DESPEÇO-ME AQUI - Newton Agrella




É instigante como a Despedida desperta intensidades tão diferentes na alma.

Enquanto um "tchau" expressa uma distância emocional curta e informal, seu conteúdo pode encerrar uma ação transitória, passiva de ser repetida em algum lugar do tempo, como pode encerrar a idéia de uma ação que se apaga, sem qualquer compromisso consigo mesmo.

Nesta caminhada semântica um "até logo" , "até breve", "até a vista" ou "até mais" merecem uma consideração um pouco mais detida e que de algum modo,  deixam em aberto, um certo ar de comprometimento para com um eventual retorno, cuja essência, necessariamente não precisa revelar uma vontade ou obrigação.

Correndo em paralelo a estas formas circunstanciais de despedidas, nossa língua nos faculta outras expressões que denotam um caráter mais alentador e amável ao serem empregadas:

"Vai com Deus"

"Fica com Deus"

"Deus te acompanhe"

dentre algumas outras que obedecem seus regionalismos.

Lá adiante porém, surge uma curva mais acentuada, cujo sinal indica uma forma mais categórica, onde se lê:  "Adeus" 

Ei-lo finalmente diante de  nossos olhos e sobretudo de nosso pensamento.

"Adeus", além de substantivo é igualmente um advérbio de modo, mas que traz consigo um profundo caráter de temporalidade, visto o significado que encerra em sí.

A etimologia da palavra "Adeus" obedece a uma forma sintética da antiga expressão utilizada pelos padres que quando eram convocados a comparecer ao leito de morte de alguém que estivesse na iminência de partir, para "encomendar a alma" valiam-se da expressão: 

"A Deus vos recomendo".

Como se percebe, ao longo da própria dinâmica linguística, dizer "adeus" hoje enseja a idéia de abrir mão de alguém ou de algo; abdicar, renunciar; invariavelmente indicando um âmbito de encerramento ou ruptura e em outros casos, o de "trancendentalismo"  em que o conceito de volta a Deus e de conclusão de um ciclo de vida se manifestam.

Vai aqui uma tênue despedida, sem a pretensão de despertar qualquer caráter dialético, mas na certeza de poder compartilhar outros conceitos de propriedade humana, longe de qualquer natureza proselitista.



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