maio 03, 2024

VISITA A ARLS LESSING 129 - São Paulo



Gotthold Ephraim Lessing foi um poeta, dramaturgo, filósofo e crítico de arte alemão, considerado um dos maiores representantes do Iluminismo, conhecido também por sua crítica ao anti-semitismo e defesa do livre-pensamento e da tolerância religiosa.

 

Fundada em São Paulo por judeus alemães há mais de meio século, e praticando os rituais do Riti Schroeder em alemão, a ARLS Lessing n. 129    da GLESP não tem mais nenhum dos fundadores, hoje fala em português e pratica o REAA. 

 

Mas mantém a disciplina e o gosto pelo estudo germânico e num dia pós feriado, quando muitas Lojas cancelam sessão, esta estava um pouco desfalcada é verdade, mas firme e forte sob o comando do VM had hoc Carlos Border, enquanto o Veneravel de oficio, irmao Iran Rodrigues, está em viagem na Europa e que também contou com a honrosa presença do Delegado do SGM Oswaldo Nunes Cabral Neto, meu irmão e  amigo há muitos anos.

 

Coube-me a honra de fazer uma pequena palestra e responder a inúmeras perguntas dos irmãos presentes sobre diversos temas ligados à maçonaria. Uma noite memorável. 

 


maio 02, 2024

A LOJA SECRETA “PROPAGANDA DUE” (P2) - William Carvalho


A Itália é um país relativamente recente. Antes da reunificação italiana em meados do século XIX, a península italiana era formada por reinos independentes, repúblicas, ducados e estados papais. 

A primeira loja maçônica de que se tem notícia, apesar da divergência dos historiadores (Findel x Gould), fundada naquela península, antes da criação do Reino da Itália, teria sido uma formada em Florença por Lord Sackville em 1773. No entanto, devido a seu envolvimento com a política partidária e a religião, não foi reconhecida pela Grande Loja Unida da Inglaterra. 

A história relata que, em 1877, ainda nos tempos da reunificação de Mazzini e Garibaldi, foi fundada pelo Grande Oriente uma loja maçônica em Roma chamada Propaganda Massonica. Era frequentada por políticos e altos funcionários governamentais que não deviam ter os seus nomes expostos na relação das lojas normais e era diretamente ligada ao Grão-Mestre. Esta seria a Propaganda Uno.

Este artigo busca traçar a trajetória da loja maçônica responsável por um dos maiores escândalos político-maçônico-estratégicos da segunda metade do século XX, ocorrido em 1981.

A loja, inicialmente, quando formada pelo Grande Oriente da Itália - GOI, era uma loja de pesquisa que deveria funcionar dentro do espírito da Propaganda Uno. Posteriormente, em 1981, quando foi dissolvida e declarada ilegal pelo GOI (que também teve o seu reconhecimento suspenso pela Grande Loja Unida da Inglaterra em 1993), tornou-se letal, secretíssima e irregular – a famosa loja Propaganda Massonica nº Due (P2). 

Era dirigida por Licio Gelli, um gênio organizacional e político, que montou um verdadeiro governo paralelo dentro do Estado Italiano com repercussão na política da OTAN, nos EEUU, em algumas esferas da cúpula do Vaticano e na Ibero-América. 

Deve haver um extremo cuidado ao manipular o assunto da P2, pois está se lidando com conceitos altamente explosivos e polêmicos consoante os seguintes atores: CIA, KGB, Soberana Ordem Militar de Malta, Banco do Vaticano, Opus Dei, Maçonaria Irregular, Comissão Trilateral, Serviço Secreto Italiano, Operação Gládio, Bispo Marcinkus, João Paulo I, Mossad, Jesuítas, Nazismo, Comunismo, Fascismo, Máfia etc.

Gelli foi membro ativo do movimento fascista em 1936, tendo servido ao lado das tropas de Francisco Franco no Batalhão Camisas Negras durante a Guerra Civil Espanhola. Quatro anos mais tarde, recebeu a carteira do Partido Nacional Fascista Italiano. Em 1942, já se tornara secretário dos fascistas italianos no exterior. 

No período da IIª Guerra Mundial, Gelli, atuando como membro dos Camisas Pretas de Mussolini, chegou a ser oficial de ligação do Exército Italiano com a divisão de elite SS de Hermann Goering. Em 1944, sentindo que os ventos não mais sopravam favoráveis a Mussolini, criou uma rede de resistência conectada à CIA, graças ao V Exército Norte-americano recém  chegado à península. 

Após a guerra, migrou para a Argentina sendo o primeiro a obter uma dupla nacionalidade: argentino-italiana. No exílio argentino, conseguiu se aproximar de Perón, resultando numa grande amizade e na nomeação para a posição de conselheiro econômico para os assuntos italianos. 

Com o passar dos anos, Gelli retornou ao seu país de origem, estabelecendo-se como empresário em Arezzo, na Toscana. Culminou sua carreira com a entrada para o mundo das altas finanças e dos negócios em grande escala. 

Em 1981, foi acusado, veementemente, de fomentar uma conspiração que daria um golpe de estado na Itália. Em 1973, foi citado como traficante de armas para os países árabes e implicado numa transação de três milhões de liras italianas numa operação conhecida como Permaflex, uma firma que trabalhava com a OTAN. 

Gelli era tão bem articulado com o establishment político estadunidense que chegou a ser convidado para as festas de investidura de três presidentes: Ford, Carter e Reagan. 

A facilidade de Gelli em atuar no mundo político e econômico era fantástica. Era amigo de Paulo VI, Coronel Kadafi, Ceanescu, Perón (por estas antigas relações argentinas chegou, na Guerra das Malvinas, a negociar mísseis Exocet franceses para as Forças Armadas de Galtieri) e tutti quanti. Afirmam, ainda, que chegou a atuar como captador de fundos para a campanha de George Bush.

Iniciou-se na maçonaria em 1965, buscando se mirar nos dois Grão-Mestres sucessivos do GOI – Gamberini e Salvini – que se interessavam por uma aproximação mais estreita com o Vaticano. Três anos mais tarde, foi nomeado secretário da P2, elegendo-se seu Venerável Mestre em 1975. 

Gelli convidou Michele Sindona, o gênio financeiro do Vaticano, que trouxe consigo Roberto Calvi, o banqueiro mais chegado ao Vaticano. Contudo Gelli já tinha atuação marcante, pois, em dezembro de 1969, num encontro promovido no escritório romano do Conde Umberto Ortolani, o Embaixador da Ordem de Malta para o Uruguai, que era, na época, o cérebro da P2, foi montado o Estado-Maior da Loja: Umberto Ortolani, Licio Gelli, Roberto Calvi e Michele Sindona.

Pelos idos de 1974, a P2 contava um efetivo de mais de 1000 membros, destacando-se uma maioria de elementos de escol na sociedade italiana, européia e ibero-americana. Consta num relatório de um dos procuradores italianos encarregados do inquérito da P2: “A Loja P2 é uma seita secreta que combinava negócios e política com a intenção de destruir a ordem constitucional do país”. 

Entre seus membros contavam-se três componentes do Gabinete, incluindo o Ministro da Justiça Adolfo Sarti. vários ex-Primeiros Ministros, como  Giulio Andreotti que exerceu o cargo entre 1972 e 73 e novamente entre 76 e 79; 43 membros do Parlamento; 54 altos executivos do Serviço Público; 183 oficiais das forças naval, terrestre e aérea, incluindo 30 generais e 8 almirantes (entre eles o Comandante das Forças Armadas, Almirante Giovanni Torrisi); 19 juízes; advogados, magistrados, carabiniere; chefes de polícia; poderosos banqueiros; proprietários de jornais, editores e jornalistas (incluindo o editor do maior jornal do país Il Corriere Della Sera); 58 professores universitários; líderes de diversos partidos políticos (evidentemente, não do Partido Comunista Italiano, por razões óbvias); diretores dos três principais serviços de inteligência do país. 

Todos esses homens, de acordo com os documentos apreendidos, juraram obediência a Gelli e estavam prontos para responder a seu chamado. Os 953 nomes estavam divididos em 17 grupos ou células, cada qual com um líder. 

A P2 era tão secreta e tão profissionalmente dirigida por Gelli que, até mesmo seus membros, não tinham conhecimento sobre quem pertencia à organização. Aqueles que mais conheciam a organização eram os 17 líderes de células e, mesmo esses, somente conheciam o seu próprio grupo. 

