maio 31, 2023

REGRAS PARA AS ABREVIATURAS TRIPONTUADAS - Almir Sant’Anna Cruz






Os três pontos em forma de triângulo equilátero são utilizados na Maçonaria como abreviatura, criada na França no século XVIII.

O uso dos três pontos, que é ignorado na Inglaterra e nos Ritos de origem inglesa, tornou-se então um sistema prático de abreviação de palavras e ainda uma forma de se ocultar os termos e afirmativas de ordem doutrinária, desvirtuando e ocultando da curiosidade dos não iniciados o significado do que é restrito aos Maçons.

O Irmão Henrique Valadares, em seu livreto “O Aprendiz Maçom” (também conhecido como Ritual Cayru), publicado em 1896 e uma das obras Maçônicas mais antigas de um Maçom brasileiro, no capítulo “Abreviaturas” já nos ensinava: “É regra geral que a supressão se faça sempre no meio de uma sílaba e que a primeira letra suprimida seja uma vogal e a última deixada uma consoante. Há algumas exceções a esta regra, como Ir.’. (Irmão) que deveria ser Irm.’., também usado”.

E acrescenta: “O plural dos nomes é representado nas palavras abreviadas repetindo a inicial respectiva”.

O Irmão francês Jules Boucher in “A Simbólica Maçônica” corrobora com essa regra: “ ... escreve-se a primeira sílaba da palavra e a primeira consoante da seguinte” e entre outros exemplos, cita a abreviatura de Companheiro (Comp.’.). 

Todavia, admite que algumas palavras podem ser abreviadas somente com a primeira letra, quando não houver qualquer dúvida ou confusão quanto ao que se está abreviando e exemplifica com E.’.V.’. (Era Vulgar) e I.’. (Irmão)

Diz também que “Por regra, as abreviaturas só deveriam ser usadas nas palavras do vocabulário maçônico e jamais para as palavras profanas”.


Do livro *O que um Aprendiz Maçom deve saber* Interessados contatar o Irm.’. Almir no WhatsApp (21) 99568-1350

maio 30, 2023

MAÇONARIA NA SOCIEDADE - PRESENTE E FUTURO - Irmão Michael W. Walker


Algumas considerações pessoais pelo Irmão Michael W. Walker, Grande Secretário da Grande Loja da Irlanda

Durante os últimos anos, nomeadamente nos mais recentes, muitos Irmãos e Grandes Lojas parecem estar a envolver-se cada vez mais em assuntos que estão claramente fora do âmbito dos “Objetivos e Relacionamentos da Ordem”.

Serão provavelmente tantas as razões para isso como o número de casos que teve lugar mas, pelo simples facto de que está a acontecer, indica que é altura de questionar o que é a Maçonaria, o que lhe está a acontecer e que acções, se quaisquer, devem ser tomadas para inverter alguma tendência menos desejável, canalizando energias e o nosso entusiasmo para caminhos aceitáveis, à medida que nos aproximamos do próximo século.

Durante a Iniciação, é assegurado aos Irmãos que o candidato “é livre e de bons costumes”. Portanto, ele é, ou deve ser, um cidadão pacífico e respeitador da lei. Um pouco mais adiante, é-lhe dito que é necessário que receba os ensinamentos e conselhos que dele farão mais tarde um homem útil e virtuoso. Mais tarde ainda, indica-se que um dos deveres dos Maçons é praticar as virtudes que tendem a tornar o Homem um ser perfeito. Ao candidato pede-se todo o empenho no exercício das suas responsabilidades perante o seu Deus, o seu semelhante e ele próprio; pede-se ainda que seja um cidadão exemplar e que, como indivíduo, pratique a virtude a todos os níveis e mantenha vivas as verdadeiras características da Maçonaria, que são a benevolência e caridade, e o amor fraterno.

Ao atingir o segundo grau, é-lhe dito que deverá não só estar de acordo com os princípios da Ordem como também diligentemente praticá-los. Finalmente, no terceiro grau, pede-se que o seu comportamento sirva de exemplo à conduta de outros.

Mais tarde ainda, no topo da sua escalada como Maçom, ao ser instalado na Cadeira da sua Loja, dá o seu consentimento a um conjunto de princípios pelos quais deverá pautar o seu comportamento e atitude. Em suma, o princípio fundamental adjacente é de que, ao ser aceite na Maçonaria, ao concordar com os seus preceitos e princípios, o Maçom honrará não só a sua pessoa como será um exemplo e um benfeitor respectivamente para e de outros. Espera-se que a Maçonaria contribua para que se atinja aqueles objetivos mas que, na sua vida diária, um Maçom venha a interagir com outros como indivíduo e não na sua capacidade de Maçon. A Maçonaria é pois uma prática intelectual e filosófica destinada a fazer com que a contribuição do indivíduo para com a sociedade, assim como o seu próprio desenvolvimento pessoal, seja mais forte e maior do que teria sido conseguido se não tivesse tido a oportunidade de pertencer à Ordem.

Ser admitido à iniciação e a própria cerimónia da iniciação são uma clara indicação e confirmação do valor intrínseco do indivíduo e do seu reconhecimento pelos irmãos. Por si só, este facto deverá conduzir a um aumento da autoestima e, espera-se, estimular o desejo consciente ou subconsciente, de provar que se é merecedor da confiança dos outros. As subsequentes passagens aos segundo e terceiro graus são uma demonstração simbólica da satisfação dos irmãos pela correta escolha e decisão iniciais sobre a iniciação do candidato, não só pelas aptidões inatas como pelo seu interesse e zelo em aperfeiçoar a prática maçónica. Estas indicações iniciais de estima deveriam conduzir a um acréscimo de satisfação e autoestima do candidato.

Na Ordem adquirem-se muitas aptidões, o que não acontece em muitas outras instituições. Um irmão deve ser capaz de falar em público, decidir e opinar sobre vários assuntos e liderar reuniões. Estes atributos são muito valiosos em outros aspectos da vida profana; para muitos, é a única oportunidade que alguma vez terão de aprofundar, praticar e aperfeiçoar aquelas capacidades e técnicas.

Na realidade, penso que, atualmente, muitos daqueles atributos e benefícios – o Produto Maçónico – devem ser desenvolvidos pelo próprio candidato. Uma grande parte do simbolismo perde-se se o candidato não estiver devidamente sintonizado. Em verdade, a Maçonaria vai de encontro à satisfação das necessidades psicológicas do homem comum. Acredito que os homens, muito mais que as mulheres, são criaturas gregárias que sentem o instinto de grupo duma forma mais intensa. O homem necessita de pertencer a algo, como uma escola ou clube. A Loja assume esse papel, tendo mesmo, como numa estrutura militar, a hierarquia e uniformes ou vestimentas diferenciadas que indicam o grau do indivíduo ou o nível hierárquico que já foi atingido. Além disso, a Loja facilita a satisfação dos interesses pessoais, o que em muitos casos não é possível nem no ambiente familiar nem profissional. Acima de tudo, a Loja transmite paz e tranquilidade, um local onde se encontra o que se espera e onde a turbulência da vida profana não se manifestará com certeza e será esquecida por uns momentos. E um lugar onde se pode recarregar as baterias para assim se poder melhor apetrechados enfrentar as batalhas no mundo profano.

Aqueles que já passaram ou possam estar a passar por alguma situação traumática, como o desemprego ou a depressão causada pelo “stress” imposto pela vida moderna, saberão da verdade deste facto e poderão confirmar o efeito apaziguador e calmante do único e inestimável meio ambiente, tal como existe na Loja.

É a Maçonaria uma associação de caridade?

A resposta é negativa mas, como em qualquer ambiente fraternal, as necessidades de um irmão ou dos seus dependentes receberão a simpatia e apoio incondicional dos seus irmãos, nem sempre necessariamente de natureza financeira. A caridade é o resultado natural do amor fraterno e é incentivada na Maçonaria, mas não é a razão de ser da Ordem.

A critica que frequentemente se ouve da Ordem, de que só se preocupa com os seus, é totalmente falsa e carece de validade. A caridade maçónica não se restringe aos seus membros, sendo que é cada vez mais direccionada para qualquer causa ou situação merecedora, desde que não contrarie os termos da Declaração de 1938. O Maçon é, de qualquer modo, livre de, na sua vida quotidiana e capacidade pessoal, apoiar qualquer organização que mereça a sua simpatia.

O objetivo da Maçonaria

O objetivo da Maçonaria é o autoaperfeiçoamento – não no sentido material mas nas vertentes intelectual, moral e filosófica, a fim de desenvolver o ser no seu todo e, como indicado na bonita e emotiva linguagem do ritual, “prepararmo-nos para tomar os nossos lugares como pedras vivas no grande edifício espiritual, que é eterno nos céus e não foi feito pelas mãos do homem”. Este hipotético indivíduo, desenvolvido no seu todo, deve, através da sua viagem pela vida e interação com os outros, contribuir duma forma significativa para a sociedade em geral, realizando e cumprindo assim o desejo expresso durante a iniciação de se tornar cada vez mais útil aos seus semelhantes.

