março 17, 2025

POR QUE SE VAI Á LOJA?




Provavelmente, a esta pergunta virão respostas cujo cerne está no individualismo.

Por um lado, as ritualísticas (vencer minhas paixões); por outro, as sociais (ágapes após as reuniões).

Há um imensurável equivoco quando acreditamos que o tamanho de uma Loja se dá pela estrutura física ou pelo número de Irmãos.

O que a torna “Grande” ou “Poderosa” é o comprometimento dos Obreiros.

Observe que há uma diferença sutil entre Irmãos e Obreiros.

Irmãos são todos os que, por condutas maçônicas, são reconhecidos como tal.

Obreiros são aqueles que nos instruem e inspiram, por suas condutas maçônicas, a nos tornarmos Irmãos.

Sendo um trabalho coletivo, as sessões só alcançam a plenitude nas três esferas (física, mental, espiritual) se cada um dos presentes mudar a atitude passiva de participante para a conduta ativa de partícipe.

A mudança está na troca do "que vou ganhar ao ir à Loja?”, para o "que vou oferecer à Loja?”.

Condutas simples, apenas o cumprimento da missão!

Exemplo: O Irmão Mestre de Harmonia deve ir com o propósito de colocar as músicas adequadas no momento certo e correto volume.

O Mestre de Cerimônias deve organizar o cortejo, ficar atento a estruturação dos Cargos, conhecer suas falas, circular no Templo somente nos momentos necessários.

Os Diáconos devem ser realmente portadores da palavra com a devida ritualística.

O Chanceler deve receber e observar os Irmãos visitantes. Enfim, cada um deve incorporar seu cargo.

No caso das Luzes, a conduta é muito mais sutil.

Vigilantes devem estar atentos ao comportamento e, principalmente, ao semblante de seus “comandados”.

Ocupar uma das vigilâncias é pré-requisito para ser o líder maior da Loja; portanto, é com esta preocupação que ele vai se formando e conhecendo os Irmãos e futuros colabores diretos.

Da mesma forma, ao se preparar para ir a Loja o Venerável Mestre deve compreender que o mínimo, e provavelmente com  menor valor, é o ato de dirigir os trabalhos, no sentido de ler o ritual.

Sentar-se na cadeira mais alta do Templo é a alegoria que a ele cabe ver tudo que se passa e exercer ações que resultem no sucesso do grupo.

Aos Ex-Veneráveis, a missão não acabou.

Possuem duas grandes obrigações de moral maçônica.

Primeira, se já dirigiram os trabalhos das Lojas, conhecem bem os Rituais e as demais funções, sendo assim, devem estar sempre à disposição do atual Venerável Mestre para ocuparem cargos, afinal, eles continuam sendo Obreiros da Oficina.

A segunda é trabalhar para a manutenção da harmonia dos trabalhos.

Eles devem ir para a Loja vibrando positivamente. Sendo o esteio do Venerável, devem aconselhar e não intervir, evitar comparações e, principalmente, auto-elogio, incompatíveis com princípios de humildade e do propósito de “vencer minhas paixões”.

Se todos nós formos para a Loja com o propósito de servir, sairemos todos bem servidos.

O TODO É SEMPRE MAIOR QUE A SOMA DAS PARTES.

Precisamos incentivar os Obreiros da Arte Real ao salutar hábito da leitura como ferramenta de enlevo cultural, moral, ético e de formação maçônica.


Autor Desconhecido

março 16, 2025

ACACIA AMARELA

 Uma palestra espetacular 




O SILÊNCIO DO APRENDIZ - Mario López



Sou Aprendiz. Já passou bom tempo que tive a honra de ser Iniciado, sendo reconhecido como tal pelos meus irmãos, ou seja como Aprendiz Maçom. Digo honra porque não se pode definir de forma diferente o privilegio de poder-se estar rodeado de homens honestos, livres pensadores e, sobretudo, dispostos a ajudar na busca que iniciamos ao ver a Luz.

Sim, é simples assim! Desde o primeiro instante que buscamos a Luz, a Sabedoria, a Verdade, nossos IIr∴ estão ao nosso lado para guiar nossos passos a partir da escuridão de onde partimos

Quanto à Verdade apenas nos podemos aproximar dela, a Verdade somente é conhecida pelo G∴A∴D∴U∴; aprendemos muitas coisas ao longo de nossa vida no entanto sempre fica algo para trás, a cada solução, a cada resposta surgem novas dúvidas e novas perguntas.

Chamam-me Aprendiz e confesso o imenso orgulho em sê-lo! Um velho e consagrado provérbio diz: "É curioso que as pessoas me chamem de sábio por conhecer muitas coisas, realmente tenho aprendido muito em minha longa vida, é verdade, mas não me considero mais do que um aprendiz".

