junho 15, 2025

MORAL MAÇÔNICA: TEORIA E PRÁTICA - Kennyo Ismail


Outro dia estava palestrando numa loja e, como de costume, o assunto “evasão maçónica” veio à tona. E, também como de costume, alguns irmãos demonstraram apego à cultura maçónica brasileira de que “a Maçonaria é perfeita” e “quem saiu nem deveria ter entrado”, o que costumo chamar de arrogância institucional:

enquanto uma potência não tiver a humildade de querer entender como ela pode melhorar para reduzir a insatisfação dos maçons, por maior que ela seja, ela não será “grande”, no melhor sentido da palavra.

Contudo, um dos irmãos presentes quis saber na prática, com exemplos, mesmo que fictícios, porque um irmão ficaria insatisfeito com a Maçonaria. Eis aqui um raciocínio hipotético, que não atinge apenas a satisfação de maçons, mas a Maçonaria perante a sociedade:

Se um líder da Maçonaria compra, com o dinheiro da potência, um carro importado de 250 mil reais para buscá-lo e levá-lo em casa, a uma distância que daria para ele ir a pé; e outro gasta 15 mil num único jantar de uma viagem; e, em ambos os casos, ninguém faz nada… qual a moral que a Maçonaria tem para reclamar da má aplicação do dinheiro público?

Se uma liderança maçónica não consegue ir num evento maçónico familiar sem ficar bêbado e inconveniente, e ninguém reclama… qual a moral que a Maçonaria tem para reclamar da postura de qualquer político, ou até mesmo dos seus próprios membros?

Se um dirigente na Maçonaria difama e boicota um palestrante junto às lojas da sua jurisdição, simplesmente porque não gosta do que ele fala… qual a moral que a Maçonaria tem para defender a liberdade de expressão e de imprensa?

Se um poderoso Maçom pede para outro ameaçar e silenciar um escritor maçónico que escreveu algo que ele não concorda… qual a moral que a Maçonaria tem para reclamar de abuso de poder por parte de qualquer autoridade do judiciário, do executivo ou do legislativo?

Se um grupo de situação consegue fazer um malabarismo técnico para impugnar uma candidatura de oposição, e ninguém toma qualquer providência… que moral qualquer irmão têm para, se de direita, reclamar que o Bolsonaro está inelegível ou, se de esquerda, reclamar que o Lula foi preso às vésperas de uma eleição?

A Maçonaria é um “sistema de moralidade”. Como todo sistema aberto e instalado num ambiente externo, o seu objetivo é que o “profano” entre no sistema, o qual, funcionando, o transforma num “Maçom”, ou seja, um ser moral, para que este transforme o ambiente externo, de modo a colaborar com o bem-estar e a felicidade da sociedade. Mas se esse sistema educacional de moralidade não estiver funcionando corretamente, a ignorância, a intolerância, o fanatismo, a tirania e os vícios, aprendidos anteriormente no ambiente externo, terão mais força dentro do sistema do que as suas próprias engrenagens.

Por sorte, estas são apenas hipóteses para fins de racionalidade, que não ocorrem nas instituições maçónicas brasileiras! Mas todas são possíveis, se não investirmos em educação maçónica, se não escolhermos os dirigentes corretos e, principalmente, se formos omissos aos seus erros. A relativização do errado num sistema de moralidade é apenas a consequência, tendo como causa o abandono das suas engrenagens educativas.

A relativização dos erros de lideranças e a normalização de abusos e absurdos pelo povo maçónico afetaria a sua moral para se manifestar no mundo “profano”. Seria, no mínimo, incoerência. Entretanto, talvez o maior impacto desse comportamento coletivo hipotético seria a saída de novos entrantes, que ainda não estariam anestesiados a tais erros e sairiam por concluírem que o que a Maçonaria ensina é distinto do que os maçons estão praticando.

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