A minha interpretação da Maçonaria assemelha-se ao que pensou W. B. Yeats da aristocracia – “proteger os seus membros e devotos das tempestades da mudança, quase que como do abrigo do ventre materno se tratasse; e como um esquema para promover um tipo de espiritualidade, ao nível da alma e ao mesmo tempo profano e temporal.”

Eu gostaria certamente de dizer da Loja o mesmo que Yeats afirmou uma vez sobre a casa de Lady Gregory, em Coole, no condado de Clare, certamente um “abrigo materno” para artífices duma profissão diferente, pois “esta casa enriqueceu imensamente a minha alma porque aqui a vida move-se em formas graciosas, sem limitações”.

A sociedade de hoje

À medida que as mudanças no mundo acontecem a um ritmo cada vez mais rápido, duma forma complexa e imprevisível, a nossa necessidade natural de segurança, controlo, certeza e previsibilidade começa a ser corroída. Este tipo de ambiente constitui campo fértil para o desenvolvimento do que é chamado o ’’Síndroma de Aquiles”, que faz com que cada vez mais pessoas com objectivos ambiciosos padeçam de um sério défice de autoestima, aparentemente mais no caso masculino. Este facto pode bem depreender-se de um artigo da autoria de Petruska Carlson, urna psicóloga clínica e consultora.

Isto torna-se patente num crescente número de indivíduos que têm demonstrado esta preocupação pela rapidez em que valores culturais da sociedade têm sofrido alterações e pela sua influência no homem. Gerard Casey defende que “em todas as sociedades, a razão funciona dentro do conceito de mitos, sendo estes narrativas culturais fundamentais que fornecem princípios e valores inquestionáveis em que se baseia a sociedade e sem os quais ela não se pode desenvolver. Infelizmente, aqueles que se consideram especialistas em educação não têm hoje aparentemente noção da importância destes fatores, talvez pressionados também pelos que procuram uma educação baseada unicamente em temas técnicos e direcionados para aspectos de carreira profissional, e também pela pressão “educativa” exercida pela televisão sobre muitos jovens em detrimento dos próprios pais. Como sociedade, estamos a perder, ou já perdemos, os nossos padrões culturais, provocando um autentico deambular, sem objetivos ou direção definidos, como qualquer meteorito perdido algures no espaço.

Casey advoga que as pressões exercidas pela sociedade moderna provocaram um estado de caos e colapso moral na Irlanda, tendo já atingido proporções epidémicas no mundo ocidental. Defende a necessidade de se encontrar uma base ética racional para o comportamento humano, o que será uma tarefa difícil, sem garantias de sucesso. O Dr. Donald Murray, ex assistente do bispo de Dublin e atualmente bispo de Limerick, reconhece a existência duma “fome que não está a ser satisfeita. As pessoas necessitam de sentir que pertencem a alguma coisa; têm de se sentir dedicados a algo. O estado de espírito que prevalece é de desilusão e cinismo. Sentimos que vivemos num mundo de instituições estruturadas, pertencendo não a um país mas a uma economia. Avaliamos a nossa vida nacional em termos de recursos e estatísticas e pensamos no Estado como uma máquina, em vez de como pessoas e valores culturais”.

O Dr. Murray defende que “presumimos cada vez mais que o cidadão ideal não tem valores religiosos ou morais fortes, ou pelo menos que tenha a decência de não os imiscuir na cena pública. Isto é, o indivíduo não é suposto participar na vida activa com o seu Eu, com as suas convicções morais e religiosas. São considerados assuntos privados. Estamos claramente em risco de construir uma sociedade com valores culturais que consideram irrelevantes as verdadeiras realidades da vida. As divisões e separações ocorrem só quando a religião e moral não são entendidas. A consciência individual merece respeito porque procura a verdade, que é a obrigação de todo o ser humano”.

Os Maçons facilmente compreenderão estas referências à ética, verdade e moral como parte dos verdadeiros fundamentos dos ensinamentos maçónicos. Mas estes valores estão a ser minados por forças destruidoras que estão a corromper as próprias fundações nas quais se baseiam. Conor Cruise O’Brian – um estadista e comentador de renome – afirma mesmo que “desde há muito na história que o discurso humano no que se refere à ética tem sido ferido, em graus diversos, pela hipocrisia”. O bispo de Waterford denunciou recentemente o excessivo culto do individualismo.

Este excesso de individualismo conduziu a uma falsa ideia de liberdade. O indivíduo foi levado a pensar que a liberdade não tinha limites e a acreditar na supremacia dos seus direitos sobre os dos outros. O culto do individualismo colocou o indivíduo, homem ou mulher, num pedestal, no centro de tudo, e não permite a inclusão da “comunidade” no seu verdadeiro sentido, além de que dificulta a realização da “vida plena”, à qual todos somos chamados.

Quer gostemos quer não, quer saibamos quer não, há muitas forças subtis, e até mais óbvias, diariamente influenciando-nos, produzindo à medida que se multiplicam, uma espécie de tortura e consequente desequilibro – nem sempre perceptível- que nos faz sentir inseguros e dúbios relativamente ao caminho que percorremos.

São estas as forças que fazem enriquecer os psiquiatras, à medida que cada vez mais pessoas sentem que “algo” não vai bem e que está a afetar todo o seu ser e qualidade de vida mas sem saber identificar o quê. O que é realmente necessário é uma espécie de âncora mental, como que um objetivo de navegação que, mesmo com nuvens espessas, permita ao “viajante” uma viagem em que possa identificar exatamente a sua posição e assim retornar, se necessário, ao verdadeiro caminho.

Maçonaria – inserida, ou não, na sociedade?

Qualquer pessoa é ocasionalmente um pouco introspectiva, ao perguntar-se “quem sou eu e para onde vou?”. Mesmo uma organização como a Maçonaria deve fazer-se a si mesma esta pergunta. Somos uma organização cujos objetivos são o amor fraternal, ajudar os nossos irmãos e seus dependentes em dificuldades, procurar a “Verdade” que devemos exprimir e difundir como um padrão de moral público e privado, conhecer e temer a Deus, e, como consequência, respeitar e amar o nosso semelhante. Isto significa tolerância pelas opiniões pessoais, crenças religiosas e tendências políticas. Se persistirmos em analisar os objetivos da Ordem, a nossa procura deve alargar-se mas sem desfocar a nossa visão, ao mesmo tempo que devemos cada vez mais aproximarmo-nos do Grande Arquitecto do Universo, espiritualizando-nos e tentando aprofundar a nossa compreensão Daquilo que não podemos nunca esperar compreender e apreender completamente – algo como a procura e luta pelo místico Graal, tal como os nossos prováveis antepassados operativos – os Cavaleiros Templários – que se seguiram, à sua maneira, aos míticos Cavaleiros dos Romances do Graal e às Lendas Arturianas. A Maçonaria é muito mais que uma superficial análise de e pela sociedade de hoje, obcecada com o sucesso material do indivíduo muito mais do que a sua contribuição para a sociedade. O sucesso na sociedade de hoje mede-se por padrões materiais e económicos, pela posição ou aquisições que essa capacidade económica permite. Não é relevante se essa posição ou aquisições foram obtidas de uma forma imoral ou mesmo ilegal ou se prejudicou alguém no processo.

A Maçonaria não é apenas mais uma organização como os Rotários, Câmara do Comércio ou outras, com objetivos e funções diferenciadas. Se a Maçonaria tivesse alguns desse objetivos, então provavelmente algumas dessas organizações não se teriam formado. Somos o que somos e qualquer tentativa em assumir alguns dos outros objetivos afastar-nos-ia do nosso caminho. Provavelmente, muitos se juntaram à Maçonaria pensando que era algo diferente ou, depois da iniciação, procuraram influenciá-la e até moldá-la aos seus desígnios. Não somos a cura para os males de cada um.

Pode afirmar-se que o número de novas admissões à Maçonaria em todo o mundo tem vindo a decrescer. As razões para este facto prendem-se com o superficialismo da sociedade de hoje, a multiplicidade de oportunidades e pressões socais existentes relativas à utilização dos tempos livres.

Estudos feitos nos E.U.A. indicam a existência de uma forte relação inversa entre o tempo livre necessário para o exercício de uma atividade e o seu grau de popularidade. As exigências cada vez maiores da vida profissional têm gradualmente reduzido o tempo livre disponível, o que obriga ao seu racionamento a fim de evitar, muitas vezes sem sucesso, competir com a família e outros interesses considerados prioritários. Qualquer atividade que exija um compromisso de tempo substancial e que não seja entendida como tendo um retorno justificável (medido eventualmente de uma forma subjetiva), não será favorecida e, em termos maçónicos, traduzir-se-á numa redução de presenças em sessões, independentemente do orgulho, honra ou satisfação que o irmão terá em ser membro da Ordem. O número de irmãos que esporadicamente estão presentes indica que reconhecem “pertencer” a uma organização que não tem a capacidade para estimular uma presença regular.