Assim me sinto eu, queridos irmãos, um aprendiz que procura aprender um pouco mais a cada dia, contando com vosso apoio e com as ferramentas de aprendiz.

Todos sabemos que nossos IIr∴ nos deram as ferramentas necessárias para iniciar nossa jornada, certamente não todas pois antes de sabermos multiplicar temos de aprender a somar, de forma análoga, antes de usar ferramentas mais complexas temos de primeiramente aprender a usar as mais simples, que nem por isso são menos importantes.

Dizia um velho sábio: "Por maior que faças um edifício ao final ele não deixa de ser a união de simples pedras, por isso, não subestimes o mérito daquele que formou a base da obra". 

As nossas ferramentas de aprendiz são o maço, o cinzel e a régua de 24 polegadas. Elas nos recordam da necessidade de um controle (cinzel) da força (nossa inteligência ou vontade de aprender) e que é necessário medir o que fazemos para que tudo seja correto. Também nos recordam que o dia tem 24 horas e mais outras coisas que poderão ser exploradas em outra prancha, mas o que eu acredito ser a maior ferramenta do aprendiz, ainda não nos apresentada com tal, é o silêncio do aprendiz.

No passado quando os velhos eram chamados de velhos ou anciões, quando para um homem ser chamado velho ou ancião era um orgulho, os mais jovens se sentavam ao seu lado, ao calor de um bom fogo, para ouvir o que a voz da experiência, paralelamente os conselhos de anciões resolviam pacificamente conflitos que na atualidade acabam em violentas discussões. 

Hoje em dia os anciões não mais são anciões, os temos convertido em meros membros da Terceira Idade e de outros epítetos para mencioná-los, possivelmente de maneira mais civilizada mas, em realidade, o que temos feito é afastá-los da sociedade, os catalogamos como pessoas que não mais são úteis, os abandonamos tal qual um móvel velho no desvão3. Uma loucura! Quanto temos perdido! Toda a experiência de uma vida jogada no lixo. 

Para a sociedade atual isso tudo é normal; para que os anciões possam transmitir seu saber, seu conhecimento é necessário escutar e para escutar é necessário guardar silêncio. 

Nossa sociedade pode ser tudo, menos silenciosa; talvez se calasse e escutasse poderia ouvir o que desejava escutar. 

Nós, os aprendizes, temos o silêncio do aprendiz, mas isso é algo mais que o silêncio! É escutar, ouvir o que os outros dizem e assimilar: de nada vale calar se não se escuta, se não se interioriza o ouvido. 

Se assim agirmos nos daremos conta de que não há nada mais ruidoso do que o silêncio de quem escuta, mas com a pequena grande diferença de que esse ruído não é externo, senão interno. 

Quando estou em silêncio escutando a elocução de outro Irmão, em minha cabeça não deixa de falar-me a minha consciência, não deixa de trabalhar, de analisar o que meus ouvidos ouvem e de continuamente dizer-me se aquilo está de acordo com meus pensamentos ou, se ao contrário, devo opor-me a seus argumentos. 

E isso perfeitamente o escuto em meu interior: fora há silêncio, dentro um grande ruído, um grande trabalho. 

Sim Irmãos, durante o verdadeiro silêncio do aprendiz, em nosso interior se trava uma violenta batalha cujo resultado é uma luta interior, uma interiorização do escutado que, finalmente, nos fornece como resultado o aprendizado de algo novo. 

Queridos irmãos, o silêncio de aprendiz é uma grande ferramenta, em meu entender, uma das mais importantes. No silêncio escuto a meus Irmãos, aos meus mestres e aprendo dia a dia. Se não estivesse em silêncio perderia todos esses ensinamentos. 

Dizia Nietzsche: "O caminho a todas as grandes coisas passa pelo silêncio." E que há mais grande que buscar a Verdade, a Luz. Estamos no início e novamente citando outro grande sábio, Pitágoras, podemos dizer: "Escuta, serás mais sábio; o começo da sabedoria é o silêncio." QQ∴II∴, sou aprendiz, desejo aprender e por isso volto ao meu silêncio de aprendiz.

Tradução (versão): Aquilino R. Leal. Folha Maçônica Nº 425, 2 de novembro de 2013 Página 3

AO TEOREMA - Adilson Zotovici



Parto de alvissareiro ano

Para escrever este poema 

Desde aquele telefonema 

Dum livre pedreiro espartano


Que uma alegria suprema

E um contentamento ufano 

Vez que ainda era um profano

Que desconhecia o sistema


Brotei à Luz conforme o plano  

E me propus à cada emblema  

À cada preceito e arcano 


Aprender, ensinar, o lema 

De neófito a decano

Da pedra bruta ao teorema !


março 15, 2025

A LIÇÃO MAIS IMPORTANTE



No primeiro dia de aula, Dona Tomasa prometeu tratar todos os alunos com igualdade. Mas logo percebeu que seria difícil.

