RITO ESCOCÊS DO BRASIL, A ORIGEM - Ailton Pinto de Trindade Branco




              O Rito Escocês do Brasil aparece pela primeira vez nos rituais dos três graus simbólicos criados em 1927 pelo Supremo Conselho do Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito da Maçonaria para a República Federativa do Brasil, presidido por Mário Behring, e transmitidos à Grande Loja do Rio de Janeiro através de tratado entre as duas Obediências. Foram colocados em execução em 1928 nas Grandes Lojas brasileiras fundadas após a separação entre Supremo Conselho e Grande Oriente do Brasil. Substituíram os rituais do REAA das Lojas Simbólicas do GOB.

              O Rito Escocês do Brasil foi uma invenção ritualística circunstancial. Não é o mesmo que Rito Escocês Antigo e Aceito, embora as Grandes Lojas brasileiras, por imposição do Supremo Conselho, empreguem indevidamente essa denominação para o seu ritual escocês. Indevidamente porque os procedimentos que constituem os primeiros rituais do REAA, a partir de 1804, na França, são diferentes do que se faz no Brasil. O REAA praticado no século 19 nos graus simbólicos das Lojas Capitulares do Grande Oriente do Brasil, portanto antes do surgimento das Grandes Lojas, é semelhante ao que consta nos primeiros rituais franceses e diferente do Rito Escocês do Brasil.

              Em 1927, as chamadas Lojas Capitulares do REAA abrangiam os graus 1 ao 18 e eram comandadas pelo Grande Oriente do Brasil. O Supremo Conselho jurisdicionava os graus 19 ao 33.    

              Na nova estrutura jurisdicional do REAA do começo dos anos 1900, decidida em convenção mundial dos Supremos Conselhos, as Lojas Capitulares desapareciam; os três primeiros graus ficavam sob responsabilidade de uma Obediência que pode ser uma Grande Loja ou Grande Oriente e os 30 graus restantes sob o comando de outra Obediência, o Supremo Conselho do Grau 33. Essa reformulação na divisão jurisdicional dos 33 graus do REAA não teve receptividade pacífica no Brasil. O Grande Oriente inicialmente aceitou, depois recuou e rejeitou o acordo. O conflito provocou desdobramentos político-administrativos, culminando com a ruptura das relações entre as Potências Maçônicas GOB e Supremo Conselho.

              O Supremo Conselho, tendo se separado do Grande Oriente do Brasil, precisou de novas Lojas Simbólicas para os três primeiros graus dos 33 do REAA. Por isso, criou as Grandes Lojas. Sobre os rituais a ser adotados, tudo levava a crer que seriam os mesmos, conhecidos do Supremo Conselho desde a época da convivência amistosa com o Grande Oriente. Bastava recomendar às Grandes Lojas por ele criadas os mesmos rituais para as suas Lojas Simbólicas.  

              Mas o Supremo Conselho não prestigiou a lógica operacional e nem a ética com os maçons do Rito. Elaborou um ritual novo que gerou um rito diferente nos três primeiros graus, constituído de procedimentos misturados do Rito Moderno, do Rito de Heredom, do Rito de York e de alguns graus superiores do próprio REAA. Deve ter tido suas razões para desprezar rituais consagrados. O Supremo Conselho como qualquer outra Potência Maçônica pode criar um rito novo. O que não deve fazer é criar um rito novo e dar a ele o nome de um rito antigo, tradicional, cujos rituais são conhecidos no mundo inteiro. O ritual criado pelo Supremo Conselho para os graus simbólicos das Grandes Lojas brasileiras é muito diferente do REAA original trazido para o Brasil pela primeira vez. Mesmo assim, premeditadamente, foi dado ao conjunto de novos cerimoniais o mesmo nome do rito Escocês Antigo e Aceito criado em 1801 nos Estados Unidos da América. O Supremo Conselho rasgou parte do seu passado ritualístico obrigando as Grandes Lojas a adotarem o nome do REAA embora seus rituais do simbolismo não contenham os procedimentos desse Rito. O Supremo Conselho nunca explicou porque agiu dessa forma. Presentemente, sabe-se que as pesquisas realizadas pela Oficina de Restauração do REAA sobre os rituais originais de 1804 e a comparação com os rituais designados pelo Supremo Conselho, desencadearam surpresa em todo o Brasil e alguns constrangimentos. Maçons tidos como conhecedores do REAA, palestrantes convictos e aplaudidos, passaram a ser questionados sobre afirmativas produzidas a respeito de procedimentos mostrados e interpretados como sendo do REAA e que agora se sabe que não são.

              Assim nasceu o Rito Escocês do Brasil, sistema ritualístico que apenas os maçons brasileiros conhecem.

              A obra da maçonaria celebra a repetição de si mesma e do seu próprio destino à luz dos sucessivos elementos que são adicionados a cada nova descoberta de acontecimentos históricos desenterrados do passado. Cada um desses fatos clareia a visão para interpretações sobre condutas da coletividade maçônica, as quais têm oscilado entre grandes feitos solidários com elevados humanitarismos e atitudes como alterar rituais apenas para alimentar disputas políticas internas. Embora recomendado nos trabalhos em Loja o respeito à inalterabilidade do desenvolvimento dos rituais em vigor, os caciques das diferentes administrações modificam os rituais de suas Obediências sem muito pudor. O exemplo na prática dos rituais brasileiros não recomenda a teoria dos princípios maçônicos.


Texto: Ailton Pinto de Trindade Branco - Presidente da Oficina de Restauração do REAA - Novembro/2014

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