Magistrados italianos, examinando cuidadosamente documentos apreendidos na Villa Wanda (nome de sua mulher), de onde Gelli tinha fugido quando a P2 explodiu, encontraram centenas de documentos altamente secretos dos serviços de inteligência. 

O Coronel Antonio Viezzer, ex-chefe dos serviços secretos de inteligência combinados, foi identificado como a fonte primária desse material, tendo sido preso em Roma por espionar em nome de uma potência estrangeira.

Ainda nessa época, Gelli reuniu-se secretamente com o General Alexander Haig, ex-Comandante Supremo da OTAN e, no momento, Chefe do Gabinete Civil do Presidente Nixon. O encontro foi na própria Embaixada dos EEUU em Roma. 

Com as bênçãos de Henry Kissinger, então Assessor do Conselho de Segurança Nacional, Gelli saiu do encontro com a promessa de contínuo suporte financeiro para a Operação Gládio e para sua loja maçônica além de um plano para a subversão interna da política italiana. 

Reuniu-se, a seguir, com outro membro da P2 – Roberto Calvi, Presidente do Banco Ambrosiano de Milão (la banca dei preti), o segundo maior banco privado da Itália e um dos maiores acionistas do Banco do Vaticano – para dar sequência ao plano. 

Calvi, neste ínterim, já tinha começado a bombear dinheiro ilegalmente do seu banco, usando o Banco do Vaticano – o Istituto per le Opere di Religione (IOR) para a lavagem. Gelli tinha Calvi em suas mãos. 

Convém salientar que, no início de 1967, um ex-chefe do Serviço Secreto Italiano tinha se filiado à loja P2, trazendo consigo mais de 150.000 fichas de pessoas chave na sociedade italiana. Seja por chantagem ou ideologia, Calvi continuou drenando vastos fundos para Gelli e a P2 até a falência final do banco. 

Em 1978, outro fato político chocou a sociedade italiana e o mundo: o sequestro e posterior assassinato do ex-Primeiro Ministro Italiano – Aldo Moro – pelas Brigadas Vermelhas, um grupo revolucionário de tendências pró-soviéticas. Evidências posteriores demonstraram que o assassinato de Moro foi orquestrado pela P2 e que as Brigadas Vermelhas e Negras estavam infiltradas pelos serviços de inteligência dos Estados Unidos.

Alguns meses após o assassinato de Moro, o mundo assistiu à eleição de Albino Cardeal Luciani para o papado com o nome de João Paulo I. Irradiando simpatia e honestidade, a eleição de Luciani causou um certa angústia em alguns setores da cúria, especialmente nas áreas próximas ao bispo Paul Marcinkus, um bispo de Chicago que dirigia o Banco do Vaticano e que sabia ter seus dias contados, pois estava demasiadamente envolvido em fraudes financeiras, especialmente com Roberto Calvi. Alguns ainda têm dúvidas de como o IOR-Banco do Vaticano se envolveu numa tão má circunstância. 

Um pouco de história poderá esclarecer alguns pontos. 

Em 1929, o Vaticano e Mussolini assinaram o Tratado Lateranense, conhecido como a Concordata do Vaticano, que funcionou até 1984, quando a religião católica não foi mais reconhecida como a religião oficial do Estado Italiano. Como resultado, a cidade do Vaticano tornou-se um estado soberano dentro da cidade de Roma e independente do governo italiano, tendo a Igreja recebido um aporte financeiro de milhões de liras vindas do Duce. Como compensação, esperava-se uma certa benevolência do Vaticano em relação ao fascismo ascendente.

A Igreja, desejando bem investir seus recursos para o pagamento de seus débitos e de suas obras de caridade, criou, primeiramente o APSA e depois o IOR. O IOR tornou-se um paraíso para os ricos italianos que desejavam espoliar o fisco em clara violação às leis bancárias italianas, prevenindo que seu dinheiro não caísse em mãos dos alemães. 

Contudo, a elite vaticana não estava contente em somente trabalhar com os bancos católicos do país (assim chamados porque emprestavam dinheiro a baixas taxas de juros, visando não violar a lei da usura da Igreja). Necessitavam de financistas leigos para encontrar investimentos seguros e lucrativos para a Igreja. Daí surgem homens do naipe de Michele Sindona e Roberto Calvi. 

O império italiano de Sindona começou a colapsar em 1974 e o de seu protegido – Calvi – começou em 1978 e culminou com a quebra do Ambrosiano em agosto de 1982. Salienta-se ainda, que, antes do seu indiciamento pela morte do investigador italiano Giorgio Ambrosoli, liquidante de seu Banca Privata Italiana, Michele Sindona era, não só o financista da P2 como o conselheiro de investimentos do IOR, ajudando o Banco a vender os seus ativos italianos e reinvesti-los nos EEUU. 

Em 1980, Sindona foi preso em Nova Iorque e condenado nos EEUU por 65 casos de acusações de fraude e pela falência fraudulenta de seu banco norte-americano – Franklin National Bank - sendo extraditado para a Itália em 1984, onde dois anos depois – março de 86 - foi envenenado em sua cela enquanto cumpria uma sentença por assassinato. Calvi foi condenado em 1981 sob acusação de transação com moeda ilegal. 

O Papa Luciani não era bem visto pela extrema-direita italiana, pois esta o considerava indulgente em relação ao comunismo e por seu pai ter pertencido aos quadros do Partido Socialista Italiano. Com 33 dias de pontificado no ano de 1978, João Paulo I, o Papa “Sorriso”, como era popularmente conhecido, foi encontrado morto nos seus aposentos. A súbita morte do Papa deixou um rastro de interpretações e “especulações” que duram até os dias atuais.

Com a morte de Luciani, foi eleito papa o polonês Karol Wojtyla, um papa bem mais conservador, pois fora testado na luta anti-soviética contra o governo polonês. 

Marcinkus obteve, temporariamente, uma sobrevida, pois o novo papa necessitava urgentemente providenciar recursos para o sindicato dos estaleiros navais poloneses, um trabalho que viria culminar no Movimento Solidariedade, que determinou o fim do comunismo na Polônia, a queda do Muro de Berlim e, por que não dizer, a derrocada do Império do Mal. 

A título de curiosidade, a CIA passou a ter uma vigilância eletrônica maior sobre o Vaticano quando detectou um telefonema, em 5 de julho de 1979, de Walesa (líder sindical e futuro presidente da Polônia) perguntando se João Paulo II aprovaria o nome Solidariedade para o movimento político de união sindical que viria a ser implantado. Walesa explicou que a palavra tinha sido tirada da encíclica pontifícia Redemptor Homis – um documento devotado à redenção e à dignidade da raça humana.  

A luta do Solidariedade contra o governo títere da Polônia serviu para dar uma nova força ao trio Marcinkus-IOR, Calvi-Banco Ambrosiano e, obviamente, Gelli-P2. A P2 providenciava os meios para reforçar as instituições anticomunistas na Europa e na Ibero-América com fundos do IOR e da CIA. 

Calvi, que foi encontrado enforcado – alegou-se suicídio - sobre a Ponte Blackfriars (Frades Negros) em Londres em 17 de junho de 1982, gabava-se de ter-se encarregado pessoalmente da transferência de 20 milhões de dólares do IOR para o Solidariedade, embora a soma total drenada para a Polônia tenha sido de mais de 100 milhões de dólares. 

Durante a saga lendária de Calvi, devem ser citados os seguintes acontecimentos:

a) em 1992, o desertor da máfia Francesco Mannino Mannoia disse que Calvi foi estrangulado por Francesco di Carlo, o responsável pelo tráfico de heroína em Londres. A ordem de morte teria partido de Pippo Calo, tesoureiro da máfia e embaixador em Roma. Desesperado por tapar os rombos do seu banco, Calvi teria concordado em lavar grande quantidade de dinheiro da máfia e que, com o passar do tempo, ele teria desviado parte do dinheiro da máfia para manter o banco funcionando;

b) preocupado com a descoberta pela máfia de seus desvios de dinheiro, Calvi teria viajado para Londres para tentar um empréstimo com o tesoureiro da Opus Dei. Se a operação fosse realizada, Calvi pagaria à máfia e salvaria o banco da investigação do Banco Central italiano. Por alguma razão – maquiavelismo da Opus Dei ou beijo mafioso – o empréstimo não se realizou e Calvi enforcou-se ou foi forçado a isso. Após a morte de Calvi, o Vaticano nomeou uma comissão de “Quatro Notáveis” sendo um deles, Herman Abs, ex-presidente do Deutsche Bank.