Já lidara com alunos desafiadores, mas nenhum como Pedrito. Chegava sujo, não fazia os deveres, dormia em aula ou perturbava os colegas. Exausta, foi à diretora.

— Não sou professora para aturar uma criança mimada! Espero não vê-lo de volta em janeiro.

A diretora apenas lhe entregou o histórico de Pedrito. Dona Tomasa começou a ler sem interesse, mas, conforme avançava, sentiu o coração apertar.

Primeira série: "Pedrito é brilhante e amigável. Seus colegas o adoram."

Segunda série: "Ainda excelente aluno, mas anda triste. Sua mãe está gravemente doente."

Terceira série: "A morte da mãe foi um golpe insuportável. Pedrito perdeu o interesse. Seu pai parece indiferente e, suspeito, violento."

Quarta série: "Cada vez mais fechado. Não tem amigos. Afunda-se na solidão."

Naquela tarde, Dona Tomasa chorou. Pela primeira vez, via Pedrito de verdade.

No dia seguinte, os alunos levaram presentes de Natal. Pedrito trouxe o dele em um saco amassado. Dentro, uma pulseira velha, faltando pedras, e um frasco quase vazio de perfume.

Os colegas riram, mas Dona Tomasa colocou a pulseira e borrifou o perfume. O riso cessou

Pedrito ficou até o último momento na sala. Antes de sair, sussurrou:

— Hoje, a senhora cheira como a minha mãe.

Naquela noite, Dona Tomasa chorou. Decidiu que ensinaria mais que leitura e matemática. Ensinaria amor.

Quando as aulas recomeçaram, ela usou a pulseira e o perfume. O sorriso de Pedrito foi sua resposta.

Com o tempo, ele voltou a se interessar pelos estudos. No final do ano, Dona Tomasa sabia: Pedrito era seu aluno mais especial.

Os anos passaram. Até que, um dia, Dona Tomasa recebeu uma carta. Era do Dr. Pedro Altamira. Havia concluído a faculdade de Medicina e ia se casar. Queria que sua professora fosse sua madrinha.

No casamento, Dona Tomasa usou a pulseira e o perfume da mãe de Pedrito. Quando ele a viu, correu para abraçá-la.

— Devo tudo à senhora.

Com os olhos marejados, ela respondeu:

— Não, Pedrito. Você me ensinou a maior lição da minha vida: me ensinaste a ser professora.

A VIDA É "DUKKHA" - Jorge Gonçalves




Easter egg: M. C. Escher - "Mão com Esfera Refletora", 1935, litogravura, 25 x 43,5 cm, National Gallery of Canada, Ottawa.  

Na obra original, uma mão meticulosamente detalhada sustenta uma esfera cristalina, que reflete o autorretrato de Escher em seu interior. Na minha releitura, eu ocupo o lugar de Escher. A curvatura da esfera distorce o espaço ao redor, criando um cenário composto por estantes, móveis e a luz suave de uma janela ao fundo.  

Bom dia. Com a postagem, criou-se uma série de comentários. Vamos tentar explicar o contexto. Imagine um filho que acaba de perder o pai, alguém profundamente querido. Nos dias seguintes, ele se recusa a aceitar a realidade da perda. Aos poucos, o luto se transforma em melancolia, depois em depressão e, finalmente, em um desespero paralisante, como se o mundo tivesse perdido todo sentido.  

No Budismo, essa dor é compreendida pela Primeira Nobre Verdade: "A vida é dukkha". A palavra dukkha não se refere apenas ao sofrimento evidente, mas à insatisfação inerente à existência, causada pelo apego ao que é transitório. No caso do filho, o sofrimento se agrava porque ele se prende à ideia de que o pai "deveria" estar presente, à identidade de filho que ele sustentava e até à raiva da impermanência. O Buda ensina que essa resistência, fruto do desejo (tanha) de controlar o incontrolável, é o que alimenta a angústia.  

Para Huxley, a solução não está em negar a dor ou lutar contra ela, mas em aceitar a realidade como ela é. Isso não significa "nada importa", mas um ato corajoso de reconhecimento: "Meu pai se foi. Preciso transformar o sofrimento em boas lembranças, e isso é parte da vida". Essa aceitação, como um despertar gradual, permite que o filho transcenda e aprenda que "eu sou apenas um filho em luto", encontrando serenidade mesmo na adversidade.  