Os meus avós, com a provável exclusão do seu clube e da sua Loja, tiveram possivelmente muito menos oportunidades onde utilizar os seus tempos livres, sendo que as sessões de Loja eram ansiosamente esperadas. Hoje, uma grande quantidade e variedade de atividades estão acessíveis a quase todas as classes, quer social quer economicamente. A sessão (ou sessões) mensais, em vez de oportunidades, concorrem frequentemente com outras atividades, cujo “retorno” é visto como mais atrativo.

Em terminologia de marketing, devemos ver a Maçonaria como um produto. E isso que estamos a “vender” (ou a providenciar) para consumo dos membros ou potenciais membros. Devemos pois melhorar o produto ou tornar a embalagem mais atrativa.

A Maçonaria é em si um produto estável – pouco se pode alterar sem mudar significativamente a sua essência e aparência. Os seus princípios e preceitos são tão válidos hoje como outrora o foram. Não podemos mudar o produto e mantermo-nos na mesma; devemos ser verdadeiros para nós mesmos neste ponto. Se mudarmos de direção (ou, em termos empresariais, de estratégia) temos de reconhecer e aceitar que é isso exatamente que se está a fazer. Seria bem possível que, algum tempo depois, alguém decidiria que o novo “produto” não estaria correto e que requereria ajustamentos a fim de o adaptar às exigências da sociedade. Sugiro que esta não é para nós uma opção. O que temos e o que representamos estará sempre correto, mesmo se o seu grau de aceitação desça ou suba no tempo.

O que podemos fazer é melhorar a embalagem e torná-la mais atrativa a potenciais “clientes” e mais apetecível aos actuais. No primeiro caso, podemos ativamente adoptar um novo perfil e, suave mas firmemente, “deixar a nossa luz brilhar perante os homens”. A vela à janela é um símbolo de um convite compreendido por todos; alguns aceitá-lo-ão e baterão à porta. Sou contrário à atitude de quase “forçá-los a entrar”; esta atitude não é compatível com a Maçonaria, independentemente da forma como se poderá justificar. A Maçonaria existe para ser adoptada, até saboreada, pelas mentes já sintonizadas (ou em busca) com os seus objetivos e práticas. A Maçonaria não é para qualquer um; mas haverá sempre aqueles, em todas as épocas e áreas geográficas, para quem terá um interesse muito particular. Através da embalagem e apresentação, estes “clientes” poderão ser identificados mas nunca criados. “Eu sou o que sou” e nenhum artifício ou manipulação mudará isso.

Deve aproveitar-se as oportunidades apropriadas para nos desembaraçar dos velhos mitos e concentrarmo-nos nos benefícios da Maçonaria. Nisto desempenhamos todos o nosso papel, pois como disse um Grão-Mestre Norte-americano, “somos todos a percepção de outros da Maçonaria”. Identifiquemos os “benefícios” da Ordem, falemos abertamente deles, promovendo-os. Isto obrigará às mais diversas iniciativas, começando pela família, passando pelo círculo de amigos e conhecidos até aos locais de trabalho, reservando obviamente à Grande Loja a tarefa de lidar com os meios de comunicação social a fim de que a mensagem transmitida seja constante e coerente. Se assim não for, poderá haver tantos pontos de vista como membros da Ordem, o que inevitavelmente conduziria a que o público continuasse mal informado e confuso em relação ao que somos e ao que aspiramos ser.

A fim de renovar o interesse em frequentar as Lojas e encorajar aqueles que frequentemente não regressam para serem membros ativos, há que definir um programa de acção com um objectivo fundamental: tornar as sessões de Loja atrativas, onde se está presente porque se quer e não porque há obrigação em o fazer.

Pode analisar-se esta problemática sob diversas perspectivas mas, em última análise, é algo que cada Loja tem de resolver por si. Em tempos antigos, antes do sistema das Grandes Lojas ter sido desenvolvido, cada Loja era um órgão autónomo e independente, medida que a Maçonaria Especulativa sobrepondo à Operativa, e grande parte dos irmãos deixaram de estar relacionados com a atividade de construção, teve de ser instituído um código de ética e conduta.

A Grande Loja é um órgão administrativo e regulador, com uma estrutura hierárquica que passa pelas Grandes Lojas Provinciais até às Lojas em si. Porém, no contexto do regulamento e constituição da Grande Loja, cada Loja é ainda um órgão independente e autónomo, responsável pelas suas atividades, funções e, em última instância, pela sua própria sobrevivência.

A Grande Loja não é uma comissão de entretenimento e, embora possa sugerir ou regulamentar, a verdade é que é o Grão-Mestre quem, em última análise, assume a responsabilidade. É ele quem deve assegurar que o ritual é bem conduzido, que a gestão é eficiente, que o conteúdo do que se faz é de interesse e não mera rotina mas, acima de tudo, que os irmãos – normalmente sempre os mesmos – não falem demais. A lei de Parkinson nunca é vista com tal clareza como na reunião de Loja, e em particular, na noite em que se festeja a Instalação. Pranchas pobres, demasiado longas, são uma receita segura para enfraquecer a motivação dos irmãos em frequentar sessões de Loja ou Grande Loja quando, com efeito, o que se deveria perguntar é “se terei de esperar mais um ano pela próxima sessão”.

Como foi dito acima, acredito que o produto não pode ser alterado; portanto, devemos alterar a embalagem. Os elementos da embalagem a serem modificados foram identificados no documento de discussão do Grão-Mestre intitulado “Programa para a Mudança : O Caminho em Frente” como sendo : a nossa imagem pública; ser membro, caridade; esperar que a percepção do público a nosso respeito, conforme um recente anúncio de jornal procurando um gabinete de advogados, possa ser a de uma organização de “espíritos saudáveis, da mais alta integridade, honestidade e ‘ confiança, apresentando um estilo de vida claramente demonstrativo de uma atitude desprendida relativamente a bens materiais e da presença do amor de Deus através de serviço ao ser humano”. As qualidades referiam-se ao gabinete, claro, não ao cliente.

Devemos tentar demonstrar ao mundo em geral, e assim tornar a nossa Ordem mais atrativa a potenciais membros, que as palavras do Pro Grão-Mestre de Inglaterra, V. M. Lord Farnham, Maçon irlandês e anteriormente Grão-Mestre Sénior da Irlanda, são verdadeiras: “A Maçonaria tem como objetivo desenvolver o indivíduo como bom cidadão e como homem com uma forte formação moral. Poderão seguir-se outros benefícios para a sociedade mas vêm de indivíduos actuando por si e não como Maçons.

Não é fácil no mundo moderno convencer as pessoas de que a Maçonaria como Instituição não serve para qualquer coisa não é certamente um grupo de pressão. A sua influência no comportamento pessoal dos seus membros deverá ser bom para a sociedade em geral e deverá ser bem-vinda”

Em direção ao novo milénio

Tentei identificar quem somos, o que somos e onde estamos – é sempre de meditar no para onde vamos? Somos um grupo que está fora de moda e com o número de membros a diminuir – talvez não nos países em desenvolvimento mas, no mundo desenvolvido, somos vistos como um anacronismo, com um modo de estar que constitui um embaraço.

“Donde vens, Gehazi?” Lembrar-vos-eis da devastadora pergunta que Eliseu pôs ao seu servo que tinha cercado de cortesias Naaman, procurando obter vantagens à custa dos talentos do seu Senhor -ou seja, de outrem.

Depois da segunda guerra mundial, um grande número de indivíduos aderiram à Maçonaria porque era a alternativa ou substituto mais próximo para o companheirismo e apoio que encontraram nas forças armadas. A medida que estas pessoas vão passando ao Oriente Eterno, não tem existido nenhuma afluência significativa de candidatos para os substituir. Torna-se pois necessário recrutar, embora os meios a utilizar assim como o ênfase que esse esforço possa ter deva ser cuidadosamente ponderado. Algumas Grandes Lojas iniciaram programas de recrutamento em que os irmãos que apresentem um determinado número de candidatos elegíveis são recompensados. Este tipo de campanha tem muitos perigos e não pode, penso eu, ser benéfica. Devemos, em minha opinião, adoptar o método de “levar o cavalo à água”. Podemos mostrar- lhe a água e indicar que está disponível mas, a não ser que o cavalo tenha sede, não podemos fazer mais que o encorajar a beber.

O Grande Secretário da Grande Loja Suíça Alpina disse, na sua alocução durante a reunião dos Grandes Secretários em 1994, que “é essencial evitar qualquer tipo de proselitismo pois o objectivo principal não é procurar novos candidatos mas sim melhorar a percepção dos profanos sobre a nossa Ordem, o que, espera-se, conduzirá a que novos candidatos se apresentem”.