Com a fuga de Gelli para o seu exílio na Suíça e a morte de Calvi, assistiu-se à derrocada formal da P2. Apesar da dissolução da P2, em 1981, e da expulsão de Gelli pelo Grande Oriente da Itália, o espírito da P2 não feneceu. 

A prisão, no aeroporto de Fiumicino da Signora Maria Gelli, sua filha, com uma mala cheia de documentos, bem diferentes dos de Villa Wanda, de pessoas envolvidas em espionagem fosse na KGB, fosse no MI6 e outros quejandos podia ter sido uma mensagem de Gelli para um bom entendedor. 

O saldo entre os principais atores e algumas instituições apresenta-se o seguinte: o octagenário Gelli, depois de fugas rocambolescas, pois esteve no Uruguai, Sérvia, Belgrado, Suíça, Marselha, Aix-en-Provence, acabou, finalmente, preso e extraditado em Cannes em 1998, em uma de suas mansões de alto luxo na Costa Azul da Riviera francesa, é condenado a doze anos de prisão por estar envolvido na bancarrota do Ambrosiano; Calvi e Sindona, mortos; Paul Marcinkus é exilado para uma paróquia perdida nos confins dos Estados Unidos; o GOI não quer mais falar nesse assunto tabu; a maçonaria anglo-saxônica desconhece solenemente a questão (não existe um único artigo sobre o assunto no Ars Quatuor Coronatorum, somente referências esparsas); o Vaticano, por ser um Estado soberano não permite nenhuma investigação dos procuradores italianos sobre o assunto. 

Os recursos humanos estratégicos da P2, contudo, ainda atuam na política italiana, pois em junho de 1994, o abastado homem de negócios do norte da Itália – Silvio Berlusconi foi nomeado primeiro-ministro. O piduisti (pedoisista) Berlusconi tentou passar um decreto-lei cujo texto rezava que os delitos de corrupção e de concussão são considerados ‘menos graves’ e, em conseqüência, a detenção preventiva é suprimida. Será que a lição da P2 foi aprendida?

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BIBLIOGRAFIA;

BENIMELI, José A. Ferrer e MOLA, Aldo A. (eds), La Massoneria Oggi, Editrice Italiana, Foggia, Itália, 1992. [Tem um artigo de Licio Gelli intitulado Maçonaria e Poder. Neste artigo Gelli se defende e se apresenta como uma vítima de uma perseguição geral da maçonaria).

CONTE, Charles e RAGACHE, Jean-Robert, Comment peut-on être Franc-maçon?, Revue Panoramiques, Éditions Corlet-Arlés, Paris, 1995.

DAVID A. Yallop, In God's Name: An Investigation Into the Murder of Pope John Paul I, Ed. Bantam, New York, 1984.

GREELEY, Andrew M., Como se faz um Papa, ed. Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1980.

HENDERSON, Kent, Italian Freemasonry and the P2 Incident, The Transactions of the Lodge of Research Nº 218, Victoria, Australia, 1987, pp. 25-33.

INTERNET (diversos), inclusive com uma página que mostra a veia poética de Licio Gelli <http://www.club.it/autori/licio.gelli/licio.gelli.poesie.html>

KNIGHT, Stephen, The Brotherhood: The Secret World of the Freemasons, Stein and Day, New York, 1984

MARTIN, Malachi, Os Jesuítas – A Companhia de Jesus e a Traição à Igreja Católica, Ed. Record, Rio de Janeiro, 1989.

DA ESCURIDÃO À LUZ: - Wagner Tomás Barba


UMA JORNADA MAÇÔNICA RUMO AO CONHECIMENTO.

Vamos explorar o paralelo entre a jornada maçônica e a busca pelo conhecimento, onde a luz representa o conhecimento que gradualmente se revela ao aprendiz ao longo de sua jornada e a busca pelo conhecimento.

Introdução

A jornada maçônica é uma jornada simbólica que reflete não apenas os rituais e cerimônias da maçonaria, mas também oferece uma poderosa metáfora para a jornada intelectual e espiritual do indivíduo em busca do conhecimento e da compreensão. Vamos tentar entender um pouco mais sobre essa jornada, utilizando a luz como uma metáfora para o conhecimento, e analisaremos como a progressão através dos graus maçônicos reflete a jornada do aprendizado e da iluminação.

O Aprendiz

No início de sua jornada maçônica, o aprendiz é iniciado com uma venda que o impede de ver a luz. Essa venda simboliza a ignorância inicial do aprendiz, que está mergulhado na escuridão do desconhecido. A venda também representa a necessidade de humildade e abertura para aprender, pois o aprendiz reconhece que há muito a descobrir e compreender.

Ao ser desvendado, o aprendiz é posicionado no topo na coluna do norte, coluna essa que é dominada pela Lua, representando uma luz mais fraca e indireta, pois esse satélite não emite luz própria e sim, apenas reflete a luz solar. Isso demonstra o estágio inicial de iluminação do aprendiz, onde ele começa a ser exposto ao conhecimento de forma gradual e indireta. O aprendiz começa a estudar os princípios fundamentais da maçonaria e a refletir sobre seu significado em sua própria vida.

O Companheiro

À medida que o aprendiz progride em sua jornada e adquire mais conhecimento através de estudos e experiências, ele é elevado ao grau de companheiro. Neste estágio, ele ocupa um lugar na coluna do sul, iluminada pela estrela flamígera, que representa uma luz mais intensa e direta. Isso simboliza o aumento da compreensão e da clareza que o companheiro adquire à medida que avança em sua busca pelo conhecimento.

Como companheiro, o maçom continua sua jornada de aprendizado, explorando temas mais complexos e aprofundando sua compreensão dos ensinamentos maçônicos e de outros campos do conhecimento, com matérias com o Trivium: a gramática, a retórica e a lógica; e o Quatrivium: a aritmética, a geometria, a música e a astronomia. Ele desenvolve habilidades práticas e filosóficas que o ajudam a aplicar o conhecimento em sua vida diária e a contribuir para o bem da humanidade.

O Mestre

No entanto, o aprendiz e o companheiro não têm acesso ao oriente, que é iluminado pelo sol, a maior fonte de luz. Isso representa a limitação do conhecimento que eles ainda não alcançaram, indicando que há sempre mais a ser aprendido e compreendido. Somente após passar por um período de estudo e preparação, o maçom é exaltado ao grau de mestre.

Como mestre, o maçom tem acesso ao oriente e recebe toda a luz divina. Isso simboliza a conquista do conhecimento completo e a compreensão mais profunda dos mistérios da vida e do universo. O mestre é aquele que alcançou um nível elevado de sabedoria e compreensão, e está pronto para orientar e inspirar outros em sua própria jornada de aprendizado e iluminação.

Consequência

Ao fazer um paralelo entre a luz na jornada maçônica e o conhecimento na jornada intelectual e espiritual do indivíduo, podemos entender que assim como o aprendiz maçônico progride gradualmente da escuridão para a luz, também o buscador do conhecimento progride gradualmente da ignorância para a compreensão. A jornada pelo conhecimento requer paciência, dedicação e uma mente aberta para assimilar novas ideias e perspectivas, assim como o aprendiz maçônico requer disciplina e comprometimento para progredir em sua jornada. Ao abraçar essa jornada, podemos nos tornar não apenas mestres do conhecimento, mas também mestres de nós mesmos, capacitados para fazer uma diferença positiva no mundo ao nosso redor.



PRESSAGIOS SUTIS - Roberto Ribeiro Reis


Alérgicos à lógica mais basilar, os homens têm se enveredado por caminhos cada vez mais obscuros e permeados de profunda ignorância. Tocados como se fossem  uma manada desgovernada, não enxergam um novo horizonte, senão aquele que lhes proporciona o farto pasto das inverdades e das perdições profanas.

Seus líderes, via de regra, são argutos doutrinadores, cujo discurso ardiloso e persuasivo chega a lhes promover uma verdadeira e magistral lavagem cerebral. Tudo para além do que eles afirmam é balela ou desinformação promovida por forças malignas dum Anjo Decaído.

