fevereiro 19, 2025

ARLS 13 DE MAIO 23 - Brasília



 

   Em uma instalação de Venerável Mestre na semana passada, sentei-me ao lado de um irmão simpático e comunicativo, e fiquei sabendo que estava assumindo o Veneralato da ARLS 13 de Maio n. 23, que funciona no mesmo templo onde estávamos, mas nos dias de terça feira. Também soube que o irmão era aposentado de um alto cargo no Banco do Brasil, instituição com a qual tenho uma longuíssima relação, e onde fiz mais de 200 palestras nas Ecoas de agências por  todo o Brasil, arrecadando cerca de 60 toneladas de alimentos em retribuição às palestras. Mais ainda, o irmão Oséias Vitorino reside próximo ao local onde estou hospedado.
    A maçonaria tem esta mágica. Nos conhecemos há apenas uma semana e já somos irmãos e amigos de toda a vida. Descobrimos que temos amigos em comum e que culturalmente nossos interesses são semelhantes. Inevitavelmente veio o convite para fazer a palestra na sua Loja, na primeira sessão regular após a sua posse. 
    O irmão me acompanhou na palestra que fiz na segunda-feira na ARLS Mário Behring e ontem estive na sua Loja para realizar a apresentação "Maçonaria, de Isaac Newton à Internet". Loja pequena porém muito ativa, com grande foco em beneficência. Inclusive, a palestra gerou a doação de cinco cestas básicas para a instituição Voluntários do Amor, do qual o irmão Oseias é diretor financeiro.
    A Mostra Itinerante de livros dos acadêmicos da Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras, que tenho a honra de presidir, despertou interesse.
    Desta vez não houve ágape. A noite foi encerrada com uma visita ao McDonald.
    
    

LENDAS GAÚCHAS


Quando o Rio Grande do Sul era conhecido por *Tapes*, cavaleiros portugueses andavam pelos pampas gaúchos extasiados pela imensidão pampeana que se estendia. Terra linda inóspita sendo descoberta por olhos novos.

De longe viram um grupo de cavalos pastando, mas não sabiam que tantos os Charruas como os Minuanos se escondiam no lado do cavalo ao longo do dorso e quem visse de longe só via o cavalo, rumaram para uma armadilha fatal, pois quando estavam ao alcance do índios, foram pegos de surpreso, logo lanças e flechas perfuraram os corpos dos portugueses, ficando somente um vivo e ferido, era o Manoel.

Foi levado preso para o acampamento tribal dos Minuanos, lá uma índia de nome Chalouá foi designada para cuidar dos seus ferimentos, depois de curado, seria sacrificado num ritual de lua cheia.

Como os ferimentos eram profundos, a convivência de Manoel e Chalouá, se tornou afetiva e logo ele começou a entender sua língua, nasceu o amor no coração da índia minuana, que tentou prolongar o máximo o período de cura.

Chalouá cantava um lamento, triste e chorava quando passava ervas com unguentos no corpo de Manoel, ele pediu para ela trazer um porongo grande, cortou ele lateralmente fazendo um fundo de uma viola, pediu um pedaço de pau duro e forte, então fez dele um braço da viola, tripas de avestruz para as cordas, a tampa ele fez com casca de árvore, colou tudo com uma rezina forte feita de seiva de árvore e com pedaços de pedras lascadas perfurou um buraco para ter ressonância, assim ele fez uma pequena viola, porém o cacique notou que Chalouá não queria o sacrifício do branco usurpador de terras e foi logo determinando:

- Branco tem que morrer, invasor, matador de nossa gente, seu tempo findou.

Assim na primeira noite de lua cheia seria morto num terrível ritual.

Na última noite Chalouá cantou a música mais triste que Manoel já ouviu, num lamento de dor pela perda de um amor que cresceu e fez morada no seu peito, alimentando sua alma de sonhos que jamais pensou ter.

Chegou o dia fatal, o prisioneiro foi trazido ao centro da taba, seria amarrado num tronco e espetado numa dança mortal por todos os guerreiros, porém fazia parte do ritual o prisioneiro fazer um último pedido:

- Ele pediu para Chalouá trazer a viola. – Logo ela correu para a tenda e trouxe.

- Então ele pediu como desejo escutar Chalouá cantar.

