RECORDAÇOES - Minhas experiências aéreas (2) - Michael Winetzki


        Por força do trabalho na divulgação da telemedicina, na empresa que eu trouxe para o Brasil, viajei incontáveis horas, em todos os horários, literalmente do Oiapoque ao Chuí, de Porto Alegre a Belém passando por todas as capitais e principais cidades do país. Nunca gostei muito de voar, porem ossos do ofício, eu tinha de o fazer. Mas nunca houve grandes problemas. Perdi um avião em Cuiabá porque não prestei atenção na diferença de fuso horário. A comida, na época, era boa, o pessoal de bordo e de aeroporto atencioso, as aeromoças bonitas, um colírio para os olhos.

        Mas nas viagens para o exterior houve aventuras sim.

        Indo para uma convenção no Havaí, perdemos o avião em Los Angeles porque a van da American Airlines que nos transportava ficou retida em um enorme congestionamento. Pronto, que grande problema pensei. Foi uma oportunidade de ouro. A companhia aérea nos realocou no próximo voo na primeira classe, como compensação do problema. Foi a primeira e única vez na vida que eu senti como vivem os milionários que podem pagar estas passagens. Foi maravilhoso.

        Num voo para Israel, com escala em Frankfurt, desembarcamos num terminal afastado que estava cercado por tanques e soldados armados. Parecia que estávamos entrando numa guerra. Nada, A segurança havia recebido uma ameaça de ataque terrorista a passageiros que se destinavam a Israel, razão daquela estrepolia toda. Mas houve mais. Eu estava levando cinco quilos (10 pacotes) de café da marca Brasileiro, com que iria presentear meus amigos em Israel. No Brasil não houve problemas no embarque, mas na Alemanha abriram todos os pacotes com uma faca e jogaram todo o café fora. Fiquei sabendo mais tarde que traficantes colocavam cocaína em pacotes de café porque o forte cheiro da bebida por vezes enganava os cães farejadores.

        Numa escala em Paris no Aeroporto Charles de Gaulle tínhamos de aguardar a conexão por umas quatro horas. Sem ter muito o que fazer sentei em um café e pedi caríssimos croissants. Foi extraordinário. Talvez um dos melhores sabores que provei na vida. Valeu cada centavo do valor que paguei por eles e nunca mais, em lugar algum, pude provar algo igual.

        Entrar e sair por aeroporto em Israel é sempre uma aventura. Eu fui muitas vezes, mas como tenho passaporte israelense para mim era apenas formalidade. Mas em ocasiões diferentes fui acompanhado uma vez pelo meu cliente, o médico Dr. Branco, um nordestino bem moreno com aparência de árabe e em outra pelo meu companheiro de Rotary e padrinho de casamento, Chucre Suaid, um descendente de libaneses nascido em Uberlândia. É complicado explicar como éramos parados para vistoria em praticamente todos os lugares que íamos, e após explicar que éramos do Brasil nos liberavamos, algumas vezes com desculpas e em outras com resmungos.

        Chucre, solteiro na época, foi uma noite em uma boate e nos contou na manhã seguinte que havia caído nas graças de uma linda loura, de pernas longas e roupa de tigresa, que quis saber detalhes de sua vida enquanto ele tomava seu uísque. Ele se encantou com a jovem que só veio a rever alguns dias depois, vestida em uniforme militar, quando estávamos no aeroporto retornando. Foi aí que a ficha caiu.

        Uma das ocasiões que fui a Israel levando comigo alguns médicos fizemos uma escala no Aeroporto de Zurich, na Suíça. Estávamos com as malas nos carrinhos e no carrinho do Dr. Luís César o seu notebook estava naquele suporte que fica próximo a barra de empurrar. Enquanto ele marcava a passagem no balcão da empresa deixando o carrinho um pouco atrás de si o notebook sumiu. Ninguém viu nada. Como o voo saía em seguida não deu nem tempo de reclamar na polícia, mas ficou a preciosa lição, não é só no Brasil que existem larápios em aeroportos.

        O aeroporto Incheon de Seul é o mais espetacular de todos os aeroportos que conheci. Enorme e limpíssimo, bem longe da cidade, ele parece uma cidade por si só. Tem hotéis, spa, jardins por toda a parte, um cassino e até acreditem, um campo de golfe. As lojas são maravilhosas e talvez seja necessária uma semana inteira para que se possa conhece-lo todo. No entanto tudo funciona com perfeição.

        Retornando da Coréia do Sul para o Brasil, em companhia de dois amigos, o avião ficou retido na Bélgica por conta de uma forte nevasca. Era por volta das 20h00 e o voo só sairia na manha seguinte depois que as máquinas retirassem a neve das pistas. Eu sempre uso uma bandeirinha do Brasil na roupa ou no boné quando viajo para o exterior. Decidimos ir experimentar a excelente cerveja belga na Grand Place, uma das principais atrações da cidade e onde nos disseram havia uma profusão de bares nas imediações. Verdade, havia mesmo. No primeiro bar que entramos, ao identificar a bandeira fomos chamados para participar de um alegre e ligeiramente embriagado grupo, umas seis pessoas. Dali a duas horas nos levaram para outro bar e o grupo aumentou. No quarto bar, já na hora de retornar para o aeroporto, um grupo de mais de 20 pessoas já bem mais alegre e alcoolizado, nos acompanhou de volta ao terminal cantando e gritando como se houvessem ganhado um campeonato de futebol. Noite inesquecível. Ah, não pagamos nenhuma conta.

     Uma outra ocasião ficaríamos aguardando por cerca de oito horas numa escala no Aeroporto de Amsterdã. Ele é bem grande, mas muito agradável. Tem uma estação de metrô dentro do aeroporto. Decidimos ir almoçar na cidade que nos disseram ficava a 20 ou 30 minutos de trem do terminal. Fomos comprar as passagens no guichê, mas dali até entrar no trem ninguém as pediu para ver. Não havia catraca nem nada. Entrava-se no vagão direto. Poder-se-ia viajar sem pagar nada.  Perguntamos a um nativo a razão disso e o holandês explicou, faz parte da cultura holandesa a confiança no cidadão. Ao retornarmos ainda havia muito tempo disponível e havia uma exposição com quadros de Rubens que o Museu Nacional da Holanda – Rijksmuseum – fornecia e trocava periodicamente. Era absolutamente espetacular. O tempo foi pouco para curtir algumas das mais espetaculares obras da história da arte.

        Há muitas outras aventuras que contarei em outra postagem.

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