso de Infantaria no CPOR - Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Exército, com sede em Fortaleza, Turma 1960. E que fui estagiar como aspirante a oficial no 24º Batalhão de Caçadores, com sede em São Luis do Maranhão; ali servindo até junho de 1963, quando me desloquei para Brasilia, onde sentei praça até aos dias atuais. E quando estava servindo no 24º BC, assisti uma visita de inspeção do Comandante da 10ª Região Militar, general Castelo Branco, de baixa estatura física, mas um gigante moral, temido por todos os seus subordinados. Época em que os generais mereciam elevado respeito em sua Corporação e em nossa Pátria.
Por que estou relembrando passagens de minha vida, que permaneceram em minha memória? porque hoje cedo fui contatadp por um irmão de maçonaria, em Brasília, para me lembrar das disposições do Art. 77 da Constituição do Grande Oriente do Brasil, que define a competência privativa do Grão-Mestre Geral de nossa Federação Maçônica. Tecendo outras críticas a não intervenção política do GOB, no momento atual pelo que passa o nosso país.
Nestas cobranças que sempre me são feitas, tenho respondido que vivemos em outros tempos, e que o GOB fundado há 203 anos atrás para lutar pela Independência do Brasil, não mais detém este poder político; que a sua grande missão foi a de lutar para construir um país independente, livre da escravatura e do absolutismo imperial. E que nos dias atuais nossa Federação Maçônica, que é a segunda instituição mais antiga, em funcionamento no Brasil, exerce outras funções tão dignas como as que exerceu no passado.
Sempre lembro do grande legado histórico que herdamos de nossos irmãos do passado, muitos exerceram a presidência do Brasil; outros tantos exerceram funções de destaque em nossa República, nos diversos setores da administração pública, particularmente no parlamento nacional.
O Grande Oriente do Brasil de hoje, que escolheu o sistema republicano de tripartição de poderes, tem jurisdição nacional, com grande capilarização em praticamente todo o território brasileiro. Conta com um contigente de filiados em torno de 80 mil obreiros e suas respectivas famílias, que resulta numa composição familiar, em torno de 320 mil habitantes nacionais. E por tudo isto, tem grandes responsabilidades perante aos seus federados e à Nação Brasileira. Não devendo se expor como Instituição, que não mais faz parte da elite estratégica de poder, manifestando-se publicamente sobre o controverso momento nacional brasileiro. Penso eu.
Por outro lado, as nossas Potências Maçônicas instaladas no Brasil, atualmente, contam em seus quadros com obreiros de várias matizes políticas: democratas, liberais, socialistas, comunistas, fascistas, ateus, etc. Por isto fica muito difícil uma autoridade maçônica se manifestar publicamente, por iniciativa própria, contra ou a favor de determinadas situações que vêm ocorrendo em nosso país, porque pode agradar e ao mesmo tempo desagradar parcelas de seus contiguentes.
Enfim, esperamos e temos fé que haverá de chegar um momento em que o nosso país voltará a trilhar a estrada da democracia republicana, onde o equilíbiro entre os Três Poderes da nossa República seja uma realidade de fato e de direito.
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