dezembro 29, 2025

A MENORÁ E SUA HARMONIA DIVINA - Lucius Cohen


A menorá, o candelabro de sete braços descrito na Torá (Êxodo 25:31-40) é um dos símbolos mais profundos do judaísmo. Representa a luz divicana que ilumina o mundo, ela evoca a  criação em sete dias, o equilíbrio cósmico e a emanação da presença de Deus. Mas e se essa estrutura sagrada pudesse ser reinterpretada através de lentes musicais e numéricas? 

Inspirado em reflexões pessoais e poéticas, exploro uma analogia criativa entre a menorá, o sistema de solfejo musical (dó-ré-mi-fá-sol-lá-si-dó) e elementos da gematria hebraica. Essas ideias, embora não sejam parte da tradição cabalística clássica, oferecem uma perspectiva que une luz, som, letras e números em um ciclo infinito de harmonia divina. 

A menorá possui uma vela central, que simboliza a unidade e a presença divina, e três de cada lado, irradiando luz para o mundo manifesto. Essa configuração evoca uma letra Guimel por cada lado, simbolizando misericórdia e rigor, expansão e equilíbrio, bondade e julgamento, todos atributos das sefirot Gevurá e Chesed, é a luz central que se espalha simetricamente para seus opostos, direita e esquerda, na linguagem cabalística. 

Gosto de imaginar as sete notas da escala diatônica do solfejo sobre essa estrutura. O solfejo, sistema pedagógico musical criado no século XI por Guido d'Arezzo a partir de um hino cristão medieval, consiste em sete sílabas distintas: dó, ré, mi, fá, sol, lá, si, repetindo o dó na oitava superior para fechar o ciclo, algo como os mundos da Árvore da Vida da Cabala, que possui os 4 mundos, Atziluth, Beriah, Yetzirah e Assiah, onde a cada ascensão pela porta de Keter, o que se alcança é um retorno à porta do templo, mas nesse caso, um templo superior. 

Essa repetição cria um "infinito" musical, onde a escala pode ascender ou descer eternamente, sempre retornando à tônica (dó) como ponto de resolução e harmonia. 

A vela central é atribuída à nota fundamental dó, o centro de equilíbrio. Assim como o braço central da menorá representa o Shabat ou a sefirá Tiferet, que é a beleza e harmonia na Árvore da Vida da Cabala e o lugar onde o homem realiza a Grande Obra, a dó é a tônica que organiza toda a escala, o "Um" de onde tudo emana, a Aleph e a Yud como Tetragrama, portanto, a vela central vale 1, mas pode valer 10 e incluso 26 ou 8, o número do infinito. 

As notas se espalham pelos ombros da menorá, à esquerda (mi, sol, si) e à direita (ré, fá, 

lá). Essa distribuição simétrica reflete a irradiação da luz divina para os aspectos duais do mundo — o yin e yang cósmico, ou as sefirot de Chesed (bondade) e Gevurah (severidade). Se enumero as notas, dó=1, ré=2, mi=3, fá=4, sol=5, lá=6, si=7, obtenho pela esquerda 3+5+7=15=6, e pela direita 2+4+6=12=3, sendo 6 a penúltima das 7 sefirot inferiores, a Guevurá, que antagoniza e está a um passo do último trabalho que é a misericórdia representada pela Chesed. Pela direita tenho o 3 do triângulo justo, perfeito e divino do homem que alcançou a última esfera do mundo inferior, a Chesed, e desde ali se desprende de todos os metais para alcançar o mundo etéreo e superior da Shequiná, a emanação divina, onde 6+3+1=10, o tudo e o nada que representa Ele. E se dó se repete infinitamente, depois de si=7 temos dó=8, sendo 6+3+8=17=8. E se tenho dó=10 ainda obtenho 6+3+10=19=10=1, comprovando a perfeição da melodia da menorá. 

Ao percorrer as velas laterais, chegamos à última nota: a si, que musicalmente cria tensão e "desejo" de resolução. Ao regressar ao centro, voltamos à dó, completando o ciclo. Essa volta simboliza o infinito: a harmonia divina que se expande e retorna, ecoando a ideia de que tudo vem de Deus e a Ele retorna. Se tenho 6 pela esquerda, ali também tenho a letra Vav recordando que sempre haverá o trabalho a ser realizado, e a Guimel à direita ordenando a prática da caridade. 

A tradição judaica narra um milagre em que o candelabro do templo pôde ser aceso por 8 dias consecutivos com uma quantidade ínfima de óleo, suficiente apenas para uma pessoa. Essa fusão de luz e som sugere que a menorá não é apenas um objeto ritual, mas um diagrama vivo de harmonia cósmica. Acender as velas durante Chanucá, por exemplo, poderia ser visto como "cantar" essa escala divina, elevando a alma através de um ciclo eterno de criação e redenção.

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