Devemos tentar corrigir a falsa percepção que têm, em particular, os meios de comunicação social e as Igrejas pois ambos têm influência directa sobre a opinião pública, sendo também nossos antagonistas e altamente suspeitosos da Maçonaria.

As Igrejas não conseguem aceitar que não somos concorrência mas que, na realidade, até apoiamos a religião e encorajamos cada irmão a interessar-se cada vez mais pela sua crença através do desenvolvimento do seu intelecto e espiritualidade. Não temos teologia nem sacramentos nem nos envolvemos, como Maçons, em nenhuma devoção nas nossas Lojas. Também não oferecemos ou indicamos o caminho da salvação através das boas acções ou qualquer outro meio. Estamos cientes destes factos – mas como transmiti- los a quem não os sabe e por vezes também não quer saber porque não lhe convém? Devemos recordar-nos que as Igrejas estão também a ter uma quebra acentuada no número de fiéis, talvez até mais severa do que no nosso caso, em termos percentuais. A causa deste facto deve-se parcialmente às próprias instituições mas também ao facto de que, hoje, qualquer religião formalizada e estruturada está simplesmente desatualizada e fora de moda. Â sua maneira, as Igrejas estão também a tentar responder o melhor possível a estas tendências como, por exemplo, popularizando e facilitando a linguagem utilizada pela Igreja Católica durante a celebração da missa; ou reduzindo a lugares comuns a beleza e a elevação da linguagem na versão autorizada da Bíblia da Igreja Anglicana. De qualquer modo, as transformações efetuadas não tiveram resultado positivo porque não trataram dos problemas reais.

Em pânico, algumas Igrejas têm-se aproximado do evangelismo carismático e até do fundamentalismo. A Sra. Gwenjermyn, uma metodista do condado de Cork no sul da Irlanda, conseguiu que uma interessante carta sua ao “Irish Times” fosse publicada por este jornal a 22 de Junho de 1995. Nela, referia-se ao aparecimento do fundamentalismo extremo que se tem feito passar por “evangelismo”. Escreve ainda a Sra. Jermyn que “este ênfase fundamentalista é extremamente doutrinário, não concede a possibilidade de verdadeira exploração espiritual. E uma interpretação limitada, ofensiva, divisionista e arrogante, aproveitando-se de medos e emoções negativas que em pouco ou nada respeitam os ensinamentos claros dos evangelhos.”

O exemplo típico desta ultra reação foi o “Nine O’Clock Rave Service” em Sheffield, aplaudido por muitos, desde o Arcebispo de Cantuária até aos párocos locais. O inevitável resultado tornou-se um dos maiores embaraços que a Igreja sofreu nos últimos tempos quando, depois desta generalizada histeria hipnótica induzida pelas tradicionais técnicas de manipulação em massa, o Cavaleiro Branco da Nova Era – o Rev. Christopher Brain – foi primeiro suspenso de celebrar e mais tarde obrigado a pedir a exoneração após participação num deboche orgíaco, vilipendiado pelos seus mais fiéis seguidores, e com as Autoridades Eclesiásticas a lavarem daí as mãos.

Apesar destes acontecimentos, devemos estar atentos e aprender com eles pois a Ordem Maçónica também já teve o seu “Rave Service”! Em Março de 1995, teve lugar no México o chamado Congresso Mundial, apoiado por uma das pequenas Grandes Lojas Estaduais de México, que é ainda considerada irregular por muitos – a Grande Loja de Valle de México. Nesta ocasião, a acreditar em alguns relatórios, todo o tipo de organizações irregulares estiveram presentes e algumas incríveis afirmações e atitudes não maçónicas foram proferidas e tomadas, terminando com uma declaração, a que se chamou a Carta de Anahuac, assinada pelos representantes de todas as trinta e sete Grandes Lojas que participaram. As reuniões seguintes eram para ter tido lugar em Portugal em 1996 e em Itália em 1997, aparentemente neste último caso apoiado pelo irregular Grande Oriente de Itália. A agenda para 1997 foi apresentada pelo Grão- Mestre italiano e incluía o seguinte: “Acreditamos que o nosso estudo se deve reger pelas seguintes linhas mestras : procura de soluções para o excesso de população no nosso planeta, programação da utilização dos recursos alimentares e energéticos, lutar contra a poluição do nosso planeta e no espaço, cooperação entre países ricos e pobres a fim de eliminar conflitos assim como diferenças económicas e tecnológicas, controle sobre descobertas científicas direcionando-as para o bem e progresso da humanidade, respeitando a liberdade e dignidade do indivíduo e dos povos, protegendo os direitos e obrigações do Homem”.

Isto não é Maçonaria e estes não são temas que deveriam alguma vez ser discutidos num ambiente maçónico e os que o fizerem são Maçons irregulares. O que fizemos ver com veemência.

Este é um caso em que a Maçonaria claramente exagerou. Apostar no cavalo errado é pior do que não apostar em nenhum e claramente prejudicará o nome da Ordem. Se não tiveres nada de útil para fazer, não faças nada. Como disse um nosso Grande Arquivista: “se estiveres metido num buraco, pára de escavar”.

Os meios de comunicação social também não toleram a nossa privacidade que vêem como secretismo e com o intuito de esconder qualquer intenção de subversão ou qualquer outra acção malévola. De qualquer modo, não somos a única organização “perseguida” por aqueles meios porque deseja manter-se privada. A Opus Dei, um grupo de direita dentro da Igreja Católica romana, também já foi na Irlanda um dos alvos da comunicação social: “Ouvimos alguns dos mais destacados funcionários públicos indicar que membros da Opus Dei deviam ser excluídos de exercerem altos cargos públicos”. Nenhuma explicação foi dada, o que é extraordinário se considerarmos que aquela afirmação foi escrita no contexto de se poder a vir a considerar cidadãos como inabilitados para certas cargos em função das suas crenças religiosas. Porquê, por exemplo, se afirmar como factual que a Opus Dei é secreta? O que é que o responsável pelo artigo sabe referente a esse facto que contrarie o que a Opus Dei tem repetidamente negado? As pessoas não se apresentam normalmente como membros de uma diocese ou outra. Compreende-se prontamente que esse assunto é privado, não secreto, da mesma forma que membros da Opus Dei não se apresentam dessa forma. Ser membro da Opus Dei, ou qualquer outra organização, não é uma credencial pública. De qualquer forma, a liberdade de pensamento e expressão de cada membro em assuntos públicos estaria seriamente comprometida se outros atuassem como se representassem toda a organização.

O que estou a tentar realçar é que, à entrada do novo milénio, devemos permanecer firmes na aderência e defesa dos nossos Obectivos e Princípios e não procurar obter aprovação pública através da autopromoção ou práticas não maçónicas que só podem, a longo prazo, prejudicar. Devemos pacientemente esperar porque a nossa hora voltará. Ouço dizer que o nosso estilo de vida tornar-se-á ainda mais frenético e “estressante”; poderemos provavelmente fazer frente a essa tendência intelectualmente mas é questionável se o conseguiremos emocionalmente. Com a Internet a bombardear-nos com todo o tipo de informação, por vezes eticamente duvidosa, na privacidade dos nossos lares, acredito nas palavras do nosso irmão Michael Yaxley, Presidente do Conselho da Grande Loja da Tasmânia, quando escreve que “a sociedade necessita de uma organização como a Maçonaria. Esta necessidade, acredito, torna-se cada vez mais premente. No próximo século, o local de trabalho não proporcionará o grau de camaradagem e companheirismo suficientes para satisfazer os instintos sociais das pessoas. Muitos trabalharão em casa, conectados aos seus escritórios por um computador e telefone. Outros trabalharão num escritório rodeados de equipamento complexo mas inanimado. A ironia da nova Era da Comunicação é de que as pessoas passarão mais tempo sós.”

Devemos ser cuidadosos quando nos exortam constantemente a adequar a Arte ao século XXI. Devemos fazê-lo, mas lentamente. O irmão neozelandês Robert H. Abel quer ver a Arte respeitada pelo esforço dos seus irmãos na comunidade em que estão inseridos; nós somos todos a percepção de alguém do que é a Maçonaria. Não devemos desbaratar o nosso nome em público; devemos fazer com que a nossa dignidade seja respeitada.

Robert Abel acredita que a espiritualidade do homem tem altos e baixos, como se de um longo ciclo se tratasse; devemos assegurar que a nossa Arte se manterá inalterada no futuro a fim de que gerações vindouras, talvez menos frívolas, a possam desfrutar e apreciar.

Pode talvez dizer-se que a Maçonaria está atualmente a atravessar um período semelhante ao Verão de S. Martinho, antes das duras realidades do Inverno se fazerem sentir. Como dizia o poeta Humbert Wolfe :

Ouve, o vento levanta-se

E as folhas estão ao sabor da sua força selvagem

Já tivemos as nossas noites de Verão

Agora vêm as do Outono!

