O Universo Geocêntrico, entre Epiciclos, Deferentes e o Enigma do Movimento Retrógrado
Boa parte da história, com mais de dois mil anos, consiste em sucessivas tentativas de entender os movimentos peculiares dos planetas. Os gregos chamaram esses astros de estrelas errantes, ou planetas, e lhes atribuíram nomes de seus deuses, Hermes, Afrodite, Ares, Zeus e Cronos. Mas você os conhece pelos nomes que os romanos rebatizariam, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno.
Durante muito tempo, acreditou-se que o Universo fosse pequeno, limitado por esferas cristalinas, com a Terra parada no centro. Esse modelo, conhecido e amplamente utilizado, é o chamado sistema geocêntrico. A concepção de um cosmos centrado na Terra parecia tão natural, tão coerente com o que os olhos viam e com a ideia de um mundo feito sob medida para a humanidade.
Mas vamos entender esse modelo em detalhes. Nem todo professor tem paciência, de explicá-lo com clareza. Então, vamos voltar aos tempos de infância e relembrar os parques de diversão, com rodas gigantes e algodão doce, para explicar alguns conceitos que levamos mais de dois mil anos para serem compreendidos plenamente.
Imagine, com o mesmo fascínio de outrora, uma imensa roda gigante, mas não daquelas comuns que conhecemos nos parques, em que as cadeiras apenas oscilam levemente acompanhando o movimento da estrutura. No nosso modelo imaginário, cada assento foi projetado para girar completamente em torno de seu próprio eixo, de tal maneira que a cabeça do ocupante descreva um círculo completo de trezentos e sessenta graus.
Anote, esse primeiro movimento circular menor, descrito pela cabeça do passageiro, corresponde ao que os astrônomos antigos denominaram *epiciclo*, enquanto o giro completo da roda gigante representa o *deferente*, ou seja, o círculo principal sobre o qual o epiciclo se move.
Respire, não se canse ainda. Vamos ligar os motores e fazer essa roda gigante imaginária funcionar. A estrutura maior começa a girar, os assentos acompanham com seu próprio movimento rotatório, e a cabeça do passageiro passa a traçar um percurso mais complexo, semelhante a uma espiral suavemente ondulante, como se descrevesse uma dança em dois ritmos diferentes.
À primeira vista, essa analogia pode parecer simples, até óbvia. Contudo, foram necessários milênios para que a humanidade começasse a compreender com maior clareza o comportamento dos planetas, que pareciam desafiar as leis da regularidade celeste. Foi com a sobreposição desses movimentos circulares que *Ptolomeu* conseguiu explicar, ou ao menos representar matematicamente, o chamado *movimento retrógrado*.
Tenho certeza de que, se você buscar agora no titio Google sobre astrologia, encontrará frases como: “Vênus é o planeta do amor e dos relacionamentos, além da estética e do dinheiro, em 2025 teremos Vênus retrógrado.” Acabamos de utilizar a astronomia para explicar um conceito muito utilizado nos horóscopos, mas pouco compreendido.
Deixando a astrologia de lado, o que realmente ocorre é que certos planetas, da perspectiva terrestre, como Vênus, em determinados momentos, parecem inverter sua trajetória por alguns dias antes de retomarem seu curso regular. Esse planeta pode parecer avançar, depois retroceder, e em seguida continuar sua órbita habitual.
Embora hoje saibamos que esse modelo não está correto, é impossível não admirar a sofisticação das mentes brilhantes que, com olhos nus voltados ao céu e pés firmes no chão, buscaram decifrar os enigmas celestes.
*REVISÃO BIBLIOGRÁFICA*
• Rooney, Anne, A História da Astronomia: Dos planetas e estrelas aos pulsares e buracos negros, São Paulo, M. Books do Brasil Editora Ltda., 2018.
• Ridpath, Ian, Eyewitness Companion: Astronomy, São Paulo, Jorge Zahar Editor Ltda., 2007.
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