COLUNA DA HARMONIA - Antonio Rocha Fadista


Esta é a única Coluna de uma Loja Maçónica constituída por um só Irmão, o Mestre de Harmonia. No passado, a Coluna da Harmonia era composta pelo conjunto dos Irmãos músicos que contribuíam para o brilhantismo dos rituais e dos festejos maçónicos. Com o avanço tecnológico, os músicos foram substituídos pelos aparelhos electrónicos, operados pelo Mestre de Harmonia.

No seu sentido mais amplo, a Harmonia é a ciência da combinação dos sons, formando os acordes musicais. A palavra grega MOUSIKE significa não apenas música, mas também todas as formas de expressão que tenham por finalidade a criação da Beleza.

Pitágoras usava a música para fortalecer a união entre os seus discípulos, por entender que a música instruía e purificava a sua mente. Na sua Escola, a música era entendida como disciplina moral por atuar como freio aos ímpetos agressivos dos ser humanos.

A aprendizagem empírica, revelada através dos sentidos, pode ser conseguida não só pela contemplação das belas formas e da beleza das figuras que nos rodeiam, mas também pela audição de ritmos e de melodias que acalmam os ímpetos e as paixões. Deste modo, angústia, anseios frustrados, agressões verbais, stress mental, podem ser eliminados pela audição de músicas suaves e agradáveis.

Numa reunião maçônica deve-se tocar a música que melhor traduza os sentimentos dos Irmãos em cada momento do ritual.

Muitos compositores, nossos Irmãos, produziram belas músicas que merecem – e devem – ser ouvidas nos nossos Templos. Entre esta plêiade, podemos citar: Mozart, Beethoven, Haendel, Sibelius, Franz Lizt, John Philipp Souza (de ascendência portuguesa), Luigi Cherubini, Antonio Salieri, Carlos Gomes (brasileiro), etc.

As primeiras composições maçónicas datam de 1723 e foram publicadas junto com a primeira Constituição de Grande Loja de Londres; São elas:

A Canção dos Aprendizes – Matthew Birkhead

A Canção dos Companheiros – Charles Delafaye

A Canção do Vigilante – James Anderson

A Canção do Mestre – James Anderson

Esta última, publicada em 1738 juntamente com a segunda edição das Constituições de Anderson.

No Brasil, foram compostas as seguintes obras:

Hymno do REAA – M. A . Silveira Neto e Jerónimo Pires Missel

Hino Maçons Avante – Jorge Buarque Lira e Mário Vicente Lima

Hino Maçónico – D. Pedro I (D. Pedro IV de Portugal)

Canto Ritualístico Maçónico – Francisco Sabetta e José Bento Abatayguara

Hino Maçónico para Abertura e Fechamento dos Trabalhos – Otaviano Bastos

A Acácia Amarela – Luiz Gonzaga (o rei do baião)

Além destas, existem também composições maçónicas para os Rituais de Iniciação, de Elevação e de Exaltação, de Reconhecimento Conjugal e de Pompas Fúnebres.

Tendo em vista o carácter universalista da nossa Ordem, o Mestre de Harmonia não deve programar a execução de música religiosa de nenhum tipo. Deste modo será evitado o constrangimento que um Irmão não católico poderá sentir ao ouvir, por exemplo, a Ave Maria de Gounod. Solos de música cantada também devem ser evitados. A música coral, como por exemplo o Hino Maçónico de D. Pedro I ou a Ode à Alegria, de Beethoven, poderá ser programada sem problemas, mas, na maioria das vezes, a música mais indicada é sempre a instrumental.

O Mestre de Harmonia previamente preparará o programa a ser executado, de acordo com o tipo de reunião e de acordo com o Ritual. Numa Iniciação, no Rito Escocês Antigo e Aceito, podem ser destacados os seguintes momentos especiais, para os quais será programada uma música específica, que listamos a título de exemplo:

Entrada dos Candidatos – “A Criação” de Haydn – trechos que descrevem a passagem do Mundo do Caos para a Ordem e das Trevas para a Luz (Ordo ab Chao)

Oração ao GADU – “Cravo Bem Temperado” – Bach – Melodia que convida à concentração e à meditação

Taça Sagrada – “A Criação” – Trechos da abertura do Oratório que simbolizam a purificação e a ilusão profana

A Primeira Viagem – “Tempestade e Chuva” – Efeitos sonoros com ruídos de chuva, ventania e trovões. Colecção Action! Câmera! Music! Gravação do Reader’s Digest – Distribuição da Borges & Damasceno

A Segunda Viagem – “A Vitória de Wellington” – Beethoven – Adequada para acompanhar o toque “descompassado das espadas”.

Purificação Pela Água – “Música Aquática” – Haendel – música cujos efeitos sonoros acentuam o significado do evento

Terceira Viagem – “Romance Para Violino nº 2” – Beethoven – Melodia que transmite a suavidade emocional do evento.

Purificação pelo Fogo – “As Valquírias – Wagner – Cena do Fogo Mágico que reforça o sentido dramático do ritual.

Tronco de Beneficência – “Pannis Angelicus” – Cesar Frank – marca o profundo significado da solidariedade.

Juramento – “Prelúdio nº 1 em dó maior do Cravo Bem Temperado” – Bach – adequada para a meditação e que marca a solenidade do momento ritual.

LUZ – “Assim Falou Zaratustra” – Strauss – Parte inicial do poema sinfónico que descreve o nascer do sol e o sentimento do poder de Deus sobre o homem. Aumenta o deslumbramento do momento culminante da Iniciação

Abraço do Venerável – “Marcha Festiva” – Grieg – (Suite Sigurd Jorsalfar – Opus 56 ).

Entrada dos Neófitos – “Glória aos Iniciados” (Coro final da Ópera a Flauta Mágica, de Mozart) – Coro de Graças a Ísis e Osíris, e de congratulações aos Iniciados, que pela sua coragem conquistaram o direito à Beleza e à Sabedoria

Proclamações – “Ode à Alegria” – Beethoven – Excerto Orquestral da Nona Sinfonia – deve ser tocada após cada uma das Proclamações. É um hino que traduz a alegria dos Irmãos ao receber os recém Iniciados.

Uma Sessão Económica, por exemplo, não pode prescindir de dois ou três bons programas para a Harmonia, previamente programados. Isto permitirá variar as músicas executadas, evitando a monotonia da repetição.

A escolha de uma música para uma reunião maçónica exige do Mestre de Harmonia um mínimo de cultura musical, além da necessária sensibilidade para interpretar o significado de cada passagem do Ritual. Repetimos, a música deve estar em perfeita sintonia com cada momento da ritualística, induzindo nos Irmãos presentes a purificação das suas mentes, deixando-os tranquilos e predispostos à emissão de sentimentos de amor e de fraternidade.

A música promove a exaltação das faculdades intelectuais e espirituais do ser humano. Ela atinge e aperfeiçoa a sensibilidade dos Irmãos, permitindo que eles vibrem em sintonia com os acordes da Harmonia Universal cujas leis tudo governam, e pelas quais a Maçonaria busca o aprimoramento moral e espiritual da Humanidade.



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