OS EFEITOS PSICOLÓGICOS DA PRÁTICA DO RITUAL MAÇÔNICO - parte 2 - Raphael Guimarães


O Templo Maçônico do Rito Escocês e a Psique Humana

Os maçons são unânimes em dizer que o Templo Maçônico´ é simbólico, e como já vimos, o símbolo é muito mais do que mera ornamentação artística para representar algo (JUNG, 2012).

Importante registrar que o templo maçônico não é uma réplica do Templo de Salomão, se não apenas simbolicamente inspirado no Templo de Salomão, mas contendo muitas outras influências, de acordo com o Rito adotado (ISMAIL, 2012).

No caso do presente estudo, refere-se a um templo do Rito Escocês Antigo e Aceito. Portanto, toda a ornamentação e divisão do templo não é fruto do acaso, a começar pela Sala dos Passos Perdidos, mais adiante o Átrio, a Câmara ou Caverna de Reflexões, e finalmente o Templo em si.

Todos estes compartimentos são estágios há muito tempo utilizados para separar o sagrado do profano (VAN GUENNEP, 2011).

Nesse contexto, o ritual tem por objetivo a realização da passagem de um estado de consciência para outro, estados esses chamados maçonicamente de profano e sagrado, e em última análise, o templo com suas divisões simboliza o estado de consciência em que nos encontramos.

Desta forma, o templo em si representa um estado intransponível de pureza e santidade para seus membros.

As funções-cargos expressas no ritual e as disposições do templo são personificações simbólicas das leis psicológicas que atuam na psique (CAMPBELL, 2007; MAXENCE, 2010), conforme será demonstrado neste estudo.

Rituais ou simples gestos simbólicos identificam nossa consciência com o campo essencial de ação.

O soldado que retorna da guerra, ao passar pelo Arco do Triunfo, um rito de passagem, acaba deixando a guerra para trás.

Da mesma forma, ao passarmos pela sala dos passos perdidos e posteriormente pelo átrio, sabemos que estamos em um local consagrado para a prática do bem, o Templo Maçônico.

Assim, as salas que antecedem o templo, cumprem a função psicológica de devidamente introduzir o adepto em um local que, por meio de seus símbolos, colabora para o ingresso a um estado da consciência necessário para que o ritual cumpra seu dever cognitivo de forma efetiva (JUNG, 1978; VAN GUENNEP, 2011).

De acordo com a psicologia analítica de Carl G. Jung, a psique divide-se em três níveis: A consciência, o inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo (HALL & NORDBY, 2010).

Conforme se segue abaixo, tais divisões se conciliam em significados e funções com os cômodos de uma Loja Maçônica do Rito Escocês Antigo e Aceito, ou seja, sala dos passos perdidos, átrio e templo, sendo que na parte interior, teremos o ocidente e o oriente.

Nível 1 - Consciência: Sala dos Passos Perdidos. 

A consciência é a única parte da psique a qual conhecemos direta e objetivamente (HALL & NORDBY, 2010), e nela tudo ocorre geralmente de forma racional e lógica.

Da mesma forma, isso também ocorre antes de adentrarmos ao templo, pois é na sala dos passos perdidos que tudo ainda ocorre de forma desprovida de questões oníricas, sem sinais ou gestos simbólicos.

O significado psicológico de persona, para Jung, é aquela parte da personalidade desenvolvida e usada em nossas interações mundanas, ou profanas, no vocabulário maçônico.

É nossa face externa consciente, nossa máscara social, como veículo não de nossa real vontade, mas da nossa necessária aceitação (JUNG, 1978; HALL & NORDBY, 2010).

Assim que, nas iniciações maçônicas, o gesto dos candidatos serem despidos de todos os metais, e iniciarem todos exatamente da mesma forma, significa que, naquele momento, o indivíduo despe-se de suas personas.

Esse desprendimento se faz necessário visto que, conforme Jung, no nível do inconsciente pessoal – que citaremos logo adiante – não há persona, a qual se manifesta apenas no nível consciente.

O crescimento psicológico ocorre, de acordo com Jung, quando alguém tenta trazer o conteúdo-conhecimento do inconsciente, para o nível consciente, e estabelecer uma relação entre a vida consciente e o nível arquetípico da existência humana (JUNG, 1978; JUNG, 2011b).

O homem que assim o fizer, haverá de reconhecer as origens de seus problemas no próprio inconsciente, pois a pessoa que não torna consciente suas limitações e defeitos, acaba por projetar sobre os outros tais percepções negativas (HALL & NORDBY, 2010).

Fazendo o devido paralelo, o crescimento na senda maçônica somente ocorre quando se aplica no chamado mundo profano o que se estuda e aprende no mundo maçônico, que é neste quadro comparativo o referido inconsciente pessoal, e assim tem-se a oportunidade de transformar o conhecimento em sabedoria.



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