A maçonaria é uma entidade filosófica, com grande envolvimento com a cultura e que se comunica com os seus membros, preferencialmente por intermédio de símbolos.
Não se sabe ao certo qual é a sua origem; muitos historiadores querem localizá-la há milhares de anos, nos tempos pré-bíblicos, existindo muitas informações e também lendas a este respeito, algumas dignas de fé, outras nem tanto.
É importante frisar que toda e qualquer discussão a respeito da Ordem Maçônica sempre envolverá aspectos atinentes ao rico e complexo simbolismo das suas movimentações, normalmente hermético para o não iniciado na Instituição, o que leva a especulações.
O nome Hiram Abiff é um destes nossos símbolos, cujos feitos tornaram-se uma lenda (transmissão de eventos históricos por via oral), como está registrado na Bíblia Sagrada , ou seja, sua ligação com a construção do Templo de Salomão e a sua morte em condições trágicas.
Tentarei esmiuçar estes relatos; neste texto, pela limitação do espaço que é gentilmente concedido pela direção do jornal DM, irei me ater, somente, à figura do homem Hiram e na próxima semana tecerei considerações a respeito dos seus feitos, principalmente a sua participação na construção do Templo de Salomão e a causa da tragédia da sua morte.
Antes de tudo preciso deixar bem claro que os leitores iniciados na Ordem Maçônica, tangidos pelo coração, sabem quem foi e o que representa a legenda Hiram. A busca da sua identidade material, que timidamente nos propomos a fazer, transcende este impacto inicial e leva-nos à procura de fatos históricos reportados no velho Testamento.
Inicialmente vamos verificar o que a Bíblia diz a respeito deste personagem, conforme é do conhecimento de todos os maçons, acrescentando o relato feito pelo Pastor da Igreja Anglicana da Inglaterra, J.S.M. Ward, no seu livro “Who was Hiram Abiff? – Quem foi Hiram Abiff?” publicado em 1925 em Londres e posteriormente reeditado pela London Lewis Masonic em 1986, que baseou suas pesquisas na Palestina, quando comparou os relatos bíblicos com relatos profanos e, principalmente, estudou as raças que habitavam a Síria e a Asia Menor na época da construção do Templo de Salomão.
Dentre outras publicações, foram consultados três outros importantes livros The History of Freemasonry – A História da maçonaria, de Albert Mackey, publicado pela primeira vez em 1881 e reeditado em 1996 por Random House Value Publishing, N.York; (The Secrets of Solomon´s Temple – Os Segredos do Templo de Salomão, de Kevin L. Gest. Gloucester, USA, 2007) e o fabuloso (The Builders – A story and study of freemasonry – Os Construtores, a História e o estudo da maçonaria, de Joseph Fort Newton, Virginia-USA, 1914.
Está descrito na Bíblia, (2 Crônicas 2:13-14) que Salomão, pretendendo levar adiante a idéia de Davi, seu Pai, de construir um Templo em louvor ao nome do Senhor e um Palácio para sua morada, solicitou auxílio de Hiram, rei de Tiro. Além da ajuda material (madeira de cedro, cipreste e pinho do Líbano) Salomão pediu, também, que lhe fosse enviado um “homem sábio”, que provavelmente ele já sabia quem seria, para comandar a construção.
O Rei Hiram enviou-lhe um “comunicado”, enaltecendo a sabedoria e a inteligência, do seu indicado, um seu homônimo, que era Hiram Abiff.
Ainda se lê em (2 Crônicas 2:13-14), que neste mesmo “comunicado” o rei Hiram faz uma descrição detalhada da capacidade laborativa de Hiram:
“Trata-se de um homem que sabe trabalhar em ouro, em prata, bronze e ferro, pedra, madeira, púrpura, jacinto, linho, escarlate, laura, todo gênero de escultura e é capaz de inventar, engenhosamente, tudo o que seja necessário para qualquer trabalho e trabalhará com os teus artistas e com os artistas do teu Pai”.