Meus amados Irmãos, como é bom ser guiado pela liturgia libertadora de nossa Sublime Ordem; desafetada de qualquer dogma religioso, mas respeitadora de todas as crenças, a Maçonaria é a Seara Real que livra o homem de suas prisões: a do mundo profano, que lhe vende tolices e sandices, e a de seu mundo interior, na medida em que lhe possibilita fazer a viagem íntima, onde ele será defrontado com seus medos, dúvidas, angústias e aflições.

A par dessa imersão profunda pelos labirintos do próprio “eu”, o Maçom consegue dominar sua paixões e vencer a si mesmo, diariamente, uma vez que é tomada de uma fome concupiscente pelo saber e conhecimento. Aquelas ambições desmesuradas que antes o diluviavam, afogando-o num mar de profundo desespero e medo, já não mais atordoam, pois ele é auxiliado por verdadeiros Irmãos, que vivem, moderadamente, sob os auspícios do Supremo Arquiteto Universal.

Os Maçons que seguem sua vida –ritualística e esotericamente- são tomados por presságios sutis, que lhes permitem uma preparação mental e espiritual para as batalhas e guerras diárias para as quais são convocados. Suas armas são um simples avental e um exemplar do Livro da Lei Sagrada, donde conseguem fazer a mais precisa exegese dos textos que lhes nortearão o modus vivendi.

O que mais tem deixado os profanos curiosamente atônitos, perplexos e ávidos por descobrir nossos Augustos Mistérios é o fato de eles terem conhecimento de que nos grandes feitos e revoluções da humanidade SEMPRE houve a maciça participação da Maçonaria e de seus asseclas.

O Maçom é um incansável Obreiro, grávido de luz e de encantamento pelo Criador de Todas as Coisas, pelo qual ele rende exclusivo culto, respeito e adoração. As imagens e idolatria do mundo profano jamais lhe interessarão, vez que totalmente divorciadas do verdadeiro personagem Sagrado e Inefável.

Assim, continuemos nosso processo de redescoberta interior. Não desanimemos ante as aflições pelas quais passamos, pois elas são efêmeras e nos capacitam para maiores desafios, que somente provarão o quanto fortes somos, e que o Pai Celestial estará conosco, auxiliando-nos nesse combate, e mostrando-nos que também podemos vencer as maldades do mundo.

maio 01, 2024

VISITA A EXCELSA LOJA DE PERFEIÇÃO QUINTINO BOCAIUVA


Qualquer instituição centenária merece o maior respeito, porém quando se trata de uma Loja Maçônica com 101 anos, com importante contribuição para a historia de São Paulo e do Brasil, este respeito é maior ainda. É o caso da ARBLS Quintino Bocaiuva 10, uma das mais notáveis Lojas brasileiras.

Eu fiz uma palestra virtual nesta Loja na época da pandemia e desde então estava devendo uma visita presencial. Liguei para o irmão Paulo César, VM da época de minha palestra que me contou que nas últimas terças-feiras do mês, a Loja cede o templo para a Loja de Perfeição do mesmo nome, mas que a maioria dos irmãos são os mesmos.

Ao chegar à Loja, a primeira e agradável surpresa foi encontrar ao vivo o irmão Domingos Theodoro, com o qual compartilhei um sem número de sessões virtuais, conhecendo-o apenas pelo quadradinho dos aplicativos. O irmão Domingos me levou para um "tour" pelo imenso edifício da Loja, extremamente organizado, uma das maiores e mais bem estruturadas Lojas que já conheci.

O irmão Marcos Sarge Figueiredo, Venerável Mestre da Loja Simbólica e o irmão Marcos César Rodovalho, Past Master, foram muito agradáveis na recepção, mas quem daria o tom da sessão dos graus filosóficos foi o TVPM Roberto Krahenbuhl Zuardi. Todos jovens, dando a certeza da continuação da Ordem para o próximo século.

A sessão foi belíssima, com comunicação e instrução dos graus 7 e 12 e quatro trabalhos, de altíssima qualidade, dando a certeza de que a Loja está cumprindo bem a sua finalidade de transformar homens bons em homens ainda melhores.

Mas o toque mais simpático da noite foi quando o irmão Domingos me confidenciou que a sua esposa, nossa cunhada, Patrícia Flygare Rozo, que havia assistido a minha palestra virtual há mais de dois anos, continuava cobrando do marido: - "lembra que o palestrante disse que tem de repetir todos os dias eu te amo. Pois é, eu te amo". Encheu o meu coração de alegria, essa é a razão do meu trabalho.


TERRA DAS PALMEIRAS - Silvana Sarti

 

Terra das palmeiras, Pindorama, (ou mais precisamente "lugar das palmeiras") nome de origem tupi, pelo qual se denominava o que hoje chamamos de Brasil. Designação já citada por Osvald de Andrade em seu Manifesto Antropofágico de 1928, texto modernista, nada mais contemporâneo que beber na fonte da ancestralidade.

Em 1500 estima-se que existiam mais de 1200 línguas e dialetos indígenas por aqui (ver Aryon Rodrigues). Por outro lado, de acordo com o Censo 2010, contamos hoje com 274 línguas e dialetos nativos. Que perda incomensurável, pois com a língua se perde a cosmovisão de um povo, seu imaginário, toda sua cultura, seu raro e importante conhecimento de ervas, que poderiam nos dar tintura para tecidos, tintas para nossas pinturas, remédios para curar doenças, fibras para roupas e construção civil. A chegada de Ayrton Krenak na Academia de Letras confere uma nova era para os estudos de nossa brasilidade.

Os povos da floresta são responsáveis pela manutenção dela e esta para a manutenção da vida. Um pequeno exemplo é a origem do cupuaçu, fruto icônico da Floresta Amazônica, foi desvendada por pesquisadores do Instituto de Biociências (IB) da USP. Contrariando a crença popular de que o cupuaçu era uma espécie nativa, os cientistas revelaram que, na verdade, o fruto é uma variante domesticada do cupuí, uma planta da família do cacau. Essa descoberta, publicada na revista Communications Earth & Environment, indica que os indígenas da região do médio-alto Rio Negro desempenharam um papel crucial na domesticação do cupuaçu há mais de 5 mil anos.

Gostaria também de ressaltar sobre os grafismos indígenas e a cestaria, que não são meros enfeites ou decoração, eles representam narrativas, informações preciosas sobre o modo de vida e de relacionar-se com a Terra. Seus ritos, cantos e danças servem para manter a conexão e o equilíbrio entre mundos, tecer a saúde física e mental do grupo, conectando-se com o sagrado. 

O manto tupinambá, que até pouco tempo se encontrava num museu na Dinamarca e que devido ao quase extermínio desse povo (dessa etnia) não era mais produzido entre seus poucos representantes, esse conhecimento quase se perdeu. Gliceria Tupinambá, foi convidada a visitar o belíssimo manto feito de plumas de guará femea, ao vê-lo teve um chamado da ancestralidade e ajudada por ela, pouco a pouco foi recuperando os modos de tecer com as plumas, recuperando esse antigo conhecimento e hoje está expondo, junto a outros artistas indígenas, na histórica 60a edição da Bienal de Veneza, um dos mais importantes eventos de arte do mundo, que este ano tem um curador brasileiro, Adriano Pedrosa. 

Aos poucos vamos construindo uma identidade genuinamente brasileira, resultado do encontro dos nativos com tantos outros povos que aqui aportaram e viveram suas vidas e vamos nos afastando do complexo de vira-lata que quiseram nos impor, fazendo-nos acreditar que não tínhamos cultura e precisávamos aceitar um cultura dita "superior" violentamente  imposta.

Com o rigor da ciência e com a ética da floresta, vamos delineando um mundo mais justo, inclusivo e amoroso.

Fontes:

https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Aryon_Rodrigues

https://revistaamazonia.com.br/domesticacao-do-cupuacu-pelos-indigenas-ha-5-mil-anos-originou-o-fruto-amazonico/#:~:text=A%20origem%20do%20cupua%C3%A7u%2C%20fruto,planta%20da%20fam%C3%ADlia%20do%20cacau.

https://piaui.folha.uol.com.br/volta-do-manto-tupinamba/

https://vogue.globo.com/cultura/noticia/2024/04/gliceria-tupinamba-representa-o-brasil-nesta-edicao-da-bienal-de-veneza.ghtml

https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2024/04/20/bienal-de-veneza-pela-1a-vez-evento-tem-brasileiro-como-curador-e-destaque-para-arte-indigena.ghtml

https://amlatina.contemporaryand.com/pt/editorial/what-do-abya-yala-and-pindorama-mean/

1.° DE MAIO - DIA DO TRABALHO - Daniela Diana


 O Dia do Trabalho, ou Dia do Trabalhador, é celebrado em vários países do mundo em 1.° de maio, dia que é feriado no Brasil e em mais cerca de 80 países.