Quando ela começou a cantar, seu lamento triste, ele começou a tocar, todos os índios paravam extasiados com o som maravilhoso da viola, pois os índios amavam a música e Manoel era um exímio tocador e logo o som fez todos sentarem e falavam:

- Gau-che, gau-che - Queria dizer “gente que canta triste” e dessa forma, o Cacique não permitiu que matassem Manoel, pois queria que ele ensinasse a todos como fazer o instrumento e tocar

Assim Manoel foi salvo, o Cacique permitiu que ele morasse com Chalouá, dessa união nasceu o primeiro GAÚCHO.

Fonte: Enciclopédia Folclore Brasileiro

fevereiro 18, 2025

GOOSE AND GRIDIRON* (O GANSO E A GRELHA) - Paulo M.


É conhecido o relato segundo o qual, a 24 de junho de 1717, quatro lojas maçónicas se teriam reunido na taberna “Goose and Gridiron” (Ganso e Grelha) e aí constituído a primeira Grande Loja e eleito o seu primeiro Grão-Mestre. 

Este acontecimento é consensualmente considerado o “dia zero” da Maçonaria Especulativa. 

Não obstante a sua importância, não chegou aos nossos dias qualquer prova documental deste evento: nem uma ata (que só começaram a lavrar-se em 1723), nem uma lista, nem sequer um simples relato em primeira mão. 

De facto, o registo mais antigo de que dispomos são as Constituições de Andersen, na sua edição revista de 1738 – ou seja, 21 anos depois. 

Curiosamente, a versão original – de 1723 – nada refere a este respeito. 

Muito se especula, três séculos volvidos, quanto à precisão histórica da descrição de Andersen.

O que é certo é que, num local de Londres conhecido por St. Paul’s Churchyard (Adro da Igreja de S. Paulo), houve um edifício de cinco pisos onde esteve sediada uma associação musical chamada “The Mitre” (A Mitra). 

Numa altura em que mesmo os ricos e nobres eram frequentemente analfabetos, era quase garantido que o fosse a maioria da restante população. 

Isso levou os fabricantes de sinalética a privilegiar o uso de sinais pictóricos; por mais belo e sóbrio que pudesse ser um sinal escrito, seria inútil se a maioria da população não soubesse lê-lo. 

Estaria, por isso, afixado sobre a porta do “The Mitre” o brasão da Worshipful Company of Musicians, com o propósito de identificar aquela como uma casa de música.

As armas desta antiga e prestigiada associação musical, fundada por volta de 1500 e hoje conhecida por The Musicians’ Company, consistem num escudo encimado por uma lira, tendo o escudo, na parte superior, dois leões separados por uma rosácea, e na parte inferior um cisne de asas abertas. 

O cisne a a lira eram, nesse tempo, comummente adotados como símbolo pelas associações musicais.

Pelo início do séc. XVIII a dita associação teria entrado em declínio, altura em que no edifício passou a funcionar uma estalagem e uma taberna; esta adotou o nome de “Goose and Gridiron”

Não sabemos, em absoluto, a razão deste nome, mas é clara a ligação entre o sinal que identificava a taberna e as armas dos músicos. 

No 1º volume de “Old and New London”, de 1878, o autor, Walter Thornbury, sugere poder o nome ter sido concebido como uma paródia de “Swan and Harp”, um nome popular na altura para casas de música. 

Mais prosaicamente, oferece a sugestão alternativa de que é simplesmente uma interpretação simplória do brasão da Companhia de Músicos pendurado por cima da porta do Mitre pelos pouco sofisticados frequentadores das lojas e tabernas.

Não me custa, no entanto, imaginar um dito britânico e corrosivo recém estabelecido taberneiro, ainda sem nome nem símbolo à porta que não os dos anteriores ocupantes, quando indagado sobre se a sua casa era de música, responder que não, que aquilo era um ganso e uma grelha, e que entrassem e fossem bebendo uma cerveja enquanto esperavam pelo ganso…

O antigo edifício já não pode ser visitado: foi demolido no final do séc. XIX, época em que Londres assistiu a um grande aumento populacional. 

Já o sinal, de ferro e madeira pintada e datado do início do séc. XIX, pode ser visto no Museu de Londres.


