Fuzilamento de Frei Caneca nos arredores do Forte de São Tiago das Cinco Pontas, Recife, em 1825. Ilustração de Ivan Wasth Rodrigues, 1959
Frei Joaquim do Amor Divino Caneca (1779-1825), esteve envolvido em várias revoltas no Nordeste do Brasil durante o início do século XIX. Atuou como principal líder da Revolta de Pernambuco . Como jornalista, fundou e editou o Typhis Pernambucano , jornal semanal utilizado na Confederação do Equador.
A Maçonaria e suas ideias marcaram esses acontecimentos políticos. Por estranho que possa parecer, semelhantes idéias se implantaram em Pernambuco através do Seminário de Nossa Senhora da Graça de Olinda, pelo seu fundador, o bispo e maçom fluminense Dom José Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho, de cultura incomum para sua época. Este seminário, inaugurado em 16/02/1800 e fechado em 1817, formou além de Frei Caneca, vários sacerdotes que aderiram à revolução daquele ano contra o sistema monárquico e o governador de Pernambuco, Caetano Pinto de Miranda Montenegro.
O Frei Caneca, da ordem carmelita, exerceu o posto de capitão de guerrilhas participou ativamente na revolta de 1817 contra Dom João VI e na revolta de 1824 contra Dom Pedro I. Em 1824 foi detido nas funções de Secretário das tropas sublevadas e Orientador espiritual, foi preso pelas tropas Imperiais e executado por fuzilamento em 1825.
Frei Joaquim do Amor Divino Caneca, já ordenado em 1801, foi iniciado maçom, conforme registro do padre Dias Martins, em seu livro Mártires Pernambucanos, publicado inicialmente em 1853. Nessa obra, o autor acrescenta terem ingressado na Ordem, na mesma Loja Maçônica, os senhores Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, irmão de José Bonifácio, e o padre Miguelinho.
Percebe na correspondência de Frei Caneca a defesa dos ideais maçônicos e liberdade política, com a valorização da defesa da independência e liberdade política, que a maçonaria cultua ao indivíduo:
"A franco-maçonaria está mais adiantada [ ... ] porque está aqui [em Pernambuco] há mais tempo estabelecida e mais acreditada pela sua antiguidade no universo, universalidade na Europa, grandes personagens que nela têm figurado, pelos bens que há feito à humanidade, mormente no tempo da Revolução Francesa, e de presente da nossa independência e liberdade política."
Dirigindo o jornal O Typhis Pernambucano, Frei Caneca fazia sua pregação republicana, denunciando o "autoritarismo imperial" e conclamando a população à luta.
Em seu primeiro número, lançado em 25 de dezembro de 1823, o Typhis anunciava que o país parecia "uma nau destroçada pela fúria oceânica, ameaçando soçobro, carecendo da ajuda decidida e abnegada de todos os seus filhos".
Nas páginas de seu jornal, Frei Caneca, que tivera participação ativa na Revolução Pernambucana de 1817 e que, segundo o Conde dos Arcos, fora um dos que haviam transformado Pernambuco num "covil de monstros infiéis", considerava a Constituição Outorgada "iliberal e contrária à liberdade, à Independência e direitos do Brasil". Entendia ser o Poder Moderador "a chave mestra da opressão da nação brasileira".
Suas claras posições políticas também chamaram a atenção de Maria Graham, que, passando por Recife e observando o espírito de rebeldia que contagiava os pernambucanos, comentou sobre "um padre" lá existente, Frei Caneca, nele identificando, como em todo pernambucano, um sentido de independência.
Membro da Academia do Paraíso, uma das lojas maçônicas da época, em março de 1817, circula entre os revoltosos incentivando-os. No mês de maio, as tropas portuguesas ocupam Recife. Frei Caneca é preso e junto com outros líderes é remetido aos cárceres da Cadeia da Relação, na Bahia, onde fica até 1821.
