A SENHORA E O MENDIGO - Joab Nascimento





        Caía à tarde, o calor começava a fugir, amenizando um pouco a temperatura de quase 40° que dominou por todo o dia aquele lugar. as sombras das casas e dos prédios, abafavam um pouco o reflexo do sol que teimava em queimar e aquecer, como o fogo a arder, sob uma panela de pressão. 

numa certa rua desse lugar, na região central, próximo ao centro comercial, encontrava-se um velho, um senhor de idade bem avançada, com barba branca por fazer, mas no momento meio amarelada, maltrapilho, desprovido de valores , tanto moral quanto material, mal cheiroso, os poucos cabelos que ainda restavam em sua cabeça e teimavam em não cair, estavam despenteados e sujos, os dentes em sua boca não passavam de um par, na parte superior, seus pés descalços, mostrando calos e rachaduras no calcanhar, informavam que há anos não sabiam o que era um calçado; suas unhas grandes e sujas, alojavam detritos escuros oriundos da falta de higiene, ao seu lado uma manta suja que lhe servia de cobertor, em volta muitos papelões que serviam de colchão pro seu descanso. numa sacola velha, pedaços de pano e restos de roupas rasgadas que serviam pra ele vestir. sua barriga tão vazia, faltava pouco para se encontrar com as costas, pois, sua alimentação só acontecia quando alguém de bom coração doava algo pra ele comer. 

        Tinha dificuldade de andar, as pernas já não mais obedeciam aos seus comandos, pois a resistência há tempos, já tinha ido embora também. 

        Esse homem de rua, estava naquele dia, sem esperanças, com tanta fome, que a dor fazia descer lagrimas do seu rosto, e ele rogava a deus a chegada da noite, para que o sono chegasse e assim amenizasse um pouco o seu sofrimento.

     Quando de repente, se aproxima uma senhora, muito bonita, bem vestida, a aparentemente demonstrava uma pessoa de muita posse, uma condição de vida que ele nunca imaginou, mas, seu semblante, mostrava, que um dia também maus bocados, já havia passado. 

E tudo aconteceu porque essa senhora, que raramente passava nessa rua, nesse dia resolveu sair pra jantar, e, ao passar com seu carro por alí, algo lhe chamou a atenção naquele indigente, pois, o olhar daquele homem, estava marcado pra sempre na sua memória. ela, estacionou seu carro importado, e foi ao seu encontro. o homem, ao vê-la se aproximar, sentiu algo familiar também no seu olhar, mas, nada disse, pois, o medo que sentia das pessoas, o aterrorizava, independente de quem se aproximasse, fosse homem, mulher ou criança, todos o evitavam e o ignoravam, ele ainda se dava por satisfeito quando não era maltratado, quando passavam e o deixavam em paz.

        Sentiu o coração acelerar, o corpo tremer, quando a mulher se aproximou, pois, imaginava que mais uma tortura iria sofrer. mas, pra sua surpresa e espanto, a mulher se agachou, tomou-lhe as suas mãos entre as suas, encostando seu rosto junto ao seu, o cumprimentou com um sorriso tão familiar, e o convidou para jantar. nesse instante, um guarda ia passando, e, imediatamente se prontificou a protegê-la, daquele ser nocivo que estava a incomodá-la. 

        A senhora, sem tirar a vista daquele olhar, pediu ao guarda que lhe ajudasse a atravessar a rua e o conduzisse ao restaurante que ficava quase em frente. o pobre homem cambaleante, com muita dificuldade pra se conduzir, foi levado e numa cadeira foi acomodado. o restaurante era muito chic, padrão cinco estrelas, com ar central, pianos bar, comidas raras, local frequentado por pessoas da alta sociedade, com grande fartura de dinheiro. 

        No mesmo instante que a senhora, e o mendigo, junto com o guarda adentraram o estabelecimento e se acomodaram, um garçom, educadamente se aproximou, e, pediu que eles se retirassem, pois, aquele mendigo não poderia ali ficar, pois, iria expulsar todos os clientes do estabelecimento. a senhora também muito educada, perguntou ao garçom quem era o gerente dali. imediatamente o gerente se aproximou e se apresentou, também pedindo que o mesmo dali fosse retirado. a senhora perguntou se ele conhecia o dono daquela rede de restaurantes espalhadas por todo o brasil, o mesmo disse que não conhecia e que nunca ouviu falar. a senhora se apresentou, como a proprietária da rede daquele restaurante, e, explicou o motivo do seu ato de caridade: - há muitos anos atrás, quando aqui cheguei, vindo do interior, pra cursar uma faculdade, eu não tinha pra onde ir e nem aonde comer. esse homem, que agora vocês querem daqui expulsar, foi quem me deu casa e comida todo dia, nesse local que aqui estamos, e que na época, era apenas uma pequena pensão que vendia comida caseira. aqui eu trabalhei, estudei e me formei. por motivos pessoais, que só ele sabe, um certo dia ele sumiu, desapareceu sem dar notícias, como ele não tinha família, ou se tinha, ninguém o procurou, eu fiquei trabalhando, trabalhando...até que fui crescendo, administrando com unhas e dentes, e hoje sou a responsável por essa rede de lojas, administradas por mim, pois o verdadeiro dono, é esse aqui, o patrão de vocês. há anos o procurava, até que hoje tive a felicidade de me deparar com esse olhar que um dia com tanta caridade me acolheu e matou minha fome. ele sim, é o dono de tudo isso, por direito. por isso nunca julguem ninguém pela aparência, esse homem deveria estar há dias nesse local, nunca veio pedir um prato de comida pra saciar sua fome, no próprio restaurante onde ele é o proprietário.

        Carreguem sempre nas veias de vocês, o sangue da caridade. façam o bem, que um dia ele retornará multiplicado.



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