Lembre-se de que cada frase diária serve para reflexão. Aceitar ou não aceitar não importa, refletir é importante. A paz não vem da ausência de dor, mas da forma como nos relacionamos com ela. Aceitar não é esquecer, mas honrar a perda sem permitir que ela defina quem somos. Como escreveu Huxley em *A Filosofia Perene*:  

"A liberdade está em ver claramente o que somos, sem ilusões."  

Esta reflexão foi inspirada por um grande amigo, Júlio, que perdeu seu pai há poucos dias.  

Agora, a imagem passou despercebida para a maioria, e apenas uma pessoa conseguiu identificar o easter egg.



O ASSASSINATO DE JULIO CÉSAR



O assassinato de Júlio César: Um ato de traição ou salvação para Roma?

Era 15 de março de 44 a.C., uma data que os romanos conheciam como os Idos de março. Júlio César, o homem mais poderoso de Roma, estava indo para o Senado. Apesar dos avisos de sua esposa, Calpúrnia, que tinha sonhado com sua morte, César decidiu ignorar os presságios. 

O que ele não sabia era que um grupo de senadores, incluindo o seu amigo Bruto, conspirava contra ele.

Quando César se sentou no Senado, os conspiradores cercaram-no. Casca foi o primeiro a atacar, mas seu golpe foi desastrado. César, surpreso, tentou se defender, mas ao ver Bruto entre os atacantes, pronunciou as famosas palavras: "Você também, Bruto? " (Et tu, Brute? ). Foi então que os outros conspiradores o esfaquearam repetidamente. Segundo o historiador Suetonio, César caiu no pé da estátua de Pompeu, seu antigo rival, em uma reviravolta irônica do destino.

Os assassinos justificaram o seu ato como uma tentativa de salvar a República Romana da tirania. No entanto, longe de restaurar a ordem, o assassinato de César mergulhou Roma numa guerra civil que eventualmente levou à ascensão do seu herdeiro Octávio (mais tarde Augusto), como o primeiro imperador de Roma.

O assassinato de Júlio César não só mudou o rumo da história romana, mas também se tornou um símbolo eterno de traição e ambição política.

março 14, 2025

ABIVERSARIO DE CASTRO ALVES

 






O poeta baiano Antonio Frederico de Castro Alves (1847-1871), apesar de sua morte precoce, é considerado um dos mais importantes poetas brasileiros de todos os tempos. De formação cultural sofisticada, construiu sua poesia sobre temáticas eminentemente brasileiras, alcançando uma admirável compreensão da alma popular. 


Nasceu em Muritiba, BA, em 14 de março de 1847, e faleceu em Salvador, BA, em 6 de julho de 1871. É o patrono da cadeira n. 7, da Academia Brasileira de Letras por escolha do fundador Valentim Magalhães.


Era filho do médico Antônio José Alves, mais tarde professor na Faculdade de Medicina de Salvador, e de Clélia Brasília da Silva Castro, falecida quando o poeta tinha 12 anos, e, por esta, neto de um dos grandes heróis da Independência da Bahia. Por volta de 1853, ao mudar-se com a família para a capital, estudou no colégio de Abílio César Borges, futuro Barão de Macaúbas, onde foi colega de Rui Barbosa, demonstrando vocação apaixonada e precoce para a poesia. Mudou-se em 1862 para o Recife, onde concluiu os preparatórios e, depois de duas vezes reprovado, matriculou-se finalmente na Faculdade de Direito em 1864. Cursou o 1º ano em 1865, na mesma turma que Tobias Barreto. Logo integrado na vida literária acadêmica e admirado graças aos seus versos, cuidou mais deles e dos amores que dos estudos. Em 1866, perdeu o pai e, pouco depois, iniciou apaixonada ligação amorosa com atriz portuguesa Eugênia Câmara, dez anos mais velha, que desempenhou importante papel em sua lírica e em sua vida.


Nessa época Castro Alves entrou numa fase de grande inspiração. Escreveu o drama Gonzaga e, em 1868, transferiu-se para o sul do país em companhia da amada, matriculando-se no 3º ano da Faculdade de Direito de São Paulo, na mesma turma de Rui Barbosa. No fim do ano o drama é representado com êxito enorme, mas o seu espírito se abate pela ruptura com Eugênia Câmara. Durante uma caçada, a descarga acidental de uma espingarda lhe feriu o pé esquerdo, que, sob ameaça de gangrena, foi, afinal, amputado no Rio, em meados de 1869. Sua saúde, que já se ressentira de hemoptises desde os dezessete anos, quando escreveu “Mocidade e Morte”, cujo primeiro título original era “O tísico”, ficou definitivamente comprometida. De volta à Bahia, passou grande parte do ano de 1870 em fazendas de parentes, à busca de melhoras para a tuberculose. Em novembro, saiu seu primeiro livro, Espumas flutuantes, único que chegou a publicar em vida, recebido muito favoravelmente pelos leitores.