ARLS MARIO BEHRING 19 - Brasília



No passado eu já havia visitado está ARLS Mario Behring 19, da GLDF, em algumas ocasiões. O irmão e companheiro Geraldo, amigo há mais de 20 anos trouxe consigo as primeiras edições de "O caminho da felicidade" de 2003 e de "As lições da Arca de Noé" de 2014 além da rara edição de uma obra intitulada "Uma breve história da maçonaria" que foi um presente do irmão e companheiro Dias, já falecido, que tinha uma indústria gráfica. Nunca reeditei este livro.

A convite do jovem Venerável Mestre Sebastião Marcondes, também escritor e parceiro das Lojas Virtuais desde o.seu início fiz a palestra "O caminho da felicidade" que inaugurou o seu novo templo no Condomínio Demerval Cordeiro no Guará.

Tanto a palestra quanto a Mostra Literária Itinerante da Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras despertaram grande interesse e foi um grande prazer reencontrar tantos irmãos que eu não via há anos. Na foto acima o irmão Oseias Vitorino, VM da ARLS 13 de Maio 23, onde farei palestra hoje, aparece ao lado da exposição.

A Loja se comprometeu a doar cinco cestas básicas em retribuição a palestra e ao final recebi um belo diploma e dois livros escritos pelo VM Sebastião que comentarei em outra oportunidade. A Loja também realizou o seu primeiro ágape, delicioso, na nova instalação.


fevereiro 17, 2025

NICOLAU MAQUIAVEL





Niccolò Machiavelli, nascido em 3 de maio de 1469, em Florença, Itália, foi uma figura central do Renascimento Italiano.

Apesar das dificuldades financeiras de sua família, o jovem Niccolò recebeu uma educação sólida. 

Em 1498, tornou-se Segundo Chanceler da República Florentina, destacando-se sob o patrocínio de Piero Soderini.

Machiavelli realizou missões diplomáticas e trabalhou para fortalecer a milícia florentina até 1512, quando a família Médici retomou o poder, resultando em sua demissão e breve prisão.

Durante sua aposentadoria forçada, Machiavelli escreveu suas obras mais notáveis, O Príncipe (1513) e Discursos sobre a Primeira Década de Tito Lívio (1517). 

Embora dedicados a Lourenço de Médici, esses tratados políticos não foram publicados em vida. Ele também escreveu peças teatrais, como A Mandrágora (1518) e O Asno de Ouro (1517), além de A Arte da Guerra (1521) e Histórias Florentinas (1525).

Machiavelli casou-se com Marietta em 1501, e o casal teve sete filhos. 

Ele continuou a escrever e a se envolver na vida política até sua morte, em 21 de junho de 1527, apenas um mês após a declaração de uma nova República Florentina. 

Seu legado controverso, mas duradouro, como pai da filosofia política moderna, estava apenas começando, com suas ideias moldando o pensamento político por séculos. 

#Maquiavel #Renascimento #OPríncipe

fevereiro 16, 2025

JUDAISMO E MAÇONARIA - Michael Winetzki


Palestra realizada na ARLS Liceu, de Lins, SP,  em 28/06/2021


 

SEMEAR, COLHER - Adilson Zotovici


 

Francamente não te censuro

Mas da desídia não sou compraz

E ainda assim me aventuro

Dizer-te...e minha mente em paz !


Confesso...o trabalho é duro

Com amor, dedicação, verás

O sucesso que te auguro

De valor, retorno tu terás


Que pareça embora obscuro

A luz, prudente, agora se faz

No presente planta o futuro


Por livre arbítrio...semearás

Que aqui ou após o "alto muro"

Seu fruto, decerto...colherás !


Adilson Zotovici (Sobre Gálatas 6)

fevereiro 15, 2025

ARLS RENASCENÇA 3792 - Brasilia



Embora o endereço que consta no estandarte da Loja Renascença 3792, Benfeitora da Ordem seja Sobradinho, ela funciona num dos templos do Grande Oriente do DF. Cheguei uma hora mais cedo para montar a Mostra Itinerante dos livros de nossas Academias e o irmão Wellington já estava montando a Loja.

A medida que os irmãos iam chegando fui reconhecido por alguns que já haviam assistido minhas palestras, presencial e virtualmente, e o irmão Paulo lembrou que esta era a minha terceira visita a esta Loja, embora as anteriores tenham sido há muitos anos, quando eu ainda morava em Brasília.

