A INCIDÊNCIA FILOSÓFICA NOS GRAUS SIMBÓLICOS: MESTRE - Ir.’. Raimundo Rodrigues de Albuquerque

 

Arcângelo Buzzi, no seu excelente "Introdução ao Pensar", à página 170, afirma que "O estudo da filosofia desenvolve o espírito de fineza. Exercita o pensamento a conhecer a realidade por si próprio, tornando-se ele mesmo esclarecido, portador de luz força de discernimento". 

O Mestre Maçom é um filósofo, daí a razão por que o Terceiro Grau é o Grau Superior, o Grau Excelso. Entretanto, em chegando ao Terceiro Grau, o maçom é muito mais Aprendiz do que quando trazia a abeta levantada e muito mais Companheiro do que quando se sentava no topo da Coluna do Sul. Por quê? Porque agora ele é "Mestre"; sua missão é ensinar. Quando se ensina, aprende-se muito mais do que quando se estuda. Heidegger, em seu livro "Qu'appelle-t-en pensar", edição de 1973, à página 89 diz: "É bem sabido que ensinar é ainda mais difícil que aprender. Mas raramente se pensa nisso. Por que ensinar é mais difícil que aprender? Não porque o mestre deva possuir um maior acervo de conhecimentos e tê-los à disposição.

Ensinar é mais difícil do que aprender porque ensinar quer dizer deixar aprender. Aquele que verdadeiramente ensina, não faz aprender nenhuma outra coisa que não seja o aprender. É por isso que o seu fazer causa, muitas vezes, a impressão que junto dele nada se aprende. Isso acontece porque inconsideradamente entendemos por aprender a só aquisição de conhecimentos utilizáveis. O mestre, que ensina, ultrapassa os alunos que aprendem somente nisto: que ele deve aprender ainda muito mais do que eles, porque deve aprender a deixar aprender". É preciso estudar, é preciso pesquisar. Quem não pesquisa, quem não estuda, muitas vezes inventa. Nossa Sublime Instituição não admite invencionices.

A falta de pesquisa mais aprofundada faz que, por vezes, fiquemos presos a alguns poucos filósofos, ignorando a existência e os ensinamentos de outros. Só para exemplificar, reportemo-nos ao estudo dos números.

Quando se fala em números, logo nos vem à memória a figura de Pitágoras de Samos. Ninguém nega, e seria um despautério se o fizesse, a influência categórica dos pitagóricos nos estudos numerológicos da Maçonaria. No entanto, só para ilustrar, vamos tentar expor os ensinamentos de outros filósofos, quase nunca citados, sobre o número UM, que fogem aos ensinamentos da Escola Itálica, mas que, em nosso entender, casam-se perfeitamente com a filosofia numerológica de nossos rituais. 

O filósofo Plotino nasceu em Licópolis, no Egito, no ano 205 a.C.. Quando estava com 4O anos, mudou-se para Roma, onde viveu até o fim de seus dias. Plotino é o fundador e o maior expoente do neoplatonismo. Deixou nove livros, reunidos por seu discípulo Porfírio, sob o título "Enéadas". Vejamos o que ele diz sobre o UM: "Unidíssimo consigo mesmo, o UM não precisa de autoconsciência, uma vez que não se pode atribuir-lhe a unidade consigo mesmo como princípio de sua conservação. Devemos, por isso, negar-lhe o pensar, a consciência e o conhecimento de si e dos outros, porque devemos considerá-lo não segundo a forma do sujeito pensante, mas segundo o hábito do pensamento. Com efeito, o pensamento não pensa, mas é causa do pensamento para os outros; ora, a causa não é a mesma coisa que o causado, e a causa de todos não é a totalidade. Não se pode, pois, chamá-lo o BEM pelo fato de ele produzir o bem; mas em outro sentido, ele é o BEM que está acima de todos os outros". 

Mais adiante, Plotino afirma: "O UM é a potência de todas as coisas; se ele não existisse, nada existiria: nem a vida primeira, nem a vida universal. O que é acima da vida é causa da vida; a atividade da vida não é anterior a ela, mas brota dela como de uma fonte"

Por aí se vê que não podemos e não devemos deixar de pesquisar. O importante em filosofia é a ideia. Em assim sendo, o maçom tem que lançar mão do estado e da meditação, aliados à sensibilidade. O maçom há que se despejar de sistemas e de doutrinas. A nosso sentir, o que não se deve e não se pode é confundir postulados maçônicos com os dogmas das seitas religiosas que são inteiramente desprovidos de significação filosófica.

Para terminar, vamos deixar falar Sócrates, o maior de todos os gregos: "Empenho muito mais belo é quando alguém, servindo-se da dialética, tomando uma alma apropriada, pela planta e nela semeia, com ciência, discursos que são capazes de ajudar aos próprios e a quem os plantou, e que não são infrutíferos, mas têm em si germes donde brotarão outros discursos plantados, em outras pessoas, discursos capazes de produzir esses efeitos, sem nunca falhar e de tornar feliz quem possui tal dom, tanto quando ao homem isso é possível.

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