Este poema termina num tom ligeiramente ameaçador, indicando simbolicamente a tempestade que se avizinha e para a qual nos temos de preparar. Mas será talvez mais um exercício de contenção, de “apertar o cinto”, enquanto preparamos o barco para a maré da espiritualidade do homem chegar e transportar a nossa Arte segura e calmamente para águas mais seguras e acolhedoras. Como disse o escritor americano Henry Adams : “O Verão de S. Martinho da vida deveria ser simultaneamente um tanto solarengo e um pouco triste, infinito na sua profundidade de tons, como a própria estação”.

Penso que esta frase descreve exatamente a Maçonaria de hoje. Um pouco triste, lembrando-nos da grandeza do passado e dos tempos mais calmos em que a Maçonaria era respeitada e aceite na sociedade. Será que o nosso tempo virá novamente? Certamente que sim – não talvez uma cópia exacta do passado, pois não queremos atrasar os ponteiros do relógio, mas numa versão mais “leve”, mais “magra”, com novo vigor e entusiasmo para enfrentar o novo milénio.

Mas lembrem-se, irmãos, à medida que entramos no “Inverno do nosso descontentamento”, devemos preservar os nossos padrões e dignidade. Não se poderá comprometer a qualidade de qualquer faceta ou sector da nossa instituição. Um dos maiores atores irlandeses, Michael Mac Liammoir, foi em tempos acusado de ser “quadrado”. Respondeu que era melhor ser “quadrado” do que não ter nenhuma forma! Quão apropriada é esta resposta para a Maçonaria de hoje; devemos manter-nos fiéis ao simbolismo do esquadro e do compasso e que sejam estes os meios de restaurar “Ordo ab Chao” – ordem no caos moral e mental – à medida que nos esforçamos para nos reajustar emocionalmente às pressões crescentes da vida moderna.

Vou terminar, irmãos, com uma exortação extraída da maravilhosa linguagem do nosso ritual: “Certifiquem- se de que se conduzem, quer em Loja quer for a dela, como homens bons e como Maçons”. Lembrem-se das imortais palavras de Polónio, na peça “Hamlet” de W Shakespeare, ao aconselhar seu filho aquando da sua partida da Dinamarca para França: “Acima de tudo, sê verdadeiro para contigo mesmo; e, assim, tal como o dia se segue à noite, não serás falso para ninguém”.

Quase todo o ideal maçónico está contido nestas parcas palavras, tão fáceis de recordar mas tão difíceis de se aplicarem na prática.


Tradução de APF – R∴ L∴ Mestre Affonso Domingues

Nota do tradutor: Embora o trabalho do irmão Walker não trate de um tópico de pesquisa tradicional, a sua análise sobre o estado atual da Maçonaria é relevante e oportuno. Esperamos que possa estimular trabalhos adicionais sobre as causas fundamentais nas flutuações do grau de aceitação – ou rejeição – da Maçonaria pela sociedade em geral.

maio 29, 2023

CADEIRA DAS REFLEXÕES - Sérgio QUIRINO Guimarães












Comecemos questionando se estamos tratando de um elemento simbólico ou de um objeto concreto.

Se os considerarmos separadamente, chegaremos à conclusão de que há tanto um objetivo simbólico quanto um elemento material. Porém, se observarmos de modo atento, a referida cadeira não tem uma estrutura predeterminada. Pode ser um trono ou um tamborete; contudo, serve para assentar o corpo.

A CADEIRA É, POIS, O SÍMBOLO DE AQUIETAR A MATÉRIA PARA VIBRAR O ESPIRITO.

Parados, nos interiorizamos. Livres dos estimulos da movimentação, é possível captarmos energias sutis.

A fim de entendermos a "Reflexão", resgataremos o aprendizado dos bancos escolares. Em Física, aprendemos que a reflexão é o fenômeno pelo qual um raio de luz que incide sobre uma superfície é refletido.

Lembremos que, nos processos iniciáticos, "raios de luz" (perguntas, estímulos e movimentos) são "lançados no candidato, para que o neófito manifeste respostas, reações, coragem e determinação. É essa a reflexão, ou seja, é o que e como "volta" à fonte emanadora.

Ainda no estudo da Física, aprendemos que a reflexão da luz pode ser especular, havendo sinergia entre os ângulos que atingem o objeto/iniciando e seu retorno ao ambiente. É o efeito espelho que ocorre quando presenciamos uma iniciação e visualizamos a nossa. Mas há também a reflexão difusa, na qual os "raios de luz são refletidos em diferentes direções, muitas vezes por conta de materiais diferentes, em que se projetou a mesma luz.

POR ISSO, DEVEMOS COMPREENDER QUE A INICIAÇÃO É UM PROCESSO PESSOAL E INDIVIDUALIZADO. FAZER SESSÕES MAGNAS COM VÁRIOS CANDIDATOS NÃO PRODUZ A VIBRAÇÃO HARMÓNICA NECESSÁRIA PARA, DE FATO, INICIAR UMA NOVA ETAPA DE VIDA.

Entretanto, ainda existem dois aspectos relevantes que devemos resgatar na Cadeira das Reflexões. Primeiro, como Maçons, devemos ter um tempo/espaço para concentrarmos nosso espirito sobre nós mesmos.

Nesse caso, ouvirmos a voz da consciência moral espiritual acerca de nossas representações no teatro da vida, em que somos convidados a desempenhar muitos papéis. Refletirmos sobre nossas ideias e nossos ideais, sentirmos os nossos sentimentos e descobrirmos suas origens e seus destinos.

O segundo ponto é nos conscientizarmos de que a reflexão é uma virtude, pois é uma disposição da alma que nos convida a pensar e a evitar o pré-julgamento, a imprudência, a lascívia perniciosa e, sobretudo, a abandonar os vícios.

 A reflexão difusa, em que os raios de luz, ao incidirem sobre a superfície, espalham-se em várias direções, é facilmente compreendida ao observarmos uma Pedra Bruta com tantas arestas

E muitas dessas arestas que temos não necessitam do Cinzel e do Malho. Basta apenas um lampejo de consciência nascido no momento de quietude e no desejo de ser mais polido.


V. I. T. R. I. O. L. - Carlos Pittoli




Na iniciação,  os inusitados acontecem vertiginosamente.

Para aumentar a tensão,  a venda, a tolher talvez um dos mais preciosos sentidos, que é o da visão, eleva a temperatura. 

Os choques com os inesperados,  com os segredos que os irmãos não falam para neófito nenhum, para não tirar deles, Maçons, o prazer de saborear a reação do iniciando  em face de um “obstáculo praticamente intransponível".

Tantas coisas, tantas coisas... Ah! A  iniciação.

Momento  tão especial repleto das mais altas indagações e dos mais altos símbolos maçônicos, que deixam aturdidos a todo aquele que por ele passa.

A vontade é escrever sobre tudo o que ocorreu.

Dá um livro, ou mais.

A  vontade é essa.

Só algum tempo depois, lendo sobre a Ordem, estudando o Ritual e assistindo a uma iniciação é que se pode começar a  compreender o ocorrido durante a iniciação.

Procura-se estabelecer divisões, estanquizando os fatos para dissecá-los.

E dessa estanquização surge um símbolo representado pelas iniciais “VITRIOL”.

Qual o seu significado?

O que designa?

Para que finalidade se encontra na parede da C.'. de RR.'.? 

Inicialmente, verifica-se que não é ele elemento obrigatório, para o GOB, numa C.'. de RR∴, segundo dispõe o REAA, edição 1998, pg. 10.

Elementos obrigatórios são, por exemplo: a ampulheta, o esqueleto humano, o pão e a água. 

Mas, embora facultativo, ele se encontra presente na maioria das C.'. de RR.'.

Enquanto, que outros objetos, obrigatórios, às vezes ali não estão presentes.

“VITRIOL” é a abreviatura de palavras de uma frase em latim:   “Visita Interiorem Terrae, Rectificandoque, Invenies Occultum Lapidem”. 

Ao pé da letra isto significa: “visita o interior da terra e, retificando-te, encontrarás a pedra oculta”.

A profundidade de tal frase salta aos olhos, primeiramente,  por que é no interior da terra, ou seja, na C.'. de RR.'. que o Profano morre,  para nascer um Maçom

A C.'. de RR∴, na realidade, relembra as cavernas das antigas iniciações, inclusive religiosas. 

Como qualquer iniciação, simboliza a morte material de alguém e o seu ressurgimento num plano mais elevado.

O iniciando permanecia no interior de uma caverna da qual, em dado momento, saía por uma fenda ou orifício, como se estivesse nascendo.