Esta data comemorativa é dedicada à conquista de todos os trabalhadores durante a história. Por isso, apesar de seu nome completo ser Dia mundial do trabalho, muitas pessoas preferem usar Dia do trabalhador, porque esta é uma forma de homenagear os trabalhadores.

O dia do trabalhador surgiu decorrente da greve operária que ocorreu em Chicago, nos Estados Unidos, em 1.º de maio de 1886. Esse episódio teve como mote a luta pela melhoria das condições de trabalho:

  • a redução de jornada (de 13 horas para 8 horas)
  • o aumento de salários
  • o descanso semanal e as férias

Organizados pela Federação Americana do Trabalho, esse evento contou com a participação de milhares de operários que se reuniram nas ruas da cidade.

Denominada de Revolta de Haymarket (Haymarket Affair), em 4 de maio de 1886, durante o confronto com a polícia, uma bomba explodiu, resultando em mortos e inúmeros feridos.

Diante disso, em 1889, na França, foi instituído o Dia do Trabalho em homenagem às pessoas que perderam a vida lutando pelos seus direitos, que ficaram conhecidas como os “Mártires de Maio”.

Nos Estados Unidos da América, país onde se desencadeou o movimento pelas lutas dos direitos laborais - o Dia do Trabalho (Labor Day) é celebrado na primeira segunda-feira de setembro.

Isso revela a tentativa de não marcar a data com a lembrança triste deixada pelas pessoas que morreram em maio de 1886 em Chicago. No entanto, outros afirmam que o motivo foi afastar a associação da celebração com o movimento da esquerda, que propulsionou as lutas sindicais.

No Brasil, o Dia do Trabalho foi instituído no governo de Artur Bernardes em 1925. 

Antes disso, em 1917, ocorreu em São Paulo uma greve geral.

Os operários e comerciantes da cidade permaneceram em greve durante dias, por conta das condições precárias de trabalho. Dentre o que eles reivindicavam, estava:

  • o aumento de salário;
  • a redução da jornada de trabalho;
  • a proibição do trabalho infantil;
  • a proibição do trabalho feminino à noite.

Durante os meses de junho e julho de 1917 outros trabalhadores se juntaram ao movimento. Como resultado, as condições melhoraram e parte das reivindicações foram atendidas. Assim, os trabalhadores conquistaram, dentre outras coisas, o aumento de 20% de salário.

VIRTUDES E VÍCIOS - Wagner Veneziani

 


“Vencer minhas paixões levantando Templos à Virtude e cavando masmorras ao vício, eis o que viemos aqui fazer”.

“Do Caos à Ordem; Da Obscuridade à Luz.”

Seria tarefa simples falar de virtude e vício em sentido literal, bastaria para isso dar o sentido filológico; mas falar de virtude e vício em sentido filosófico e maçônico já se torna uma tarefa nada fácil.

A Maçonaria não é uma religião, nem um partido, nem uma igreja; todavia ela põe no caminho, ela desperta. 

Não oferece a nós, membros, uma verdade definitiva, imutável, dogmática, fazendo representar o livre exercício da tolerância. 

Assim, aprendemos a nos interrogar, recolocarmo-nos em questão. 

Graças a esse fator de progresso descobrimos não só o caminho do conhecimento, mas também da ordem que deve reinar, tanto no domínio material como espiritual, facilitando assim, com que o homem desenvolva suas virtudes. 

E é por meio dos processos (rituais; contatos humanos, conhecimento, disciplina, etc.) que o homem adquire sua real personalidade.

A virtude é uma passagem da paixão para ação e meditação, uma externa e a outra interna, onde o homem se revela a si mesmo, ultrapassando seus próprios limites, seu eu.

O ser interno, nossos sentimentos, atos e pensamentos. 

Capacidade ou potência própria do homem de desenvolver suas qualidades naturais. 

Entendo que virtude é uma característica de valoração positiva do indivíduo, uma disposição geral e constante da prática do bem, isto não quer dizer que um homem de virtudes seja altruísta ou filantropo, embora tenha uma tendência de o ser.

Um homem de virtudes tem o hábito de cumprir as leis e obedecer aos costumes da sociedade em que vive; ser socialmente correto, honesto, justo, paciente, sincero, compreensivo, generoso, prudente, possuir coragem e perseverança.

Portanto, Maçonaria para mim é uma escola, pois permite-nos controlar nossas paixões, fazendo com que tenhamos o domínio do nosso “EU” e respeitemos o próximo.

Toda virtude tem seu mérito próprio, porque todas indicam progresso na senda do bem. 

Mas não basta falarmos, temos que experimentá-la. 

Os mais variados tipos de virtude têm que ser experimentados, vividos… compreendidos, pelo menos intelectualmente. 

Assim como Spinoza, “não creio haver utilidade em denunciar os vícios, o mal. 

Para que acusar? 

Isso é a moral dos tristes e uma triste moral.” 

A primeira e fundamental parte da virtude é a verdade, como dizia Montaigne, “A verdade condiciona todas as outras e não é condicionada, em seu princípio, por nenhuma.

A virtude não precisa ser generosa, suscetível de amor ou justa para ser verdadeira, nem para valer, nem para ser devida, ao passo que amor, generosidade ou justiça só são virtudes se antes de tudo forem verdadeiras. 

Aqui surge uma outra virtude, a boa-fé, que como fato é a conformidade dos atos e palavras com a vida interior, ou desta consigo mesma.

É o respeito à verdade. Virtude sem boa-fé é má-fé não é virtude. 

A boa-fé como todas as virtudes é o contrário do narcisismo, do egoísmo cego, da submissão de si a si mesmo.

Não devemos confundir dever com virtude. 

O dever é uma coerção, a virtude, uma liberdade, ambas necessárias. 

O que fazemos por amor, não fazemos por coerção nem, portanto, por dever.

Quando o amor e o desejo existem, para que o dever? 

Não amamos o que queremos, mas o que desejamos. 

O amor não se comanda e não poderia, em consequência, ser um dever.

Nietzsche dizia: “O que fazemos por amor sempre se consuma além do bem e do mal”.

A virtude não é um bem, mas é a força para ser e agir na prática do bem.




abril 30, 2024

450.000 ACESSOS A ESTE BLOG


Ao apagar das luzes deste mês de abril, este modesto blog ultrapassa as 450.000 visualizações, com a média de 16.000 acessos mensais, para um publico específico e limitado, o que o transforma com certeza em um dos blogs mais vistos do país.

Sei que muitas Lojas tem usado como material de trabalho as nossas postagens, de autoria de alguns dos mais importantes intelectuais brasileiros e de irmãos anônimos, cujo talento e cultura nos permite este reconhecimento.

Recebo em torno de 50 mensagens por dia, e só posso escolher duas, no máximo três. Mais do que isso a leitura ficaria cansativa, de forma que artigos tão bons quanto os publicados ficam na prateleira, em compasso de espera. 

Apesar do trabalho que dá, e que não é pouco, fico feliz por contribuir com a divulgação da cultura brasileira, e se ainda não deu para tornar feliz a humanidade, eu me esforço para tornar felizes os irmãos leitores.

Caloroso TFA

VISITA A ARLS FRATERNIDADE OSASQUENSE 823 - OSASCO



A convite do irmão e amigo Nivaldo Zorzan visitei ontem, 29/04, a ARLS Fraternidade Osasquense n. 823, em Osasco, uma das maiores e mais ricas cidades do Estado de São Paulo.

Foi uma sessão de iniciação, conduzida de maneira leve e precisa pelo Venerável Mestre Robnelio da Silva Lima, com a presença de visitantes de diversas Lojas da região e do Delegado do Grão Meste do 1o Distrito da 22a região da Glesp, irmão Alessandro Zahotei, que entrou também no clima de simpatia que prevaleceu em uma cerimônia solene, porque o novo candidato, depois aprendiz, estava entrando em uma Loja onde seu pai, o orador da noite, e seu irmão carnal, que também ocupou cargo, já participavam.