Embora não tenha ido com palestra marcada o simpático Venerável Mestre Fernando Machado disse, - bem já que temos um palestrante aqui, o tempo de estudos é seu. - Fiz uma rápida exposição sobre como o incêndio de Londres de 1666 criou as condições para a fundação da maçonaria especulativa inglesa e os irmãos expressaram a sua satisfação pelos ensinamentos.

É uma Loja com irmãos bem humorados e o bom humor e a alegria prosseguiram no ágape. Uma visita muito agradável.

"LAVAR A CABEÇA DE BURRO COM XAMPU" - Newton Agrella



É do ser humano se recusar a tentar entender um assunto e não admitir a hipótese de rever seus conceitos e mudar de ideia, mesmo diante da tácita demonstração de uma percepção inconsistente.

Este tipo de comportamento, muito aquém de uma atestado de opinião própria ou de uma ratificação de juízo de valores, por vezes, acaba se transformando numa ausência injustificável de espírito de consciência crítica.

Em analogia a isto, encontramos respaldo em um dito popular, que um grande amigo meu e irmão costuma se valer, que traduz com muita sutileza e maestria a imagem real de seu significado : 

"...lavar a cabeça de burro com xampu..

Nessa prosaica figura de linguagem, que se reveste de um provérbio, deparamo-nos com três situações desconcertantes:

- perde-se tempo;

- gasta-se água, e

- e não se embeleza o burro

Algo que nos deixa perplexos para dizer o mínimo.

Afinal de contas, as propriedades de que dispomos de pensar, refletir e raciocinar, são condições mais do que suficientes para que possamos criar subsídios necessários de modo a proporcionar autenticidade à noção intelectual das coisas.

O xampu está caro.

A água precisa ser utilizada com a devida parcimônia.

E finalmente o burro, bem o burro está lá, parado, estagnado no vazio de sua postura e "ruminando pensamentos" , como se pudesse entabular um exercício  filosófico para justificar sua visão caolha do mundo.

É por aí, que grande parte da banda toca, numa insistente receita monocórdica, com abordagem fatídica e inócua, em contraste com o espírito que se espera perpetrar diante de uma matéria que impõe uma visão e uma análise antropocêntrica, antes de mais nada.



fevereiro 14, 2025

CERTIFICADO RECEBIDO


 Certificado recebido pela palestra de ontem. Gratidão.

ARLS 20 DE SETEMBRO 4346 - Brasília


A convite do Venerável Mestre Fernando Viana retornei para uma nova palestra na ARLS 20 de Setembro 4346 do GOB cujos trabalhos são realizados no belo templo da ARLS Estrela de Brasília, a primeira Loja do DF.

Nesta primeira sessão deste ano a palestra apresentada foi "Maçonaria, de Isaac Newton a Internet", com suporte audiovisual, e despertou tanto interesse que os trabalhos se estenderam por quase um hora a mais do previsto.

Como retribuição a palestra, até a data de ontem, a Loja tinha arrecadado 100 quilos de alimentos para doação, mas tinha a expectativa de maior arrecadação.

Além da minha apresentação a sessão  teve uma bela peça de arquitetura de um aprendiz relatando a sua experiência na recente iniciação.

No saguão da Loja coloquei a exposição de livros dos acadêmicos da AMVBL, que foi bastante visitada.

Momentos muito agradáveis foram as caronas de ida e volta com o irmão Cel. Marcus Roberto, cuja inteligência e cultura tornaram a viagem enriquecedora.

A noite finalizou com um delicioso coquetel. 

RAIZES ANCESTRAIS DOS PONTOS CARDEAIS - Jorge Gonçalves





As tecnologias modernas, como aplicativos de geolocalização (Google Maps, Waze) e sistemas de posicionamento por satélite, desempenham uma função que outrora dependia exclusivamente de um dos maiores talentos humanos: nossa capacidade de reconhecer padrões, um pilar fundamental de nossa inteligência.