Segundo o Poderoso Ir.'. José Castellani, ainda existem tribos na África que, vivendo na idade da pedra, se utilizam desse ritual, quando considera morta a criança que ali entrou e nascido o homem maduro, pronto para a vida.

A C.'. de RR.'. representa, ainda, o útero da mãe terra, de onde os filhos da viúva nascem para uma nova vida.

Esse conceito atual de masmorra foi introduzido pelos franceses na metade do Século XIX, influenciados pela Revolução Francesa e por um certo sentimento antimístico oriundo do iluminismo francês, mas esses fatos não podem desvirtuar a sua origem.

Em segundo lugar, “retificando-te” significa, na verdade o “seguir em linha reta”.

Ou seja,  agir em si mesmo com profundidade.

É nesse momento de solidão, de encontro consigo mesmo, de meditação diante do inusitado, do desconhecido, que o novo homem se retifica interiormente, deixando de lado todos  os vícios de uma vida anterior para adotar novos padrões de conduta moral.

E, ao fazer isso,  mostra-se para o novo homem a pedra oculta que há dentro de todos.

Tal pedra ainda se encontra em estado bruto, necessitando ser lapidada, trabalhada, o que só acontece com o aprendizado constante, com  a prática incessante das boas ações, com o respeito às normas, com a presença constante em Loja, com a aplicação dos princípios fundamentais da Maçonaria, como a fraternidade e a humildade!

De nada adianta descobrir que em seu interior há uma pedra bruta, se essa pedra não é tocada, não tem a sua rusticidade conhecida, se nada se faz para seu polimento.

Esse polimento é pesado, o desbaste das arestas, dos excessos, é doloroso, mas necessário para fazer crescer aquele que encontrou dentro de si o que o diferencia dos demais animais: a pedra oculta, isto é, a inteligência, a capacidade de raciocinar, de discernir entre o certo e o errado, de dominar o desejo pessoal, de vencer paixões e submeter vontades!

A menção à pedra oculta, ainda, significa atingir o mais profundo do EGO do iniciando e é usada como originária da força dos alquimistas, que acreditavam na PEDRA FILOSOFAL, ou seja, aquela pedra que transformava os vis metais nos mais puros e raros metais, ou os metais inferiores em ouro. 

Esse processo de transmutação visto pela alquimia prática como “pedra filosofal”,  é também conhecido como Obra do Sol, ou Crisopéia, ou Arte Real.

No entanto, para a alquimia oculta, todavia, a frase é um convite ao conhecimento do ser interior, da espiritualidade, já que a Obra do Sol é a transmutação do quaternário humano, inferior, no ternário divino, superior ao homem.

A PEDRA OCULTA é a PEDRA DO SÁBIO, que pode se transformar na PEDRA FILOSOFAL, ou seja, dentro de cada homem há uma PEDRA OCULTA, conhecida também como PEDRA DO SÁBIO, que o diferencia do animal irracional e que qualifica o ser humano como tal.

Trabalhada  a PEDRA DO SÁBIO  tem-se a PEDRA FILOSOFAL,  ou a PEDRA POLIDA, surgida com a transformação do bruto Profano em um  novo homem, um Maçom.

Encontrada a pedra oculta, ou a PEDRA DO SÁBIO, mas se esquecendo de que o trabalho com essa pedra bruta deve ser constante, o homem não avança, não cresce espiritualmente e a pedra permanece bruta, não dando a público a sua beleza interior, permanecendo carregada de jaça, de sujeira que a obscurece e a torna imprestável para o uso a que se destina.

O Maçom que mantém a sua pedra oculta com traços de impureza, causados por ações ou omissões denominadas vícios, não pode ser chamado de Maçom, antes, pelo contrário, deve ser alijado do meio sadio para não impregná-lo com seu hálito sujo, pois é ele indigno de ser chamado Irmão.

Daí, pode-se afirmar, sem temor que o trabalho do Maçom na pedra bruta deve ser diário e incessante, devendo ele, com constância, visitar o interior da terra, retificando-se, na busca da pedra oculta.

E seguir trabalhando-a na busca da evolução  contínua e infinita!



maio 28, 2023

OS LIMITES DA SINCERIDADE - Sidnei Godinho



Quantas vezes já nos deparamos com irmãos que na Palavra a Bem da Ordem e do Quadro em Geral faz uso como se fosse consertar o mundo e as pessoas e ainda tenta justificar se desculpando que é uma pessoa sincera e não pode deixar passar? 

Certa vez uma grande amiga, já cansada das constantes observações sobre seu modelo XGG, disse educadamente que: "A Sinceridade sem as boas regras de convivência é Grosseria". 

Na época soou como brincadeira, mas logo veio a percepção da seriedade do caso e uma análise melhor sobre o que delimita ser sincero e ser mal educado. 

Interessante registrar que o conteúdo da fala é verdadeiro, mas a inapropriedade se dá na falta de objetivo, visto ser a pessoa já consciente de seu sobrepeso. 

Ou seja, aquele que se diz sincero, alega em sua defesa, mesmo inconsciente, ser igualmente verdadeiro. 

Contudo, foge-lhe à compreensão de que as palavras precisam ter significado, caso contrário tornam-se vãs e agridem. 

A psicologia esclarece que agir com sinceridade, sem medir as consequências de como o outro vai receber a mensagem é sincericídio, uma neologia entre sinceridade e suicídio. 

É uma atitude que bem caracteriza a insanidade do agressor, ao usar o subterfúgio da verdade para infringir dor ou remorso na outra pessoa, enquanto mascara sua própria incapacidade de conviver com seus conceitos deturpados de estar certo sempre. 

Normalmente não há uma deliberação consciente pela hostilidade, o que requer criar filtros antes de se pronunciar, como por exemplo refletir sobre o que de produtivo será feito pela pessoa ao receber a informação. 

Escolher as palavras e o momento também são fundamentais para ser cortês e alcançar o objetivo da sinceridade, qual seja, transmitir uma verdade que passou desapercebida. 

Há diversos autores que exploraram tal tema e me valho do famoso Oscar Wilde que registrou: “Pouca sinceridade é uma coisa perigosa e muita sinceridade é absolutamente fatal”.

Falar o óbvio não soma conhecimento e muito menos carisma, portanto respire fundo e conte até 10 da próxima vez que for contar para alguém sua dita verdade e ser sincero. 




IMPORTÂNCIA DA MULHER PARA A MAÇONARIA-



"Ao lado de um grande homem, existe uma grande mulher."  

 

A base da Instituição Maçônica é a fraternidade, por isso reúne os homens em suas Lojas, nas quais reinam a moral, a tolerância e a solidariedade. Porém, a Maçonaria também dedica à família o melhor de suas atenções. E embora a mulher não participe diretamente dos trabalhos maçônicos, não se pode dizer que não lhes presta a sua colaboração, pois, enquanto os maridos se dedicam aos trabalhos da Loja, as esposas se constituem em guardiãs do lar e dos filhos.

Portanto, sob o critério filosófico, a Maçonaria destina-se tanto ao homem como à mulher, complementos que são um do outro e destinados como estão a constituir a família como base celular de uma sociedade bem organizada. "Por isso, um homem deixa seu pai e sua mãe, e se une à sua mulher, e eles dois se tornam uma só carne". (Gn, 2:24).

Os Maçons tributam, portanto, à mulher não somente o respeito que ela merece como mãe, esposa, irmã e filha, mas também pela admiração a que tem direito por ser o ornamento da humanidade, na qual tem exercido um grande papel civilizador e propulsor do progresso dos povos.

Para os maçons, a mulher é a Deusa do lar, é aquela que reúne a família em torno de si, que auxilia o marido, ocupando-se das tarefas do lar e da educação moral dos filhos, a fim de torná-los dignos de serem os homens de amanhã, inspirando-lhes aqueles sentimentos de afetividade e de moral sobre os quais assenta a sociedade. "A mulher sábia constrói o seu lar; a insensata o destrói com as próprias mãos". (Juízes; 14:1).

De fato, não é nas escolas que as crianças aprenderão a sentir o calor dos bons sentimentos. Não é apenas nas escolas que se irá formar o seu caráter e aonde irão aprender a se considerarem irmãos entre sí. É ao lar que esta tarefa cabe exclusivamente, e ela só poderá ser desempenhada pela mulher. "Casa e patrimônio são herança dos pais, e mulher de bom senso é dom de Deus". (Juízes, 31:10).

Depois de DEUS, o único ser onipotente, em nossas vidas é a mulher. Nascemos do útero de uma, morreremos nos braços de outra. Entre um evento e outro, em nome delas construímos a civilização e seus destinos. Nunca chegamos a compreendê-las. A natureza, para nosso alívio, nos poupou dessa missão impossível: cabe-nos apenas amá-las e respeitá-las.

Fui criado dentro da mística machista. Mas confesso que, através da vida, nunca presenciei nenhum fato que me provasse ser o homem realmente o sexo forte. Na escola, do primário à universidade, os primeiros dez (10) lugares da classe, em nota, invariavelmente pertenciam às mulheres.