Notável foi a integração dos irmãos, tanto no Templo, quanto no churrasco que se seguiu. Eles não se sentavam, ficavam todos em pé, circulando entre os diversos grupos que se formavam e criando um clima de simpatia e bom humor. 

A MEMÓRIA - Adélia Prado


A memória é contrária ao tempo. Enquanto o tempo leva a vida embora como vento, a memória traz de volta o que realmente importa, eternizando momentos.

Crianças têm o tempo a seu favor e a memória ainda é muito recente. Para elas, um filme é só um filme; uma melodia, só uma melodia. Ignoram o quanto a infância é impregnada de eternidade.

Diante do tempo, envelhecemos, nossos filhos crescem, muita gente parte. Porém, para a memória, ainda somos jovens, atletas, amantes insaciáveis.

Nossos filhos são crianças, nossos amigos estão perto, nossos pais ainda vivem.

Quanto mais vivemos, mais eternidades criamos dentro da gente. Quando nos damos conta, nossos baús secretos – porque a memória é dada a segredos – estão recheados daquilo que amamos, do que deixou saudade, do que doeu além da conta, do que permaneceu além do tempo.

A capacidade de se emocionar vem daí, quando nossos compartimentos são escancarados de alguma maneira.

Um dia você liga o rádio do carro e toca uma música qualquer, ninguém nota, mas aquela música já fez parte de você – foi o fundo musical de um amor, ou a trilha sonora de uma fossa – e mesmo que tenham se passado anos, sua memória afetiva não obedece a calendários, não caminha com as estações; alguma parte de você volta no tempo e lembra aquela pessoa, aquele momento, aquela época.

Amigos verdadeiros têm a capacidade de se eternizar dentro da gente. É comum ver amigos da juventude se reencontrando depois de anos – já adultos ou até idosos – e voltando a se comportar como adolescentes bobos e imaturos.

Descobrimos que o tempo não passa para a memória. Ela eterniza amigos, brincadeiras, apelidos.

Mesmo que por fora restem cabelos brancos, artroses e rugas.

A memória não permite que sejamos adultos perto de nossos pais. Nem eles percebem que crescemos. Seremos sempre as crianças, não importa se já temos 30, 40 ou 50 anos.

Pra eles, a lembrança da casa cheia, das brigas entre irmãos, das estórias contadas ao cair da noite ... Ainda são muito recentes, pois a memória amou, e aquilo se eternizou.

Por isso é tão difícil despedir-se de um amor ou alguém especial que por algum motivo deixou de fazer parte de nossas vidas.

Dizem que o tempo cura tudo, mas não é simples assim. Ele acalma os sentidos, apara as arestas, coloca um band-aid na dor.

Mas aquilo que amamos tem vocação para emergir das profundezas, romper os cadeados e assombrar de vez em quando.

Somos a soma de nossos afetos, e aquilo que amamos pode ser facilmente reativado por novos gatilhos: somos traídos pelo enredo de um filme, uma música antiga, um lugar especial.

Do mesmo modo, somos memórias vivas na vida de nossos filhos, cônjuges, ex-amores, amigos, irmãos.

E mesmo que o tempo nos leve daqui, seremos eternamente lembrados por aqueles que um dia nos amaram.


Adélia Prado em Aroma de Poesia

A LUZ COM TRES GOLPES DE MALHETE - Bruno Oliveira


O seu nome era Dias, e nem o sabia, mas pertence àquela categoria nominada de Maçons sem avental.  Doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Urbaniana, Cidade do Vaticano.

O primeiro golpe foi dado em uma de suas aulas onde o tema era o Livre-Arbítrio de Santo Agostinho, é interessante notarmos que a grande maioria de nós utiliza o conceito de Livre – Arbítrio como o poder de tomar decisões ou com a ousadia de fazer o que lhe convir.

Afinal somos livres para isso não? Livres e de bons costumes, um de nossos pré-requisitos. Mas fomos além, ao deparar-me bebendo direto da fonte que o livre-arbítrio na verdade é a prática de boas ações que nos deixam mais próximos ao GADU. Explico, se cedermos as nossas vontades, que vem de nossos instintos, automaticamente saímos do ciclo virtuoso das boas ações e rumamos ao ciclo vicioso, a vontade todos temos, a questão é ter a “intenção de” o querer... Podemos ter vontade de tudo, é natural, porém devemos querer as boas ações, as virtudes, sempre que fomos fracos no combate aos nossos vícios e paixões perderemos o livre-arbítrio. Aquilo havia me deixado reflexivo durante semanas.

O Segundo Golpe, ao contrário do primeiro que fez as marcações necessárias em minha pedra bruta, realmente tirou com a força necessária as lascas como um antigo pedreiro operativo fazia nos canteiros de obras em tempos mais antigos, de uma conotação mais espiritual, senti que aquela aula, laica como deve ser o ensino, mas carregada de uma profunda espiritualidade que a todos envolveu. Refletimos sobre o GADU e como é a RELIGIÃO que ao menos na tese deveria nos RE – Ligar com nosso criador, a realidade constatamos em diversos prismas é realmente diferente, o frio cortante do cinzel nos atingiu quando fomos levados a refletir sobre o quão seria ilógico rogarmos pedindo algo a um Ser Onisciente, que seria o mesmo que mandar uma mensagem não estaria cumprindo sua função cabida. E se e quando entendermos realmente a magnitude e profundidade do SER, do nosso existir, da quão sagrada e ao mesmo tempo efêmera é a vida, não teremos coragem de pedir mais nada. Vejam que para quem tem uma formação Católica Romana isso abala as estruturas de crenças e culturas, não que o era fortemente, mas havia resquícios. Meu espanto foi que ao buscar na memória de minhas leituras no Livro da Lei, constatei que as mais belas e poderosas orações eram Louvando ou Agradecendo ao GADU, dificilmente alguma Oração Pedindo para si.

Impactado questionei aquele Mestre sobre a inconsistência dessa reflexão como não poderia um pai pedir a Força Criadora do Universo que não salve o seu filho de uma grave enfermidade? No qual ele me respondeu com a atitude de erguer uma cadeira no ar e soltando-a deixando cair, com olhos perplexos em sua direção, ele nos perguntou se a cadeira caiu e disse que ao cair nada mais fez que sua função enquanto cadeira no ar, cair.

Uma analogia para que se cumprimos nossa função enquanto SER, uma cadeira é uma cadeira nem o deseja deixar de ser, logo cumprira sua função enquanto a for. O homem morrer é um BEM, pois todo ser vivo é natural que um dia morra. Se algo não segue a lei natural isso estaria errado, logo um MAL.

Dizem que uma aula boa é aquela que mexe com o espirito do aprendiz, essa com certeza o fez, e terminou dizendo que era apenas um ponto de vista e que antes de concordarmos ou não, termos fé ou não, usássemos a consciência da existência e poderes do GADU e que sempre que algo que julgássemos ruim ou bom nos acontecesse Louvássemos e Agradecêssemos ao Senhor, feito isso um canal seria restabelecido, fica aqui minha deixa para cada um fazer a sua experiência nisso, a minha se foi positiva ou não já é respondia por essa prancha.

O Terceiro Golpe deu beleza, com o espírito mais calmo, as reflexões foram em torno de São Tomás de Aquino, que dizia que antes de crermos temos que compreender ao contrário de Agostinho, material para vários trabalhos. A questão era O Bem e o Mal, a elucidação de que o Bem é o processo de sermos o que somos nem o desejarmos deixar de ser obtido pelas práticas de boas ações que nos aproximam do GADU, porém incomodado novamente questionei como pode alguém ser feliz com a partida de alguém que ama.

Abriu-se uma nova abstração, o que é Felicidade? Contrário de Infelicidade. Alegria? Contrário de Triste. Foram refletidos diversos relatos de pessoas Alegres, mas infelizes como o caso de suicídio do ator Robin Willians que contagiava a todos com sua alegria, mas era infeliz pois realizou seu desejo de deixar de ser quem o era, tirando a própria vida.

Um ente querido ao partir para o oriente eterno pode deixar os familiares tristes, mas felizes, pois, a tristeza pela falta de um ente querido, mas a felicidade como resultado da compreensão que o Bem foi feito e cumprido em seu sentido natural. Profundo e complexo, mas nem por isso uma inverdade.