Nossos ancestrais cruzavam oceanos e continentes guiando-se pela observação do Sol, das estrelas, das correntes marítimas e até do comportamento de aves migratórias. Registros como o relato bíblico da pomba liberada por Noé (Gênesis 8:6-12) mostram que  aves eram usadas para encontrar terra firme. Marinheiros polinésios navegavam detectando variações sutis nas correntes marítimas e ventos, enquanto exploradores terrestres criavam mapas mentais baseados em montanhas, árvores e rios.

A origem dos pontos cardeais remonta à observação solar. Um ancestral notou que o Sol nascia sempre no mesmo lado do horizonte e se punha no oposto. A partir disso, definiram-se os quatro pontos cardeais. O termo "Cardeal" vem do latim cardinalis ("principal"), e suas raízes etimológicas no protoindo-europeu (PIE) refletem a percepção humana dos ciclos naturais: "Leste" tem origem no termo PIE que significa "alvorada". "Oeste" é derivado da direção oposta, associada ao poente e ao período vespertino. "Norte" vem de um termo PIE que significava "esquerda", pois, ao observar o Sol nascente, essa direção ficava à esquerda. "Sul" está relacionado à palavra "Sol", já que, no Hemisfério Norte, o Sol ao meio-dia se posiciona ao Sul. Outra palavra para Sul é "meridional", que também se refere ao meio-dia e tem origem latina.

Com um gnômon, uma vara cravada no chão, um dos primeiros instrumentos astronômicos, era possível calcular a posição do Sol. Ao meio-dia, em qualquer lugar ao norte do Trópico de Câncer, o Sol está na direção sul, portanto, a sombra de um objeto aponta para o Norte.

Sistemas globais de navegação por satélite, como o GPS ou GNSS, revolucionaram nossa capacidade de posicionamento e localização, mas, por outro lado, nos distanciam cada dia mais de nossas habilidades ancestrais.

Referência bibliográfica:

- DETONI, Daniel. Disponível em: <https://super.abril.com.br/coluna/oraculo/como-surgiram-a-ideia-e-os-nomes-dos-pontos-cardeais>. Acesso em: 9 fev. 2025.

- GALDINO, Luiz. A astronomia indígena. São Paulo: Nova Alexandria, 2011. ISBN 978-85-7492-278-2.

- ROONEY, Anne. A História da Astronomia: Dos planetas e estrela aos pulsares e buracos negros. São Paulo: M.Books do Brasil Editora Ltda., 2018.

- RIDPATH, Ian. Eyewitness Companion: Astronomy. São Paulo: Jorge Zahar Editor Ltda., 2007.

- CLARK, Stuart. How the Stars Have Shaped the History of Humankind. São Paulo: Universo dos Livros, 2020.

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fevereiro 13, 2025

A MAÇONARIA E O SAGRADO FEMININO - João Anatalino Rodrigues



A expressão “Filhos da Viúva” é bastante antiga e parece estar conectada com antigos cultos matriarcais, no qual se cultuava um princípio feminino, ligado principalmente á questão da fertilidade da terra. Ela aparece, originalmente, no antigo Egipto, onde os iniciados nos Mistérios de Isis e Osíris recebiam esse apelido. É sabido que os antigos rituais praticados nos templos egípcios, dedicados á Isis, tinham um duplo propósito: de um lado honrar a deusa, para que esta promovesse a fertilidade da terra, fazendo com que o país obtivesse boas colheitas, e de outro lado despertar nos praticantes desse ritual uma espécie de iluminação espiritual, semelhante a um renascimento noutro estado de consciência.

Com o tempo este ritual adquiriu uma conotação política e social, pois os chamados “iniciados” nesses Mistérios passaram a constituir uma classe de elite na sociedade egípcia, concentradora do “poder que vinha dos deuses”. Esta mesma conformação pode ser encontrada entre outros povos antigos que praticavam ritos semelhantes. Em especial as variantes gregas dos Mistérios de Elêusis e os Mistérios da Samotrácia, nos quais se buscava honrar esse “princípio feminino” que identifica a fertilidade, tanto em relação á terra, quanto á própria vida humana.

Isis, como sabe, ficou viúva dado o assassinato do seu irmão e consorte, Osíris. Daí os iniciados nos Mistérios de Isis e Osíris serem chamados de “Filhos da Viúva.” Ela simbolizava o “sagrado feminino” em toda a sua integridade.

