SIMBOLISMO INICIÁTICO - João Anatalino Rodrigues

A Maçonaria é essencialmente um exercício espiritual. Destina-se a moldar o caráter do seu praticante, fazendo dele um verdadeiro obreiro do universo. Nos templos maçônicos não se pratica uma religião, mas sim uma Arte, cujo propósito é o aperfeiçoamento do ser humano, a partir de uma forma de pensar e de um modelo de conduta, no qual se releva o respeito pela pessoa humana e o bem estar da comunidade.

Não há um modelo filosófico a ser seguido nem uma orientação religiosa imposta como paradigma. Por esta razão os seus fundamentos estão assentes em símbolos, lendas e alegorias, e a sua aprendizagem dá-se através do método iniciático, o que exige do seu praticante um espírito aberto e antidogmático, capaz de trabalhar nos territórios da matéria e do espírito com igual desenvoltura.

Método iniciático, ou psicológico, é aquele segundo o qual os ensinamentos não são dirigidos à razão do aprendiz, mas ao seu inconsciente. Por isso, os ensinamentos maçônicos não seguem a organização epistemológica própria de uma ciência ou doutrina, como seria da praxe em qualquer forma de aprendizagem. O aprendiz Maçom deve participar desses ensinamentos através de repetidas iniciações, que têm como objetivo “impressionar” o seu espírito e levá-lo, mais a “sentir” o ensinamento, do que propriamente compreender a sua lógica.

A Maçonaria é aprendida através de símbolos e alegorias que transmitem verdades morais e iniciáticas. Por isso, encontraremos nos rituais de todos os graus uma alusão a símbolos e lendas, de alguma forma conectados com os ensinamentos que se deseja transmitir.

A mitologia é a forma mais antiga que o pensamento humano encontrou para integrar os conteúdos do inconsciente coletivo da humanidade com os factos com os quais era confrontada. Não podendo explicar a origem de um relâmpago, nem a sua força destruidora, por exemplo, imaginou-se ser o mesmo um atributo dos deuses no exercício da sua cólera contra os homens. Não concebendo a forma pela qual o conhecimento aflora dentro da mente, criou-se a imagem de um herói roubando o fogo dos deuses e dando-o, de presente aos homens.

Esta é uma referência à mitologia grega do raio de Zeus e ao mito de Prometeu, que roubou o fogo sagrado e o entregou ao homem, dando origem ao conhecimento humano. 

Por se tratar de uma Arte destinada à construção do carácter humano, a Maçonaria adotou como base da sua filosofia e como suporte do seu simbolismo os fundamentos e as ferramentas da ciência contida na arte de construir, ou seja, a Arquitetura. Daí o porquê de a grande maioria dos símbolos, alegorias, lendas, analogias e arquétipos presentes na Arte Real estarem todos ligados à ideia da construção ou da reconstrução, física ou espiritual, do edifício moral da humanidade.

Evidentemente, há, nesta questão, um fundamento histórico inegável que não se pode ignorar. Pelo fato de a Maçonaria estar umbilicalmente ligada aos antigos construtores medievais (pedreiros livres, como se chamavam esses profissionais), é claro que boa parte da sua simbologia provém desse fato. Mas hoje, sendo a Maçonaria essencialmente especulativa, isto é, análoga a uma escola de filosofia, com características de entidade filantrópica e associação corporativa, não há mais que se falar na simbologia dos antigos pedreiros em termos operativos, mas apenas como alegorias de fundo espiritual.

A Arquitetura de que se fala na Maçonaria refere-se à construção de uma sociedade justa e fraterna, onde todas as pessoas possam viver em harmonia e união. Neste, como noutros princípios defendidos pela Irmandade, ela não se afasta da proposta esotérica contida em todas as religiões, que prometem um estado interior de bem estar a ser experimentado ao nível do espírito.

E também integra uma esperança de carácter profano, buscada por todas as experiências políticas já tentadas pelo homem na tarefa de organização das suas sociedades, que é a de proporcionar bem estar e justiça para todos. Em ambos os casos, a analogia com a arte da Arquitetura é bastante adequada, pois trata-se sempre de formatar um mundo ideal. Daí ser a Maçonaria ser chamada de Arte Real e o Maçom de pedreiro moral. Em tudo isto se releva a arte de construir.

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