MEMÓRIAS ESPARSAS DE SOROCABA - 14

 

Em Sorocaba tínhamos entre outros considerados ricos os irmãos Dero e o Miltinho Metidieri e o Flavinho Barbero desfilando nos carrões da época. A gente os qualificava de “play-boys” mas eram rapazes de bom caráter desfrutando o padrão de vida que o trabalho dos pais lhes proporcionou. Mas o carro mais chamativo de minha época, na minha opinião, era o Karmann Guia transformado em boate do Luiz José Troy, que não era rico nem nada mas tinha um danado de um bom gosto.

Os costumes eram diferentes nos anos de ouro que descrevo. Ser rico ou pobre não qualificava as pessoas como melhores ou piores. Cidadãos costumavam ser julgados pelo caráter e não pela conta bancária, muito menos pelos “likes” nas redes sociais, que sequer existiam. Quando fui cursar faculdade em Petrópolis, entrava na fila na agência da CTB para ligar para a família em Sorocaba de um sólido telefone de ebonite preto, enquanto aguardava sucessivos por avisos de “os circuitos estão ocupados, queira aguardar alguns momentos” e esses momentos algumas vezes se estendiam por horas. Claro que existiam, como sempre existiram delinquentes em cargos públicos, mas naquela época as fortunas costumavam ser construídas por muito trabalho ao longo de muito tempo.

E o que é notável é que os ricos de Sorocaba investiram na sua própria cidade, construíram empresas e montaram indústrias, aplicaram na construção civil e em outras atividades e transformaram a pacata cidade do interior nesta fulgurante potência econômica em que se tornou.

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