Bem e mal são representados por alegorias na descrição onde Adão e Eva consome o fruto da arvore da Compreensão, da sabedoria, onde se deu o pecado original que não é a sabedoria em si, mas o pecado original do homem começa quando o homem começou a determinar o que é “Bem” e “Mal” segundo a sua perspectiva, daí resulta o sofrimento e angústia pois como coloca Kant o homem não é capaz de determinar um fato imparcialmente, com neutralidade sem essa estar embebida em sua própria realidade. O Bem está ligado ao GADU tudo que for fora e contrário a ele não foi criado por este, mas sim é a ausência como o frio é a ausência do calor.

Como eterno aprendizes que somos, acredito que não lapidei a minha pedra, mas umas de minhas pedras, e que podemos tirar lições de uma simples aula a mais complexas reflexões, que possamos nos aperfeiçoar cada vez mais na construção de nosso templo interior e que acima de tudo utilizemos a vida como nosso canteiro de obra.


“All in all you were all just bricks in the wall” (Pink Floyd)


Ir. Bruno Oliveira


abril 29, 2024

UM VESTIDO NOVO PARA UM ÓDIO ANTIGO - Pilar Rahola


O rotulo e o slogan prevalecem em relação a visão critica, a intolerancia e o preconceito demarcam um relativismo aetico de uma ex-querda que perdeu a capacidade de sonhar e a utopia foi reduzida a frangalhos

Segunda-feira à noite, em Barcelona. No restaurante, uma centena de advogados e juizes. Eles se encontraram para ouvir minhas opiniões sobre o conflito do Oriente Médio. Eles sabem que eu sou um barco heterodoxo, no naufrágio do pensamento único, que reina em meu país, sobre Israel. Eles querem me escutar. Alguém razoável como eu, dizem, por que se arrisca a perder a credibilidade, defendendo os maus, os culpados? Eu lhes falo que a verdade é um espelho quebrado, e que todos nós temos algum fragmento. E eu provoco sua reação: "todos vocês se sentem especialistas em política internacional, quando se fala de Israel, mas na realidade não sabem nada. Será que se atreveriam a falar do conflito de Ruanda, da Caxemira, da Chechenia?".

Não. São juristas, sua área de atuação não é a geopolítica. Mas com Israel se atrevem a dar opiniões. Todo mundo se atreve. Por quê? Porque Israel está sob a lupa midiática permanente e sua imagem distorcida contamina os cérebros do mundo. E, porque faz parte da coisa politicamente correta, porque parece solidariedade humana, porque é grátis falar contra Israel. E, deste modo, pessoas cultas, quando lêem sobre Israel estão dispostas a acreditar que os judeus têm seis braços, como na Idade Média, elas acreditavam em todo tipo de barbaridades. Sobre os judeus do passado e os israelenses de hoje, vale tudo.

A primeira pergunta é, portanto, por que tanta gente inteligente, quando fala sobre Israel, se torna idiota. O problema que temos, nós que não demonizamos Israel, é que não existe debate sobre o conflito, existe rótulo; não se troca ideias, adere-se a slogans; não desfrutamos de informações sérias, nós sofremos de jornalismo tipo hambúrguer, fast food, cheio de preconceitos, propaganda e simplismo.

O pensamento intelectual e o jornalismo internacional renunciaram a Israel. Não existem. É por isso que, quando se tenta ir mais além do pensamento único, passa-se a ser o suspeito, o não solidário e o reacionário, e o imediatamente segregado. Por quê? Eu tento responder a esta pergunta há anos: por quê? Por que de todos os conflitos do mundo, só este interessa? Por que se criminaliza um pequeno país, que luta por sua sobrevivência? Por que triunfa a mentira e a manipulação informativa, com tanta facilidade? Por que tudo é reduzido a uma simples massa de imperialistas assassinos? Por que as razões de Israel nunca existem? Por que as culpas palestinas nunca existem? Por que Arafat é um herói e Sharon um monstro? Em definitivo, por que, sendo o único país do mundo ameaçado com a destruição é o único que ninguém considera como vítima?

Eu não acredito que exista uma única resposta a estas perguntas. Da mesma forma que é impossível explicar a maldade histórica do antissemitismo completamente, também não é possível explicar a imbecilidade atual do preconceito anti-Israel. Ambos bebem das fontes da intolerância, da mentira e do preconceito. Se, além disso, nós aceitarmos que ser anti-Israel é a nova forma de ser antissemita, concluímos que mudaram as circunstâncias, mas se mantiveram intactos os mitos mais profundos, tanto do antissemitismo cristão medieval, como do antissemitismo político moderno. E esses mitos desembocam no que se fala sobre Israel. Por exemplo, o judeu medieval que matava as crianças cristãs para beber seu sangue, se conecta diretamente com o judeu israelense que mata as crianças palestinas para ficar com suas terras. Sempre são crianças inocentes e judeus de intenções obscuras.

Por exemplo, a ideia de que os banqueiros judeus queriam dominar o mundo através dos bancos europeus, de acordo com o mito dos Protocolos (dos Sábios de Sião), conecta-se diretamente com a ideia de que os judeus de Wall Street dominam o mundo através da Casa Branca. O domínio da imprensa, o domínio das finanças, a conspiração universal, tudo aquilo que se configurou no ódio histórico aos judeus, desemboca hoje no ódio aos israelenses. No subconsciente, portanto, fala o DNA antissemita ocidental, que cria um eficaz caldo de cultura. Mas, o que fala o consciente? Por que hoje surge com tanta virulência uma intolerância renovada, agora centrada, não no povo judeu, mas no estado judeu? Do meu ponto de vista, há motivos históricos e geopolíticos, entre eles o sangrento papel soviético durante décadas, os interesses árabes, o antiamericanismo europeu, a dependência energética do Ocidente e o crescente fenômeno islâmico.

Mas também surge de um conjunto de derrotas que nós sofremos como sociedades livres e que desemboca em um forte relativismo ético. Derrota moral da esquerda. Durante décadas, a esquerda ergueu a bandeira da liberdade, onde houvesse injustiça, e foi a depositária das esperanças utópicas da sociedade. Foi a grande construtora do futuro. Apesar da maldade assassina do stalinismo ter afundado essas utopias e ter deixado a esquerda como o rei que estava nu, despojado de trajes, ela conservou intacta sua auréola de lutadora, e ainda dita as regras do que é bom e ruim no mundo. Até mesmo aqueles que nunca votariam em posições de esquerda, concedem um grande prestígio aos intelectuais de esquerda, e permitem que sejam eles os que monopolizam o conceito de solidariedade. Como fizeram sempre. Deste modo, os que lutavam contra Pinochet, eram os lutadores pela liberdade, mas as vítimas de Castro são expulsas do paraíso dos heróis e transformadas em agentes da CIA, ou em fascistas disfarçados.

Da mesma forma que é impossível explicar a maldade histórica do antissemitismo completamente, também não é possível explicar a imbecilidade atual do preconceito anti-Israel. Ambos bebem das fontes da intolerância, da mentira e do preconceito.

Eu me lembro, perfeitamente, como, quando era jovem, na Universidade combativa da Espanha de Franco, ler Solzhenitsyn era um horror! E deste modo, o homem que começou a gritar contra o buraco negro do Gulag stalinista, não pôde ser lido pelos lutadores antifranquistas, porque não existiam as ditaduras de esquerda, nem as vítimas que as combatiam.

Essa traição histórica da liberdade se reproduz no momento atual, com precisão matemática. Também hoje, como ontem, essa esquerda perdoa ideologias totalitárias, se apaixona por ditadores e, em sua ofensiva contra Israel, ignora a destruição de direitos fundamentais. Odeia os rabinos, mas se apaixona pelos imãs; grita contra o Tzahal (Exército israelense), mas aplaude os terroristas do Hamas; chora pelas vítimas palestinas, mas rejeita as vítimas judias; e, quando se comove pelas crianças palestinas, só o faz se puder acusar os israelenses. Nunca denunciará a cultura do ódio, ou sua preparação para a morte, ou a escravidão que suas mães sofrem. E enquanto iça a bandeira da Palestina, queima a bandeira de Israel.

Um ano atrás, eu fiz as seguintes perguntas no Congresso do AIPAC (Comitê de Assuntos Públicos EUA-Israel) em Washington: "Que profundas patologias alijam a esquerda de seu compromisso moral? Por que nós não vemos manifestações em Paris, ou em Barcelona, contra as ditaduras islâmicas? Por que não há manifestações contra a escravidão de milhões de mulheres muçulmanas? Por que eles não se manifestam contra o uso de crianças-bomba, nos conflitos onde o Islã está envolvido? Por que a esquerda só está obcecada em lutar contra duas das democracias mais sólidas do planeta, e as que sofreram os ataques mais sangrentos, os Estados Unidos e Israel?”