OS TEMPLÁRIOS E O “SAGRADO FEMININO”

Este título também foi aplicado aos cavaleiros da Ordem do Templo, face às indicações, bastante prováveis, de que eles praticassem algum tipo de ritual consagrado ao chamado “princípio feminino”. Esse princípio foi identificado em símbolos que reproduziam o crescente lunar, representando a deusa egípcia Isis. Este culto, supostamente praticado em capítulos avançados da ritualística templária, era simbolizado pelo desenho de uma lua crescente, com estrelas nas duas pontas, e em cima um sol chamado de Abraxas (variante gnóstica para o deus Osíris). Essa iconografia simbolizava o processo segundo o qual a fertilidade da terra era promovida, e também representava a elevação da própria alma, conforme representada nos Mistérios Egípcios e em cultos gnósticos adoptados pelos Templários.

Esta hipótese deriva do fato de os senescais de Filipe, o Belo, terem encontrado entre os pertences templários sequestrados na preceptoria de Paris uma cabeça de prata, que continha, dentro dela, ossos de uma cabeça menor, supostamente de uma mulher, envolvida em linho e púrpura. Essa cabeça tinha um título escrito em baixo que dizia: Caput LVIII e um signo misterioso que foi interpretado como sendo o signo da virgem (Virgo). Além disto, sabe-se que o próprio São Bernardo de Clervaux, inspirador e organizador da Ordem do Templo, era um devoto da Virgem. Consta que ele a cultuava de uma forma mística e bastante heterodoxa. Segundo uma tradição muito divulgada na Idade Média, ele teria sido alimentado pelo leite que brotara dos seios da estátua de uma Virgem Negra.

Que existia um culto à Virgem entre os Templários (a viúva Maria, mãe de Jesus, ou Maria Madalena, suposta esposa de Jesus, ou a própria deusa Ísis) é inegável, porquanto as últimas palavras de Tiago de Molay, grão-mestre do Templo, antes de ser amarrado no poste para ser queimado na fogueira, foram um pedido ao carrasco para fazer uma oração á Virgem. Ressalte-se que o próprio cristianismo não ficou imune á influência do “sagrado feminino”. A Virgem Maria, nas mais variadas tradições marianas, é cultuada como um símbolo lunar. Muitas tradições relativas a esse culto sobreviveram nas tradições da sociedade ocidental. A lua de mel como símbolo do himeneu (a entrega da virgindade da noiva ao seu marido), a mística da lua cheia, como fase propícia para mudanças de personalidade e início de empreendimentos, a influência lunar na sexualidade das mulheres etc., são todos exemplos conectados com o culto ao sagrado feminino.

O “SAGRADO FEMININO” NA LITERATURA

E revelador também o fato de os próprios franceses, como povo, já cultuarem, de longo tempo, o “sagrado feminino”. Há registos de que nas proximidades da atual igreja de Saint-Germain-des-Prés, a mais antiga da capital francesa, os primitivos habitantes da cidade (então chamado de Lutécia), tinham construído um templo dedicado a Isis. Por isso os moradores do lugar eram conhecidos pelos romanos como Para-Isis, ou seja “cultores de Isis”, que resultou no nome “pcirísios”, pelo qual os habitantes da cidade ficaram conhecidos. Deriva desse antigo culto a tradição dos franceses de honrar a Notre Dame, que mais que uma reminiscência á Maria, mãe de Jesus, é uma tradição que já vem do tempo dos druidas, que cultuavam a Mãe Terra e a ela prestavam culto. Do termo (Para-Ísis, parísios) teria vindo o nome Paris.