Daí por diante, apesar do declínio físico, produziu alguns dos seus mais belos versos, animado por um derradeiro amor, este platônico, pela cantora italiana Agnese Trinci Murri. Faleceu em 1871, aos 24 anos, sem ter podido acabar a maior empresa a que se propusera, o poema Os escravos, uma série de poesias em torno do tema da escravidão. Ainda em 1870, numa das fazendas em que repousava, havia completado A Cachoeira de Paulo Afonso, que saiu em 1876, e que é parte do empreendimento, como se vê pelo esclarecimento do poeta: “Continuação do poema Os escravos, sob título de Manuscritos de Stênio.”


Duas vertentes se distinguem na poesia de Castro Alves: a feição lírico-amorosa, mesclada de forte sensualidade, e a feição social e humanitária, em que alcança momentos de fulgurante eloquência épica. Como poeta lírico, caracteriza-se pelo vigor da paixão, a intensidade com que exprime o amor, como desejo, frêmito, encantamento da alma e do corpo, superando o negaceio de Casimiro de Abreu, a esquivança de Álvares de Azevedo, o desespero acuado de Junqueira Freire. A grande e fecundante paixão por Eugênia Câmara percorreu-o como corrente elétrica, reorganizando-lhe a personalidade, inspirando alguns dos seus mais belos poemas de esperança, euforia, desespero, saudade. Outros amores e encantamentos constituem o ponto de partida igualmente concreto de outros poemas.


Enquanto poeta social, extremamente sensível às inspirações revolucionárias e liberais do século XIX, Castro Alves, na linhagem de Victor Hugo, um dos seus mestres, viveu com intensidade os grandes episódios históricos do seu tempo e foi, no Brasil, o anunciador da Abolição e da República, devotando-se apaixonadamente à causa abolicionista, o que lhe valeu a antonomásia de “Cantor dos escravos”. A sua poesia se aproxima da retórica, incorporando a ênfase oratória à sua magia. No seu tempo, mais do que hoje, o orador exprimia o gosto ambiente, cujas necessidades estéticas e espirituais se encontram na eloquência dos poetas. Em Castro Alves, a embriaguez verbal encontra o apogeu, dando à sua poesia poder excepcional de comunicabilidade.


Dele ressalta a figura do bardo que fulmina a escravidão e a injustiça, de cabeleira ao vento. A dialética da sua poesia implica menos a visão do escravo como realidade presente do que como episódio de um drama mais amplo e abstrato: o do próprio destino humano, presa dos desajustamentos da História. Encarna as tendências messiânicas do Romantismo e a utopia libertária do século. O negro, escravizado, misturado à vida cotidiana em posição de inferioridade, dificilmente se podia elevar a objeto estético, o que ele alcançou, no entanto, numerosas vezes. Surgiu primeiro à consciência literária como problema social, e o abolicionismo era visto apenas como sentimento humanitário pela maioria dos escritores que até então trataram desse tema. Só Castro Alves estenderia sobre o negro o manto redentor da poesia, tratando-o como herói, como ser integralmente humano.


 


Com seu lirismo exacerbado compôs poemas antológicos do romantismo brasileiro, mas não afastou-se jamais de sua veia libertária de onde emergiu o poeta social, o republicano, o abolicionista, o cantor dos escravos. Alguns poemas, como "O navio negreiro" e "Vozes d'África", obtiveram enorme sucesso popular quando declamados pelo poeta e se transformaram em verdadeiras bandeiras na luta contra a escravidão. O livro "Os escravos" foi publicado de forma independente pela primeira vez em 1883, doze anos após a morte do autor e reúne as composições antiescravagistas de Castro Alves, entre elas, os famosos poemas abolicionistas “O Navio Negreiro” e “Vozes d'África”.


Nos poemas de Os Escravos de Castro Alves, a poesia é suplantada pelo discurso político grandiloquente e até verborrágico. Para atingir o alvo e persuadir o leitor e, muito mais, o ouvinte, o poeta abusa de antíteses e hipérboles e apresenta uma sucessão vertiginosa de metáforas que procuram traduzir a mesma ideia. A poesia é feita para ser declamada e o exagero das imagens é intencional, deliberado, para reforçar a ideia do poema.


