1-Introdução
A partir dessas diferentes apresentações, podemos concluir que o Ego, em sua expressão mais negativa, corresponde ao orgulho e ao egoísmo no homem; está apegado ao mundo das posses e das coisas perecíveis. Esses defeitos ocultam a consciência humana da Luz e da Verdade e, consequentemente, constituem um obstáculo à perfeição espiritual, moral, material e intelectual da humanidade.
Também a Maçonaria, como tradição da Luz, propõe, através da iniciação, libertar o homem de todas as suas contingências materiais, morrendo para o seu Ego, para levá-lo a descobrir o seu real Ser imperecível.
Temos uma primeira parte que se concentrará nos aspectos simbólicos da Dissolução do Ego, depois nas ferramentas necessárias para essa dissolução. Na segunda parte é apresentada a importância dessas ferramentas na vida diária do maçom
2-Simbolismo
2.1-A Dissolução do Ego
Na Maçonaria, a exigência da Dissolução do Ego é simbolicamente representada pela presença de ossos na câmara de reflexão, no trono de Salomão do Venerável Mestre e, em seguida, no Ataúde do painel de Mestre Maçom. Esses ossos e o Ataúde, evocam a morte e sugerem ao Maçom que apodreça o ser fictício e faça nascer, em sua própria dissolução, o germe da pedra cúbica que ele será, da Estrela Flamejante que ele é e do verdadeiro Mestre Maçom que ele deve ser.
A Dissolução do Ego consiste, portanto, em morrer para si mesmo conscientemente, em deixar que os velhos restos do ser de desejo sejam enterrados sem arrependimento, para se tornar um ser de luz na materialidade.
2.2- As ferramentas da dissolução do ego
Em sua abordagem iniciática, o ensino maçônico fornece ferramentas e ritos simbólicos que, por meio do uso da reflexão e meditação sobre as funções que representam, provocam uma verdadeira metamorfose profunda no iniciado.
É assim que o Mestre Maçom, ao dar os três passos para cruzar o Ataúde, percorre a jornada de sua morte simbólica, durante a qual encontra ferramentas: o Mestre Maçom passa do Esquadro para o Compasso, passando da Alavanca, à direita, para a Régua, à esquerda. Ele atravessa o Ataúde em um arco que simboliza o Compasso, e com os pés sempre voltados em forma de Esquadro. Essas ferramentas participam de uma continuidade na progressão da escuridão para a luz.
2.2.1-O esquadro :
O esquadro está associado ao quadrado, à terra, à materialidade que é o domínio por excelência da expressão do ego em todas as suas formas.
Mas o esquadro também une em um único símbolo a horizontalidade e a verticalidade, formando o ângulo da retidão, de 90°. Exige que o maçom leve em conta todos os opostos e todas as restrições necessárias à sua própria construção pelo esquadro. A verticalidade, por seu movimento descendente, sugere a necessidade de inspecionar o interior da própria natureza, e a direção ascendente exige o dever espiritual da elevação; quanto à horizontalidade, ela encoraja a aplainar os obstáculos gerados pelo Ego para acessar a libertação interior, corrigindo defeitos e purificando o supérfluo.
Permanentemente presente nos passos do Maçom, o Esquadro representa uma retidão constante no caminho iniciático e na obra a ser realizada, a da dissolução do Ego.
Mas o Esquadro como ferramenta de desenho e controle não é suficiente para realizar este trabalho. Para agir em si, é preciso vontade e força, simbolizadas pela Alavanca.
2.2.3-A Alavanca :
Para falar desta ferramenta, recordarei a afirmação de Arquimedes que, ao descobrir a lei de aplicação da Alavanca, disse: "Dêem-me um ponto de apoio e uma Alavanca e eu moverei o mundo". Assim, a Alavanca apresenta-se como uma ferramenta por excelência à qual nada pode resistir no plano mecânico.