O culto à mulher, como símbolo do sagrado feminino, projetou-se inclusive na literatura medieval e tornou-se um dos principais géneros literários da época. É revelador que este tipo de literatura tenha nascido justamente na Provença, ou seja, no chamado território do Languedoc. A poesia provençal parece ter tido origem nas tradições populares cantadas em prosa e versos por artistas ambulantes, que iam de cidade em cidade e se apresentavam em feiras e recitais organizados por nobres senhores, para distrair convidados nos seus serões. Desenvolveu-se, nesse tipo de manifestação artística, uma forma de lirismo quase religioso, no qual o amor do cavaleiro pela sua dama afirmava-se como um culto, quase uma religião. O trovador, na Corte e na literatura, comportava-se em relação à sua dama como se fosse um vassalo em relação ao seu senhor, ao qual devia homenagem, fidelidade e socorro em caso de perigo, combatendo e morrendo por ela, se necessário. Não se tratava de uma relação sentimental de envolvimento físico, mas sim de uma relação de carácter espiritual, na qual a dama escolhida era uma espécie de ídolo, um objeto de adoração, onde o próprio nome da amada devia ser mantido em segredo. A este ideal romântico correspondia um tipo idealizado de mulher que mais se assemelhava a uma deusa, uma ninfa, uma fada, algo muito além de uma criatura de carne e osso. A Laura dos poemas de Petrarca, a Beatriz de Dante, a Isolda de Tristão, a Guinevere dos contos da Távola Redonda, a caricata Dulcineia do Dom Quixote, são exemplos dessa simbologia do “sagrado feminino”, que a literatura provençal imortalizou. Registe-se que o declínio da literatura provençal ocorreu principalmente em razão da repressão movida pela Igreja de Roma contra os cátaros, que acabou envolvendo todo o povo do Languedoc e arruinou um grande número de nobres dessa região. Ressalte-se que tanto a literatura provençal, que idealizava o valente cavaleiro e o seu amor platónico, quanto a tradição cavalheiresca de honrar o “sagrado feminino” nunca foi bem visto pela Igreja e sempre sofreu as mais ácidas críticas do clero.

O SAGRADO FEMININO E A MAÇONARIA

A maçonaria, como muitos dos símbolos que foram adoptados pela sua tradição, acabou por adaptar o título “Filho da Viúva” para representar diversos temas que são desenvolvidos no seu ritual.

Na tradição gnóstica há uma curiosa lenda oriunda da seita cainita, segundo a qual a famosa Rainha de Sabá, chamada Barcis, quando visitou o reino de Israel, na época de Salomão, ter-se-ia apaixonado pelo arquiteto do Templo, o mestre Hiram Abiff (ou Adonhiram). Do romance dos dois teria nascido um filho. Esse menino nasceu após o assassinato do mestre pelos Jubelos, razão pela qual, esse filho do “maior Maçom da terra” era chamado de “filho da viúva”. Esta lenda foi tema de uma ópera composta pelo famoso poeta e escritor francês Gerard de Nerval, que ao que parece, nunca foi encenada, mas teve circulação bastante divulgada entre os maçons franceses no século XIX.

Destarte, viúva, no caso, seria a própria instituição da maçonaria, já que o seu fundador, Hiram Abiff, também foi assassinado. No caso, os seus filhos, os maçons, seriam órfãos de pai.

Assim, na tradição da maçonaria, a expressão “Filho da Viúva” serve tanto para designar os Templários “órfãos” em relação à extinção da sua Ordem e a morte do seu “pai”, o grão-mestre Tiago de Molay, quanto aos partidários da família real inglesa, os Stuarts, em relação á morte do seu rei Carlos I, decapitado por ordem do Parlamento inglês. A viúva daquele rei teria organizado a resistência, sendo a maioria dos seus partidários constituída por maçons. A propósito, foram os stuartistas refugiados na França que desenvolveram a maior parte dos graus do Rito Escocês Antigo e Aceito, tal como o conhecemos hoje.

Historicamente, sabe-se que este título também era aplicado aos filhos das viúvas dos pedreiros medievais, as quais a lei sálica proibia de receber as heranças dos seus maridos mortos. Assim os filhos dessas mulheres eram chamados de “Filhos da Viúva”. Estes “filhos das viúvas”, que geralmente continuavam a profissão dos pais, foram os próprios maçons operativos, antecessores dos maçons atuais. A Igreja, mais tarde, recompô-los nesse direito, mas o título, aplicado aos construtores das igrejas medievais, tomou-se uma tradição que acompanhou durante muito tempo estes profissionais.

Assim, embora a maçonaria também conserve uma tradição de misoginia (não admitindo mulheres nos seus quadros), não se pode negar que ela, na sua estrutura, está ligada, de alguma forma, ao culto do “sagrado feminino”. Neste sentido seria bom que as Lojas olhassem com mais carinho e atenção para as suas “fraternidades das acácias”, no sentido de integrá-las ao movimento maçônico.