Ao longo de Os Escravos de Castro Alves e A Cachoeira de Paulo Afonso, Castro Alves vai apresentando ao leitor a vida do cativo, negro ou mestiço, sujeito à crueldade dos senhores, que arrancam os filhos dos braços das mães para os vender, estupram as mulheres, torturam e matam impunemente os “Homens simples, fortes, bravos…/ Hoje míseros escravos/ Sem ar, sem luz, sem razão…”


Afrânio Peixoto registra que esta obra deu a Castro Alves, então o maior poeta lírico e épico do Brasil pelos livros Espumas Flutuantes e Hinos do Equador, o "renome de nosso único poeta social", e também como "poeta dos escravos" e "poeta republicano", no dizer de Joaquim Nabuco, e ainda o "poeta nacional, se não mais, nacionalista, poeta social, humano e humanitario", no dizer de José Veríssimo.


Peixoto ressalta que a obra propaga a causa abolicionista. Registra que seus primeiros versos pela libertação dos cativos datam de 1863, quando contava somente dezesseis anos de idade; a maioria deles, contudo, é de dois anos mais tarde, 1865, quando são publicados, declamados e divulgados em todo o país, antecedendo autores como Tavares Bastos e dando o prenúncio da geração que traria a luta pela causa anti-escravidão como um dos ideais a ser perseguido e somente alcançado duas décadas depois.


Única peça de teatro escrita por Castro Alves, "Gonzaga ou A Revolução de Minas : drama historico brazileiro" foi encenada pela primeira vez na Bahia, no dia 7 de setembro de 1867, com estrondoso sucesso, sendo o poeta coroado e carregado nos ombros pelos admiradores até sua casa. O drama, carregado de patriotismo, recebeu elogios de José de Alencar e Machado de Assis e obteve consagração também em São Paulo, quando foi levado a cena, em outubro de 1868.


O Único livro publicado em vida do poeta, "Espumas flutuantes" teve grande e contínuo sucesso de público. Trata-se de uma coletânea de textos produzidos entre 1864 e o ano da publicação, na qual se encontram os vários tons da sua poesia: o intimista, o coloquial e o grandiloquente. Organizada paralelamente ao volume 'Os escravos', que o poeta não teve tempo de publicar, a coletânea não traz, por isso mesmo, os poemas abolicionistas que o consagraram.


Em “Ode ao Dois de Julho” (ou “Dous” de Julho, como grafado na versão original), Castro Alves faz uma espécie de poema épica em homenagem à Independência da Bahia, ocorrida em 2 de julho de 1823. Nessa data em questão, houve um conflito intenso entre as forças de Portugal e as do Brasil, resultando na expulsão dos europeus e na consolidação da Independência do Brasil.


Na primeira estrofe vemos uma descrição do campo de batalha, nos cerros da Bahia, com um anjo da morte costurando uma mortalha (um pano funerário) em Pirajá, onde aconteceu um dos conflitos decisivos. Nesse primeiro momento ainda resta a dúvida: qual dos dois gigantes vencerá, Brasil ou Portugal?


Em seguida, Castro Alves compara a batalha a um circo, como ao Coliseu, famoso pelas lutas de gladiadores. Entretanto, não era uma batalha de dois povos, mas uma batalha entre dois ideais: o passado e o futuro, a escravidão ou a liberdade. A batalha se estende até que a “branca estrela matutina” surge nos céus, marcando o início de novos tempos. E uma voz surge logo em seguida: a voz da Liberdade, que se estenderia às gerações futuras, honrando os soldados que perderam a vida lutando por essa causa.


https://www.academia.org.br/academicos/castro-alves/biografia#:~:text=Biografia&text=Castro%20Alves%20(Ant%C3%B4nio%20Frederico)%2C,escolha%20do%20fundador%20Valentim%20Magalh%C3%A3es.

ARLS 20 DE SETEMBRO 4346 - Brasília

 



    No meu ultimo dia de trabalho em Brasília, recebo um convite do irmão Fernando Viana, Venerável Mestre da ARLS 20 de Setembro 4346,  para assistir uma palestra. Informa que o erudito irmão Luiz Augusto Nascimento vai falar sobre o tema "Sic semper tyrannys: O Rito Escocês Antigo e Aceito e os inimigos da humanidade".

   Tenho pelo irmão acadêmico Luiz Augusto o maior respeito e admiração. Intelectual, educador, cultura acima da média, não poderia perder esta apresentação e realmente foi um prêmio assistir a esta extraordinária palestra, fruto de inúmeras pesquisas e estudo, apresentando a visão do cientista político Eric Voegelin sobre as raízes da tirania e sua relação com o Rito Escocês Antigo e Aceito.

  Na palavra livre fiz um comentário expressando a minha opinião sobre a Loja. Conheço centenas de Lojas no Brasil e algumas no exterior, as quais visitei e em outras palestrei. Algumas são pesadas, feito um caminhão carregado, com grande foco na gestão e quase nenhum em estudos, tornando a trajetória do maçom lenta e pesada. Outras são rápidas e leves, com fluidez na administração e dedicação ao aprendizado. A ARLS 20 de Setembro, neste critério, é uma Ferrari.