Em (I Reis) estão bem especificados os trabalhos desenvolvidos por Hiram no Templo; são enumeradas todas as obras por ele realizadas, com destaque para duas colunas de bronze, que depois de construídas, ele as denominou de Jaquim e Booz e estavam colocadas, respectivamente, à direita e à esquerda da entrada do Templo, representando Judá e Israel, os dois Reinos que foram unificados por David. pai de Salomão.
Existem duas versões Bíblicas para a origem deste Arquiteto Hiram Abiff; em (II Crônicas) esta escrito que ele era filho de uma tribo denominada Dan, enquanto que em (I Reis) ele é tido como filho de uma mulher viúva, originaria da tribo de Naftali. Se consultarmos os tratados de arqueologia, iremos verificar que estas duas tribos, Dan e Naftali, estavam situadas nas redondezas de Tiro.
Para dar mais veracidade a esta afirmativa, deve-se salientar que as duas versões Bíblicas afirmam que Hiram teria sido um homem que morava na cidade de Tiro.
Este relato é muito significativo porque Tiro era um dos centros de trabalho da região de Adonis, portanto um local de conglomerado populacional.
Os testemunhos conflitantes acerca da identificação da tribo a que sua mãe pertencia, pode ser explicável pelo fato de que talvez ela não fosse uma judia propriamente dito, porém era oriunda de uma outra tribo de difícil localização nos mapas atuais.
Aos olhos da maioria dos historiadores é interessante manter a afirmação de que o grande Arquiteto do Templo de Salomão tinha sangue judeu nas veias.
Dentro dos conhecimentos atuais, talvez devêssemos considerar que ela realmente pertencia a uma tribo denominada “Dan”, senão vejamos:
“Dan”, naquela época, era dividida em duas sessões; uma de pequena dimensão que era separada da parte principal e estava localizada à direita da tribo de Naftali e entre os seus vizinhos fenícios, os habitantes dessa sessão seriam considerados como oriundos de uma tribo da fronteira, sem uma especificação correta, até pelas dificuldades topográficas e de localização. É necessário salientar que a maioria das pessoas daquela época, nasciam e morriam em um mesmo lugar, sem nunca arriscar uma viagem mais longa e a comunicação era exclusivamente verbal.
Por onde ela passou, justamente a tribo que os judeus mais conheciam, que era a tribo Fenícia, denominada de Nafftali, dá-nos a impressão de que a mãe de Hiram Abiff era viúva (Reis 1:7-13); baseado nestas observações, os maçons estão acostumados a se denominarem de “filhos da viúva”, uma vez que consideramos Hiram Abiff nosso irmão.
Não há dúvida de que o pai de Hiram era um Fenício de quem aprendeu a profissão.
Está claro que o maior número de trabalhadores que ele requisitou, quando foi chamado para construir o Templo de Salomão, são os Fenícios que ele conhecia.
Definida a sua origem, podemos discutir o porque do seu nome.
O nome Hiram Abiff ainda causa controvérsia entre os estudiosos da maçonaria e das escrituras sagradas; parece que Abiff não seria, propriamente, parte do seu nome, pois Ab em Hebreu significa (Pai), a letra (i) teria o significado de (meu) e (if) significa, também, (meu), portanto o nome Hiram Abif deveria ser traduzido por (Hiram, meu pai). É necessário acrescentar que entre os Hebreus a expressão (Pai) significava uma honraria, pessoa proeminente a ser assim nominado, podendo significar, também, (Hiram, meu conselheiro), como afirma o Dr. Mc Clintock (citado no livro “The History of Freemasonry”.
É interessante salientar que em (I Reis), não é feita referência a este segundo nome de Hiram, sendo encontrado somente em (II Crônicas).
Na verdade, para a maçonaria, o nome Hiram é o representante abstrato da ideia de um homem trabalhando no Templo da humanidade, cavando masmorras ao vicio e construindo catedrais à virtude e contentamos em nominá-lo “O Arquiteto”, o pedreiro que construiu o Templo de Salomão.