O garotinho veio até a nossa mesa de motociclistas de colete e bateu com força um papel que dizia: “FUNERAL DO PAPAI – PRECISO DE HOMENS ASSUSTADORES.”
Seus dedinhos ainda estavam manchados de tinta de canetinha, e a capa do Superman estava vestida ao contrário. A lanchonete ficou em silêncio mortal quando quinze membros dos Iron Wolves MC encararam aquele menino que não devia pesar nem vinte quilos, mesmo encharcado.
— “Minha mãe disse que eu não posso pedir para vocês” — ele anunciou, com o queixo erguido em desafio. — “Mas ela está chorando o tempo todo, e os meninos maldosos da escola disseram que o papai não vai para o céu sem homens assustadores para protegê-lo.”
Big Tom, que tinha feito duas missões no Afeganistão e tinha uma caveira tatuada no pescoço, pegou o papel com cuidado. Era um desenho infantil de bonecos de palito em motocicletas cercando um caixão, com a frase “POR FAVOR VENHAM” escrita com letras de trás para frente.
— “Onde está sua mãe, homenzinho?” — Tom perguntou, a voz num tom grave que normalmente precedia uma briga, mas agora estava incrivelmente suave.
O menino apontou pela janela para um Toyota caindo aos pedaços, onde uma jovem mulher estava sentada com a cabeça entre as mãos. — “Ela tem medo de vocês. Todo mundo tem medo de vocês. É por isso que eu preciso de vocês.”
Eu já tinha visto Tom quebrar o maxilar de um homem por desrespeitar sua moto. Mas suas mãos tremiam enquanto lia o que mais estava naquele papel — uma data, o dia seguinte, e um endereço para o Cemitério Riverside.
— “Qual era o nome do seu papai?” — alguém perguntou lá de trás.
— “Oficial Marcus Rivera” — disse o menino com orgulho. — “Ele era polícia. Um homem mau atirou nele.”
O silêncio na lanchonete ficou ainda mais pesado, espesso o suficiente para sufocar. Policiais e motociclistas não eram exatamente aliados naturais. A maioria de nós já tinha sido incomodado, multado, alguns até espancados pela polícia. E agora o filho de um policial estava pedindo para honrarmos seu pai morto.
Tom se levantou devagar, sua figura imensa projetando sombra sobre a mesa pequena.
— “Qual é o seu nome, superman?”
— “Miguel. Miguel Rivera.”
— “Bem, Miguel Rivera” — disse Tom, ajoelhando-se até ficar olho no olho com o garoto, um gigante diante de um passarinho. — “Diga para a sua mãe que o seu papai vai ter a maior, mais barulhenta e mais assustadora escolta para o céu que qualquer policial já teve.”
Os olhos do menino se arregalaram. — “De verdade? Vocês vão?”
— “Irmão” — Snake falou lá do canto, e eu podia ouvir o conflito em sua voz. — “Ele era polícia.”
— “Ele era pai” — Tom respondeu firme, sem desviar o olhar de Miguel. — “E esse pequeno guerreiro acabou de fazer a coisa mais corajosa que vi o ano inteiro. Nós vamos.”
Na manhã seguinte, cheguei ao cemitério duas horas mais cedo. Achei que seria o único, uma chance de colocar a cabeça no lugar antes do constrangimento e dos olhares. Mas minha mandíbula caiu.
A estradinha que levava à entrada do cemitério já estava tomada por motos. Não apenas os quinze de nós que estavam na lanchonete, mas toda a nossa filial. Quarenta homens, parados em silêncio ao lado de suas Harley reluzentes, o sol da manhã refletindo no cromo. Mas não foi isso que fez meu coração parar. Mais adiante, outro grupo estava chegando. Os Vipers. Nossos rivais amargos. E atrás deles, os Sons of Odin. A notícia havia se espalhado. O chamado tinha sido feito por homens assustadores, e todo o maldito submundo assustador havia atendido.
Quando o cortejo fúnebre finalmente chegou, o carro funerário reduziu a marcha até parar. Vi Miguel no carro logo atrás, seu rostinho colado no vidro. Sua mãe ergueu a cabeça, e sua mão voou à boca, a expressão de medo se desfazendo em incredulidade atônita.
Éramos mais de cem. Um exército silencioso de couro e aço.
A um sinal invisível de Tom, cem motores rugiram ao mesmo tempo. O som era bíblico. Não era de raiva ou agressividade; era uma proclamação profunda e trovejante. Nós estamos aqui. Formamos duas fileiras, uma guarda de honra para o carro funerário e a família, e os escoltamos pelos portões.
À beira da sepultura, um pequeno grupo de policiais fardados estava ereto, sua guarda de honra tensa enquanto desmontávamos. Eles nos observavam, nós os observávamos. Mas não houve problemas. Formamos um círculo largo e silencioso ao redor da cerimônia, de costas para a família, encarando para fora. Éramos uma muralha, protegendo o luto deles do mundo.
Depois da cerimônia, quando os últimos enlutados estavam indo embora, o chefe de polícia caminhou até Big Tom. Era um homem de aparência dura, que eu já tinha visto no noticiário várias vezes. Ele parou, olhou para Tom, depois para o mar de motociclistas em respeitoso silêncio.
— “Eu... eu não tenho palavras” — disse o chefe, a voz rouca. — “O oficial Rivera era um bom homem.”
Tom apenas assentiu, curto e firme. — “Ele tinha um bom filho.”
Foi então que vi Miguel, de mãos dadas com a mãe, caminhando decidido até nós. Parou diante de Tom, que imediatamente se ajoelhou de novo. Miguel não usava mais a capa. Estava segurando a bandeira americana dobrada do caixão do pai.
Ele a estendeu. — “Isso é para você” — disse, a voz clara e firme.
Tom empurrou de volta, gentil. — “Não, homenzinho. Isso é seu. É do seu papai.”
— “Meu papai era um herói” — disse Miguel, empurrando a bandeira com firmeza nas mãos enormes e tatuadas de Tom. — “Ele protegia as pessoas. E hoje, vocês protegeram ele.”
Tom olhou para a bandeira em suas mãos, a mandíbula travada, o corpo inteiro tremendo. O homem que eu já tinha visto atravessar uma briga de bar sem piscar estava completamente desmontado diante de um super-herói de vinte quilos. Ele não conseguiu falar. Apenas assentiu, com os olhos marejados de lágrimas que se recusava a deixar cair.
Não fomos embora com um rugido. Partimos um a um, um ronco baixo que falava de um respeito mais profundo que clubes, cores ou distintivos em um uniforme. Tínhamos vindo porque um garotinho pediu por homens assustadores. Mas fomos embora sabendo que tínhamos acabado de conhecer o mais corajoso de todos.
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