   O ágape foi o cachorro-quente que remeteu a infância, salsicha, molho, batata chips e pão, e além de delicioso foi muito divertido ver aquele bando de homens adultos brincando e se lembrando os tempos de infância quando cachorro-quente era o lanche preferido. Gravatas e camisas saíram manchadas com molho, mas ninguém se incomodou. Uma noite absolutamente deliciosa.



AVATARES E O QUE SE OCUPA DENTRO DE NÓS - Newton Agrella



Sem qualquer ruptura dos segredos inerentes aos graus maçônicos, mas apenas e tão somente, fazendo uma tênue abordagem do ponto de vista cultista e formal da estrutura ritualística, cabe registrar que ao final dos Graus Superiores no "Rito Escocês Antigo e Aceito"  e mais especificamente nos chamados Graus Administrativos, vamos nos deparar com o estudo e análise dos chamados AVATARES.

AVATAR é uma palavra da Língua Sânscrita, que significa "A descida de Deus" ou filosoficamente, representa "uma alma que transcende a matéria e se manifesta como uma essência espiritual."

Esse conceito intimamente ligado ao postulado básico da Maçonaria, que se refere à crença num Princípio Criador e Incriado do Universo, se canaliza e encontra respaldo sob diferentes formas entre os Homens, nas suas mais variadas culturas e tradições.

Essas manifestações espirituais se traduzem através de Filósofos e Luzes Reformadoras que constituem as Inspirações que indicam os caminhos da Humanidade.

Cada uma dessas Luzes, sob diferentes maneiras de abordar os conceitos de Moral, Ética, Retidão, Amor, Liberdade, Igualdade e Fraternidade consagram códigos de conduta, dos quais  a Maçonaria se vale, para a sedimentação do processo de aprimoramento interior humano.

ZARATRUSTA, BUDA, MOISÉS, HERMES TRIMEGISTA, PLATÃO, JESUS DE NAZARÉ, MAOMÉ e A ESTRELA AGUARDADA DO MESSIAS são meios dos quais os homens se valem para estabelecer um vínculo espiritual com a Vida no seu plano esotérico.

Deixando claro que este Esoterismo, diz respeito a um conjunto de tradições, lendas, mitos e interpretações filosóficas de doutrinas, bem como de  Fraternidades Iniciáticas - cujo propósito é o de  transmitir experiências que dizem respeito a aspectos da natureza da vida que se encontram sutilmente ocultos.

É inegável que no arcabouço maçônico herdado de suas origens primitivas, operativas e especulativas, além do seu caráter intelectual e investigativo do ponto de vista antropocêntrico e hominal, há o aspecto espiritual e anímico que são componentes da própria estrutura humana, cuja razão e emoção são alicerces de sua existência.

Diante desse particular capítulo, há que se levar em conta que nenhum proselitismo ou dogma são objetos de apoio  e sustentação da Sublime Ordem.

Pelo contrário, o protagonismo dessa conjunção de ideias repousa sobre a inquietante manifestação do Discernimento.



março 13, 2025

ARLS FRATERNIDADE BRASILENSE 2300 - Brasília



Na noite desta quarta feira, 12, eu tinha a intenção de visitar outra Loja, que já conhecia, porém só chegar ao prédio do GO DF fiquei sabendo que era uma sessão de finanças, na qual visitas não aproveitam o tempo. 

No saguão, enquanto montava a Mostra Itinerante de livros dos acadêmicos da Academia Maçônica Virtual Brasileira de Letras entabulei conversa com um simpático irmão, que descobri ser o Venerável Mestre da ARLS Fraternidade Brasiliense 2300, Benfeitora da Ordem, onde iria ocorrer uma sessão de elevação para o grau de companheiro.

Aceitei o convite do irmão VM Antônio Augusto Rocha Lopes e inclusive participei dos trabalhos ocupando o honroso cargo de porta-bandeira. A  sessão foi conduzida em estrita ritualística, que a todos encantou. Na palavra a bem dos trabalhos pude contar brevemente a história do grau de companheiro, desde a era da maçonaria operativa, a fundação da Abadia de Cluny, na França, onde se consolidou a expressão "cum panis", até a criação da Grande Loja Unida de Londres e Westminster, onde foi definido como grau, ainda antes da criação do grau de mestre, que seria anos depois.

Ao final o recém elevado companheiro ofereceu um ágape a todos os presentes. Uma bela sessão e uma noite agradável.

AFORISMOS DO PADRE ANTONIO VIEIRA - Heitor Rodrigues Freire

 


Pouca fé, isto é, pouca fidelidade; muita fé, isto é, muita confiança.”

