Volta e meia alguém me olha,
com olhar atravessado,
quando escrevo uma palavra,
com meu jeito, acanhado,
originária do inglês,
traduzo pro português,
como é pronunciado.
II
As palavras importadas,
fazem parte da rotina,
nosso velho português,
hoje ninguém mais domina,
é mais fácil, escrever,
inglês, mesmo sem saber,
qual o fim que se destina.
III
Críticas, só porque escrevo,
cofebreique ou leiaute,
esmartefone e popestar,
fanque, baique e blecaute,
frizer, feique, feicebuque,
festefuder, drinque e luque,
bleiser, chipe e checaute.
IV
Com certeza é uma pessoa,
que escreve naturalmente,
futebol e sanduíche,
Upgrade, normalmente,
bangalô, basquetebol,
quitinete, voleibol,
e chantili docemente.
V
Deve se achar um craque,
no idioma, me esnobando,
se esnobar vêm de "snob"
ele vive ignorando,
não entende o que escreve
se for inglês, subscreve,
em silêncio vai acatando.
VI
Todas as línguas do mundo,
se tocam, ao se falar,
quem é contra essa invasão,
parece depreciar,
como um beijo planetário,
fica no imaginário,
como vou pronunciar.
VII
São palavras que circulam,
com gotículas de salivas,
de uma língua para outra,
com palavras sempre vivas,
circulando entre beijos,
tão ardentes de desejos,
normalmente explicativas.
VIII
Sem querer falamos árabe,
em nosso cotidiano
quando falamos “azul”,
todo instante, todo ano,
folheando um "almanaque",
não importa qual sotaque,
em qualquer setor urbano.
IX
Procurando um "alfaiate",
espetando um "alfinete",
anotando um "algarismo",
colocando um fio de "azeite",
pra conter selvageria,
subindo uma "alvenaria",
adornando com enfeite.
X
Falamos francês também,
ao sentarmos no "bidê",
quando vamos ao "balé",
ou usamos vidro "fumê",
saboreando um "espaguete",
ao comermos "omelete",
sem oferecer a você.
XI
Viajamos na "maionese",
sob a guarda do "edredom",
a mulher de "sutiã",
que nos causa um "frisson",
mesmo acompanhado ou só,
quando usamos "paletó",
que seja na cor "marrom".
XII
Ao pedir uma "champanhe",
quando vamos para um bar,
ao fazermos um "croqui",
um esboço pra mostrar,
nos lábios, leve "batom",
ao chamarmos um "garçom",
pra nossa conta pagar.
XIII
Todo dia nós falamos,
o velho idioma tupi,
ao consumir "mandioca",
com pato no "tucupi",
até fazendo "muganga",
quando comemos "pitanga",
ou suco de "abacaxi".
XIV
Numa tarde na Bahia
degustamos "tacacá",
se ficamos de "tocaia",
para ouvir um "sabiá",
não ficamos "jururu",
deliciando um "sururu",
ou também um "mucunzá"
XV
Desfrutando uma "muqueca",
na bela praia de "Ipanema",
"vatapá" e "acarajé",
é uma coisa de cinema,
"axé", "babalorixás",
mandingas dos "orixás",
tudo isso inda vale a pena.
XVI
Com o braço na "tipóia",
tratado com "tiririca",
"agogôs" e "atabaques",
sob o som duma "cuíca",
regando uma "samambaia",
sem poder fugir da raia,
nossa língua é muito rica.
XVII
As palavras estrangeiras,
entram sem pedir licença,
feitas como um "tsunami",
Não há nada que as vença,
pegando-nos de surpresa,
nossa língua portuguesa,
tem imensa diferença.
XVIII
Posso estar falando grego,
ou posso ser criticado,
não consigo imaginar,
qual nome seria dado,
"pizza", "risoto", "lasanha",
curiosidade tamanha,
pra esse idioma falado.
XIX
Se essa língua italiana,
não tivesse aqui chegado,
qual o nome que daríamos,
a todo termo importado,
através da culinária,
de forma extraordinária,
no Brasil, tá espalhado.
XX
Mas há certos exageros,
que não tem explicação,
não precisa de "delivery"
se uma "entrega" é a opção,
quando for anunciar,
um bom preço pra comprar,
"sale" é igual "liquidação".
XXI
Para que sair pra "night",
ou correr feito um "athleta",
pedalando numa "bike",
ou andar de bicicleta,
comer "temaki" e "sushi"
"yakisoba" ou "shimeji",
para fazer boa dieta.
XXII
Outras palavras estranhas,
Também vem do oriente,
Capitão, é "kapitan",
Copo é "koppu", diferente,
"shabon" se chama sabão,
"Pan" nós chamamos de pão,
a culpa é nossa, evidente.
XXIII
O café deixou de ser,
somente bebida ou grão,
pra ser também um lugar,
onde existe a diversão,
banana é pra degustar,
com gesto pode xingar,
substitui um palavrão.
XXIV
E o caju, virou “cashew”,
caju, não sabem falar,
“mandarim”, em Portugal,
termo do verbo "mandar",
outdoor e notebook,
download e facebook,
hoje é fácil de chamar.
XXV
Nossa língua brasileira,
é cada vez mais inculta,
nem por isso menos bela,
variedade nos faculta,
de todas fontes bebendo,
o que ela ver vai lambendo,
vibrante, promíscua e oculta.

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