No plano maçônico, a Alavanca demonstra que uma vontade inabalável, aplicada com inteligência, pode triunfar sobre todos os obstáculos. É por meio dela que o futuro Mestre obtém a força necessária para dar o passo mais largo de sua marcha. Esse avanço tão difícil muitas vezes só é possível graças à mão estendida de um irmão Mestre para alcançar o outro lado do Ataúde. A alavanca traduz, assim, a necessidade de uma Vontade superior, animada por um verdadeiro Amor fraterno e desprovida de quaisquer paixões ou desejos materiais. Essa Vontade-alavanca constitui o fulcro que permite ao iniciado triunfar sobre qualquer obstáculo físico ou moral, sobre as resistências materiais, bem como superar seus medos e fraquezas para se questionar.
O simbolismo da alavanca leva a consciência do iniciado a poder se deslocar para um plano superior, entendendo que nada é possível sozinho, é impossível purificar o próprio ego, e que isso passa essencialmente pela superação de si mesmo, trabalhando com os irmãos e para os outros homens, num espírito de tolerância, amor e fraternidade.
2.2.4-A Régua
A Régua, que serve para traçar linhas retas ou para verificá-las, estimula o maçom a perseverar no caminho da virtude, seguindo um caminho reto, justo e equitativo em suas relações com seus semelhantes.
Segundo o maçom James Harvey Martin: "a régua do iniciado é subdividida em 4x6 horas, ou 24 horas, que se articulam da seguinte forma: 6 horas para trabalhar, 6 horas para servir a Deus, 6 horas para servir a um amigo ou irmão, sem que isso seja um prejuízo para nós ou para nossa família, e 6 horas para dormir".
A divisão do dia em 4x6 horas lembra ao iniciado a passagem do tempo, bem como a necessidade imperativa de viver em harmonia com essa graduação das 24 divisões do ciclo solar diário e, portanto, integrar-se ao ritmo da Ordem cósmica. Ela leva a consciência do maçom a se elevar acima de desejos e preocupações centradas exclusivamente em si mesmo, e a se estender ao Universo e à percepção Divina.
É pela Régua que é possível passar do Esquadro ao Compasso, do perecível ao imperecível, da Dissolução à ressurreição, da materialidade à espiritualidade.
2.2.5 - O compasso:
O compasso está associado ao círculo, ao céu e ao espírito. Ao passar a perna sobre o Ataúde é estimulada a verticalização do espírito, o que é evocado pela noção de "passar do esquadro ao compasso".
Ao atingir a compasso ou o centro do círculo, o iniciado entra em si mesmo, lugar em que está em harmonia com o brilho de sua estrela flamejante, e obtém as luzes que devem iluminar a dissolução de seu ego na escuridão de sua consciência, para que o trabalho encontre uma aplicação mais judiciosa e frutífera em sua vida diária.
3- observações
Observo que a Dissolução do Ego ocorre entre o Esquadro e o Compasso, passando da Alavanca para a Régua pela busca da harmonia consigo mesmo, com o Universo e com Deus. Mas isso é possível se a Força da Alavanca for usada adequadamente sob o controle do Esquadro, como em qualquer construção, e se for baseada em uma Vontade de bem sem esperança de recompensa que deve animar o iniciado, permitindo-lhe manter seus compromissos maçônicos em relação à Régua com 24 divisões e continuar seu trabalho até o fim de sua vida, como nosso falecido Mestre Hiram. Mas a acácia nos lembra que nem tudo está perdido, pois da dissolução do corpo emerge a noção de perpetuidade de energias imperecíveis e não dissolvidas; talvez aí apareça o segredo da imortalidade.
4-Conclusão
Diferentemente das ferramentas do assassinato, que são as únicas, ou seja, o fio de prumo, o nível e o martelo, as ferramentas da dissolução do Ego são acopladas, e é preciso associá-las para utilizá-las corretamente, se se quiser ter sucesso na execução do trabalho empreendido.
Aprendiz, somos constantemente ensinados a que a Dissolução do ego é essencial para "sermos livres e de boa moral"; Companheiros, temos à nossa disposição todas as ferramentas cujas funções se sintetizam no Esquadro e no Compasso, na Alavanca e na Régua, para trabalharmos na "Conquista de nossas paixões, submeter nossas vontades aos nossos Deveres e progredir na Maçonaria". O Maçom, visando sua regeneração espiritual, é um companheiro eterno no trabalho da Dissolução de seu Ego por meio de um questionamento permanente, pois não poderá funcionar completa e unicamente no centro do círculo até que tenha estabelecido sua morada no "Oriente eterno".
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