Nestes tempos de tão acentuado avanço tecnológico, com tantos instrumentos à disposição para serem utilizados, copiados, com a inteligência artificial orientando e influenciando atitudes e comportamentos, considero útil e necessária uma imersão no universo imensurável que nos deixou o padre Antônio Vieira.

O padre Antônio Vieira (1608-1697) foi um importante religioso, escritor e orador português da Companhia de Jesus, conhecido por seus sermões e textos filosóficos, políticos e religiosos, combateu a escravidão indígena no Brasil, enfrentou a feroz Inquisição portuguesa – por quem foi implacavelmente perseguido –, defendeu os judeus e a abolição da escravatura, além de criticar severamente os sacerdotes de sua época. Na literatura, seus sermões possuem considerável importância no movimento barroco brasileiro e português.

Suas habilidades linguísticas impecáveis, sobretudo em retórica e oratória, tornaram-no o pregador oficial da corte portuguesa por um período. E suas ideias pouco convencionais levaram-no até mesmo à prisão por heresia.

Chamado de “imperador da língua portuguesa” por Fernando Pessoa, padre Antônio Vieira foi autor de correspondências, textos proféticos e sermões. Esse último gênero textual lhe garantiu grande destaque pela riqueza no trabalho com a linguagem e pela abordagem de temas políticos e sociais em meio a imagens religiosas.

A Obra Completa do Padre António Vieira, anotada e atualizada, começou a ser publicada em 2013, quase quatro séculos após o seu nascimento. Esta publicação em 30 volumes inclui a totalidade de suas cartas, sermões, obras proféticas, escritos políticos, sobre os judeus e sobre os índios, bem como sua poesia e teatro, e resulta na primeira edição completa e mais bem cuidada de toda a sua vasta produção. Antônio Vieira escreveu mais de 200 sermões, 700 cartas, além de tratados proféticos e livros. 

Embora ele não seja tradicionalmente associado a aforismos (frases curtas e impactantes que expressam uma ideia ou reflexão), muitos trechos de seus textos e sermões podem ser interpretados como tal, devido à sua profundidade e concisão.

Agora, a editora Migalhas publica Migalhas de Padre Antônio Vieira, contendo 835 citações marcantes dele, que se assemelham a aforismos, confirmando mais uma vez sua vasta cultura e disposição ao trabalho.

 Abaixo estão algumas citações marcantes de padre Vieira, a começar pela frase que abriu este artigo:

Pouca fé, isto é, pouca fidelidade; muita fé, isto é, muita confiança.”

“Para falar ao vento, bastam palavras; para falar ao coração, são necessárias obras.”

 “A esperança é o pão dos pobres, e o pão dos pobres é a esperança.”  

 “O tempo é a substância de que é feita a vida.”  

“A injustiça que se faz a um é uma ameaça que se faz a todos.”  

“A mentira tem pernas curtas, mas a verdade alcança-a sempre.”  

“O orgulho é a ruína do homem; a humildade, o seu alicerce.”  

“A fé e a razão são como duas asas que elevam o espírito humano à verdade.”  

“Amar ao próximo como a si mesmo não é só mandamento, é a medida do amor.”  

“A liberdade é um dom divino, e a escravidão, uma invenção humana.” 

“Quem pode fazer o bem e não faz peca por omissão.” 

 “A morte não é o fim, mas a passagem para a eternidade.”  

Essas frases capturam a essência do pensamento de padre Antônio Vieira, marcado por sua profunda fé, sua sensibilidade social e seu talento retórico. Seus textos e sermões continuam a ser estudados e apreciados por sua perenidade, relevância e sabedoria.

Enfim, reler os escritos do padre Antônio Vieira representa um aprendizado constante.

Heitor Rodrigues Freire – Corretor de imóveis e advogado.

março 12, 2025

JEAN THEOPHILLUS DESAGULERS - Um dos pais da maçonaria



O dia de hoje, 12 de março, marca a data de nascimento, em 1683, de Jean Theofillus Desaguliers, membro da Royal Society de Londres, assistente e divulgador de Isaac Newton.

Nasceu na França, mas por motivo de perseguição religiosa seu pai, protestante hughenote, fugiu para a Inglaterra levando o filho de dois anos escondido em um barril 

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Ele estudou em Oxford e depois popularizou as teorias newtonianas e suas aplicações práticas em palestras públicas.

Desaguliers, além de possuir uma sólida formação científica, era um homem também pragmático, preocupado em resolver os problemas concretos de seu tempo, extrapolando na preocupação com questões metafísicas.  

É considerado um dos Pais Fundadores da moderna maçonaria. Como maçom, Desaguliers foi fundamental para o sucesso da primeira Grande Loja em Londres no início da década de 1720 e serviu como seu terceiro Grão-Mestre.