Pertenço à geração que assistiu à ascensão da mulher no mercado de trabalho. Dói-nos reconhecer, mas o fato é que elas são mais eficientes, esforçadas e determinadas do que nós. Pobre do executivo que, em uma reunião de negócios, topa pela frente com um interlocutor do sexo feminino. A luta é desigual. Quando não nos fulmina com argumentação melhor fundamentada, tratam de derreter nossa intransigência com um simples sorriso. Isso para não citar o extremo e desleal recurso da lágrima, sem dúvida a mais poderoso força hidráulica criada pela humanidade. Apesar de sua inegável superioridade, ainda lhes reservamos, nas organizações, funções quase exclusivamente subalternas.

Se, aos poucos, vão nos superando no campo profissional, desde sempre nos suplantaram na política de vida. São biológica e afetivamente mais resistentes do que o homem: vivem mais tempo do que nós e são capazes de viver sem nós. Quem nos dera poder afirmar o mesmo!

A arena onde os dois sexos medem forças é o matrimônio. O homem o procura em busca de carinho e sentido para a vida. A mulher procura nessa aliança o ninho seguro para criar seus filhos; obviamente, o poder de barganha do homem é muito menos. Acabam restando, nos dias atuais, três tipos de casamento: aqueles que não dão certo; aqueles que a mulher manda e aqueles em que o homem pensa que manda...

A mulher concebe, homem não. E aí esta fundamentalmente, a diferença. DEUS delegou a elas o Dom de reproduzir a vida. E nós nunca as perdoamos por isso. Através dos séculos, as flagelamos, as dominamos, as submetemos justamente para que, dessa forma, pudéssemos camuflar a nossa revolta, a nossa frustração, o nosso inconsciente sentimento de inferioridade. Impusemos a sua virgindade, exigimos a sua exclusividade, trancamo-las, a sete chaves, em nossos castelos. Elas, mais seguras, nunca nos reivindicam nada disso. As mulheres multiplicam a vida, os homens só possuem a sua. "A graça é enganadora e a beleza é passageira, mas a mulher que tem a DEUS merece louvor". (Juízes, 31:30).

A mulher acima de tudo, é MÃE. E não há palavra mais bela, mais suave e mais plena de conteúdo que lábios humanos sejam capazes de pronunciar; ao mesmo tempo pequena e imensa, significa o consolo da aflição, a luz na desesperança, a força na derrota; é o peito onde reclinamos nossa cabeça, a mãe que nos abençoa, o olho que nos protege.

Quer o destino que nossas MÃES cruzem os portões do infinito antes que nós o façamos. E assim, por sabedoria de DEUS, aprendemos a transferir todo o seu significado para nossas mulheres, que são mães de nossos filhos, e para nossas filhas que serão mães de nossos netos. Este é o sentido de nossa existência.

A mulher para nós, MAÇONS, é a maior estrela brilhante neste universo. Tanto é verdade que, quando iniciamos na Ordem Maçônica, nos é entregue dois pares de luvas brancas, sendo um par para nosso uso e o outro para a mulher que mais estimamos. As luvas, na Maçonaria, é símbolo de pureza e de candura e também de inocência. Por isso as luvas devem ser brancas. Usadas pelo homem, devem relembrar-lhe a mansidão e a pureza a que esta obrigado, e aquelas entregues à mulher simbolizam que o Maçom deve ter consideração pelo belo sexo, presenteando-as não à mulher que mais ama, mas aquela que considera mais digna de ser amada. Sem dúvida alguma, a mulher é tudo para nós.

...

Fonte: lmmb.

maio 27, 2023

VENERÁVEL DE UMA LOJA - Valdemar Sansão


O Venerável Mestre deve ter estudado a ciência maçônica e desempenhado os postos e dignidades inferiores. É necessário que possua um conhecimento profundo do homem e da sociedade, além de um caráter firme, mas razoável. As atribuições e deveres dos Veneráveis são muitos e de várias índoles e acham-se definidos e detalhados com precisão, de acordo com o Rito, a Constituição, o Código Maçônico, Leis e Resoluções da Potência de sua jurisdição, os decretos e Atos do Grão-Mestre, o Regulamento Particular e as deliberações da Loja.

Segundo o Ir.'. Gonzáles Ginório, da Venezuela, para ser Venerável Mestre de uma Oficina Maçônica, e por conseguinte tornar-se o guia dos Irmãos que compõem a sua Loja, o candidato deve possuir os seguintes predicados:

Sentir-se Maçom, de preferência a qualquer outra formação doutrinária; Não ser indiscreto, injusto ou indiferente; Não estar despido de entusiasmo e de espírito; Não ser indisciplinado, intolerante, inconformado e irascível; Não ser invejoso, apaixonado, rancoroso e intrigante; Ser estudioso e não superficial; Não alardear e abusar de sua inteligência; Não conspirar em eleições; Não pedir, suplicar ou de qualquer forma desejar posições. 

Há sem dúvida um Sinal infalível: o verdadeiro candidato para o posto governante de sua Loja é o Maçom que não pede cargo; não o cobiça e que, aspirando essa exaltação como um ideal, não se julga merecedor dela. Sentir-se sem mérito para um posto de preeminência é apreciar a dignidade do cargo e começar a ser merecedor do mesmo.

Conhecidos os pré requisitos que deve possuir um Venerável Mestre, devem os Mestres maçons, instalados ou não, procurarem nas suas Oficinas Irmãos que atendam a estas condições para que possam ser "o Pai, o Conselheiro, o Chefe e para tanto, deve ser aquele que harmoniza e pacifica; aquele agente transformador, aquele que, transformando-se, ajuda o seu Irmão também transformar-se; que passa a viver e representar a vontade da maioria sem impor a sua própria vontade". Essa reunião de elementos concretos ou abstratos de um todo, só reúne um líder que "mobiliza" os Irmãos a seu favor, que define as metas, mostra os caminhos e faz com que todos tenham vontade e orgulho de caminhar a seu lado.

Para ser claro, ser Venerável Mestre de uma Loja requer que o Mestre maçom, regularmente Iniciado, Elevado e Exaltado, possua: 

reputação ilibada; seja sincero e verdadeiro; seja afável no trato, inabalável, firme, arraigado, constante, intrépido e intransigente em seus princípios; seja amante da sabedoria; versado na nobre ciência da Arte Real, e ter sido legalmente eleito pelos Mestres Maçons de sua Loja.

É na Oficina que se forja o homem maçom que irá zelar pelos destinos maiores da Sublime Instituição.

O cargo de Venerável é eletivo e temporário. O exercício do cargo de Venerável dignifica seu ocupante, por ter sido escolhido entre os seus pares para a distinção de representá-los e conduzi-los à continuidade, visto, pois, como iluminado para a direção dos trabalhos, e tudo com sabedoria precisa para a orientação dos obreiros do quadro.

Na essência, o Venerável Mestre é um coordenador, um instrumento gerador de frequência, de vibração, um modelo organizador, mediador, aglutinador, preceptor, é com certeza um líder, tendo por princípio ser possuidor de grandes virtudes, e não um mandante, decisor, chefe ou ditador, mesmo porque lhe cabe manter a união do grupo, a harmonia do todo, o exemplo da conduta maçônica. É só ter a coragem de enxergar as coisas como elas são, sem ter a mente embaçada, pelo conformismo, e saber diferenciá-los. Mas isto tudo não se completará se o Venerável se esquecer da humildade e do senso de justiça que o cargo exige.

Se não for possível ao Irmão ter certeza de possuir os pré requisitos de um Venerável Mestre ou, ainda, as qualidades de um Mestre Instalado, não deve aceitar o Primeiro Malhete de sua Oficina.

Este Mestre deve ser o exemplo da conduta moral e espiritual de uma comunidade maçónica, pois este é o seu destino, assumido de livre e espontânea vontade. Deverá ser o espelho de sua Oficina ou sua Oficina seu espelho. Deverá ser um exemplo no cumprimento das Leis, Regulamentos, Regimentos, etc., que regem a Sublime Instituição, não descurando, no mínimo detalhe, da ritualística.

Concluindo, diríamos que, somente seremos fortes, individual e coletivamente, no dia em que conhecermos nossas fraquezas e nos dispusermos ao trabalho de sustentação das Colunas, suporte, amparo, e apoio do Venerável Mestre de nossa Augusta e Respeitável Loja Simbólica, pois sabemos que o homem se mantém e cresce na proporção da força do apoio de seus Irmãos.

maio 26, 2023

ONDE OCORRE A VERDADEIRA INICIAÇÃO? - Paulo André




Símbolos, metáforas ,alegorias e rituais, não devem serem tomados ao pé da letra, eles em si, talvez não tenham muito poder, vou dar um exemplo, pegue um pedaço de pano, pinte de vermelho e preto, e mostre para um chinês, dinamarquês ou lituano, para eles, aquilo não represente rigorosamente nada, agora mostre para um  flamenguista, ele se ajoelha e chama de manto sagrado

Ora, o amor pelo time, não está no pedaço de pano pintado, está dentro da pessoa, aquele símbolo é apenas o gatilho que dispara algo que já existe no interior humano, isso vale para a imensa maioria dos símbolos, metáforas, alegoria e rituais, despertar o poder interno humano

Essa é a missão da Iniciação, a pergunta é em qual plano ela acontece, físico, mental ou espiritual?

