OS TRABALHOS EM LOJA - José Castellani



MEIO-DIA E MEIA-NOITE

Os trabalhos de uma Loja maçônica, simbolicamente, iniciam-se ao meio-dia e se encerram à meia-noite.

Historicamente, uma das origens dessa prática é encontrada no zoroastrismo persa: Zoroastro reunia os seus discípulos ao meio-dia e os despedia à meia-noite, depois do repasto em comum.

Existe, todavia, uma razão de ordem ética e moral a justificar esse ato simbólico: meio-dia é a hora do sol a pino, quando os objetos não fazem sombra; é, portanto, o momento da mais absoluta igualdade, pois ninguém faz sombra a ninguém, concretizando um dos pilares doutrinários da moderna Maçonaria (os outros são a Liberdade e a Fraternidade).

Astrologicamente, o meio-dia é a hora simbólica em que o Sol está na sua culminância, em todo o seu esplendor, com a sua atividade conhecida de todos, aberta, transparente.

À meia-noite, quando os trabalhos se encerram, a atividade é toda secreta, é coberta, ignorada de todos, quando o ritual maçônico, para assinalar o caráter secreto, pede, ao maçom, que jure guardar silêncio sobre tudo o que viu ou ouviu.

O meio-dia celeste é marcado pelo astro mais visível a olho nu, ou seja, o Sol, o astro principal, o mais luminoso, o coração do sistema solar, o símbolo de Deus.

A meia-noite celeste é caracterizada pelo astro menos visível a olho nu, o último, o mais afastado do Sol, que é Plutão.

Assim, o Sol simboliza o meio-dia, a luz, e Plutão simboliza a meia-noite, as trevas.

Plutão é o símbolo do invisível e, em seus bons aspectos, significa o acesso às riquezas escondidas, como a da iniciação, do oculto, da criatura se colocando mais longe da matéria e perto da radiação celeste, além e fora de toda a materialidade.

Em seus maus aspectos, Plutão se torna a própria negação de Deus e a imagem de Satã, no sentido literal da palavra: adversário, oponente.

Ele relembra, ao maçom, que este, à meia-noite – simbolicamente – reingressa no mundo profano e que guardar sigilo sobre os trabalhos efetuados a partir do meio dia é um dever ético e moral, não podendo, ele, se transformar no adversário dos ensinamentos maçônicos, como um vulgar perjuro.

Doze horas existem entre o meio-dia e a meia-noite. Doze são os signos zodiacais, que representam um círculo perfeito e que simbolizam as periódicas mortes e ressurreições da natureza.

De um lado, o Sol, símbolo espiritual do Eu Superior e representação material da vida e da luz; do outro, Plutão, símbolo espiritual da vontade criadora, da transformação, e representação material da morte e das trevas.

Durante o simbólico período de doze horas de duração de uma sessão maçônica, o obreiro vai da luz às trevas, da vida à morte, como a natureza, a fim de renascer para uma nova vida espiritual e aperfeiçoada.

O número doze, inclusive, tem um alto sentido místico, como símbolo da ordem cósmica, e era a base da numeração entre os povos antigos, sendo bastante encontrado em textos antigos e bíblicos: os doze signos zodiacais, as doze tribos de Israel, os doze pães propiciais, os doze meses do ano, as doze horas do dia, as doze horas da noite.

Maçonaria e Astrologia - Castellani, José - Edit. Landmark, pg 118/119, 3° Ed.

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