maio 31, 2025

AINDA ESTAMOS EM PLENO MAR...- Francisco Feitosa


Sim, passaram-se 137 anos. Tantas lanças quebradas, várias batalhas vencidas, quantas conquistas... E, ainda sim, estamos em pleno mar!

Na voz daquele jovem ardente, no seu grito forte e estridente, ainda hoje, ecoa em nossas mentes, a súplica da conscientização.

Sim, nobre Antônio Frederico, tu que se eternizou como o jovem Castro Alves, e que nos faz contemplar, com suas poesias, as “Espumas Flutuantes”, por vezes ignoradas por seu “Navio Negreiro”. Sim, ilustre “Cantor dos Escravos”, vergonhosamente, confesso: ainda, estamos em pleno mar...

Tais navios não mais trafegam, não mais traficam. Contudo, de seus porões, ainda, ecoa a dor de humanos seres que, por má sorte, nasceram de cor diferente! Diante de tamanha crueldade, percebo o embalar do silêncio, pelo sussurrar do dramaturgo romano Tito Plauto (254-184 a.C.), em sua burlesca comédia Asinária, voltando a nos alertar: “O homem é o lobo do próprio homem!”.

Não vejo cor, não vejo pele, pois te enxergo com olhos da Alma! E, em meio a cegueira da discriminação, tenho orgulho de meu daltonismo espiritual e prefiro te reencontrar em um caloroso abraço, meu Irmão.

A pena, de tão áurea que era, na mão de Isabel, de fato, aboliu no papel o que, ao longo dos tempos a falta de consciência de muitos preferiu ignorar. Hoje, navegamos em mares nem tão revoltos, mas, ainda sim, estamos em pleno mar... 

Contudo, mares revoltos fazem bons marinheiros. E, inspirados por Castro Alves, Ruy Barbosa, Luiz Gama, Rebouças, Patrocínio, Nabuco e Maria Firmina – a primeira escritora negra, essa Áurea Lei saiu do papel e, pouco a pouco, incutiu-se nas mentes de negros e de brancos, gente de boa índole, acelerando o compasso de seus corações, a bombear o mesmo sangue carmesim da liberdade. 

Como escritores, antes de tudo, somos Arautos da Conscientização! Não existem lados, somos todos Um! Embora, vivamos em um dualismo exacerbado, sendo estimulados a nos digladiar, pelo mais banal dos motivos. E assim, seguimos manipulados pelo Sistema, pelo mesmo “Modus Operandi” já usado na Roma Antiga: dividir para governar. Pois é!  

E, até que último distraído transeunte se aperceba, continuaremos a fazer ecoar, em crônicas, poesias e versos, a estridente voz de abolicionistas, pois tais lutas, jamais, foram em vão!

137 anos se passaram, um número tão enigmático, mas, para quem tem olhos de ver, conseguirá enxergar a Unidade, como a Essência Divina a nos convidar a refletir que, antes de tudo, somos todos Um; essa mesma Unidade, por certo, manifesta-se na Trindade, a qual Pitágoras atribui à Perfeição; e o número 7, relacionado ao Sagrado, abre-se em veredas da evolução, através dos mais diversos e misteriosos Setenários. 

Não por um acaso volvi meu olhar para esse tema e me inspirei a escrevê-lo. E, também, não por um acaso, fui inspirado a fazê-lo nesse dia, sob os influxos de mais um 13 de maio, essa tão nobre efeméride. Não obstante, 13 de maio é o dia dedicado à Mãe Divina e, também, não por um acaso, coube a Isabel – a Ísis Bel ou a bela Ísis, libertá-los.

Também, curiosamente, essa data marca o 133º dia do ano e, 133 é o Salmo da Concórdia Universal, “que celebra a beleza e a alegria da união entre irmãos, comparando-a a um óleo perfumado e ao orvalho do monte Hermom, que desce sobre o monte Sião”. Este Salmo assim se inicia: “Oh, quão bom e quão suave é que os Irmãos vivam em união!” 

Sim, apesar de tantas conquistas e realizações, e de não mais estarmos aprisionados a antigas correntes, precisamos, todos nós, produto dessa rica miscigenação que somos, formada por índios, europeus e negros, ainda, libertar as mentes de alguns que, presos às correntes da inconsciência, insistem em navegar com seus “navios negreiros” da prepotência, desfraldando a rota bandeira da intolerância, que tremula envergonhada no mastro da pseudoliberdade, que tanto nos entristece, ao percebermos tamanho desprezo pelo próximo, dividindo-nos em castas, um povo que deveria se orgulhar do privilégio de correr em suas veias o sangue de todas as raças.  

Sim, apesar de todas as conquistas, temos pouco a comemorar, pois, de fato, ainda, estamos em pleno mar...


Escrito em 13/maio/25. Texto apresentado na participação do Grupo Literário Fonte das letras, na 9ª FLAVIR – Feira Literária das Águas Virtuosas – edição São Lourenço, no Espaço Cultural Bavária, em 29/05/25*.

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