O GRAU INSÍPIDO - Ir:. Jerônimo Borges


Tive um irmão que me confessava frustrado em sua caminhada maçônica. Apenas algumas poucas semanas lhe serviram de âncora à exaltação. Só muito mais tarde percebeu a inconsistência desse ato indigesto. Era época do famigerado período eleitoral prevendo uma disputa acirrada na Potência e a Loja teve pressa em fomentar novos mestres.

Com o passar do tempo esse irmão, por seus próprios esforços, deglutiu o conhecimento não contemplado no 2º. grau. Mas foi um sabor insosso, sem as emoções de desfrutar com garbo, de uma aprendizagem com assento na Coluna do Sul, com a abeta baixada de seu avental de cor branca.

Como na vida real, na Maçonaria Simbólica existem as três fases distintas que são o nascimento, adolescência e fase adulta. Esta última pode ser nada ou muito produtiva dependendo do aproveitamento de cada um. A verdade é que muitas lojas se acomodam não proporcionando ao obreiro maiores oportunidades de preparo para ingresso e no próprio percurso do mestrado. Se já existe um tempo exíguo para instruções no 2º. grau imagine o comodismo instrucional no grau posterior.

Enquanto que o Aprendiz simboliza o nascimento vindo das trevas, o grau de Companheiro deveria se espelhar como a real vivência a partir da adolescência de um ser humano: um período mais prolongado e melhor aproveitado rumo à fase mais madura.

O grau de Mestre, que simboliza a velhice, melhor poderia ser atingido não fosse à discriminação do Segundo grau. Até mesmo se percebe a simplicidade das sessões magnas para ingresso no 2º. grau, se comparadas à Iniciação ou Exaltação (REAA), inobstante a passagem da “pedra bruta” para a “pedra polida” resultar num processo profundo, altamente filosófico.

Hoje, entretanto, uma boa gama das Lojas e Potências, mesmo as customizadas, não se preocupa no esmero desse significativo grau.

Há instrutores “esquisotéricos” - no dizer do Irmão Kennyo Ismail - que pregam ser essa a idade das indecisões, dos perigos e da falsidade, insinuando ser o número 2 um número temerário, fatídico e cuja permanência nesse estágio,
consequentemente, deva ser a mais curta. Curta, não.

Deveria ser a mais prolongada possível no meu entender.

Esse período, para começar, deveria ter o beneplácito da extravagância dos conhecimentos das Sete Ciências da Antiguidade, cujo conjunto, quando dominado, expressasse o cume da sabedoria humana para alcançar com altivez cultural, o mestrado.

Quantas vezes o Irmão 1º. Vigilante é indagado na abertura dos trabalhos de uma Loja de A:.M:. sobre a nossa condição de Maçom e de forma maquinal nosso subconsciente responde: MM:.IIr:.C:.T:.M:.R:. sem nos darmos conta da profundidade filosófica dessa resposta?

É no grau de Companheiro que o maçom desenvolve os cinco sentidos humanos em sua plenitude para dominar as Sete Ciências como Gramática, Retórica, Lógica, Aritmética, Geometria, Astronomia e Música. Não adianta sonhar em technicolor pois o mais importante não é o ponto de chegada ao Mestrado ou ao próprio grau 33, mas possuir uma caminhada instrucional consistente.

A Grande Loja de Santa Catarina, por exemplo – apenas me limito a enfocar a Potência a qual estou jurisdicionado - tem um agendamento cultural importantíssimo no preparo do obreiro, estribado em quatro instruções clássicas, além de significativos fascículos e complementos que auxiliam na aprendizagem durante a trajetória de um ano no mínimo do Companheiro, como: Introdução à Filosofia Iniciática da Maçonaria – Introdução Geral aos Mistérios Antigos – A Índia e o Egito, com características gerais religiosas e Mitologia; Filosofia Normativa (Lógica); História da Maçonaria Brasileira; Simbolismo do “Salário dos Aprendizes”; Geometria, gravidade, Gênio e Gnose – Fartura e Abundância e Instrução Iniciática; A Lei dos Opostos, Inteligência e Razão, Sistema e Chave Numerológica de Wronski e Barlet; Os Números e suas Propriedades; Achegas Filosóficas e a Cabala e o Tetragrama Hebraico.

 Mesmo assim, há obreiros que ingressam no 3º. Grau, sem o preparo ideal, por desleixo próprio.

Fossem-me ofertadas oportunidades de regressão e optaria novamente para recomeçar na Arte Real lenta e pausadamente, no topo da Coluna do Norte, sem pressa de atingir a Câmara do Meio e com muito mais vagar na Coluna do Sul.. É no grau de Companheiro, que o maçom mais aprende a ciência maçônica, não se constituindo esse grau, em absoluto, em nenhum peso administrativo.

A propósito, como perguntar não ofende, você, meu caro Mestre, estaria em condições de responder algumas perguntinhas sobre esses assuntos delineados no parágrafo anterior?

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