NA MAÇONARIA VALORIZA-SE 0 SILÊNCIO. Cleber Basso

 

Nossos  dicionários  são  fartos  em  descrever  o  silêncio  como  sendo  a  atitude  mística  diante  da infalibilidade  do  Ser  supremo,  o  calar-se  diante  de  determinada  situação,  estar  mudo  ou  somente pensando. 

Para  filosofia,  o  silencio  não  se  confunde  com  ausência  de  ruído,  pois  nada  mais  é  do  que  a abolição  da  palavra  ou  da  linguagem.

Independentemente  da  interpretação  que  se  tem  do  silêncio  no  mundo  profano,  aqui  neste  trabalho temos  o  silêncio  como  instrumento  de  transformação  e  aprendizado.

Simbolicamente,  o  Apr∴  não  sabe  falar,  não  podendo,  portanto,  fazer  uso  da  palavra.  

Esse  impedimento, todavia,  é  apenas  simbólico,  pois  o  Apr∴  tem  direito  de  falar  em  loja,  desde  que  não  aborde  assuntos ainda  incompatíveis  com  seu  Grau. 

Esse  impedimento  simbólico  tem  raízes  históricas  e  místicas.

Sendo,  a  mística  maçônica,  muito influenciada  pelos  costumes  das  antigas  civilizações. 

Esse  simbolismo  pode  ser  visto  em  duas instituições  da  antiguidade:  o  Mitraísmo  persa  e  o  Pitagorismo.  

Embora  não  se  possa  procurar  profundas semelhanças  entre  graus  simbólicos  da  Maçonaria  e  os  Graus  do  Mitraísmo,  existem  pontos  em  comum entre  Apr∴  Maçônico  e  o  Corvo  Mitráico,  pois  ambos  não  podem,  simbolicamente,  criar  ideias  próprias, limitando-se  a  ouvir,  sem  falar.   

O  mesmo  ocorre  em  relação  aos  Ouvintes,  do  Pitagorismo,  os  quais,  durante  o  seu  aprendizado,  se limitavam  a  ouvir  e  aprender,  numa  situação  muito  similar  à  do  Apr∴,  que,  simbolicamente,  é  uma criança,  que  não  sabe  falar  e  que  se  limita,  também,  a  ouvir  e aprender. 

Pitágoras  na  antiguidade afirmava  a  seus  discípulos  que  “aquele  que  não  sabe  ouvir,  não  sabe  falar”.

Importante  ressaltar  que  o  silencio  aqui  em  comento  não  é  o  silencio  maçônico  propriamente  dito,  aquele que  cogita  inúmeras  e  infundadas  especulações  profanas,  ou  o  silêncio  no  juramento  ocorrido  ao  término da  ritualística.

O  silêncio  em  testilha  tem  como  por  finalidade  o  aprendizado,  tendo  como  destaque  o  APRENDIZ MAÇON. 

Como  ato  de  humildade  que  o  homem  “iniciado”  se  vê  obrigado  a  trazer  de  volta  para  si  e  para seu  comportamento  depois  de  tê-lo  perdido  em  algum  momento  de  sua  vida,  como  o  cinzel  a  talhar  a pedra  bruta  para  transformá-la  em  pedra  polida,  sendo  que  tal  silêncio  deve  ocorrer  de  forma desinteressada  e  sem  reservas  ou  intenções!

Quando  o  recém  iniciado  é  advertido  de  que  não  poderá  falar  em  loja,  desde  a  sua  iniciação  até  à  sua passagem  a  mestre,  devendo  apenas  ouvir  e  observar,  está-se  simplesmente  a  dar  continuidade  a  um dos  mais  antigos  costumes  das  ordens  iniciáticas:  o  silêncio.

O  profano,  ao  iniciar-se,  não  tem  como  expor  suas  ideias  justamente  porque  nada  sabe  e,  diante  desta constatação,  o  silêncio  é  seu  melhor  companheiro,  pois  é  o  singular  momento  de  criação  e  transformação. 

O  Aprendiz  Maçom  encontra-se  em  processo  de  integração  ao  novo  grupo,  com  regras  específicas,  com uma  ligação  pessoal  forte. 

Desejaria,  porventura,  ter  uma  atitude  proativa  de  se  dar  a  conhecer,  de intervir,  de  mostrar  o  seu  valor.  

Mas  não  precisa:  que  tem  valor,  já  todo  o  grupo  o  sabe  por  isso  o  aceitou no  seu  seio,  o  conhecimento  advirá,  nos  dois  sentidos,  com  o  tempo  e  o  aprendizado.

Está  num  processo  de  mudança  de  paradigma  quanto  à  forma  de  estar  social. 

Muitos  dos  valores apreciados  nos  meios  profanos  não  serão  os  mesmos  que  são  preferidos  entre  os  maçons.  

Na  Maçonaria não  se  busca  eficiência,  produtividade,  riqueza,  estatuto,  etc..  

Na  Maçonaria  valoriza-se  a  força  de caráter,  o  reconhecimento  das  próprias  imperfeições,  o  desejo  de  melhorar,  a  ponderação,  o  respeito pelo  outro,  a  tolerância  e  a  paciência,  dentre  outros. 

Na Maçonaria valoriza-se o SILÊNCIO. 


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