Porque a esquerda, que sonhou utopias, parou de sonhar, quebrada no muro de Berlim do seu próprio fracasso. Já não tem ideias, e sim slogans. Já não defende direitos, mas preconceitos. E o preconceito maior de todos é o que tem contra Israel. Eu acuso, portanto, de forma clara: a principal responsabilidade pelo novo ódio antissemita, disfarçada de posições anti-Israel, provém desses que deveriam defender a liberdade, a solidariedade e o progresso. Longe disto, eles defendem os déspotas, esquecem suas vítimas e permanecem calados perante as ideologias medievais que querem destruir a civilização. A traição da esquerda é uma autêntica traição à modernidade.

Derrota do jornalismo. Temos um mundo mais informado do que nunca, mas nós não temos um mundo melhor informado. Pelo contrário, os caminhos da informação mundial nos conectam com qualquer ponto do planeta, mas eles não nos conectam nem com a verdade, nem com os fatos. Os jornalistas atuais não precisam de mapas, porque têm o Google Earth, eles não precisam saber história, porque têm a Wikipedia. Os jornalistas históricos que conheciam as raízes de um conflito, ainda existem, mas são espécies em extinção, devorados por este jornalismo tipo hambúrguer, que oferece fast food de notícias, para leitores que querem fast food de informação.

Israel é o lugar mais vigiado do mundo e, ainda assim, o lugar menos compreendido do mundo. Claro que, também influencia a pressão dos grandes lobbys dos petrodólares, cuja influência no jornalismo é sutil, mas profunda. Qualquer mídia sabe que se falar contra Israel não terá problemas. Mas, o que acontecerá se criticar um país islâmico? Sem dúvida, então, sua vida ficará complicada. Não nos confundamos. Parte da imprensa, que escreve contra Israel, se veria refletida na frase afiada de Goethe: "Ninguém é mais escravo do que aquele que se acha livre, sem sê-lo". Ou também em outra, mais cínica de Mark Twain: "Conheça primeiro os fatos e logo os distorça quanto quiser".

Derrota do pensamento crítico. A tudo isto, é necessário somar o relativismo ético, que define o momento atual, e que é baseado, não na negação dos valores da civilização, mas na sua banalização. O que é a modernidade?

Pessoalmente a explico com este pequeno relato: se eu me perdesse em uma ilha deserta, e quisesse voltar a fundar uma sociedade democrática, só necessitaria de três livros: as Tábuas da Lei, que estabeleceram o primeiro código de comportamento da modernidade. "O não matarás, não roubarás", fundou a civilização moderna. O código penal romano. E a Declaração dos Direitos Humanos. E com estes três textos, começaríamos novamente. Estes princípios que nos endossam como sociedade, são relativizados, até mesmo por aqueles que dizem defendê-los. "Não matarás", depende de quem seja o objeto, pensam aqueles que, por exemplo, em Barcelona, se manifestam aos gritos a favor do Hamas.

"Vivam os direitos humanos", depende de a quem se aplica, e por isso milhões de mulheres escravas não preocupam. "Não mentirás", depende se a informação for uma arma de guerra a favor de uma causa. A massa crítica social se afinou e, ao mesmo tempo, o dogmatismo ideológico engordou. Nesta dupla mudança de direção, os fortes valores da modernidade foram substituídos por um pensamento fraco, vulnerável à manipulação e ao maniqueísmo.

Derrota da ONU. E com ela, uma firme derrota dos organismos internacionais, que deveriam cuidar dos direitos humanos, e que se tornaram bonecos destroçados nas mãos de déspotas. A ONU só serve para que islamofascistas, como Ahmadinejad, ou demagogos perigosos, como Hugo Chávez, tenham um palco planetário de onde cuspir seu ódio. E, claro, para atacar Israel sistematicamente. A ONU, também, vive melhor contra Israel.

Finalmente, derrota do Islã. O Islã das luzes sofre hoje o ataque violento de um vírus totalitário, que tenta frear seu desenvolvimento ético. Este vírus usa o nome de D'us para perpetrar os horrores mais inimagináveis: apedrejar mulheres escravizá-las, usar grávidas e jovens com atraso mental como bombas humanas, educar para o ódio, e declarar guerra à liberdade. Não esqueçamos, por exemplo, que nos matam com celulares conectados, via satélite, com a Idade Média. Se o stalinismo destruiu a esquerda, e o nazismo destruiu a Europa, o fundamentalismo islâmico está destruindo o Islã. E também tem, como as outras ideologias totalitárias, um DNA antissemita. Talvez o antissemitismo islâmico seja o fenômeno intolerante mais sério da atualidade, e não em vão afeta mais de 1,3 bilhões de pessoas educadas, maciçamente, no ódio ao judeu.

Na encruzilhada destas derrotas, se encontra Israel. Órfão de uma esquerda razoável, órfão de um jornalismo sério e de uma ONU digna, e órfão de um Islã tolerante, o Estado de Israel sofre com o paradigma violento do século XXI: a falta de compromisso sólido com os valores da liberdade. Nada é estranho. A cultura judaica encarna, como nenhuma outra, a metáfora de um conceito de civilização que hoje sofre ataques por todos os flancos. Vocês são o termômetro da saúde do mundo. Sempre que o mundo teve febre totalitária, vocês sofreram. Na Idade Média fascismo europeu, no fundamentalismo islâmico. Sempre, o primeiro inimigo do e confusão social, Israel encarna, na própria carne, o judeu de sempre.

Um pária de nação entre as nações, para um povo pária entre os povos. É por isso que o antissemitismo do século XXI foi vestido com o disfarce efetivo da crítica anti-Israel. Toda crítica contra Israel é antissemita? Não. Mas, todo o antissemitismo atual transformou-se no preconceito e na demonização contra o Estado Judeu. Um vestido novo para um ódio antigo.

Benjamim Franklin disse: "Onde mora a liberdade, lá é a minha pátria". E Albert Einstein acrescentou: "A vida é muito perigosa. Não pelas pessoas que fazem o mal, mas por aquelas que ficam sentadas vendo isso acontecer".

Este é o duplo compromisso aqui e hoje: nunca se sentar vendo o mal passar e defender sempre as pátrias da liberdade.


Pilar Rahola I. Martínez Nasceu em 21/10/1958 é jornalista e escritora catalã, com formação política e MP. Estudou Espanhol e Filosofia Catalã na Universidade de Barcelona. Possui vários livros e artigos publicados, palestrante internacional requisitada pela mídia e universidades, é colunista do La Vanguardia, na Espanha; La Nacion, na Argentina e do Diário da América, nos Estados Unidos. De 1987 a 1990 Rahola cobriu a Guerra na Etiópia, Guerra dos Balkans, Guerra do Golfo e a Queda do Muro de Berlim como diretora da publicação Pòrtic. Suas áreas de atuação incluem Direito das Mulheres, Direito Humano Internacional, e Defesa dos Animais. Nos últimos anos tem exposto seu ponto de vista sobre Israel e o Sionismo.


Entre diversos prêmios recebidos: Doutor Causa Honoris na Universidade de Artes e Ciência da Comunicação, em Santiago do Chile (2004), pela sua luta em favor dos direitos humanos; Prêmio Javer Shalom, pela comunidade judaica chilena pela sua luta contra o antisemitismo; Cicla Price (2005), pelo mesmo motivo; Membro de Honra da Universidade de Tel Aviv (2006); Golden Menora entregue pela Bnai Brith francesa (2006); Laureada com o priemio Scopus pela Universidade Hebraica de Jerusalém (2007); participou como convidada de honra em diversas ocasiões, entre elas no AIPAC de Conferência Política (2008); em 2009 recebeu prêmio da Federação das Comunidades Judias da Espanha, Senador Angel Pulido e Prêmio Mídia de Massa pelo Comitê Judaico Americano pela luta pelos Direitos Humanos; A Liga Anti Difamação lhe concedeu o prêmio Daniel Pearl “pela sua dedicação e comprometimento a um jornalismo honesto e responsável baseado em um código de ética e por falar honestamente ao público”; recebeu o prêmio Morris Abram entregue pela UN pela sua defesa aos Direitos Humanos, Genebra, 2011, entre outros.