Creio que tudo ocorre no plano mental, é ali que definimos se vamos subir para o plano espiritual, ou despencar para a matéria, falo metaforicamente, a nível de consciência

Todo o impacto da ritualística deve causar em nossa mente algo muito forte, que desperte o Deus interior que dorme dentro de nós

Quando algo ocorre muito forte na mente, reverbera em nosso corpo físico, se você sentir mentalmente o gosto de um limão, sem dúvida fará uma careta como se fosse real, aliás, nisso se baseia a chamada lei da atração, tem que ser tão real na mente, que faça o corpo sentir

Sim, se nossa mente melhora, com certeza, nosso corpo físico também será beneficiado, tal é o poder da iniciação, se for bem feita, por quem ministra, bem assimilada por quem recebe, por isso, alguns consideram que o processo iniciático é um novo nascer

Mas, a grande questão, será se ela realmente ocorrer, no plano espiritual?

Mas aí vai muito da crença de cada um, de acreditar, que quando qualquer escola iniciática está trabalhando, ela não está agindo sozinha, e que a verdadeira iniciação ocorra em outras dimensões, ainda não acessíveis nem compreensíveis para nosso atual estágio de evolução.

Seria essa a experiência que alguns profetas, santos e avatares tentam nos descrever?

Isso mexe com a própria estrutura de nossas ordens, serão elas apenas instituições terrenas, trabalhando no reino mental e no físico?

Ou irá ela mais longe, atuando em dimensões muito além do que sonhamos que exista, e o processo pelo qual passamos fez da gente, Cidadãos Cósmicos

Estamos realmente preparados para a missão?

O primeiro passo, é começar a pensar e debater o assunto, somos mais do que realmente conseguimos perceber


maio 25, 2023

O CAFÉ É BRASILEIRO - Joab Nascimento











 O Café é Brasileiro


Extremamente saboroso

O café é uma bebida

Em toda mesa é servida

Seu sabor é bem gostoso

Com seu cheiro apetitoso

Feito moído e torrado

No Brasil é cultivado

Seus grãos tirados do pé

Nosso querido café

Pro mundo é exportado.


Veio da África Oriental

Precisamente na Etiópia

Nosso café não tem cópia

É um produto original

Ao nosso não têm igual

Seu sabor é incomparável

Extremamente agradável

É a principal bebida

Pro povo é a preferida

De valor inestimável.


Na Pérsia ele foi torrado

A primeira vez bebido

"In Natura" consumido

Em bebida transformado 

"Vinho da Arábia" chamado

Quando na Europa chegou

Essa alcunha o apelidou

Por todos foi bem aceito

Foi um deleite perfeito

E todo europeu gostou.


Era usado antigamente

Como fonte de energia

Quando o animal comia

Se tornava resistente,

Um Monge, ficou ciente,

Ao saber da informação

Dos frutos fez a infusão

Pra servir de estimulante

A insônia ficou constante

Pra fazer a sua oração.


Um criador de carneiro

Por Kaldi, era chamado

Foi por ele observado

Que o efeito era ligeiro 

Todo seu rebanho inteiro

Ficava ágil e saltitante

Com resistência possante

Comendo a folha e o fruto

Ele provou do produto

Viu a força revigorante.


As tribos da antiguidade

O café já conheciam

Grãos puros eles moíam

Usando a criatividade

Uma pasta, na verdade,

Pra alimentar animais

Alimentações normais

No Continente africano

O antigo pastor cigano

Hoje não alimenta mais.


Seu cultivo se estendeu

Na Arábia primeiramente

Depois foi pro ocidente

Onde a produção cresceu

Logo se desenvolveu

Para sua exportação

Conseguiu sua projeção

No terreno brasileiro

Hoje todo mundo inteiro

Tem a sua consumação.


Servido gelado ou quente

É bebida estimulante

Com açúcar ou adoçante

Seu sabor é envolvente

Agrado pra toda gente

Seu teor tem cafeína

Também contém proteína

Gordura e carboidrato

Bebida de fino trato

Composta de vitamina.


Servido grosso ou fino

Ou misturado com leite

Seu sabor é um deleite

Até feito cappucino

Pro pobre ou pro granfino

Tem o mesmo paladar

Logo depois de almoçar

Como um lanche ou merenda

Café é fruto de renda

Em todo mundo ele estar.


O seu cheiro é saboroso

Sua fragrância é muito forte

Um produto de auto porte

Seu sabor, demais gostoso,

É um preto majestoso

É paixão do brasileiro

Provado no mundo inteiro

Numa xícara ou na coité

O nossa amado café

É um néctar altaneiro.


O nosso café com pão

É o alimento da manhã

Do café eu virei fã

Bem quente, gelado não!

E se for com leite, então,

Fica bem mais saboroso

Gelado eu acho horroroso

Bloqueia o meu paladar

Para o sabor melhorar

Com nata ele mais gostoso.


Nosso café brasileiro

Bebida mais popular

É presente em todo lar

Se espalhou pro mundo inteiro

Ao sentir seu forte cheiro

Já desperta sua vontade

Um cafezinho na verdade

Não há ninguém que resiste

O seu apetite insiste

Com ar de felicidade.


Ele é bom de todo jeito

Até mesmo sendo amargo

Esse pretinho eu não largo

Quando bebo me deleito

Por dentro aquece meu peito

Mesmo puro, sem mistura,

Com "raspa" de rapadura

Dá sabor quando adoçar

Na hora de degustar

Seu sabor é gostosura.


Acompanhado com pão

Mais manteiga, queijo e leite

Com cuscuz é um deleite

Tapioca, melhor então,

Beiju dá satisfação

Também misturo grolado

Do lado está preparado

Ovo estrelado e presunto

Um bolo de milho eu junto

Fico bem alimentado.


Tem pesquisa que avalia

Que o café pode evitar

Se frequente eu tomar

4 xícaras por dia

Menor risco eu correria

De um ataque fulminante

Do coração palpitante

Me deixando confortável

Pruma vida mais saudável

O café é importante.


O café teve inimigos

Que eram contrário ao café

Contra às leis de Maomé

Aquele pó era um perigo

Tinham medo do castigo

Essa batalha foi vencida

A bebida foi aderida

Por doutores muçulmanos

Por poderosos profanos

Ela foi bem consumida.



O SÁBIO SAMURAI





Perto de Tóquio, vivia um grande samurai, já idoso, que agora se dedicava a ensinar Zen aos jovens. Apesar de sua idade, corria a lenda de que ainda era capaz de derrotar qualquer adversário. 

Certa tarde, um guerreiro, conhecido por sua total falta de escrúpulos, apareceu por ali. Era famoso por utilizar a técnica da provocação. Esperava que seu adversário fizesse o primeiro movimento e, dotado de uma inteligência privilegiada para observar os erros cometidos, contra-atacava com velocidade fulminante. O jovem e impaciente guerreiro jamais havia perdido uma luta. Conhecendo a reputação do samurai, estava ali para derrotá-lo e aumentar sua fama.

Todos os estudantes se manifestaram contra a idéia, mas o velho e sábio samurai aceitou o desafio. Foram todos para a praça da cidade. Lá, o jovem começou a insultar o velho mestre. Chutou algumas pedras em sua direção, cuspiu em seu rosto, gritou todos os insultos que conhecia, ofendendo, inclusive, seus ancestrais. Durante horas fez tudo para provocá-lo, mas o velho sábio permaneceu impassível. No final da tarde, sentindo-se exausto e humilhado, o impetuoso guerreiro desistiu e retirou-se. 

Desapontados pelo fato de o mestre ter aceitado tantos insultos e tantas provocações, os alunos perguntaram: — Como o senhor pôde suportar tanta indignação? Por que não usou sua espada, mesmo sabendo que poderia perder a luta, ao invés de se mostrar covarde e medroso diante de todos nós? 

Se alguém chega até você com um presente, e você não o aceita, a quem pertence o presente? — perguntou o Samurai. 

A quem tentou entregá-lo — respondeu um dos discípulos. 

O mesmo vale para a inveja, a raiva e os insultos — disse o mestre. — Quando não são aceites, continuam pertencendo a quem os carrega consigo.

A sua paz interior, depende exclusivamente de si.

As pessoas não lhe podem tirar a serenidade, só se você permitir.