As idéias de 1817 ainda estão bem vivas quando D. Pedro 1 dissolve a Constituinte em 1823 e decreta a Constituição de 1824, numa clara demonstração de seu poder Escuta-se a voz de Frei Caneca:
"Sim, é verdade que a Revolução de 1817 não arraigou, nem deu frutos maiores, porém podes negar que causou bens que não são para ser desprezados? (...) As sementes do liberalismo, que ela semeou, se têm desenvolvido de um modo incompreensível"
Frei Caneca apoiou a formação da primeira Junta Governativa de Pernambuco, presidida por um comerciante, Gervásio Pires Ferreira, que o nomeou para a cadeira pública de geometria da vila do Recife.
Em 1824, quando D. Pedro I dissolveu a assembléia nacional constituinte, passando a ter-se uma nova constituição outorgada no Brasil. As lutas políticas que opunham o poder local ao Império tomavam vulto cada vez maior em Pernambuco. No dia 2 de julho de 1824, os líderes pernambucanos romperam definitivamente com o poder central. Anunciaram a formação de uma nova república - a Confederação do Equador - e pediram a adesão das outras províncias do Norte e Nordeste.
Para Frei Caneca e o Partido Autonomista, escarmentados pelo fracasso republicano em 1817, "a autonomia provincial tinha prioridade sobre a forma de governo". Estariam prontos a entrarem num compromisso com o Rio, o qual, em troca da aceitação do regime monárquico, daria amplas franquias às províncias. Não haveria porque rejeitar a monarquia, desde que autenticamente constitucional e desde que preservasse as franquias.
Foi detido no exercício de suas funções de Secretário das tropas sublevadas, das quais era também orientador espiritual, pelas tropas imperiais a 29 de novembro, sendo conduzido para o Recife.
Foi preso e levado para um calabouço. No dia de Natal do mesmo ano, foi transferido de sua cela a uma sala incomunicável, para receber a sentença. Muito foi feito para que Caneca não fosse executado. Houve petições, manifestações de ordens religiosas, pedidos de clemência. Em vão.
Em 18 de Dezembro de 1824 ali foi instalada uma comissão militar sob a presidência do coronel Francisco de Lima e Silva (pai do futuro Duque de Caxias) para proceder ao seu julgamento sob a acusação do crime de sedição e rebelião contra as imperiais ordens de sua Majestade Imperial. Com plenos poderes para julgar e condenar sumariamente, o acusado foi condenado à morte por enforcamento.
Nos autos do processo, Frei Caneca é indiciado como um dos chefes da rebelião, "escritor de papéis incendiários", sendo os dois outros chefes, Agostinho Bezerra Cavalcanti, capitão de granadeiros e comandante do 4º Batalhão de Artilheiros Henriques, e Francisco de Souza Rangel, por ser do corpo de guerrilha e achado com os dois primeiros.
Ao todo foram executados onze confederados, dos quais três no Rio de Janeiro. O primeiro deles foi frei Caneca.
A 13 de janeiro de 1825, foi armado o espetáculo do enforcamento diante dos muros do Forte das Cinco Pontas. Despojado do hábito religioso, ou seja, "desautorado das ordens" na igreja do Terço, na forma dos sagrados cânones", ainda assim tendo três carrascos que se recusaram a enforcá-lo. A Comissão Militar ordenou seu arcabuzamento (Ação ou efeito de assassinar ou machucar através de tiros), ("visto não poder ser enforcado pela desobediência dos carrascos"), atado a uma das hastes da forca, por um pelotão sob o comando do mesmo oficial.
Seu corpo foi colocado junto a uma das portas do templo carmelita, no centro do Recife, Seu corpo foi deixado num caixão de pinho em frente ao Convento das Carmelitas, de onde os padres o recolheram e enterraram em um local até hoje não identificado.
O muro contra o qual o religioso foi fuzilado, vizinho ao Forte das Cinco Pontas, continua de pé. O local está marcado por um busto e por uma placa alusiva, colocada pelo Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano em 1917.
Fonte: Breve história da Igreja no Brasil. Por Maurilio Cesar de Lima

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